O Mercado da música evangélica – II

—–Original Message—– From: Flávio Siqueira Sent: quinta-feira, 28 de agosto de 2003 To: [email protected] Subject: O Mercado da música evangélica – II Mensagem: Acabei de ler sua resposta a respeito do “Mercado da música evangélica” e não pude deixar de escrever. Sabe, já faz muito tempo que tenho me indignado, inclusive com relação a esse mercado de música chamada evangélica. Na verdade, essa sujeirada toda não passa de um reflexo daquilo que hoje conhecemos como comunidade evangélica. Já vem acontecendo há muito tempo…. Não me refiro somente aos “astros e estrelas” da música “gospel”, com seus gigantescos cachês, mas também aos aspirantes a tal condição. Justificam sua busca desenfreada pelo reconhecimento, sucesso e dinheiro, alegando que as pessoas precisam ouvir falar de Cristo. Aliás, sob a mesma justificativa rádios piratas “evangélicas” interferem nas legais; e, pior: até nas comunicações entre aviões e torre de controle dos aeroportos. Sou piloto, sou radialista, sou cristão…..sofro triplamente com tudo isso. Mas não é só. Nesse “abençoado” mercado, manipuladores vão ao rádio ou a tv, nos chamando de “meu amigo e minha amiga”, com suas orações fortes, encostos e afins; sempre em “nome de Jesus”, pra arrancar dinheiro de gente para quem só resta a dignidade…. Mas não se oponha!—dizem muitos. “Ai daqueles que se levantarem contra o ungido do Senhor”—dizem outros. E o povo cala… O povo vê, mas não enxerga; sente, mas não diz nada. Ao contrário, eles dizem: “os homens são falhos mesmo, e temos só que olhar para Jesus”. Aqueles que se levantam contra isso, são rebeldes, desviados, insubmissos… E a multidão cai de pau! Trabalho em rádio há doze anos e, depois de algumas experiências, me recuso a fazer parte disso. Hoje trabalho em uma das grandes FMs da Capital Paulista (secular), ouvindo de longe, e enjoado com tudo o que está acontecendo. Já deixei de me incomodar com gente dizendo que está orando por minha conversão, que sou rebelde, que não posso julgar, mas o que fazer se são eles mesmos se condenam? Quando optei pelo mercado secular, recebi incontáveis cartas me questionando… Mas se for para trabalhar por dinheiro, prefiro a mídia secular que, acredite, é menos podre! Pelo menos aqui o nome de Jesus não é usado pra justificar nada. Saí pra não me corromper. Saí pra não criar mecanismos que, de alguma maneira, cauterizassem minha consciência e me acabasse fazendo com que eu negociasse a minha fé. Isso eu não faço ! Aliás, pelo mesmo motivo, evito qualquer tipo de proximidade com esse mercado. Ofertas não faltam, mas vale ganhar o mundo e perder a alma ? Nesse desafabo, quero expressar minha angustia diante da falta de percepção dos “evangélicos”. Como comungar com gente que usa o nome de Jesus pra fazer fortuna e não se indignar ? A música Gospel é só mais um braço disso. Assim como li, aqui mesmo no seu site, alguém comentando na incapacidade de aliar as expressões evangélico (como conhecemos hoje) e cristão; prefiro optar em deixar de ser evangélico pra continuar sendo cristão. Minha fé é inegociável e não acredito que a capacidade humana de pensar tenha sido um lapso de Deus. Pensar não é pecado! Fico feliz em ver, através do seu site, que havia tanta gente sofrendo da mesma angústia, mas que agora começam a falar. Que todos falem! Que não se calem diante da desGraça… Foi contra eles que Jesus se levantou e, por eles, não vale viver….mesmo que seja em nome de Jesus. Já foi o tempo em que eu tentava encobrir esse caos diante das pessoas, com medo que se desviassem da Graça. Mas hoje entendo que Graça é de graça e não desgraça a vida dos que buscam a verdade. Leio e me alimento aqui no seu site; fico feliz com o que vejo aqui; mas mesmo assim, me resta uma angustia e uma duvida: Onde isso vai parar? Beijão e parabéns por tudo ! Flávio Siqueira *********************************** Meu irmão: Amei sua Carta! É isso aí. Sua pergunta, infelizmente, tem uma resposta ruim: isso não vai acabar! Os fariseus e os mercadores do Templo nunca acabaram. O que a gente pode fazer é ficar longe, e não se misturar com essa perversão. Quem quiser “isso”, que fique com isso. Quem não quiser, que não fique nem por perto. Tá na hora dos Cristãos serem cristãos! O que for parecido com Jesus, eu gosto quando feito em Nome Dele. O que é feito em “nome de Jesus”, mas nega o Nome Dele, eu abomino. Sobre os cachês… Já pensou se o critério fosse o da “competência”? Quanto seria o cachê de Paulo? Se esses despreparados da música—e dos demais mercados chamados “evangélicos”—cobram o que cobram, quanto cobraria Paulo? A verdade é uma só: Quem tem o que dar; faz de graça; e crê na provisão de Deus. Quem não tem o que dar, inventa uma moda; e cobra por ela. Os tolos pagam! Tá na hora de haver uma rebelião contra esse bazar de fantasias. A casa de meu Pai será chamada casa de oração; vós porém a transformais num covil de salteadores—disse Jesus acerca de algo menos ofensivo. Ou será que Deus só tinha que ser levado a sério no Templo de Jerusalém? Deus é espírito, e importa que Seus adoradores o adorem em espírito, em verdade, e de graça. Afinal, supostamente, estão cantando para celebrar a Graça! Como disse, entendo que se grave um Cd, ou se produza qualquer outro produto. Tudo custa. Nada é de graça no “mercado”. Não sou irrealista. Sei quanto custa pra fazer cada coisa, mesmo que você as faça com o coração puro. Tudo custa. O que é repugnante não é o preço. O que me causa repulsa é o descaramento, a atitude, o estrelato, o descaso, o show sem carinho, a brincadeira com aquilo que é santo! Não se fala aqui da vida particular de ninguém. Não se está cobrando “fachada” e muito menos “carinhas de santidade”. Isso é feio também. Pede-se apenas que sirvam ao Senhor com beleza e pudor. Ou o que será adorá-Lo na beleza de Sua santidade? Sobre as “piratarias”, não é de hoje. Faz-se pirataria de tudo no meio cristão. Há piratas de plantão. São verdadeiros assaltantes de alto mar. Ficam de olho. Espreitam. Então, dão o bote. Tudo virou “nicho de mercado”. É coisa da Grande Babilônia. O Apocalipse diz que ela faz comercio até de almas humanas! Que ninguém me entenda mal. Não sou juiz de ninguém. Mas espero que se um dia eu falsificar a Palavra, me confrontem. Assim, também, cada um viva sua própria vida; mas que não venda aquilo que não tem preço! Todos temos que viver. O importante é aprender a fazer isso com dignidade, e sem “abusos”. Um beijão, Caio