Os textos chamados natalinos são todos de natureza revolucionária e marginal.
José é maior que o machismo, e aceita sua mulher, sem poder explicar para ninguém a gravidez dela (isso se alguém tivesse descoberto), mas apenas aceita o testemunho de um anjo, e, ainda pior: num sonho. José torna-se marginal. Deflagra as chamas da revolução da dignidade.
Os magos do oriente chegam conforme a Ordem de Melquizedeque, pois, sem terem nada a ver com a genealogia de Abraão, seguem uma estrela que anda no interior deles, e, caminhando nessa simplicidade discernem aquilo que os teólogos de Jerusalém só sabiam como “estudo bíblico”. Os que tinham a Escritura (os escribas), não tinham a Revelação. E quem nada sabia da Escritura tinha sabido o necessário acerca do Verbo pela via da Revelação. Uns sabiam o endereço: “Em Belém da Judéia…”, mas não tinham a disposição de sair do lugar… amarrados que estavam à idéia de que conhecer o texto leva alguém a qualquer lugar. Já os que perguntavam (os magos), estavam no caminho… seguiam… e são eles os que chegam onde Jesus estava. Eles dão testemunho do potencial revolucionário do Evangelho para qualquer alma da Terra. Esta é a revolução supra religiosa, conforme a Ordem de Melquizedeque.
A velha Isabel dá a luz um filho. Seu velho marido não pode nem contar a história, pois fica mudo. É a revolução dos estéreis e mudos.
O rei dos judeus não tem onde nascer! Esta é a subversão dos poderes!
Pastores distraídos são visitados por miríades de anjos—e eles representam os homens de boa vontade. É a marginalidade da Glória!
Nenhum dos sábios de Jerusalém discernem o Príncipe Eterno quando seus pais o levam ao templo para a circuncisão, mas apenas uma profetiza velha e um ancião sem significado religioso. A revelação não sabe os nomes dos sacerdotes!
Ou seja: a começar da Encarnação como Natal (nascimento), o Evangelho é para aqueles que não se esperava que fossem discerni-lo.
A Revelação é quase sempre marginal!
Os grandes atos de Deus não acontecem em Palácios, mas em choupanas e estrebarias. E a voz mais veemente do natal é a voz da virgem, da Maria simples, e que troveja a justiça de Deus sobre as nações. Ela é quem anuncia a grande subversão divina. E faz isto como um Cântico.
Dedico este texto a todos os que hoje se sentem afastados da religião, e que ainda carregam a culpa de assim estarem afastados.
Deus não é oficial. A vida não é oficial. O amor não é oficial. A Graça de Deus é sempre subversão e marginalidade. Na oficialidade são feitos os julgamentos. Na marginalidade explode a vida.
Abra seu coração e siga o Guia, conforme os magos. Seja generoso como José. Corajoso como Maria. Fértil como a estéril Isabel. Convicto como o mudo Zacarias. Alegre como aqueles que são acordados nos campos pela voz de anjos. Capaz de antever a salvação como esperança mesmo que você seja velho como Simeão e idoso como Ana.
Nas narrativas do Natal nas Escrituras não são as pessoas que vão a Deus, mas Deus que vai às pessoas.
O Natal acontece como afirmação de que em Jesus, Deus se reconciliou com os homens. Assim, não se sinta excluído, pois, eu sei, nestes dias, Deus enviará corais de vozes interiores, e nos ajudará a discernir o caminho interior da estrela, e nos fará contentes com a Graça de Hoje, e que será a esperança de amanhã, para nós e para todos os humanos.
No Natal Jesus é a alegria dos homens!
Nele,
Caio
Escrito em 2003
Copacabana