O CAMINHO DO FOGO E AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO SER
Este texto foi retirado do livro “O Caminho do Fogo”- Caio Fábio, 1997 “Depois, disse Moisés a Arão: Chega-te ao altar, faze a tua oferta pelo pecado e o teu holocausto; e faze expiação por ti e pelo povo; depois, faze a oferta do povo e a expiação por ele, como ordenou o SENHOR”. Chegou-se, pois, Arão ao altar e imolou o bezerro da oferta pelo pecado que era por si mesmo. Os filhos de Arão trouxeram-lhe o sangue; ele molhou o dedo no sangue e o pôs sobre os chifres do altar; e o resto do sangue derramou à base do altar. Mas a gordura, e os rins, e o redenho do fígado da oferta pelo pecado queimou sobre o altar, como o SENHOR ordenara a Moisés. Porém a carne e o couro queimou fora do arraial. Depois, imolou o holocausto, e os filhos de Arão lhe entregaram o sangue, e ele o aspergiu sobre o altar, em redor. Também lhe entregaram o holocausto nos seus pedaços, com a cabeça; e queimou-o sobre o altar. E lavou as entranhas e as pernas e as queimou sobre o holocausto, no altar. Depois, fez chegar a oferta do povo, e, tomando o bode da oferta pelo pecado, que era pelo povo, o imolou, e o preparou por oferta pelo pecado, como fizera com o primeiro. Também fez chegar o holocausto e o ofereceu segundo o rito. Fez chegar a oferta de manjares, e dela tomou um punhado, e queimou sobre o altar, além do holocausto da manhã. Depois, imolou o boi e o carneiro em sacrifício pacífico, que era pelo povo; e os filhos de Arão entregaram-lhe o sangue, que aspergiu sobre o altar, em redor, como também a gordura do boi e do carneiro, e a cauda, e o que cobre as entranhas, e os rins, e o redenho do fígado. E puseram a gordura sobre o peito, e ele a queimou sobre o altar “(Levítico 9: 7- 20) Esta palavra, aparentemente tão distante de nós, da nossa realidade, dos nossos ritos, dos nossos encontros espirituais, pode significar muito em nossas vidas se pedirmos que Deus abra a nossa mente derramando a luz do Espírito Santo, dando-nos entendimento a fim de que ela se transforme não num amontoado descritivo de sacrifícios cruentos, mas em palavra de cura e de graça, que nos faz viajar para dentro da justiça justificadora de Cristo e que nos mantém em pé e em paz, a fim de podermos ver o fogo cair. O fogo, como é descrito em Levítico 9,só caiu de maneira válida e sobrenatural depois que um caminho de sacrifício foi percorrido, um corredor de oferendas , um fluxo de serviços espirituais foram apresentados diante de Deus. A questão é: onde é que este caminho passa? Se é que este caminho tem sua passagem ainda hoje dentro da nossa vida. O Novo Testamento nos dá conta de que todos esses sacrifícios e rituais do passado eram apenas sombras, projeções daquilo que um dia Jesus Cristo iria consumar, materializar definitivamente ao nosso favor, assim como Ele veio a fazer através da cruz e da ressurreição. Sendo assim, a resposta à questão é: se Jesus é a consumação disto tudo, se nEle as coisas ganham a sua convergência e realização final é porque neste caminho simbólico de oferendas no Velho Testamento – que levam até a experiência do fogo, da validação, com a presença sobrenatural de Deus – pode-se ter a clara, porém simbólica, perspectiva de como a graça de Deus opera em áreas e recônditos diferentes da nossa experiência com Ele. Ou seja: os simbolismos dos sacrifícios de Levítico podem ajudar-me a entender quais são os arquétipos psicológicos de minha alma e como é que a Graça opera em cada uma dessas dimensões. De fato, o escritor de Hebreus já dissera e Paulo anteriormente também, que Deus não está preocupado com bois, nem com carneiros, nem com cabras, mas a preocupação dEle na Escritura é a revelação de Sua graça a mim e a você, seres humanos feitos a Sua imagem e semelhança. Por isto, ante do fogo que cai do céu num espetáculo público de avivamento existem outros fogos que vão sendo acesos em rituais de graça, em áreas, em dimensões diferentes do ser daqueles que se aproximam de Deus querendo paz e amizade com Ele. Assim é que o texto nos conduz a uma percepção dos caminhos da graça que nos dirigem ao fogo divino, genuíno e santo, e é este movimento, esta viagem ou este passar pelo corredor da graça que é fundamental para eu e você entendermos quais são os caminhos para encontrarmos o fogo e, antes de tudo, encontrarmos com Deus e com nós mesmos. Que caminhos são estes? AS VEREDAS DA ALMA E OS RITOS DA GRAÇA O CAMINHO QUE CONDUZ DA CULPA À INTIMIDADE COM DEUS Inicialmente, podemos perceber o caminho que vai da culpa de não conhecer a Deus até o prazer de sentar com Deus como amigo. Estes dois extremos estão aqui no texto de Levítico. Releia-o com atenção. Veja, a primeira oferenda começa com uma alienação radical, com a consciência esmagadora que se ganha de que nós somos adversários