O QUE VOCÊ ME DIZ DA POSSESSÃO DEMONÍACA?

—–Original Message—– From: Marcello Sent: sábado, 3 de julho de 2004 01:31 To: Caio Fábio Subject: O QUE VOCÊ ME DIZ DA POSSESSÃO DEMONÍACA? Olá pastor! O senhor sempre fala sobre diabo e demônios colocando sobre eles uma responsabilidade bem menor que no ser humano corrompido e engodado pelo mal. Quase nunca pelo “mau”. Como o senhor vê a tal possessão demoníaca? Coisas como o demônio falar com voz quase masculina em um corpo feminino, força descomunal e inteligência não compatível com o histórico do “portador”… Em Nephilim, há um certo comentário sobre o portador se “fundir” de tal forma com o espírito mau, que a partir de um certo momento não se pode quase distinguir que “eu” está falando. Sei que Nephilim é um livro de ficção e não de doutrina. Mas contém muita doutrina. Para mim o que marca nesse livro é o sentido da projeção. A maioria dos livros cristãos falam do Reino espiritual a partir de circunstâncias humanas. Para mim, Nephilim fala de circunstâncias humanas a partir do Reino espiritual! Enquanto a maioria dos livros dizem: está vendo esse fato “natural”? Quer dizer que o Reino espiritual é assim…., Nephilim diz: Sabe o Reino espiritual? Por isso, o mundo natural é assim… Desde que eu li esse livro, não consigo mais distinguir essa coisa de natural-espiritual. Para mim algo natural é tão espiritual… e algo espiritual é tão natural… Mas voltando ao assunto…O senhor concorda com o depoimento do Dr. Cedros? Como se processa a possessão maligna? O endemoninhado gadareno vivia com um altista enquanto era possuído, ou ele foi “encarnando” e tecendo intimamente aquele personagem mórbido até não conseguir mais distinguir o personagem de si próprio e ficar preso à indefinição? Não sei se existe uma preocupação bíblica em explicar isso, mas de qualquer forma, o que o senhor pensa? Um beijo. Na Graça, nossa possessão e herança em Cristo. Marcello Cunha ____________________________________________________________ Resposta: Amado amigo Marcello: Ele despojou os principados e potestades, e publicamente os expôs ao desprezo, triunfando sobre eles na Cruz! Ora, se Ele os despojou, é porque tinham poder. E se triunfou sobre eles na Cruz, é porque eles existiam em oposição à Cruz, à Graça. E por que eu digo as coisas conjugando os verbos no passado? Eles deixaram de ter poder? Ele não têm mais poder, e ainda têm poder! Paradoxo, outra vez. Tudo existe ainda em paradoxo. Jesus triunfou sobre eles porque rasgou o escrito de dívidas, e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial…e encravou o escrito de débitos na Cruz. Ora, assim fica mais claro. Ele têm poder sobre a vida humana até que o indivíduo se vista da Graça de Deus com fé. Este é o capacete da Salvação, e é também dessa consciência em fé de onde procedem a couraça da justiça, o escudo da fé, o cinto da verdade, as sandálias do Evangelho da paz, e a Palavra de Deus, que é espada para a luta e o enfrentamento. Ou seja: se eu creio de verdade no que Jesus já realizou por mim na Cruz, e se para mim isto é Pleno e Suficiente, então, ando sem medo, pois sei que aqueles que poderiam me fazer algum mal estão, eles mesmos, impotentes quanto a mim, visto que sei e creio que eles estão vencidos por Jesus. Ora, saber disso em fé torna Jesus o Advogado de minha vida nos céus, na terra, e debaixo da terra e dos mares. Em qualquer lugar. Até no espaço sideral, ou em qualquer dimensão de existência. O diabo se alimenta do medo. Quem o teme, dá poder a ele. Quem sabe dele, mas já sabe que ele está vencido e amarrado, põe-se, pela fé, no Refúgio do Altíssimo, onde até o diabo só age como servo. Por que não falo muito no diabo? Ora, pelo menos por duas razões. A primeira é a que expus acima. Portanto, o diabo não é objeto de minha preocupação. Eu, todavia, sou minha maior preocupação, posto