A carta aos Hebreus foi escrita porque judeus-cristãos estavam desistindo da fé na Graça de Deus em Cristo, e retornando aos ritos, práticas, crenças e legalismos do judaísmo.
O esforço do escritor da carta é mostrar que aquele retorno significava “pisar o sangue da aliança” e apostatar da fé em Jesus.
O desenvolvimento do texto faz uma viagem que se propõe a provar duas coisas básicas:
1. Jesus era maior do que tudo o que antes viera; sendo as coisas anteriores apenas “sombra”—ou arquétipos—, dos bens que haveriam de se materializar em Cristo. Tudo o que ficara para trás não deveria ser “retomado como valor real” sob pena de que o sacrifício de Jesus tivesse sido me vão.
2. Cair da Graça não era um deslize de comportamento, mas abandonar a certeza em fé de que em Cristo tudo está consumado, e definitivamente feito e realizado em nosso favor. O conceito é o mesmo apresentado por Paulo, especialmente escrevendo aos Gálatas, quando relaciona a volta às “obras da lei” com o “decair da Graça”.
Além disso, o nome da carta — Aos Hebreus —, já carrega uma mensagem. Não é carta aos Judeus. Nem aos Israelitas. Mas aos Hebreus. A palavra hebreu vem da raiz semítica da palavra que determina um estado constante de progressão, fruto da desinstalação, da capacidade de andar para adiante e de cruzar fronteiras.
Um “hebreu” tinha que se manter hebreu pela coragem, em fé, de não desistir, e de prosseguir “atravessando” mares, rios, vaus, fronteiras, e enfrentando os gigantes externos e internos—sempre vendo Aquele que é invisível, e nunca deixando de crer nas coisas que se esperam.
Com essa introdução eu gostaria de propor a leitura do espírito do texto de Hebreus 6, conforme segue:
“Pelo que deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos para o que é perfeito, não lançando de novo a base de arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e o ensino sobre batismos e imposição de mãos, e sobre ressurreição de mortos e juízo eterno. Isto faremos, se Deus o permitir. Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa Palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro, e depois caíram da graça, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que por si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério.”
Portanto, Abandonar a Graça é crucificar Cristo outra vez!
“Pois a terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção da parte de Deus; mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.”
Assim, ficamos sabendo que produzir espinhos e abrolhos é deixar de frutificar na Graça de Deus e buscar a frutificação que vem da justiça própria e da Lei!
“Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e que acompanham a salvação, ainda que assim falamos. Porque Deus não é injusto, para se esquecer da vossa luta, e do amor que para com o seu nome mostrastes, porquanto servistes aos santos, e ainda os servis. E desejamos que cada um de vós mostre o mesmo zelo até o fim, para completa certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas. Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei. E assim, tendo Abraão esperado com paciência, alcançou a promessa. Pois os homens juram por quem é maior do que eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda contenda. Assim é que, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento; para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos na esperança proposta; a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até o interior do Véu; aonde Jesus, como precursor, entrou por nós, feito sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.”
Diante disso, deixo com você está afirmação:
Daqui para frente, sempre que alguém disser para você que um irmão “caiu”, saiba o seguinte: Cai quem deixa a fé e a consciência da Graça de Deus; não quem em fraqueza busca a misericórdia do Sumo-sacerdote, Jesus, o qual é intercessor em favor de todos, pois não está vinculado aos sacerdotes da casa de Israel, mas foi feito Sacerdote Universal em favor de todos os homens, visto que seu ofício eterno não provêm de genealogias humanas, mas de algo aos homens superior; pois, Ele é o Amém de Deus à salvação por Ele mesmo alcançada em favor de todo aquele que Nele crê.
Desse modo, saibamos todos: Cair da Graça é se entregar aos mecanismos de repetição de sacrifícios e barganhas, que por mais ingênuos que pareçam, mas que significam a não validação do sacrifício eterno de Cristo. Esta é a “queda da Graça” da qual a Palavra de Deus nos fala com palavras tão veementes!
Caio
2003 – Copacabana