e inimigos de Deus na nossa própria natureza íntima. É a culpa de não conhecer Deus e mesmo não O conhecendo ser hostil a Ele. Esta é uma viagem que vai deste ponto até aquele outro onde a gente senta à mesa de Deus, serve a Deus e por Ele é servido, comendo com Ele como amigo. Este é o projeto da nossa viagem espiritual aqui debaixo do sol. A graça de Deus nos encontra nesta postura de adversidade e inimizade em relação a Deus e quer nos conduzir ao encontro fraterno com o Divino, onde a gente O celebra, O beija e é beijado por Ele; onde a gente ouve a gargalhada de Deus e gargalha com Ele, e assim a alma não vê Deus como aquele que tem o papel santo do adversário, que persegue a nossa existência, mas, ao contrário, Ele é Aquele que nos acolhe,abraça, inclui, pois conhece a nossa alma e não nos despreza. Para conhecermos estes caminhos que aqui se apresentam precisamos fazer uma viagem onde facilmente nos reconheceremos; uma viagem através dos quatro ritos de graça. A OFERTA EXISTENCIAL O primeiro rito é o da oferta existencial. Aparece nos versos 2 e 3, no capítulo 9 de Levítico. Aparece como oferta pelo pecado. Veja bem que não está no plural, não é pelos pecados, mas sim no singular: pelo pecado. Ora, isto tem a ver com esta coisa existencial, com a tortuosidade básica e as distorções íntimas do ser. É algo anterior ao comportamento, à ação moral e à ética; tem a ver com o que eu sou e não o que eu faço; tem a ver com a minha condição humana ambígua, rachada, quebrada em mim mesmo. É, portanto, com a percepção de que não tem absolutamente nada a ver com o comportamento moral, mesmo porque aqui neste ponto o comportamento moral é ridículo, irrisório e estúpido, seja ele qual for. Do filantropo à prostituta, estamos falando de algo no qual todos nós estamos incluídos, que é a nossa perversão básica, pois “todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Veja como a oferta pelo pecado se manifesta; como é fácil perceber a basicalidade deste pecado e como ele se define em essência pelos animais que são oferecidos como oferta: o bezerro e o bode. Podemos observar que em alguns sacrifícios encontram-se, em suas oferendas, animais afins, harmônicos, seres de uma única espécie, mostrando uma homogeneidade na oferenda. Mas esta aqui é antagônica: o bezerro e o bode. E podemos perceber aqui uma declaração sobre a ambigüidade básica do meu e do seu ser. O bezerro nos lembra do lado forte ao mesmo tempo inocente da alma humana, seja ele qual for. O bode, entretanto, fala do lado das sombras, de nossa rebeldia, de nossa atitude turrona interior e da nossa obscuridade. Por exemplo: às vezes a gente vê determinados monstros sendo apresentados e julgados pela mídia, na sociedade, e você de casa, assistindo à televisão ou lendo seu jornal, vê aquela descrição e diz: – Este aí é um cretino! Tem mais é que ser esfolado. E isto acontece porque a mídia só apresenta o bode que habita aquele homem. Mas um dia você descobre que tem uma prima que é prima em terceiro grau do bode, ou descobre que um tio seu é casado com uma concunhada do bode. O fato é que você e o bode se encontram. Aí, o que acontece? Apesar de toda a prevenção que você sinta pelo bode, você conversa com ele, e, no final, acaba em crise: ele tem cavanhaque de bode, cheira como bode, tem cara de bode, mas tem alguma coisa de outra natureza nele. Você começou a perceber que dentro do bode há um bezerro, tem inocência de vez em quando, humanidade, força em outras direções. Para sua surpresa, sua prima, que é prima de terceiro grau do bode e o conhece desde criança – pois brincou de casinha, de médico e jogou bolinha com ele – acha que o bode não é bode, é bezerro. Com muita freqüência, eu me deparo com esta situação da natureza humana. É por isto que, às vezes, casais se separam, e a mulher fica odiando o marido, porém, os filhos não. Isto se deve ao fato de que a mulher dormiu com o bode 17 anos, mas os filhos recebem lambida do bezerro. Esta coisa está aí dentro da gente o tempo todo; por isto, gerir relações humanas é tão complexo. A mesma pessoa provoca rea¬ções distintas inspirando ódio e repulsa, mas, por outro lado, cari¬nho e compaixão. Isto porque estas duas naturezas, estes dois bi¬chos moram dentro de mim, me chupando, me empurrando, me pu¬xando em direções distintas, e é exatamente isto que tem a ver com o pecado básico que me esquizofrenizou, me rachou e se encontra na base do meu ser. Eu sou pecador não porque eu peco, mas eu peco porque eu sou pecador. Não sou pecador porque fiz besteira. Mesmo que não tivesse feito besteira alguma minha natureza é a de pecador porque eu sou rachado. O bode e o bezerro habitam o meu ser. Esta situação é tratada no texto com a oferta pelo pecado, que é a oferta pelo pecado básico do ser. Ora, ela tem duas dimensões: a primeira