que eu, de mim mesmo, sou carnal, e dado ao pecado em minha natureza caída. Assim, vigio a mim mesmo, antes de vigiar a quem quer que seja. Além disso, quem teria a pretensão de poder vigiar o diabo? Ora, eu sim, preciso ser vigiado, visto que agora, o pior diabo habita as disposições de meu mundano proceder. E isto não tem a ver com modas, mas com meu modo de expressar na vida o que seja a mentira de meu ser como se fossem verdade. Quanto a isto preciso estar sempre atento. A a segunda razão pela qual pouco falo no diabo é porque fala-se muito nele. O diabo “tem gloria” no meio cristão, como se fosse um igual a Deus. De fato, teme-se ao diabo, e não se teme a Deus. Ora, o compromisso de minha consciência é não ser e nem fazer nada que não decorra da fé em Jesus. Sendo assim, entrego minha consciência em Deus e usufruo dos benefícios da Cruz, andando sem medo ou susto. Se depender de minha boa o diabo morre seco. Não tenho lábios para ele. E mais: até na hora de discerni-lo em pessoas, o faço sem estardalhaço—afinal, o diabo adora um show’; e, assim, vejo o poder libertador de Jesus em ação, e sei que tudo vem de Deus. Quem ensina a Graça de Deus conforme o Evangelho e crê no que ensina, não tem razão para falar no diabo, e nem para não mandá-lo sair se ele desejar se apresentar. Assim, se ele não se manifesta, não é mencionado. E se se manifesta, é imediatamente retirado. Era assim que Jesus fazia nos evangelhos. Também não falo muito no diabo—exceto o necessário—porque vejo que no meio cristão a figura do diabo tem um papel mais diabólico do que o próprio diabo consegue ter. Isto porque o diabo é útil ao auto-engano cristão que lhe atribui as culpas sempre, enquanto as pessoas não param para se enxergar na luz da verdade. Ora, essa projeção no diabo nas coisas que nos dizem respeito é algo mais diabólico que o diabo consegue ser. E ele agradece. Isto porque ele, assim, cumpre um papel de evasão da realidade e de nós mesmo, fazendo com que nunca nos enxerguemos. E quanto menos uma pessoa se encara, tanto mais atribui ao diabo as suas próprias responsabilidades. O que os cristãos precisam saber é que com a Cruz não apenas cessaram os sacrifícios de animais—cordeiros e qualquer outro sacrifício—, mas também acabou o antigo rito bíblico de se soltar o “bode expiatório”, e que levaria o pecado do povo para fora do arraial. Em Jesus o Bode Expiatório acabou também. E isto vale para o diabo como figura de “bode expiatório psicológico”. Isto porque, para os cristãos, o diabo não perdoa pecados, mas serve para levar a culpa. O perigo é que quando as pessoas usam o diabo para levar a culpa de suas culpas, elas vão ficando diabólicas. Infelizmente esta é a verdade. Assim, quanto mais alguém se utiliza do diabo para se justificar, mas poder dá ao diabo em sua própria vida. O que é insuportável para o diabo é ver uma consciência humana que sabe que ele existe, mas que anda tanto com Deus, que o diabo inexiste para ela, visto que jamais será usado por essa pessoa para explicar nada; o bem, nunca; e o mal, jamais. Enquanto os homens fizerem como Adão, e olharem para a Serpente como uma justificativa para o seu próprio ato e decisão, o diabo crescerá em importância. Mas quando eu digo que fui eu quem “comeu”, e não transfiro responsabilidades nem para a mulher, nem para o mundo e nem para o diabo, nesse dia o diabo começará a secar em nossa existência; visto que a maldição da serpente é comer o meu pó; ou seja: a produção de meu andar…e se ando com medo, melhor será para aquele que se alimenta, sobretudo, de meu medo. Quanto ao Gadareno e às diversas formas de possessão—desde as mais leves às mais entranhadas—, me escreva noutra hora que responderei. É que agora estou de saída. Mas me solicite outro dia e responderei com prazer. Um beijão. Nele, em Quem podemos andar sem medo, Caio