O LUTO E O DRAMA DE UMA VIÚVA JOVEM

Desculpem-me. Apesar de ainda não ter podido pagar a assinatura do Clube do Assinante, resolvi escrever assim mesmo. Fui profundamente confrontada pelo texto do Caio Fábio sobre sete meses sem Lukas. Preciso de esperança. Estou tentando não chorar—até porque estou no trabalho, de onde, fortuitamente visito o site (não tenho internet em casa), em busca de um pouco mais de Deus. Hoje, sinto que levei um chute na cabeça—ou foi nos pés. Estou tonta. Ando mentindo para mim, dizendo que a morte do meu marido, há cinco anos, foi superada com a chegada de Jesus em minha vida. Sim, parecia que tinha sido. Jesus chegou e, apensar da dor, da falta visceral e de uma saudade desesperadora do meu marido, o sofrimento tinha ido embora e uma alegria e uma paz indescritíveis e inexplicáveis tinham me invadido. Eu podia ouvir as músicas de que ele gostaria e olhar nas vitrines as camisas que ele compraria, sentar na mesma mesa e comer a mesma comida preferida dele e celebrar porque ele existiu e me amou. Eu podia viver com mansidão aquele que é o pior pesadelo para uma mulher: abraçar seus filhos e tentar explicar porque o papai não volta nunca mais. Acreditei realmente que uma vida nova estaria começando e eu iria criar minhas filhas (4 e 8 anos) com dignidade. Os amigos se afastaram! Acredite: as mulheres temem por seus maridos e os maridos por suas mulheres. Elas têm ciúmes; e eles, medo de que tipo de influência uma viúva jovem pode trazer. Que solidão e decepção! A igreja contribuiu para que eu não desse importância: “É por causa de Jesus”, diziam. E eu os deixei ir, ou melhor, não chorei que fossem. “Jesus, Tua Graça me bastará!” Mas a solidão tem crescido, com o agravante de que eu sou muito introspectiva e não faço amizades facilmente. E assim como um pai não deixa de amar o filho com sua morte, também eu não vi o amor por meu esposo morrer. Ao contrário. As filhas têm crescido, a fome bateu à porta algumas vezes, e os tantos irmãos que me haviam sido apresentados na igreja, quando levantei meu braço e ouvi “você ganhou uma nova família”, eles não estão por perto, a não ser para dizer que se alguém está com um problema é o “tratar de Deus”… Por falar em família, a minha é especial. Tem a capacidade de se fazer presente em aniversários e celebrações; e pronto. “Cada um com seus problemas”, é o slogan. Sinto-me realmente muito só, tendo que tomar sozinha decisões sempre muito complexas em relação às minhas filhas. Oro e nem sempre recebo respostas – ou não as ouço; prefiro pensar. Sei que Deus está por perto, por dentro, mas não é verdade que tem um rio de águas vivas fluindo de mim… mas um rio de lágrimas de vontade de ter esperança. Queria muito que alguém me dissesse como… um amor impossível, uma realidade esmagadora, uma solidão inesquecível! Por favor, temo parecer estar cheia de auto-piedade. É o que me tenho dito cada uma das vezes que esse nó fecha a minha garganta: “Pare com isso. Não tenha pena de si mesma. Enxugue as lágrimas. Há muito por fazer”. Mas não estou agüentando mais—e nem sei como é não agüentar mais. O que sinto é como se o efeito do “entorpecimento” estivesse passando e, agora, Jesus me devolvesse àquela dor. Oro dizendo: “Não, Senhor! Não veja em mim mais força do que eu sou capaz de confessar.” Mas esse seu texto, pastor… O seu alívio por saber que vai encontrar seu filho, com novo nome e tudo o mais… isso é esperança. Meu esposo não era convertido para que eu deixasse de negar o quanto isso é importante para mim. Sim, porque o que eu tenho repetido é que Jesus virá. Ele, o Rei da Glória; e aí eu vou estar tão embasbacada pela Sua presença que a lembrança de coisas passadas não mais me afetará. É a fé negando a esperança. Ou há alguma chance de ser