está no nível essencial daquilo que eu chamaria dos metabolizadores do ser. Esses conteúdos básicos do ser são pro¬cessados no laboratório da alma, por isto esta oferta pelo pecado queima os metabolizadores orgânicos dos animais. Se não veja: o que se queima pela oferta pelo pecado é a gor¬dura de um elemento metabolizado. Queimam-se também os rins, que são órgãos metabolizadores, capazes de eliminar excesso de água, sal e elementos estranhos, promovendo a estabilidade da pres¬são sangüínea, produzindo hormônios e estimulando a produção das células vermelhas; e queima-se o fígado, que é laboratório químico por excelência, capaz de limpar o sangue através da excreção de toxinas. Em outras palavras: o que a Escritura está nos dizendo, de uma forma bastante sutil, é que o juízo de Deus que cai sobre o ser – ¬sobre mim e você, nas fontes da nossa própria perversão – tem a ver com nossa essência básica. Todos estes elementos – gordura, fíga¬do, rins – estão associados a fontes do interior. Assim como no Novo Testamento é o coração que ganha a centralidade da interioridade humana – porque o coração era órgão e fonte de interioridade na cultura grega – no Velho Testamento são o fígado e os rins que pos¬suem esta conotação essencial. E por isto são os metabolizadores da alma. Só um detalhe a mais: tanto os rins como o fígado e outros ór¬gãos internos eram considerados portadores de vida. Os rins eram reputados como porção seleta, talvez pelo seu invólucro de gordura e como centro da personalidade e da vontade; o fígado, órgão pe¬sado, servia também como material de adivinhação (Ez. 21:21), e os ferimentos no fígado eram considerados fatais, embora não fossem no coração; a gordura, habitualmente, era a parte queimada e dedicada a Deus, mas não a gordura em geral e, sim, a dos rins, do fígado e intestinos Não é à toa que o juízo de Deus toque justamen¬te aí na essência da gente, e só depois que estas coisas essenciais são queimadas e visitadas pelo juízo Divino é que se passa para um outro nível: o da percepção do pecado básico. A segunda dimensão chamarei de os exteriorizadores do ser. Notem que não se queimam só a gordura, fígado e rins, mas queima-se também a carne que é o invólucro da nossa invisibilidade espiritual. E, mais ainda; queima-se o couro. Diz o verso 10, no mesmo sacrifício pelo pecado que couro e carne são queimados. E onde são queimados? Repare a diferença. Os elementos anteriores correspondentes à alma e ao metabolismo do ser são queima¬dos no altar. A carne e o couro, por sua vez, são queimados do lado de fora, ou seja, na história visível e perceptível. Isto mos¬tra de fato que eu peco porque sou pecador, porque existe um in e um out em mim; porque existe uma coisa dentro que se manifesta fora. Ora, são estas perversões da intimidade que se transformam em comportamento, surgindo assim a necessidade superficial da moral e da ética, às vezes manifestadas de maneira boa, outras vezes tortas. Por esta razão, tenho que dizer que mesmo as melhores ações de um santo são invadidas pelo pecado. Este sacrifício revela quem eu sou. Não se está falando de quem Deus é. Este é um sacrifício profundamente psicanalítico, pois revela a minha natureza. Antes de Freud ou Jung, Deus mostrou quem eu sou e que minha natureza rachada é pervertida em sua essência. Ora, a ênfase desta ação divina está no fogo. Ou seja: em queimar os elementos da minha ambigüidade e no juízo divino sobre a minha tortuosidade interior e exterior. Isto porque, para Deus poder perdoar pecados, Ele tem, antes de tudo,que julgá-los. É por isto também que, antes de Deus poder nos salvar, Ele precisa de nos convencer do pecado. Para a minha angústia,esta mensagem foi jogada fora, deixada de lado; as pessoas se aproximam de Cristo porque Ele é poderoso,para terem prosperidade, para ficarem ricas, para serem curadas, para terem seus problemas resolvidos, porém quase ninguém tem mais consciência de que Cristo é o único que pode salvar minha alma, tocando a perversão básica da minha natureza, cobrir meu pecado. É o único que pode justificar minha vida, porque eu em mim mesmo estou perdido. Posso ser até um próspero, mas um próspero perdido; posso ser muito rico, ou um empresário de sucesso, ou ainda famoso e respeitado, porém ainda assim sou um perdido porque eu preciso fundamentalmente da graça de Deus e do fogo que queima a perversão da minha interioridade. A OFERTA LEGAL A segunda oferta que aparece nesta estação da viagem pela graça na direção do fogo é a oferta legal. A primeira nós chama¬mos de oferta existencial, anterior à moral e à ética. Esta outra é a oferta feita perante testemunhas, no tribunal do universo, na cor¬te do cosmos. São os movimentos legais da Divindade, afirmando as razões de Deus para perdoar pecados e pecadores. Assim, nós somos introduzidos à