O QUE É CANÔNICO?



Oi Caio Estava lendo uma das cartas em que você reafirma que a chave hermenêutica é Jesus, e faz o seguinte comentário: “Ora, o que eu disse se auto-explica, incluindo o fato de que o livro de Atos é um livro de atos, e que os únicos atos absolutos e irretocáveis feitos na Terra são os Atos de Jesus. Portanto, há Evangelho em Atos, mas o Atos não é o Evangelho. Digo isto porque se os critérios de Jesus forem aplicados aos Atos dos Apóstolos, os próprios apóstolos seriam sempre relativizados. Quando leio o Atos, eu não leio o Evangelho da Graça—esse eu só vejo plenificado em Jesus—, mas a tentativa humana de começar a viver conforme a fé em Jesus. E, em tal processo, há acertos, erros, equívocos, infantilidades, ambigüidades, diferenças, medos, dúvidas, e todas as demais coisas concernentes aos homens. Assim, o livro dos Atos Apostólicos, é um livro de história, e não quer ser visto como o Evangelho.” Eu concordo com você também no modo como se lê as Escrituras. Eu não conseguiria desenvolver o significado que tem para a teologia o termo “canonicidade”, mas sempre entendi que este termo se refere a um conjunto de 66 livros que formam a Bíblia. Mas no sentido de que estes livros registram um conjunto de história que, de algum modo, expressam a comunicação de Deus para com o homem. Um exemplo é o relato da repreensão que Paulo faz em Pedro por fazer acepção de pessoas e a de Pedro, que faz em Paulo, para que este não se esquecesse dos pobres. É uma história para registro, para que por meio dela possamos compreender a natureza da graça, mas a história em si não expressa a graça no seu sentido pleno. Tal como estas outras histórias. Agora, sabemos que as Escrituras testificam de Cristo, ainda que para a percepção iluminada pelo Espírito Santo. Quando Jesus andou com os discípulos no caminho de Emaús, fez uma exposição do que no Antigo Testamento falava dele. Gostaria que me desse um exemplo, com base na regra hermenêutica, de como se faz uma exposição assim do Antigo Testamento, por exemplo, na vida de Isaque. __________________________________________________________________________ Resposta: Querido amigo: Graça e Paz! Pedro não exortou a Paulo quanto aos pobres. Apenas deu ênfase em algo que Paulo disse que já praticava—conforme se vê em seus escritos—, e que foi algo dito no conjunto da ‘media’ que aquela visita de Paulo a Jerusalém significou. De fato, Paulo ouviu o que não precisava apenas para fazer a paz. Mas os conselhos de Jerusalém eram básicos demais para o nível no qual Paulo já estava. Sim, Paulo os tratou com imensa condescendência! Não dá pra ler II Coríntios 8 e pensar que Paulo aprendeu qualquer coisa sobre como amar os pobres em Jerusalém. Se você quiser saber como Jesus ‘leu’ as Escrituras e também como os apóstolos, especialmente Paulo, as leram… aplicando-as a Jesus… basta ver, no caso de Jesus, como Ele citou as Escrituras nos Evangelhos… e, dali… depreender o ‘espírito’ da hermenêutica de Jesus; e… no caso de Paulo, leia a quantidade imensa de textos das Escrituras judaicas que ele usa em suas cartas… e veja também o ‘espírito’ de tal utilização. Mas esse é um trabalho para você. Se eu fosse atender ao seu pedido teria que escrever um tratado. “Canônico” é aquilo que os homens escolheram fazer ficar nas Escrituras. Eu não sou preocupado com o canônico, e sim com o inspirado; e, o inspirado, para mim, é tudo aquilo que carrega o ‘espírito do ensino do Evangelho’. Onde o ‘espírito do Evangelho’ está presente, para mim, aí há o que levar para a alma e para a vida. No mais, vejo registros históricos da infância da fé e da consciência. Em Jesus está toda a revelação e toda a referencia para se julgar e entender o que quer que pretenda ser canônico. Mas esse assunto está amplamente tratado aqui no site, não apenas no texto que você citou, mas em muitos outros. Procure-os e você saberá muito mais o que penso a respeito do assunto. Um beijão carinhoso! Nele, Caio