O QUE O SENHOR PENSA DO EVANGELHO COMPULSÓRIO DO G 12?

—–Original Message—–
From: O EVANGELHO COMPULSÓRIO DOS 12
Sent: domingo, 15 de fevereiro de 2004 01:38
To: [email protected]
Subject: Contato do Site : Confidencial


Mensagem:

Estimado Pastor Caio,

VIDA em Cristo!


Sei que, de alguma forma, você já se manifestou sobre o assunto do qual vou tratar, mas, por favor, tenha paciência.

Gostaria de ver sua opinião, de forma direta, sobre o que chamo de EVANGELHO COMPULSÓRIO, algo que tem me inquietado, muito, ultimamente.

É bem intencionado (ganhar almas, torná-las ganhadoras de outras e evitar sua evasão para o “mundo”).

Tem pessoas sérias e também bem intencionadas por trás – de boa-fé, algumas das quais sei que conhece pessoalmente.

Produz resultados numéricos (humanos, financeiros…).

Há zelo.

Motiva as pessoas.

Poderia elencar outros adjetivos, mas estes já bastam.

Trata-se de um evangelho que cuida de “gerenciar -dirigir” todas as fases de crescimento da vida cristã, a fim de evitar que a pessoa se evada da igreja.

Funciona pré-estabelecendo estas fases (ganhar almas, consolidá-las, treiná-las e enviá-las) e encaminhando as pessoas de uma para a etapa seguinte, tal como: conversão – pré-encontro – encontro – pós-encontro – escola de líderes – tornar-se líder de uma célula – e assim por diante, reproduzindo todo o sistema, em um ciclo infindável).

É praxe, ao final dos cultos, o dirigente fazer uma oração e pedir que a igreja a repita (trata-se de uma oração na qual as pessoas entregam sua vida a Cristo, sem sabê-lo previamente).

Após a oração, o pastor pergunta quem fez aquela oração pela 1a. vez.

Ao levantar a mão se identificando, a pessoa é imediatamente chamada à frente, como alguém que entregou sua vida a Jesus, para receber uma oração de confirmação. E aí começa a girar a roda do “sistema” do qual estou falando e que estamos vivendo na nosa denominação, e em outras que adotaram o mesmo esquema.

Participo disso.

A coisa toda funciona, mas me inquieta porque não vejo a livre manifestação da vontade das pessoas, e sim o dirigismo, ainda que bem intencionado. E isso acarreta outras conseqüências na vida das pessoas e da coletividade que vão além da boa intenção, ao meu ver.

Não vislumbro oportunidade de tratar do assunto com a liderança da igreja, por tratar-se de uma igreja com governo apostólico, hierárquico.

Poderia continuar fazendo comentários e falando o que venho pensando de tudo isso, mas “passo a bola” para você.

Preciso tomar uma decisão séria diante disso.

A sua opinião é muito importante para mim.

Um fraternal abraço,


Resposta:


Meu amado: Paz e Crescimento no Espírito e na Graça!

Conheço inúmeros grupos que entraram nesse sistema.

Alguns eu já esperava que entrassem, pois entram em tudo de “novo” que apareça no “mercado”. São compradores de novas ferramentas.

Aliás, já chegamos num nível tão mecânico e sistêmico que tais coisas são chamadas de ferramentas e sistemas por alguns.

O que eu acho?

1. Há todo tipo de gente e de igreja fazendo isto. Alguns pessimamente; outros de modo mais moderado…mas ainda estranho.

2. Algumas fazem só isto: evangelizar compulsória e compulsivamente. Ganham novos, e perdem a história…pois muitos de antes não agüentam a forçação de barra da “nova visão”.

3. Os crentes jovens se empolgam—têm gás e querem aparecer, além de julgarem, pela ignorância e pela inexperiência, que os mais velhos são frios e indiferentes. Mas os jovens também se cansam e se fatigam…e de exaustos caem…como eu leio todos os dias aqui…em narrativas de centenas de filhos dessa máquina, e que já não agüentam mais o sentimento de missionário Mórmon ou Testemunha de Jeová que lhes foi passado.