idéia do holocausto que apa¬rece no texto como pacto da graça; ou seja, como convênio de Deus com estes seres que são bezerros e bodes em si mesmos. É a aliança da graça e misericórdia divina se movendo na direção do homem, sendo Ele aquele que tem o papel de justificar os injustificáveis. Este é um sacrifício de animais afins: o cordeiro, o bezerro e o carneiro sem defeito. Isto é muito significativo se pensarmos que são três os animais trazidos para esta corte. Parece que é uma ten¬tativa divina de simbolizar o empenho total do Deus trino em justifi¬car de modo completo todos nós. Aqui não há ambigüidade porque esse sacrifício não fala de quem eu sou mas de quem Deus é. O outro falava da minha natureza, este fala da natureza divina. A mi¬nha tem que ser queimada. Já a natureza santa de Deus é que pode derramar-se em sangue como propiciação pelos pecados. As ofertas são, portanto, absolutamente uniformes e perfeitas.Neste ponto se declara a dimensão legal e final da aliança de Deus com os homens. Aqui, Deus dá satisfação ao universo sobre as razões definitivas que Ele tem para ser perdoador dos pecadores, e a razão se calça no sangue do Cordeiro sem defeito e sem mácu¬la. Esta descrição da viagem pela graça tomou dimensões históri¬cas há 2 000 anos e a cruz se ergue: por isto a ênfase recai no sangue do Senhor Jesus. Ora, visualizando isto eu sei quem Deus é, reco¬nheço a aliança dadivosa do pacto irreversível do Todo-Poderoso que vem e se oferece em sacrifício pela ambigüidade do ser humano. A OFERTA PELA PAZ DO CORAÇÃO A terceira oferta é a oferta pelo sossego da alma. Outra coisa completamente diferente temos aqui: Saber quem eu sou pode gerar um tremendo desconforto, como diz Hebreus 10:26-27: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de ter¬ mos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacri¬fício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.” Uma percepção que produz uma expectativa de fogo e de juízo vingador. Ora, não há nada pior que você perceber quem é longe da graça de Deus,porque, quando isto acontece,você mergulha num processo de adoecimento interior mergulha, suas neuroses e psicoses vão crescendo, pois você se viu e se desprezou. O que acontece em decorrência desta percepção é que você quer fugir de si mesmo mas isto parte e estilhaça você. Entretanto, quando eu sei quem sou e sei quem Deus é, e quan¬do sei também que, apesar de eu ser infiel, Ele permanece fiel por¬ que não pode negar a Si mesmo, isso me dá segurança e tranqüilida¬de. Porém, isto ainda não é tudo, porque encontro muita gente que pela fé já percebeu a cruz, a expiação pelo pecado, o pacto, a alian¬ça, já aplaudiu isto, já creu, mas ainda não deu o terceiro passo: o de transformar este legado em conteúdo de natureza psicológica,capaz de tomar posse do perdão de’ seus pecados diante de Deus, mas também tomar posse deste perdão em relação a si mesmo. Só assim elas poderão ser perdoadas por Deus mas também poderão perdoar-se. Quando isto acontece, a alma se acalma, o cristão não foge mais de si mesmo e, em vez de correr da sua sombra, abraça-a e fica cara a cara com ela. Em vez de fugir do bode que habita seu interior, o confronta, o submete, busca equilíbrio e controle sobre ele. E esta graça divina é que nos faz aprender a assentar dentro de nós mesmos. Esta, pois, é a terceira estação dos ritos da graça, a da oferta pelo sossego da alma, chamada de oferta pacífica, compos¬ta por dois elementos: um boi e um carneiro. Novamente nos deparamos com uma afinidade entre os dois animais. A ênfase aqui não está no fogo mas no sangue, no imolar,no dizer: “Está pago! Sossega! Alguém já pagou sua conta,senta tranqüilo, o cheque já foi assinado, a garantia está dada,fica em paz!” E esta é a paz subjetiva que decorre da fé no pacto da graça, capaz de transformar essa compreensão em conteúdos de natureza psicológica e colocar a alma para sossegar. Neste ponto, o ser hu¬mano já assumiu o juízo que ele merece, pois sabe quem ele é e se o juízo viesse sobre a sua ambigüidade ele morreria. Já deu também o segundo passo na viagem da graça que justifica e agora está dando o terceiro passo: assumindo a paz que vem desta justificação. Comparemos esta seqüência com Romanos 4:24-25 e 5: 1-3. “Mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação.” “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; Por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriemos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança.” Romanos 4:24-25 fala-nos sobre o sangue de Cristo e o 5: 1 diz: “¬Justificados pois mediante a fé temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.” Ora, sabendo disso, eu tenho paz. Se não dormir à noite é porque estou sem sono e não porque estou perturbado; se ficar tenso é porque o dia está cheio, mas não é mais