O PRATINHO DE MEU PAI

 

 

 

 

 

O PRATINHO DE MEU PAI

 

 

 

Somente em Deus espera silenciosa a minha alma; dele vem a minha salvação.

 

Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é ele a minha fortaleza; não serei grandemente abalado.

 

Até quando acometereis um homem, todos vós, para o derrubardes, como a um muro pendido, uma cerca prestes a cair?

 

Eles somente consultam como derrubá-lo da sua alta posição; deleitam-se em mentiras; com a boca bendizem, mas no íntimo maldizem.

 

Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus, porque dele vem a minha esperança.

 

Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha fortaleza; não serei abalado.

 

Em Deus está a minha salvação e a minha glória; Deus é o meu forte rochedo e o meu refúgio.

 

Confiai nele; ó povo, em todo o tempo; derramai perante ele o vosso coração; Deus é o nosso refúgio.

 

Certamente que os filhos de Adão são vaidade; e os filhos dos homens são desilusão; postos na balança, subiriam contra o nada; todos juntos são mais leves do que um sopro.

 

Não confieis na opressão, nem vos vanglorieis na rapina; se as vossas riquezas aumentarem, não ponhais nelas o coração.

 

Uma vez falou Deus, duas vezes tenho ouvido isto: que o poder pertence a Deus.

 

A ti também, Senhor, pertence a benignidade; pois retribuis a cada um segundo a sua obra.

 

 

 

 

Quando eu cheguei aqui em Manaus desta vez, assim que tudo começou a ficar pior e pior, numa manhã ao ir tomar café vi um pratinho de papai, no qual ele come os cereais dele pela manhã; olhei, chorei; e não consegui comer; fiquei apenas olhando o pratinho.

 

Nele há um texto gravado:

 

Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus, porque dele vem a minha esperança.

 

Hoje Adriana me disse que no dia 4 de junho, quando estávamos aqui, papai virou para ela, mostrou o pratinho e disse: Esse é o meu pratinho, mas essa palavra é para você.

 

Ela anotou no diário dela, e hoje ao lê-lo me contou esta história, à qual eu agreguei a minha, conforme narrei acima.

 

Então, depois de desligarmos o telefone, fiquei pensando na significação tão singela desse pratinho que serve o Salmo 62:5 como refeição todos os dias.

 

Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus, porque dele vem a minha esperança!

 

 

É uma fala; uma instrução de amor do espírito à alma; à alma sempre alma, sempre agitável, sempre levada por emoções, alegrias ou tristezas; a ela diz o espírito educado na fé: “Espera silenciosa somente em Deus…” É uma esperança absoluta e focada em Deus; e sem falas ou argumentos; pois, fala pelo silencio que confia; pois, o tal silencio, grita sem voz: “… Dele vem a minha esperança!”.

 

Ah! Eu ainda tenho que comer muita sustagem para poder me alimentar dessa dieta de silêncio certo de esperança; e aprender a ficar contente em estar encurralado em Deus; somente em Deus. Sempre. Naturalmente.

 

Hoje papai enfim acordou depois de longos quase 20 dias sedado ou variando; delirando ou morrendo; como algumas vezes morreu…

 

Ele tentava me dizer algo que eu não tinha como entender com os sentidos, embora eu soubesse no coração.

 

“Paizinho! Você deve estar dizendo: Caio Fábio, tire esse tubo de mim, não é?”

 

E ele sacudiu a cabeça.

 

“Eu sei que isto é horrível…. Eu já fui entubado, lembra?”

 

Ele confirmou.

 

“E o meu tubo era muito mais grosso que este, e só fiquei umas cinco horas acordado com ele na garganta, mas foi horrível… Eu sei.”

 

Ele disse que sim, que sabia que eu sabia.

 

Então disse a ele o que havia acontecido, que 21 dias haviam se ido, e que ele enfrentara todas, na força do Espírito Santo e de seu próprio espírito cheio de fé; e de como ele havia saído da morte para a vida; e que ele estava ótimo e milagrosamente corado.

 

Aí expliquei que eu estava pedindo a ele era para agüentar só mais algumas horas, até amanhã, sem sedação, a fim de poder ficar sem o tubo.

 

“Mergulhe na alegria de seu espírito e fique calmo, pois, amanhã, com a Graça de Deus, essa boquinha vai estar livre e essa garganta aberta para engolir e beber; e depois falar”.

 

Ele me confirmou que havia entendido.

 

Fiquei lá falando outras coisas; falando de amigos e que estavam sempre lá, e de tantos que oraram e estavam orando por ele.

 

Ele confirmava que sabia.

 

Então chegou a hora da enfermeira-chefe dizer que estava na hora de eu ir; afinal, já é muita concessão que eles nos têm feito na UTI.

 

Penso que eu disse aquelas coisas a ele e fico com vergonha; pois, de fato, ele é quem come não apenas naquele “pratinho”, mas come todos os dias o que nele está gravado: Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus, porque dele vem a minha esperança! — e eu estava ali pedindo a ele para ficar em silencio aguardando o dia de amanhã?

 

Sei que é útil; mas que é bizarro que seja de mim para ele!… Ah! isso é sim!

 

Senhor! Perdoa o meu pecado, a minha falta de confiança, e a minha falta de espírito mais elevado do que a minha frágil alma.

 

Em nome de Jesus, meu Salvador, Senhor e Santificador, eu peço que tu me dês o espírito que come no pratinho de meu pai todas as manhãs; e com toda alegria silenciosa e silêncio alegre.

 

Amém!

 

 

Caio – Teu servo mais carente de todos.

 

27/08/07

Manaus

AM