O JARDIM E O OLHAR!

 

 

 

 

O JARDIM E O OLHAR!

 

 

 

Nada havia mudado no Jardim. Não houve uma catástrofe e nem um chacoalhar de árvores. Os frutos não caíram, e não houve uma revoada louca de pássaros ou gemidos angustiosos de animais. Tudo ficou como era antes; talvez um pouco mais silencioso apenas.    

 

Nada havia mudando no Jardim, mas, para Adão e sua mulher, o Jardim já era outro.

 

Mudou o olhar de Adão, e, com isso, desfigurou-se o Jardim!

 

Adão já não via a harmonia exterior, pois, agora, somente tinha olhos para o caos que se instalara dentro dele.

 

Abrira-as nele um abismo interior, e, assim, tudo o que ele conseguia ver era denso de trevas abissais.

 

O que antes era normal na natureza agora se tornara perigo, ameaça e morte. Adão perdera o olhar do Jardim.

 

Antes Adão via o Jardim. Agora ele via apenas a natureza a ser conquistada, e com muito medo.

 

Nada havia mudado no Jardim, mas o coração do homem agora carregava uma imensa e invisível plantação de cardos e abrolhos.

 

Nada havia mudado no Jardim, porém Adão agora via tudo com o olhar da culpa e da vergonha.

 

Nada havia mudado no Jardim, embora Adão sentisse uma vontade compulsiva de esconder-se de Deus.

 

Sim! Quando o coração do homem muda para o mal, até o Éden deixa de ser enxergado na Terra.

 

Assim, não se vê mais o Éden na Terra; pois o Éden não era apenas um lugar na Terra, visto que era apenas a fonte de harmonia que antes se irradiava por toda a Terra.

 

Não se vê mais o Éden na Terra apenas porque o Éden é uma categoria do olhar humano, e não há mais Éden algum dentro do homem.

 

A Terra se tornou do lado de fora aquilo que ela é para nós do lado de dentro: o campo de batalha da morte e da vaidade dos desejos egoístas.

 

E não houve um Éden no tempo-espaço?

 

Claro que houve. Ele, porém, só é visto fora se existir primeiro dentro de nós!

 

Enquanto isso o querubim impede a chegada até a Árvore da Vida, pois, a culpa do homem o faria comer desse outro fruto e, assim, eternizar o seu olhar do Éden como conquista do Paraíso sem Deus.

 

Ora, isto e muito mais!…

 

 

 

Caio

 

21/02/08

Lago Norte

Brasília

DF