porque estou de¬sesperado: tenho paz! Esta não é a paz do perfeito porque O bode e o bezerro continuam lutando dentro de mim, mas a paz do per¬doado, daquele que se sabe acolhido e aceito pela graça de Deus. Assim, a alma inicia seu processo de cura, de reconciliação com Deus, consigo mesma e com a vida; assim pode haver genuína cura interior. Sem isto não existe cura interior, existe passe evan¬gélico. Existe qualquer coisa mas não cura. Só quando a paz da graça nos embala, nos nina e nos faz cafuné é que a alma pode começar a ser curada De vez em quando eu encontro alguém que me pergunta: – Pastor, você faz cura interior? E diante da minha negativa uma senhora continuou: – Perguntei por que achei que o senhor fazia, lá na minha igreja faz. O pastor dá um passe, a pessoa dorme algumas horas e acorda como curada. Muitas vezes o indivíduo freqüenta esse tipo de reuniões em que diversos métodos são aplicados e nem sempre os resultados são satisfatórios, pois continua doente, angustiado, insatisfeito, desequilibrado. Existem muitos remédios capazes de fazer me¬lhor. Aqui, entretanto, não estou falando de um passe de mágica, mas sim de uma viagem do Espírito para dentro da gente: sei quem eu sou, sei quem Ele é, sei o que Ele fez por mim e isto é meu, me pertence. Desta forma, eu sento interiormente com meu pai que mora em mim, com minha mãe, meu tio, tia, primo, filho, com todas as multidões de personalidades e heranças psicológicas que tenha herdado, e descanso A OFERENDA DAS ALEGRIAS DA EXISTÊNCIA A quarta é a oferta dos prazeres da vida. Veja como come¬çou isto tudo: inicia com a crise do ser, passa pela crise divina de derramar sangue por quem Ele ama, chega ao ponto em que se pede posse do que Deus fez, então se alcança a paz. E aí, com a minha alma sossegada, eu danço; quando ela está em paz,eu celebro; começa a festa, chega a hora do banquete, que aqui é chamado de oferta de manjares: a mesa está posta e eu trago os produtos de minhas mãos para Deus. Sim, meu arroz, minha farinha, minha can¬jica, manjares da vida, pois chegou o tempo de ser feliz. Nesta parte há a menção de um fogo, só que não é o fogo do juízo. Este queima um bocado do alimento, mas não o alimento todo. Que coisa! Não tira o prazer da vida, mas dedica-se o prazer a Deus. A Bíblia é clara quando diz: é um bocado que se põe diante dEle (Lv. 9:17), que se queima como aroma suave. Ora, assim se diz que pela graça de Deus este ser torto e ambíguo que sou pode produzir e viver coisas prazerosas diante de Deus. São justamente essas ofertas de manjares que eu trago diante dEle: meus talentos, minha arte, minha capacidade de realizar coisas, minha von¬tade, minha alegria, meu riso, meu tempo, meus recursos, meus amo¬res, minha felicidade, meus prazeres sãos. E um bocado, um punhado dessas expressões da vida se transformam em aroma suave e o outro bocado a gente come juntos. E aí que coisa maravilhosa! É a paz subjetiva que decorre da graça divina que me coloca nesta estação dos ritos da graça. Diz o v.17, de Levítico, que essa oferta de manjares acontece além do holocausto da manhã. Ora, a fase da culpa ficou para trás; agora eu entro na fase de celebrar minha alma e minha vida na presença dAquele que me conhece e não me despre¬zou. Neste ponto já passei bem para além da culpa, e agora posso sentar para comer com Deus, para servir a Deus, e para ter prazer em Deus. Aqui. o ser compartilha com Deus seus bocados, sua vida e seus prazeres; já abandonou o terreno da culpa, já assumiu o perdão legal que vem da cruz, já descansou no fato de que a alma pode mer¬gulhar tranqüila na amizade do Divino, e neste ponto Deus é o amigo e a vida é um banquete. Será que só eu que acho isto maravilhoso? Às vezes, sinto de¬sejo de beijar o Senhor. Este meu Deus que conhece o bode e o bezerro que sou, que derrama seu sangue por mim, que sonda a minha alma, que aceita o meu bocado e senta à mesa comigo. Lou¬vado seja o Teu nome pela paz que vem da cruz! AS OFERTAS DE MEUS SONHOS E ESPERANÇAS Chegamos então a um outro momento que não é uma das esta¬ções ou ritos da graça, mas um momento mais maduro nesta viagem de fé. No v. 21 de Levítico 9, a Palavra de Deus nos chama atenção para um movimento que não estava previsto, que não havia sido des¬crito, mas aparece no fim de tudo: são as ofertas movidas. Acho interessante que o movimento de ação só vem depois de reconcilia¬ção, o ministério só depois do encontro. Tenho estado triste e preocupado ao ver artistas, músicos, em¬presários, celebridades que mal se convertem e já são guindados para o púlpito a fim de pregar. Eles vão de jantar em jantar, reunião em reunião, culto em culto como perus de festa ou promoção de lojas, para atraírem público; e falam de algo que tão recentemente experimentaram sem ainda conhecerem direito, mas que já dá