O HOMEM E A MULHER COMO ILUSTRAÇÃO DE AUTORIDADE ESPIRITUAL
A idéia de autoridade espiritual se tornou o avesso do que autoridade espiritual seja segundo a verdade simples do Evangelho.
No século passado, desde Watchman Nee, em seu livro “Autoridade Espiritual” — livro de um homem bom e sério; porém, equivocado na sua compreensão do sentido de autoridade espiritual — que se instalou uma confusão no significado do que seja tal coisa [não que antes não tivesse praticamente sempre havido tal falta de compreensão]; ao ponto que, lentamente, veio a evoluir para o atual estado, no qual, a tão falada autoridade espiritual é o resultado das “ordenações formais” de bispo, pastor, apóstolo, ou qualquer outra posição/trono entre os homens.
No principio se falava em princípios como os patrocinadores da autoridade espiritual. Depois eram atos de renuncia que estabeleciam a autoridade. A seguir passaram a ser as palavras de autoridade. Depois vieram os “corpos-coletivos” de autoridade, as comunidades. Então reapareceram as “ordenações” espiritualmente delegadoras de autoridade espiritual [ao estilo católico]. Por último surgiu a cobertura apostólica como a promotora da autoridade espiritual, ao estilo espiritualista e ungido com o autoritarismo dos bruxos.
Na realidade, na melhor hipótese, na mais sincera [a de Watchman Nee] se parte equivocadamente do “principio” para a “autoridade”, como se fosse um conceito fosse aquilo que fizesse a coisa acontecer; ou como se uma investidura realizasse a implantação da autoridade espiritual.
Desse modo, tudo foi pervertido… ainda que tenha começado de modo piedoso.
Ora, para não irmos longe na análise da situação, prefiro olhar rapidamente apenas um caso: o casamento; e a autoridade do homem e a suposta submissão da mulher ao homem/autoridade/cabeça.
Ontem minha mulher e eu conversávamos sobre um forte ataque espiritual que nós dois sofremos no ano de 2006, logo que mudamos de vez, de mala e cuia para Brasília.
A coisa foi ficando estranha…
Por conta disso, nós dois discutimos muito o que estaria acontecendo. O fato é que um sofrimento se instalou entre nós. Adriana orava e repreendia aquilo como se fosse uma opressão maligna. Eu não… Apenas estava tentando entender o processo. No entanto, num certo dia, ao cair da tarde, senti como nunca que aquilo era “obra do mal”; e, em angustia e dor, repreendi aquilo tudo, segurando na mão de minha mulher, e ordenando que aqueles espíritos opressores nos deixassem em paz, pois nossa paz estava conquistada.
Assim que fiz isso, tudo passou…
Ontem Adriana me disse: “Existe uma coisa nisso… do homem/homem ser mesmo o cabeça da família…, pois, Deus sabe o quanto eu orava por tudo…, mas, no dia em que você, como homem, rugiu na autoridade de Deus, a coisa toda se foi…”
Foi então que decidi escrever o presente texto.
Existe esta autoridade no homem por ser homem?
Existe essa tal coisa do homem ser o cabeça da mulher?
Existe essa realidade espiritual da necessidade da submissão da mulher ao homem?
Pessoalmente eu não creio que um homem tenha mais autoridade espiritual do que a mulher pelo simples fato de ele ser homem e a mulher não.
De fato, o homem somente tem autoridade espiritual se amar a sua mulher e a sua casa. Se não amar jamais será o cabeça e jamais terá qualquer autoridade espiritual.
Sim! Pois não é o “principio”, de cima para baixo, que realiza a autoridade espiritual, mas sim a pratica do amor, de baixo para cima, o poder que estabelece tal realidade no mundo espiritual; e gera a alegria da submissão inexistente como peso, e, por isto, não sentida pela mulher na relação.
Ou seja: se torna… sem assunto e sem tema… e sem sensação; apenas é. E mais: homem algum que seja, demanda ser…
Ora, é por esta razão que Paulo inicia mandando o homem amar a sua mulher, com altruísmo, com carinho, com cuidado, com desvelo, com a delicadeza de quem cuida de si mesmo; isto quando a pessoa não seja suicida na relação; pois, quem não se ama jamais amará outra pessoa.
É acerca desse homem que ama que se diz que ele é o cabeça da mulher.
Sim! Ele não é; ele apenas se torna…
E mais: apenas se tornará se for, pois, caso não seja, nunca será por imposição.
Pela imposição tem-se a submissão dos escravos, dos filhos do medo. Mas para que a mulher seja como a igreja amante de Cristo, o homem tem que amar a mulher com o amor de Deus; do contrario, jamais terá autoridade em espírito, não sobre ela, mas sobre o mundo espiritual que a mulher discerne, mesmo quando não entende.
Daí Paulo primeiro falar do amor do homem [não da submissão da mulher], mandando que de fato todo homem ame a sua mulher, a fim de que ele seja o cabeça da esposa como Cristo é o Cabeça da verdadeira Igreja.
Como a ênfase de Paulo é no amor como autoridade, não existe a idéia da autoridade sem amor!
Assim, o que Paulo diz é que um homem que ama a quem diz amar, a sua mulher, naturalmente se torna o cabeça espiritual da casa, mesmo que a sua mulher seja mais forte na personalidade, mais culta, mais rica, mais preparada, mais tudo…
Claro! Se a mulher ainda for mulher!…
Entretanto, se sem disputa o homem apenas a amar e cuidar dela como se cuida da própria carne, então, diz Paulo, o principio se estabelece no mundo espiritual primeiro, e, somente depois, se torna fato palpável da existência.
