De onde vem essa capacidade que alguns seres humanos têm de assistir ao sofrimento como prazer lascivo?
À volta da Cruz havia multidões assistindo por prazer. São os mesmos que assistem a homens serem devorados por feras os que freqüentam reuniões de enforcamentos, não perdem os funerais dos ainda vivos e se satisfazem orgasticamente ante as cenas da agonia.
Esses não têm lágrimas, mas apenas “Ohs!” a soltar ante a presença da dor.
Suspiram. Gemem. Grunhem. Revolvem-se. Sofrem espasmos. Escandalizam-se. E alcançam o prazer!
Então voltam andando para casa com o descaso de um marido insatisfeito, que vira para o lado e cai desinteressado tão logo acabe a “obrigação com a patroa”.
Tal é o cínico prazer dos que tiram gosto de presenciar o sofrimento!
Talvez por esta razão os que são postos para fora, conforme a Parábola das Ovelhas e das Cabras (Mt 25), são aqueles que apenas assistiram…
Sim, assistiram bem de perto à fome, à sede, ao frio, à injustiça, ao preconceito, à fraqueza, à solidão, e nada fizeram além de sentir uma estranha e complacente sensação de dolorido prazer.
Mas de onde vem tal prazer?
Vem do gozo da infelicidade!
Esse é o prazer do inferno!
Caio
Escrito em Outubro de 2004