O QUE FAZER SE TENHO JESUS E SOU INFELIZ?
—– Original Message —– From: O QUE FAZER SE TENHO JESUS E SOU INFELIZ? To: [email protected] Sent: Monday, July 25, 2005 5:12 PM Subject: O que fazer se tenho Jesus mas não sou feliz? Querido Caio, Mas uma vez estou aqui querendo um colo virtual, e que sempre me faz muito bem. Sempre escutei que o fato de se ter Jesus obrigatoriamente faz de você uma pessoa feliz. Mas não é isso que tem acontecido comigo. Não tenho achado nenhuma graça na vida. Ando as vezes querendo morrer por não encontrar graça em nada. Se eu morrer agora, sei que estarei com o meu Pai, e esta talvez é a única certeza que tenho. Tenho dois filhos que são o motivo de continuar “viva”, mas, às vezes, me pergunto: Pra quê? Entrei numa concha e não consigo sair… Preciso de alegria, de sentir prazer no que faço, mas não tenho conseguido. Aliás, só tenho conseguido chorar… Me ajude! Me conforte! Me socorra! Por favor! Um beijo grande. Rute _________________________________________ Resposta: Minha querida amiga: Graça e Paz! Sidarta, o Buda, disse que “viver é sofrer”, e ele disse isto por constatar que a razão da maior parte dos sofrimentos humanos decorre do ato de viver em razão do desejo de ser feliz. Assim, ele inicialmente elaborou uma teoria que significava a tentativa de “amortecer” o desejo pessoal, a vontade própria, e tudo o que fosse ambição de ser, ter e poder. Depois ele mesmo concluiu, por experiência própria, que tais coisas têm aparência de sabedoria e humildade, mas que, no fundo, não têm poder contra as pulsões da alma. Foi então que ele veio com a tese do “caminho do meio”, onde o que deve prevalecer é o “equilíbrio”. Ora, você não precisa fazer a viagem de Sidarta para chegar a tal conclusão, posto que Jesus mesmo já nos ensinou, de uma vez e para sempre, não como “experimento”, mas como “encarnação da Verdade”, tudo o que precisamos saber para ser e viver em Deus. A questão é a seguinte: na antiguidade os homens e mulheres queriam paz. Hoje eles querem ser “felizes”. Ora, na paz verdadeira sempre há felicidade. Porém, a busca da felicidade como alvo da vida sempre tira a paz. Essa noção de felicidade que hoje a atormenta vai continuar a atormentá-la enquanto suas expectativas forem as desse mundo. Jesus disse que tinha uma paz para nos dar, a qual não era como “a paz do mundo”. Ora, a “paz do mundo” é fruto de se ter tudo sob controle e sob o nosso poder. Quando é assim, então, se diz que se está em paz. Mas se algo, qualquer coisa, acontecer, então, na mesma hora, a tal paz evapora, posto que ela tira seu significado das circunstâncias, e não dos fatos imutáveis da fé. Além disso, a presente noção de “felicidade” é produto de uma grande falsificação marketeira, e, sobretudo, fruto das ilusões românticas e dos padrões de “felizes para sempre” que a industria das ilusões cinematográficas e televisivas nos criaram como “leis de alegria para a vida”. Portanto, a primeira coisa a fazer, é parar de se comparar. Tipo: por que eu, que creio em Jesus, não tenho um amor, um marido em casa?… enquanto quem não crê sai acompanhada todos os dias? Sim, são coisas desse tipo que criam as “comparações” em razão das quais aumenta seu sentido de dês-significado, e, por conseguinte, seu vazio, sua amargura, seu desencanto com a vida, e sua sensação de “logro” em relação a Jesus. Você falou apenas duas coisas positivas: os seus filhos (que ainda lhe dão razão para a batalha da existência… apesar dos “por quê”); e sua fé em Jesus, em cujos braços você crê que estaria infinitamente melhor, mas se morresse. Ora, são justamente essas duas realidades que mais acentuam o nosso significado existencial de verdade. Paulo disse que preferia não “partir” em razão de “seus filhos” espirituais, pelos