o gostinho de prestígio, fama e conforto. São colocados a fazer ofer¬ta movida quando não tomaram consciência do bode e bezerro que têm dentro de si. Ora, a oferta movida só vem depois que a alma sentou com Deus, comeu com Deus e Deus então diz: – Pode sacudir, meu filho,pode movimentar. Antes disto não faça ofertas movidas. Antes disto, gera frustração, distorções, escândalos. É bom não esquecer de que os apóstolos só foram fazer oferta movida (missão no mundo) depois que passaram pela Cruz, Ressurreição, Reconciliação (aqui, Pedro acalmou o bode e o bezerro de suas contradições) e a Festa de Pentecostes. Permanecei na cidade até que do alto sejais reves¬tidos de poder. Esta, portanto, é a viagem linear das quatro estações dos ritos da graça, que nos conduz à experiência do fogo que cai do trono de Deus. O CAMINHO QUE CONDUZ DO ÍNTIMO AO PÚBLICO Para concluirmos este capítulo, gostaria de tratar agora de uma segunda viagem: é o caminho que vai do inconsciente ao com¬portamento público. Já vimos que a primeira viagem parte do existencial até a possibilidade de celebrar Deus nos movimentos da vida. Já a segunda jornada tem ainda um sentido mais profun¬do, pois começa no inconsciente da gente, nos sonhos, nas fantasi¬as, nas projeções e vem até a praça pública, lugar onde a gente representa, às vezes, um personagem e não o ser que a gente sabe que é. Que caminho, portanto, é este que começa no do inconscien¬te? Atente para o v. 14 do nosso texto. Veja como o texto fala desta oferenda das entranhas e das pernas. Eu acho profunda¬mente interessante: entranhas e pernas! Por que não são entranhas e rins? Por que um dos elementos é de dentro e o outro é de fora? Só posso ver isto como uma das coisas mais caracterizadoras do meu movimento, da minha ação, da minha volição, que vai das minhas entranhas até as pernas. Que imagem linda para nos fazer visualizar a associação entre as produções do inconsciente e o comportamento exterior; a co¬nexão das coisas do íntimo, as quais determinam o meu comporta¬mento do lado de fora mais do que as pressões de fora sobre meu íntimo. O ditado popular antes só do que mal acompanhado é muito superficial.Má companhia é horrível, porém a pior má com¬panhia é a sua mesma. De vez em quando eu encontro um bocado de gente que diz: – Pastor, estou orando muito a Deus, para Ele não deixar você cair, para sustentá-lo. Gostaria de saber se há alguma luta pela qual eu possa orar de maneira mais direcionada. – Alguma luta especial com o diabo? – Não, meu irmão, ele está razoavelmente sossegado. – Seus inimigos do lado de fora? – Não, isto é tudo besteira. – Então qual é a oração que você quer que faça? _ Peça para Deus cuidar de mim porque eu sou o meu pior inimi¬go. Isto porque eu gosto do bezerro e do bode que existem em mim. De vez em quando eu me vejo acariciando o bode: oh, bodinho! Quero rejeitá-lo, quero dominá-lo, mas muitas vezes ele é mais forte que a minha vontade; ele nasceu em mim, está dentro de mim. Entranhas e pernas é a figura desta força que, apesar de estar dentro do íntimo, tem ligação com meus movimentos do lado de fora. A partir daí a gente aprende como os sonhos influenciam as ações. Se você que me está lendo agora for casado, quero fazer-lhe uma pergunta: você já acordou com aquela sensação de que a sua mulher teve algum problema durante a noite? Você levanta, toma café, dá um beijinho de bom dia e ela está lá te olhando de modo esquisito. Você tenta uma aproximação, fala com ela e recebe uma encarada. Aí você pensa: que foi que eu fiz? Será que dei uma cotovelada no queixo quando ela estava dormindo? mordi-lhe a orelha? Que foi? Aconteceu ultimamente com você? Sabe que pode ser? Às vezes a sua mulher sonhou sabe com o quê? Ela te viu num bar com a vizinha num sonho. Ou então sabe o que ela viu? Viu você gastando o dinheiro todo da poupança com alguém que ela acha que é um tremendo picareta e irresponsável. E o sonho passa a ter espaço na mente e no coração dela. E se você é a mulher e quando acorda o marido a está olhando com aquela cara de juiz de direito à véspera de um veredicto para mandar ou não mandar o réu, no caso você, para a cadeira elétri¬ca. Muitas vezes isto tem a ver com os sonhos da noite, nada tem de objetivo (pode também ter relação com projeções e fantasias que levam a percepções erradas). Eu, pessoalmente, já vivi esta experiência. Quantas vezes, nestes 23 anos de casado, eu vi minha mulher amanhecer de um determinado jeito e eu não sabia o que era! – Que foi? – Nada – Você está bem mesmo? – Estou – São os meninos que estão dando trabalho? – Não, eles estão ótimos. – E eu fiz alguma coisa? – Não Não foi o que eu fiz, mas foi o que mora nos sonhos, nas entranhas dela que fez. Ora, enquanto eu não percebo isto e ela não percebe também, corre o risco de me odiar nos seus sonhos