O QUASE ANCIÃO E A MENINA BROTINHO…

 

 


—– Original Message —–
From: O QUASE ANCIÃO E A MENINA BROTINHO…
To: [email protected] ; [email protected]
Sent: Monday, October 16, 2006 8:57 AM
Subject: Diferença de idade


Caro Caio Fábio,

Tenho 25 anos, sou evangélica há oito anos, e ao ver este site me senti muito feliz ao ler as cartas, e ver que o Sr. criou, digamos, um “consultório virtual”, onde as pessoas desabafam e expõem seus demônios e fantasmas. Não sendo diferente de nenhum deles, o objetivo desta carta é um pedido de socorro… de ajuda!

Sou uma mulher inteligente, bonita, honesta, mas tenho dificuldade de me relacionar afetivamente; e isso me frustra bastante. Creio que essa dificuldade se deu devido à ausência dos meus pais, pois, fui criada pelos meus avós — com muito amor, mas sempre me senti diferente dos meus outros primos; e o abandono dos meus pais criou muitas feridas no meu coração.

Mas quando eu me converti eu os perdoei; e hoje eu consigo vê-los com tolerância e respeito. Mas paralelo a tudo isso eu sempre tive medo de me relacionar com homens, pois achava que eles iriam me abandonar assim como meu pai fez com minha mãe (ela, para completar, me confessou que o meu pai queria que ela me abortasse… eu só tinha nove anos quando ela me contou … foi horrível !!!).

Isso foi motivo de grande parte das frustrações de minha adolescência, mas a conversão trouxe luz à minha escuridão e Jesus tratou dessas feridas.

É claro que não dá para apagar o que se viveu, mas posso com firmeza dizer que hoje eu sou uma pessoa saudável emocionalmente (nesse quesito: família).

Há dois anos nutro um sentimento por um homem bem mais velho que eu (tem idade para ser meu pai…). Não o vejo como um pai; pelo contrário, sinto desejo por ele; gosto de conversar e estar com ele.

Ele é um homem culto; e, principalmente, ele me trata de uma maneira que nenhum homem me tratou. Somos amigos. Ele compartilha suas expectativas e frustrações (ele é separado, tem três filhos “problema”).

Sinto por ele um amor maduro e vejo que vivemos uma relação de troca — eu o completo de uma forma; e ele me completa de outra. Apesar de toda essa química até o momento não tivemos nenhum contato sexual (por escolha minha, é claro); pois eu não quero pecar contra o Espírito Santo, apesar de sentir um desejo louco de ser dele. Ele não sabe que eu sou virgem (eu sou; por incrível que pareça). Isso me frustra muito; e eu tenho medo de ficar sozinha por ter firmeza e convicção neste objetivo (me entregar somente para o meu marido).

Como eu devo proceder? Já tentei me afastar dele, mas não consigo. Já tentei de todas as formas possíveis que o senhor imaginar, mas parece que eu quero viver tudo isso. Tenho medo de daqui a alguns anos me arrepender de não ter assumido este sentimento…

Que culpa tenho eu se me apaixonei por uma pessoa que tem a idade para ser meu pai?

O que eu faço se eu não consigo me interessar por homens da minha idade?

Ele é uma pessoa maravilhosa — ético, dotado de um caráter inigualável, humilde, sofrido; e, claro, único!

Tenho medo de perdê-lo…

Me dá uma luz. Estou cansada de julgamentos pré–concebidos e olhares de reprovação vindos de pessoas de dentro da igreja, e que pregam que só devemos ter relacionamento com alguém cristão… Como se o que vier fora disso implique em uma passagem de ida para o inferno…

Li a carta sobre “diferença de idade”. Será que é impossível um relacionamento entre duas pessoas de idades diferentes?
 
_______________________________________________________________________________

Resposta:


Minha amiga: Graça e Paz!


Deus fez homem e mulher. Não fez ancião e brotinho. Somente assim se pode dizer que a carne é a mesma; e que os ossos são os mesmos. Pois, quando idade faz tanta diferença, ‘a carne psicológica’ já não é a mesma; e nem tampouco ‘os ossos espirituais’. O plano de Deus é que homem e mulher tenham seus filhos em pleno vigor; e que envelheçam juntos.
 
Mas, vamos ao assunto.

É claro que é possível um relacionamento entre pessoas separadas por um grande hiato de idade. Sim, é possível, especialmente enquanto ambos estão fortes — no seu caso: você jovem e ele ainda forte.