quais ele ainda sentia dores de parto. Mas admite que sofreu, algumas vezes, tantas opressões objetivas, que, em dado momento, chegou a se desesperar da própria vida. Ele também admitia que era infinitamente melhor partir e estar com Cristo, mas, em razão dos que amava no mundo, preferia ficar, e amar até o fim; e só partir quando Deus o levasse. Por outro lado, Paulo também diz que é a visão de transcendência aquilo que nos salva de sermos enterrados com as desesperanças da presente existência. Daí ele dizer que se a nossa fé se limitasse apenas a pequenas e frágeis esperanças linkadas a esta existência (mesmo que em nome de Jesus), não seriam suficientes para nos manter existencialmente esperançosos. O interessante é que a palavra “feliz” aparece no Novo Testamento em meio ao paradoxo. Os felizes choram. Os felizes aprendem com humildade. Os felizes têm uma mente limpa de tudo. Os felizes são seres que se controlam (mansos). Os felizes buscam o que é justo. Os felizes são, muitas vezes, perseguidos. De um outro lado, Jesus diz “ai de vós” para os que vivem de risadas num mundo de dor, para os que vivem de luxo num mundo de miséria, para os que vivem de “recompensas” num mundo que paga o pobre e justo com indiferença, e para os que tinham todas as razões para andarem orgulhosos, visto que todos os louvam, como fizeram com os falsos profetas, os quais viviam para atender a “lei da média”. “Bem-aventurado” (makarius), é um termo que designa felicidade espiritual, não material ou histórica. Portanto, não é um manual de Teologia da Prosperidade, mas sim o caminho espiritual do discípulo que “renunciou” a todas as “recompensas” terrenas, e, assim, já não espera do mundo a “sua paz”, mas, ao contrário, ironiza do mundo com a paz de Cristo. O fato é que nos vendem na “igreja” a mesma fantasia que Hollywood nos vende: felizes para sempre… casados para sempre… certezas para sempre… etc. E se algo der errado, a culpa é sua. Jesus nunca falou disso, e, nos evangelhos, todos se aproximavam Dele com problemas objetivos. Ninguém jamais perguntou a Ele: “Mestre, o que faço para ser feliz? Para arranjar um marido? Para ter tudo o que as mulheres bem-sucedidas têm?” Ao contrário, Jesus disse que o caminho com Ele implicava em “renunciar” tais expectativas (pai, mãe, mulher, filhos, amigos, casas, etc…), e abraçar a alegria eterna do reino de Deus, seguindo-O apenas em fé despojada, e amando a Deus e ao próximo. Ele também ensinou a deixar de lado as ansiedades da presente existência, a fim de abraçar o reino em primeiro lugar na vida interior, como confiança e esperança. Essa “felicidade” que não tem que aprender (humilde), que não chora, que não guarda o coração limpo de invejas e doenças da cobiça, que não vive para pacificar ao próximo e a si mesmo, que foge do que é justo para não ter trabalho, e que concorda com tudo pra não ser perseguido —, vem da mentalidade ocidental renascentista, e, no oriente próximo, vem das fantasias de amor das Mil e Uma Noites da cultura árabe. Hollywood apenas vendeu o que é comprável: fantasia! Para Jesus ser feliz é andar com o pé no chão e o coração nas alegrias eternas! Foi por essa razão que Ele não disse a Maria, que quedava-se a Seus pés, ouvindo-Lhe os ensinamentos: “Um coisa te falta: um marido!” Ao contrário, Ele disse: “Nada te falta! E tu encontraste a boa parte, e esta não te será tirada!” Felicidade, para Jesus, é um estado de confiança Nele, no Seu ensino, e na certeza da Vida que é. Ora, isto nada tem a ver com não sofrer, mas sim em não mais sofrer o sofrimento dos desesperançados. “Felicidade”, no Novo Testamento, é trocada por outras expressões, como fé, esperança, amor, certeza riqueza em glória; e como herança dos santos na Luz. Ora, quando