e eu o de desprezar seus problemas, apenas porque não estou sa¬bendo que ela está brigando comigo dentro dela. E aí as entranhas movem as pernas e o sonho e o inconsciente determinam o com¬portamento humano. Isto acontece com muita freqüência. Por exemplo: eu já me peguei encontrando com pessoas que não me fizeram nada e meu primeiro impulso foi de repulsa. Por quê? Depois de fazer uma viagem para dentro, vejo que eu sonhei que aquele cara me estava dando uma punhalada nas costas. Lucidez é uma palavra fantásti¬ca, porém absolutamente irrealista, pois nós somos todos os dias golpeados por essas forças do alçapão da nossa inconsciência, que determinam os movimentos das nossas pernas e não sabemos nem por que agimos de determinada maneira. É também aqui nesta segunda viagem que aprendemos como os traumas afetam a conduta humana, como coisas interiores do intes¬tino do nosso ser movimentam nossas pernas. Assim é que violênci¬as sofridas na infância podem produzir uma mulher frígida; como relacionamentos patológicos com a mãe podem gerar um homem sexualmente fraco e impotente; como um relacionamento com um pai esmagador pode tornar o filho num indivíduo de personalidade fraca; como as entranhas do íntimo acabam determinando boa parte dos movimentos da nossa vida. Aqui aprendemos também como a alma se impõe muitas vezes sobre os valores da moral. Isto porque nós temos do lado de fora um código de conduta para as pernas andarem nele. Entretanto, não sabemos por que mandamos as pernas andarem para um lado e elas vão para o outro. Diariamente eu também vejo isto acontecendo. Gente tão boa que odeia determinadas coisas mas as faz, e quando percebe já es¬tão feitas. Este nível da existência humana recebe a graça da provi¬são divina do cordeiro, e o que eu acho maravilhoso aqui é que entranhas e pernas não são queimadas naquele primeiro sacrifício, elas são mencionadas, depois, como coisas que estão debaixo do sangue do Cordeiro. Elas estão juntas no pacto da graça e a gente vê a graça cobrindo a involuntariedade da alma, dos pecados que me são ocultos. Se não fosse assim, todo o sonho que você tivesse com a mu¬lher do próximo significaria um pecado seu diante de Deus. Mas o sangue é também capaz de cobrir a involuntariedade destas produ¬ções da alma que vem das entranhas e Deus faz propiciação por este pecado. O nível desse tratamento é no Altar e não em praça pública. O CAMINHO QUE CONDUZ DA MULTIPLICIDADE DOS SENIIDOS ATÉ O INTELECTO A segunda dimensão desta segunda viagem é a da multiplicidade dos sentidos até o intelecto. Vimos que a primeira dimensão é do inconsciente para a vida pública. Já o segundo é movimento da multiplicidade dos sentidos até o intelecto. Este livro, como você já sabe, é transcrição das palestras por mim ministradas no congresso de líderes da VINDE, e lembro-me de que no dia anterior a este assunto tomei café com um amazonense que estava hospedado no mesmo hotel que eu. Estávamos conver¬sando sobre a minha olfatividade, de como cheiros e aromas têm influência significativa em mim, e como eu os percebo de maneira objetiva. Então ele me falou: – Isto deve ser coisa de índio mesmo, porque eu tenho uma olfatividade insuportável, sinto cheiro de tudo; minha visão, en¬tretanto, não é tão boa. Eu fiquei pensando neste assunto da multiplicidade dos nossos sentidos, não só estes sentidos da sensorialidade clássica (audi¬ção, visão, tato, olfato, paladar etc.), mas naqueles outros sentidos tipo intuição, percepção, sensibilidade, ou mesmo os próprios sen¬tidos básicos, mas ampliados, e de como há pessoas capazes de enxergar muito mais do que a vista mostra; ou alguém que, pelo toque de outra pessoa, percebe com clareza seu temperamento e intenções; ou, ainda, aquele outro cujo ouvido é tão afinado que é capaz de reconhecer sons que não são os sons comuns do dia-a ¬dia; enfim; há uma gama de sentidos e emoções que se afloram de uma forma ou de outra na nossa vida. Aqui, a Palavra de Deus fala da multiplicidade dessas percep¬ções às vezes profundamente desencontradas, e a desconexão delas do nosso intelecto, o que nos torna pessoas monstruosas, eventual¬mente. Veja o v.13 do nosso texto. Pedaços foram trazidos sepa¬rados da cabeça. Estas partes vieram separadas como um corpo desconjuntado, com a cabeça do lado. Aqui, fala-se da multiplicidade do ser, as partes, porém em profunda desconexão com o intelecto, e a cabeça. Vejo esta figura como um reflexo da incapacidade humana de ser integral. Eu tenho uma insuficiência radical para ser integral. É também um símbolo de como freqüentemente nossas partes estão separadas do nosso intelecto. Esta é uma manifestação do pecado em nós, arrancando a nossa unidade essencial e nos dividindo nem sempre sob o comando da nossa cabeça, a tal ponto que Paulo diz: “O bem que quero fazer eu