O CAMINHO DOS JUSTOS QUE NÃO TÊM JUSTIÇA PRÓPRIA!



Abraão é o pai da fé.
Mas como ele veio a tornar-se tão excelente figura?
Como foi que ele alcançou o que a ele se atribui?
Como veio a ser quem se tornou?
E mais: baseado em que justiça ele se tornou o pai de todos nós?

Porque, se Abraão foi justificado pelas obras da lei e de sua justiça própria, então ele tem do que se gloriar diante dos homens…
Mas nunca aos olhos de Deus!

A esse respeito, o que diz a Escritura?
Por quais obras teria ele sido justificado?

Eis o que a Escritura diz:

Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça!

A fé suspende as obras como causa, e as faz tornarem-se apenas o mero e natural efeito de se crer.

E isto é fácil de entender.
Afinal, àquele que trabalha, o salário não é uma dádiva, mas sim uma dívida.
Todavia, aquele que não fez por merecer, mas creu Naquele que tem o poder de atribuir justiça ao que não tem justiça própria, a sua fé nesse Amor Gracioso é aquilo que lhe será atribuído como a justiça que o justificará.

É por esta razão que Davi declara como bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça sem as obras.

E Davi declara isto no Salmo 32 com as seguinte palavras:

Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa pecado!

A questão, agora, é a seguinte: Vem esta bem-aventurança somente sobre o povo da lei?
Ou ela também vem sobre aqueles que não são descendentes de Abraão segundo a carne?

Isto porque nós dizemos e repetimos que a fé foi imputada a Abraão como justiça.

Como, pois, a fé lhe foi imputada como algo que pudesse justificá-lo?
Quando aconteceu isto?
Em que época da vida do patriarca tal promessa lhe foi feita?
Falou Deus tais palavras a Abraão antes ou depois de haver instituído a circuncisão para o patriarca e para a sua descendência?

Ora, o livro de Gênesis claramente posiciona essa ocorrência antes de ter havido circuncisão!

Assim, sabemos que Abraão foi justificado sem lei, pois Deus o salvou pela fé estando ele ainda sem lei; ou seja: sem ter sido ainda circuncidado!

O que aconteceu é que ele recebeu o “sinal da circuncisão”, como selo visível da justiça invisível que vem da fé.

Ora, essa fé foi dada a Abraão quando ela ainda não era circuncidado.

E por que foi assim?

Foi desse modo apenas para que ele fosse pai de todos os que crêem, a fim de que para esses, a justiça seja sempre imputada como decorrência da fé, e não das obras.

E se Abraão foi justificado sem lei, é porque ele pode ser o pai tanto dos “incircuncisos” como também dos “circuncisos”—dos que nasceram depois da circuncisão ser dada como selo da fé aos descendentes de Abraão segundo a carne!

Ora, esses somente são da circuncisão por razões históricas, mas só serão justificados aos olhos de Deus se também andarem nas pisadas da mesma fé que teve nosso pai Abraão, antes de ser circuncidado.

Isto porque não foi pela lei que a justificação veio a Abraão e à sua descendência.
Ao contrário, a promessa de que ele haveria de ser herdeiro do mundo, lhe foi feita exclusivamente em razão da justiça que vem da fé.
Mas se alguém quer que seja diferente, então, tem que viver com as conseqüências. Pois, se os que são da lei são os “legítimos herdeiros”; então, a fé é vã e a promessa da salvação pela Graça de Deus está automaticamente anulada.

Afinal, se assim fosse, haveria a possibilidade de um outro caminho de justificação aos de Deus: o caminho da lei.

E, se é assim, então Jesus morreu desnecessariamente por todos homens.

Todavia, se a justificação viesse pela lei, Abraão não teria sido jamais justificado, pois, ele jamais foi um homem de leis, nem poderia ser oferecido como exemplo para tal.

Aliás, nem ele e nem ninguém.
Ou não sabemos que todos igualmente pecaram e carecem da Graça de Deus?

De fato, a lei opera na ira, na contrariedade e pelo medo—daí os criminosos precisarem dela!

Além disso, a lei não gera paz, mas tão somente culpa, e certeza de pecado e transgressão.

Mas onde não há lei também não há transgressão.

Daí, os que crêem para a salvação não viverem mais pela lei, mas pela fé na Graça.
E essa fé se manifesta como a expressão de um coração aberto e claro diante de Deus. E tal certeza só é alcançada se a recompensa não for uma divida, mas sim uma dádiva.

Afinal, recordemo-nos que àquele que trabalha o salário não é uma dádiva, mas sim uma dívida.

Todavia, aquele que não fez por merecer, mas creu Naquele que tem o poder de atribuir justiça ao que não tem justiça, a sua fé nesse Amor Gracioso, lhe é atribuída como justiça para a salvação.

E é por essa fé que tal pessoa viverá, sem medo, sem as neuroses culposas da lei, e sem a paranóia da transgressão.

Afinal, é pela lei que vem a plena consciência de pecado. E essa consciência não salva o ser, mas apenas o abisma em sua própria perdição; seja por entregar-se impotente à transgressão; seja pela arrogância de sua própria tentativa de auto-justificação.

Os que são justificados pela fé, como o foi Abraão, não têm barganhas a fazer com Deus. Eles simplesmente crêem; e isto lhes é imputado como justiça aos olhos de Deus.

Assim, não há justo que não viva pela fé, pois, sem fé, não há qualquer justiça humana que justifique a quem quer que seja aos olhos de Deus.

Aqui termina a religião da jactância e começa o chão da Graça de Deus.
Bem-aventurado é todo aquele que crê!

Caio, em parceria com o irmão Paulo.