O problema não é hoje. O problema será o Amanhã.

Quase todos os dias atendo pessoas nessa mesma situação. Atendo por carta ou pessoalmente. Sim, pessoas que me reportam grandes paixões que um dia tiveram por pessoas de idade bem diferente; mas que, agora, quando os anos fizeram o ‘mais velho’ tornar-se velho; e a menina de então, ‘uma mulher de meia idade’ — ele com 65 ou 70; e ela ainda com 45 ou 50 — estão agora experimentando o impensável. Ou seja: no caso de mulheres, estão amando como amigo a um velho; e, infelizmente, desejosas (mulheres são a maioria dos que me reportam tal coisa) de terem um marido mais jovem.

Portanto, hoje não é problema. Mas, amanhã, certamente será.

Sim, porque quando a diferença de idade é tão acentuada assim, o que hoje não pesa, ao contrario, até pontua em favor do homem — sábio, experimentado, amoroso, inteligente, maduro, etc. — amanhã será um peso; pois, o vigor de um homem de 50 anos é ainda imenso, e suas virtudes como marido e amante geralmente estão em ascensão; porém, em mais 10 ou 15 anos, o que hoje é virtude, começará a ser um peso.

Nesse caso, o problema é que você amará este homem, e, possivelmente, ele a você. Entretanto, daqui a mais 25 anos você estará uma Balzaquiana de 50 anos — ainda bela; e mais cheia de apetite sexual do que nunca antes. Ele, porém, terá 75 anos; e, por mais que ame você, estará, pelo próprio corpo, bastante incapacitado a atender você em tudo — apesar dos Viagras da vida.

Assim, sua escolha é entre o hoje e o amanhã. A questão é que 90% das mulheres que assumem o hoje em tais bases, lá na frente enfrentam o drama de se envolverem com alguém mais jovem (em geral, bem mais jovem mesmo!). E, no caso de mulheres que têm um coração íntegro como o seu, sofrem em demasia.

Além disso, você estará assumindo uma família pronta, com seus problemas, idiossincrasias, cultura, problemas, vícios, e atitudes eivadas de hostilidades — enquanto você, sendo quase da idade dos filhos dele, terá que ser madastra para gente que tem quase a sua idade, e, ao mesmo tempo, terá que ter sua própria família; o que, em geral, suscita muitos ciúmes nos filhos já existentes (os dele).

Essa é a regra geral; e só sabe bem disso quem já viveu o que para você ainda é um sonho.

Se eu fosse você, sinceramente, preferiria — uma vez sabendo do peso psicológico que a separação de seus pais gerou em você — procurar uma terapia boa e séria, ao invés de fazer de um trauma um projeto de vida; o qual, certamente, no imediato, lhe dará prazer; porém, em pouco tempo (assim que você for morar com ele) lhe trará muitas tristezas — começando pela relação com os filhos dele já; e, depois, com a própria situação, mais adiante, quando o “tempo chegar”.

Portanto, se você associa sua dificuldade de se relacionar com homens de sua idade ao seu trauma familiar, não faça de tal situação psicológica um carma; pois, inevitavelmente, você pagará um alto preço.

Esta é minha opinião sincera. E se você lê as cartas, sabe que não brinco com tais coisas; pois, o que é, é.

Dizer diferente, sendo também pai de filhos mais velhos que você, seria leviandade minha. Além disso, também sou casado pela segunda vez, e tenho a benção de ter mais três filhos-enteados ótimos; embora, eu mesmo, seja uma pessoa pronta para ter filhos da idade de meus filhos, pela própria experiência de vida. Mas, não fosse isto, seria uma desgraça.

Além disso, eu jamais casaria com uma mulher que não regulasse com a minha idade; pois, pela experiência acumulada, sei que não dá certo mais adiante.

Falo isto de modo isento. Mas a decisão é sua.

Por que, ao invés de se fixar no padrão psicológico do trauma, você não tenta vencer isto?

Você tem o potencial de gostar de jovens de sua idade ou um pouco mais velhos. Tem sim. Apenas bloqueia. E, por tal bloqueio, pode ainda pagar preços que sua alma desejará ter evitado.

Falo a você como falaria com uma de minhas duas filhas. Portanto, não estou tentando estragar prazeres, mas prevenir dores. A decisão, todavia, é sua.


Receba meu beijo carinhoso!

 

Nele, que não fez de Eva um broto, e de Adão um ancião — a fim de ajuntá-los,

 


Caio