não faço e o mal que não quero fazer este faço.” E prossegue dizendo que via duas leis em movimento: uma agin¬do no seu corpo e outra na sua mente. Pedaços de um lado e ca¬beça do outro. Se a graça do Senhor Jesus não estiver sobre isto tudo, eu e você acabaremos num sanatório. Aqui, vemos o esquartejamento do nosso ser sendo justificado na graça divina através do holocausto, ou seja: na oferta da Cruz. O tratamento disto é no altar, nesse lugar da nossa solidão com a gra¬ça de Deus e a Cruz de Jesus. O CAMINHO QUE CONDUZ DA CULPA INVIDICUAL ATÉ A CULPA COLETIVA A terceira estação nesta segunda viagem é da culpa individu¬al até a culpa coletiva. Note esses movimentos do inconsciente para o público; da multiplicidade desconecta para o intelecto; e, agora, da individualidade para a coletividade. A culpa do indiví¬duo e a culpa da comunidade. É isso que temos aqui O v.7 diz: vai,fazei a oferta por ti e pelo povo. Uma é a mi¬nha culpa, a outra é a culpa de todos nós, sendo que a minha culpa alimenta a tua, a tua alimenta a dele, a dele alimenta a dela…, ‘e a culpa de todos nós, juntos, alimenta a minha como indivíduo; e a minha contribui para a culpa de todos Nós somos o resultado de decisões pessoais e também de legados coletivos. Como Pedro disse: “Nós fomos resgatados, pelo sangue de Cristo, sangue como de cordeiro sem defeito e sem mácula, do vão comportamen¬to que os nossos pais nos legaram.” Desta forma, deveríamos ter em mente o fato de que os peca¬dos individuais alimentam as perversões coletivas tanto quanto as culturas que carregam as cargas das culpas coletivas ajudam a per¬verter os comportamentos individuais. Assim, outra vez somos for¬çados a repetir com Paulo: “Pois todos pecaram e todos igualmente carecem da glória de Deus” Talvez você pense que neste último capítulo eu fuja um pouco do tema deste livro, que é O.Caminho do Fogo e como discernir a Chama Divina do Fogo Estranho. Mas não. Não me desviei do tema. Apenas levei você por esse caminho da alma a fim de mostrar uma coisa: nossa condição de pecaminosidade radical. E fiz isto com apenas uma intenção: mostrar a você que não há nada em mim que eu possa oferecer a Deus sem antes, humilde e conscientemente, fazer meu ser viajar pelos caminhos da justifica¬ção, seguindo os ritos históricos e simbólicos da graça. E por quê? Para que você saiba como é arriscadíssimo tentar arranjar fogo no fundo do quintal, sem passar com temor e sermos gratos pela. vereda das oferendas de justiça e perdão que nos foi aberta por Jesus, na Sua morte e ressurreição. Só depois disto é que o fogo cai. E quando cai eu não tenho do que me gloriar. Afinal, se não fosse pela graça o fogo, não cai¬ria para vindicar e validar meu culto de vida, mas cairia a fim de me destruir, fazendo de mim uma versão moderna de Nadabe e Abiú LIÇÕES PARA QUEM NÃO QUER BRINCAR COM FOGO Quando discernimos estas coisas, aprendemos, em resumo, três básicas para refletir: 1. Fogo que não nasce da graça vai ser sempre desgraça. Porque carisma que não se concebe como resultado puro da graça que justifica o ambíguo vai ser sempre corrupção do ser e vai sempre desembocar na síndrome de Lúcifer. Pois não há nada pior do que carisma em alguém que não sabe que o carisma dele é ape¬nas graça de Deus, carismatizando a ele, que não merecia nada. Quando ele não sabe disto vira Lúcifer. 2. Fogo que não vem como resultado de um processo de cura pela graça vai sempre produzir tirania. Não existe nada pior do que alguém que tem o poder de fazer descer fogo do céu, se ele não se sentir irmão dos seus irmãos, se não conhecer sua culpa, a culpa dos outros, e não tiver consciência de que somos filhos da mesma comunidade de culpados perdoados. Aqui e ali essa pessoa não vai resistir à tentação de derreter alguns com fogo. Que exemplo excepcional temos em João e Tiago em Lucas 9:51-56 “Queres que mandemos fogo do céu para os consu¬mir.?” Quando a gente acha que pode fazer fogo descer do céu antes de ter ficado cara a cara com a cruz, é tirania. 3. Fogo que não passa pela vereda do sangue do altar do inconsciente, do comportamento e do ser múltiplo será sempre fogo estranho. Será sempre produto do homem e da sua presunção, fogo da religião sem Deus e sem dependência Dele,feito mecanicamente nos bastidores do circo da religião, e isto nem eu nem você queremos. Como autor, meu desejo é o de que meus livros sejam lidos. Porém, muito para além de tudo isso, meu desejo é o de que meus livros façam bem a você. Quem está lhe escrevendo está muito longe de ser perfeito. Mas pode ter certeza de que se trata de alguém que sabe, com muita profundidade,que o único caminho pelo qual ele quer andar é o da Vereda da Graça, no Caminho do Fogo que vem de Deus. Caio Fabio Retirado do livro “O Caminho do Fogo”- digitado por Dora Ramos, do Caminho em Brasília.