4. De fato, em geral, tais igrejas são muito, muito… fracas na Palavra, quando se trata de ensino e pregação pública. Elas a têm…mas é extremamente fraca e sem conteúdo…daí os artifícios. E as células são boas quando são abertas…como alternativas de encontro e comunhão…mas uma vez que se tornem um programa obrigatório, pelos menos as seguintes coisas acontecem: a) os dons de todos são reduzidos a um processo industrial; b) quem deseja participar tem que entrar na clonagem; c) a falta de liberdade para se expressar os dons de cada um acaba por desanimar a muitos “líderes”, que vêem-se na obrigação de repetir o sermãozinho do pastor, ou do programa de células…e são todos básicos e cansativos…chatos mesmo…sendo qualquer coisa boa apenas para quem não sabe nada… e está com muita vontade de saber.

5. Nesse caso, muita gente até fica na igreja, e ela cresce pelo convívio dos novos com o grupo; mas a tendência é que se NÃO houver Palavra, quem não tem esse espírito de soldadinho ou de rebanho…com o passar do tempo se desmotive…seja pela basicalidade dos ensinos, seja porque não agüentam a tal gestão do pastor…que transforma a Boa Nova numa obrigação. Nada é mais contraditório: Boa Nova pregada por obrigação. A Boa Nova, quando chega como obra do Espírito, faz com que aquele que foi “infectado pelo amor” não saiba fazer outra coisa…senão anunciar o amor que o infectou.

6. O que está havendo é uma idolatrização de métodos…como se fossem sacrossantos apenas porque são “funcionais” do ponto vista estatístico…; isso junto com um esvaziamento total da Palavra; pois eu desafio quem quer que seja a me mostrar onde tais coisas estejam sendo feitas e que sejam antes motivadas pelo anuncio do Evangelho de Cristo, livre, ungido, sem amarras doutrinárias, e sem invencionices. Normalmente os que entram nesse barco têm duas características como líderes: a) se pregam, sempre foram tendentes a pregar novidades, não a Palavra; b) não têm o que pregar, e um programa desses ajuda o cara a se recolher ao papel de apóstolo de uma pirâmide humana, na qual ele exerce autoridade, e representa uma espécie de Rainha numa colméia de crentes operários. Serve bem pra abelha…mas entre os humanos em pouco tempo as pessoas deixam de produzir mel…e mergulham primeiro no cansaço, e depois na amargura.

Tudo isto vai passar outra vez…não é novo…só estão fazendo de novo.

Tudo passa…mas só quem prega a Palavra do Senhor vê resultados durarem para sempre.

A única maneira disso ser sadio é a seguinte:

1. Tem que haver Palavra na igreja, muito antes de haver programa de células;

2. A Palavra tem que ser livre, e não focada no tema obsessivo do crescimento em células.

3. Não pode haver manipulação, e nem haver obrigatoriedade na participação.

4. Os líderes das células não podem ser tratados como eminências pardas, e os que não conseguem se sentir motivados para o regime celular…serem desprezados…como em geral acontece.

5. O tal programa…tem que ser explicitamente definido como um programa…e olhe lá…e não como um “mover”, uma “visão”, uma “revelação” de Jesus para “os últimos tempos”…fazendo desse método algo de um valor apocalíptico da revelação.

Em suma, é só um método.

O Juan Carlos Ortiz iniciou, o Paul Yung Chou implementou, o Peter Wagner divulgou no mundo, e o Castellana deu o molho pentecostal; e os “apóstolos brasileiros” trouxeram a loucura pro pacote: há de tudo dentro desse G12…e há vários tipos de G12…há até quem tente ungir o Ponto G em alguns dos 12. É a tal da unção peniana, que em alguns grupos andou também na moda… sem falar no espírito de soldadinho de chumbo que se tenta implantar.

Minha tristeza é grande, especialmente porque estou vendo igrejas boas, nas quais há gente boa de Deus, e que cresceram na Palavra, mas que tiveram seus pastores originais substituídos pela idade ou pelas circunstâncias…e alguns “pastores” que não têm Palavra pra ensinar com profundidade e consistência…assumiram o pastorado…e acabaram por fazer o belo, diverso, diferente, livre, ungido e alegre, se transformar numa programação do Dia do Trabalhador na Praça Vermelha, na antiga União Soviética.

É isto que penso!

Nele, que nos deu dons em Graça, e que não formou um exército, mas um Corpo,


Caio