diferente? De qualquer forma, por misericórdia, que coisa maravilhosa é essa a que o senhor se refere que Deus está por fazer? Meu respeito e, sinceramente, minha mais pura e purificada inveja. _____________________________________________________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Você, seu marido e suas filhas se encontrarão, e ele também terá um novo nome e uma pedrinha branca! Ora, eu vejo três processos em curso em sua alma. O primeiro é a solidão de uma mulher-mãe-viúva, o que já é esmagador. O segundo é a liberdade para sentir, o que, considerando a “igreja”, nem sempre é permitido. O terceiro é fruto dos dois anteriores; ou seja: solitária e dolorida pela saudade do tempo em que seu marido era a anti-solidão para você, agora você tenta se agarrar à certeza do “re-encontro” com ele como alegria, mas como a “igreja” diz que quem não morreu “crente” não vai para Deus, mas para “outro lugar”, sua alma solitária, triste, carente e normal, se ressente de não poder nem mesmo se alegrar com o reencontro eterno com seu marido, posto que a “igreja” lhe negou o “atestado de salvo”. E como você mesma está cansada da “igreja”, todo estimulo anterior de superação que você teve, agora caiu por terra, ficando apenas a saudade. O que você experimenta é saudade com decepção! Ora, é também mais do que natural que você, como viúva jovem, necessite encontrar um outro alguém, um companheiro. A questão é que sua fidelidade ao seu marido já morto, e sua neurose de boa conduta justificada pelo julgamento e interpretações da “igreja” acerca de seu comportamento como “viúva jovem”, deixou você presa num ciclo de fidelidade e solidão. O que está acontecendo agora é que você está chorando o fim do luto, e que não foi chorado antes pelas razões de sublimação por mim já anteriormente explicadas. Acontece que você também chora essa dor e a necessidade de botar um fim a ela, com muita culpa. Sim, há também culpa em sua alma, embora seja uma culpa neurótica, e que é fruto da sua necessidade de se provar honesta para com seu marido morto perante essa nuvem de crentes também “mortos”, mas que exigem de você que viva como eles: como um zumbi. Não lhe digo que não chore. Pelo contrário, digo-lhe que chore muito, que chore tudo, e que chore tudo o que você não chorou. Faça isto que é para você poder parar de chorar! Além disso, também saiba: 1. Você vai reencontrar o seu marido, não mais como marido, mas como alguém muito superior a um marido, e num tipo de amor que nada nesta Terra tem comparação. Será assim entre eu e meu filho também. Todos se reencontrarão, mas as relações já não estarão condicionadas pelas configurações do Tempo. 2. Você também vai encontrar um outro alguém aqui na Terra. E mais: você está precisando encontrar. Sua alma está fazendo essa demanda. De tal modo, que a dor que você sente é também um clamor da carência da alma, que não apenas quer “amigos e irmãos”, mas também um companheiro, marido, amigo e amante. 3. Negar à alma tais verdades pode apenas criar álibis para a sua dor, mas não resolverá o problema. Sua alma quer abraço, beijo, cafuné, e carinho; além de que também quer conhecer outros cardápios; e quer comprar as roupas que seu homem, hoje, vivo, poderá vestir. Assim, minha amiga, está doendo pelo passado, mas também, e, sobretudo, pelo presente. Admitir isto, e andar conforme a verdade dessa constatação, é o que a conduzirá para fora dessa câmara mortuária na qual sua alma se colocou. Chegou do Dia da Libertação! Portanto, sua questão não é de fé, mas de alma. Entenda isso e você verá o bem que lhe visitará o coração! Com todo meu carinho e amizade, receba minha orações. Nele, em Quem uma mulher pode enviuvar e casar sete vezes, mas será sempre apenas esposa Dele, aqui e na eternidade, Caio