tais coisas são o fundamento do ser, mesmo sem buscar felicidades da Terra como obsessão, o discípulo experimenta a felicidade como desistência dela. Sim, porque ao renunciar à obsessão da felicidade hollywoodiana, a pessoa começa a provar não o que é “imposto como critério de felicidade normal” (critério mundano), e passa a buscar apenas ser em Deus. Ora, paradoxalmente, é de tal renuncia que vêm todas as coisas boas; posto que assim, nem a alma se compara ressentidamente com a felicidade alheia, como também fica livre e solta para abraçar todos os sacramentos que a vida lhe serve. Portanto, a primeira coisa a fazer é parar de ver novela e de buscar como normalidade existencial as fantasias de Hollywood. A segunda coisa a fazer é procurar um médico, psiquiatra, e ver se você está sofrendo de depressão; ou ainda mais grave: se ela é “organicamente crônica”. Em ambos os casos você precisará se submeter às medicações; e, em pouco tempo, sua depressão terá “cedido”; e, assim, sem as angustias orgânicas, você poderá focar melhor as coisas, e, por essa razão, aprender a acalmar seu coração, não mais misturando mal estar químico com angustias existências e espirituais. Quanto ao mais, leia os salmos em voz alta e faça isto sem auto-piedade, mas com alegria em fé, sabendo que seu Deus é Pai e é Bom! Nele, em Quem felicidade é saber viver sem comparações e com muita gratidão, Caio ___________________________________________________________ lEIA O SEGUINTE TEXTO: ENQUANTO O CÉU NÃO CHEGAR O que devo fazer comigo mesmo até que chegue a hora de ir para o céu? Esta é questão que hoje lateja na base do ser de quase todos os cristãos que se consideram “convertidos”. Converteram-se, mas não sabem ao quê e muito menos para o quê! Há aqueles que escondem essa questão latente dando uma resposta rápida: “Converti-me para glorificar a Deus e ser testemunha de Seu Reino”—então, após assim confessarem, passam a correr muito, de um lugar para o outro, a fim de salvar o mundo, sem perceber é que precisam correr e correr, pois, do contrário, se olhassem para si mesmos e para suas inúmeras irresoluções, morreriam de depressão! A chamada “obra de Deus” esconde muita necessidade de verdadeiras obras de Deus em nosso ser, mas que não queremos nos abrir para experimentar. O Evangelho é essa Boa Nova sobre o quê e como se viver até que sejamos absorvidos pela vida. O problema, para muitos de nós, é que duas coisas acontecem: 1. Uma vez “convertidos” passamos crer o Evangelho que nos salvou agora é para “outros”, os perdidos que temos que alcançar. Dessa forma, a Boa Nova passa a ser por nós uma espécie de Herb Life que nós nos comprometemos a vender como dieta e pacote, a fim de que o negócio se expanda de modo piramidal. Mas já não tem mais nada a ver conosco, mas com a perdição dos outros. 2. Uma vez “convertidos” perdemos a nossa alma—digo: alma como psique. Ganhamos uma “alma salva”—e que aguarda o céu—enquanto perdemos a alma como lugar de movimentos permanentes, crescimentos, experiência de estações e auto-descoberta. Ou seja: a alma acaba como lugar de aventura e de crescimento pessoal. Por isto é que há cada vez mais há hordas imensas de cristãos doentes e infelizes. Afinal, o que lhes foi oferecido como vida no dia chamado Hoje, agora é apenas um titulo de capitalização celestial para num dia chamado Quem Sabe poder ser descontado na forma de um galardão—isto por se ter suportado viver tão miseravelmente enquanto o céu não chegava. Fiel é a Palavra… Cristo Jesus veio ao mundo salvar os pecadores… Dos quais eu sou o principal… Desse modo, antes de tudo e todos, o Evangelho é para mim. Eu preciso da Graça e do Amor do Espírito para viver na Terra. Não foi para nada diferente que o Evangelho nos alcançou. Caio