O LIXÃO DO SER

O LIXÃO DO SER

 

 

Tiago 1: 21

 

O texto todo é completamente conectado ao seu contexto antecedente e imediato. Mas aqui desejo apenas fazer duas consideração.

 

1. As iras e amarguras da alma se transformam em entulho na alma (1: 19-21). Tiago ordena que nos despojemos de toda impureza e acumulo de maldade. A alma pode se intoxicar de todos os lixos emocionais que a vida produz. E esse acumulo cria camadas que impermeabilizão a alma impedindo seu amaciamento para receber a Palavra.

 

2. O acolhimento da Palavra demanda o despojamento do direito à ira, à amargura e à memória como depósito de maldades. Quem não se enxerga para ver que o ser não recebe permissão para transferir seu próprio estado nem para as tribulações da vida (1:2-4), nem para as tentações (1: 12-15) e nem permissão para atribuir suas vitórias à si mesmo (1:16-18)—jamais despojará o ser de seus entulhos: a ira amargurada ou a presunção de virtude (1: 26-27).

 

A Palavra cresce em nós quando eu não digo “não fui eu que teve culpa”(1:13-15) e nem tampouco “fui eu quem conseguiu”(1: 16-18).

 

É o espírito de mansidão que nos permite desentulhar a alma e acolher a Palavra que é poderosa para curar a nossa alma (1:21c).

 

O que passar disso é auto-engano(1:22b).

 

E o ouvir a Palavra sem essa consciência cria esquizofrenia entre o “ouvir” e o “existir”(1: 22-24).

 

Essa consciência, todavia, só nasce da possibilidade do coração entender que as lutas da vida são terapêuticas para o seu (1: 2-4). E mais: ela só vem como fruto da sabedoria que é praticada em fé, que é a única sabedoria que não se deixa levar pelos humores das circunstâncias (1: 5-8).

 

Essa sabedoria nos dá o significado de valores diante de Deus (1: 9-11).

 

Mas para quem deseja alguma auto-expressão de conquista própria, Tiago diz que religião não tem que se dirigir a Deus.

 

Deus deseja que a prática da fé não gere espírito religioso—a presunção de auto-ligação com Deus—mas sim uma religião horizontal: do homem para o homem. Quem quer religião, que se re-ligue ao próximo, especialmente os mais carentes (1:26-27).

 

Somente essa compreensão nos faz ver a vida como lugar de cura e a Palavra como o agente de purificação do ser nas aflições da vida.

 

O resultado desse crescimento não é prazer na tribulação, mas alegria na certeza de que trata-se de um caminho terapêutico.

 

Caio