Tudo, porém, começa no amor…
O amor não atribui autoridade às capacidades e performances ou preparos humanos…
Um homem que ame uma mulher com a qualidade do amor de Cristo — com carinho, cuidado, amparo, sinceridade e sabedoria —, será sempre amado pela mulher que um dia tenha dito amá-lo.
Ora, é desse amor do marido pela mulher que o amor dela para com ele se manifestará como alegre submissão, posto que jamais haja nada além da liberdade incentivada pelo amor às melhores escolhas e à entrega confiante da mulher, embora naturalmente consensual.
A mulher pode falar as línguas dos homens e dos anjos, pode conhecer mais que o marido, pode ter fé, pode ter sabedoria, pode ser altruísta, pode dar o corpo…, pode dar tudo, mas se ela, a mulher, não tiver amor, nada disso aproveitará de modo profundo à entidade conjugal.
O mesmo é com o homem. Sim! Pode ser o rei da fé, do trabalho, da entrega moral e responsável, mas se não tiver amor, jamais será autoridade espiritual natural para a sua mulher.
É verdade que por atos de entrega a Deus a mulher santifique o seu marido, porém, é ainda um santificar paliativo.
Entretanto, quando o homem ama, mesmo que nele não haja grandes qualificações humanas secundárias, um poder de organização espiritual se estabelece no silêncio e no mundo do espírito.
A autoridade espiritual do homem está no promover a paz pelo amor!
Daí a ênfase de Paulo ser apenas no “maridos, ameis as vossas mulheres”, pois é do amor, e somente dele, que vem a verdadeira autoridade, a qual não se impõe…, posto que apenas seja…, sem argumentos ou direitos a serem reivindicados, mas apenas e tão somente como fato da vida simples e sábia no amor.
Um relacionamento conjugal fundado no genuíno amor do marido e na alegre confiança da esposa no amor real que ela nele veja, gera uma blindagem poderosa sobre eles contra o mal que assola do mundo invisível.
Ora, é assim com tudo o mais que diga respeito a Deus e o homem!
A razão de o homem ser o cabeça me foge ao entendimento/lógico, sendo-me um fato da fé; sem falar que as lógicas sociais contemporâneas ou de qualquer outro tempo ou era… sempre trataram do fato de modo tácito e arbitrário; mas não fundado nas bases do amor.
Entretanto, para mim, tal autoridade baseia-se apenas no que está estabelecido sobre nós, e de modo superior às nossas discussões sociais ou da moda relacional.
Sei que o tema se tornou sensível tanto em razão do abuso quanto também da moda dos tempos.
Aqui não há chauvinismo; há apenas um reconhecimento de que existe um ambiente no espírito que se comporta assim; e nada se pode fazer para que ele seja alterado, exceto se faltar amor no homem, e, em razão disso, alegria na mulher.
Nesse caso, altera-se para a desconstrução…, não para uma nova construção acéfala.
É nesse sentido que creio que a maioria das casas existe sem autoridade espiritual em razão de existirem sem amor de marido e de pai — e hoje, até de mãe.
Sim! Pode haver marido e pai, mas se não houver amor, a porta está aberta para o ladrão.
Ora, assim como o é com o marido, é com Cristo: Ele tem autoridade por que ama; se não amasse, nenhuma autoridade teria.
Como Deus é amor, toda autoridade que proceda Dele e Nele permaneça, sustentar-se-á somente em razão de permanecer no amor como único cetro de autoridade.
Como disse antes, é assim que é em relação a tudo o que tenha a ver com Deus!
Há muitos poderes e autoridades neste mundo. Mas somente a autoridade do amor é aquela que procede de Deus.
Homens temidos, apavorantes, produtores de dependências, criadores de escravos obedientes, são apenas diabos humanos exercendo poder, mas sobre eles não existe a autoridade de Deus.
A autoridade que procede de Deus, em todos os possíveis âmbitos da existência, se manifesta pelo amor. E mais: não aceita nada como submissão, mas apenas como entendimento; posto que não sendo o outro um infante/suicida [contra quem se arbitra algo como imposição da vida, como fazem os pais, por exemplo]; mas, ao invés disso, se for um adulto, ou a própria esposa, nada terá o valor da submissão espiritual, por parte dela, e nada terá o poder da autoridade espiritual, da parte dele, se não for apenas e exclusivamente o natural respeito que nasce do amor; e do amor somente.
Ora, em minha opinião, somente uma esposa do tipo “Gômer”, mulher desvairada do pobre profeta Oséias, é que pode repudiar tal ofertar de autoridade mansa e humilde de coração, conforme a de Jesus, e, além disso, conforme todo homem que se conforme com o modo de Jesus exercer autoridade.
É assim que vejo autoridade espiritual; e penso que seja esse o ensino do Evangelho — e que vai de tudo a tudo.
Em síntese:
Não é o princípio que faz a coisa, é a coisa que faz o princípio na viagem do homem para Deus. De Deus para o homem é o princípio que faz a coisas, mas do homem para Deus é a coisa, o ato, a decisão, a fé, a entrega, que criam a autoridade e forjam o princípio como autoridade no homem, em Deus; mas apenas se tudo acontecer em amor.
“Algo” e “muitos alguns” no mundo espiritual…, confirmam tal declaração como fato.
Nele, que nunca quis conquista que não fosse fruto do amor,
Caio
16 de abril de 2009
Copacabana
RJ