O TEMPLO QUE CRESCE PARA DENTRO
Ezequiel 40 a 43: 17
O contexto histórico é o do exílio de Israel em Babilônia, na geografia do atual Iraque, quinhentos anos antes de Cristo (40:1).
A experiência é espiritual, portanto, de natureza subjetiva (40: 2; 43: 1-6).
A primeira visão é do Templo Construído Por Mãos Humanas, onde as vaidades dos construtores, dos sacerdotes, dos ricos e dos reis ganhava sua simbolização; e emprestava à esses personagens da vaidade um sentimento de importância: valia a pena até mesmo ser enterrado nas imediações (43: 7-9).
O Templo dos Homens era lugar de ideologia, política e auto-afirmação!
Então vem Deus e diz:
“Tu, pois, ó filho do homem, mostra à casa de Israel este templo, para que ela se envergonhe de suas iniqüidades; e meça o modelo”(43:10).
A questão é: que Templo?
Ora, Deus havia mostrado antes o modelo a Ezequiel (40: 6 a 42:20). Tratava-se de um edifício impossível de caber nos padrões de matemática, física e arquitetura da Terra!
Talvez à partir da Física Quântica se pudesse ter um vislumbre melhor do projeto. E por quê? Porque na Física Quântica tempo e espaço perdem sua significação linear!
De maneira simples e não exaustiva demonstrarei as razões:
1. As medidas são anti-físicas: o lugar começa mínimo (40: 5-6) e, à medida em que se entra por essa Porta Estreita e nesse Lugar Pequeno, tudo começa a crescer. A seqüência da leitura mostra que as dimensões vão ficando cada vez maiores quando se entra por essa pequena porta.
2. O crescimento é para dentro: do verso 7 ao 41:5 esse é um fato inescusável. Quanto mais se entra, mas o lugar aumenta em suas dimensões e espaços.
3. O lugar não apenas cresce para dentro, mas também para cima (41: 6-7). E o acesso de um nível para o outro não poderia ser alcançado por fora, mas somente por dentro. O lugar cresce se se entra nele e, uma vez nele, só se passa de um nível para o outro num caminho interior.
4. O lugar não se limita às simbolizações da terra. Suas decorações são manifestações de todas as criações de Deus: querubins e palmeiras. A primeira criação—a dos anjos— e a segunda criação—a da natureza que nos circunda( 41: 17-20). Elementos de ambas as criações estão presentes no lugar, de madeira à rostos animais e seres angelicais. Até os anjos que nele aparecem tem cara de homem e leãozinho!
5. As portas dos lugares mais sagrados contêm as mesmas simbolizações multicriacionais (41: 25). Outra vez anjos e natureza estão juntos.
6. Ao ser totalmente medido, subitamente o lugar se projeta para amplidões incomparáveis, maiores do que todas as dimensões anteriormente mencionadas (42: 15 – 20).
7. Somente após visitar esse lugar cuja entrada é estreita, que violenta os conceitos de espaço—pois cresce para dentro e para cima—, que está marcado por todos os signos de todas as criações, e cuja saída remete para um mundo de dimensões bem maiores, é que se diz que aquela viagem permite a instalação na consciência do discernimento entre o “santo e o profano”(42: 20c).
Portanto, não se está falando de um templo construível por mãos humanas. Ele não é desta ordem de coisas!
A conclusão divina dada a Ezequiel é dupla:
1. Estou mostrando o meu Lugar Santo para que eles “se envergonhem e meçam o modelo” (43: 10).
2. “Esta é a lei do Templo”(43: 12). É o que Ele diz aos que se preocupam com exterioridades!
A questão é: e daí?
Bem, para quem não entendeu ainda, Deus está nos dando alguns parâmetros de crescimento!
A Porta é Estreita. De fora não se sabe o quão grande é dentro. Quanto mais se entra, maior fica. As subidas de andares só acontecem por dentro. A espiritualidade do lugar põe querubins (anjos) e palmeiras (natureza) em equivalência. Umavez fazendo a viagem as dimensões aumentam para fora. E a consciência aprende a fazer a distinção entre o santo e o profano.
Não fosse a dificuldade de raciocínio associativo da parte de alguns seria irrelevante dizer que em João 7: 37-38 somos remetidos para a mesma cena em sua seqüência (Ez 47), fazendo de Jesus esse Templo-Altar de onde procedem as “águas da vida”.
De acordo com a interpretação de João sobre Ezequiel, o Espírito é quem realiza essa realidade!
Paulo nos fala que fomos constituídos “habitação de Deus no Espírito”!
Ora, eu poderia escrever um denso livro sobre as implicações desse “achado”. Mas é obvio que o desejo de Deus é que “meçamos o modelo”. Seu desejo é que comparemos o que chamamos de religião com aquilo que Ele chama de “lugar da minha habitação”.
Nos nossos templos os reis e os que se julgam importantes pensam que apenas “um muro” os separa de Deus (43: 7c e 8a).
Nos nossos templos a vaidade dá lugar a monumentos ao Ego ( 43:7c).
Nossos templos são obras do homem!
Já nesse lugar da habitação de Deus, as matemáticas humanas cessam e as medidas do homem são todas elas extrapoladas (Ef 3:14-19).
Nesse lugar a gente só cresce se a viagem for para dentro e para cima. Não há escadas do lado de fora!
E mais: a visão que nele se encontra acerca de Deus é a de uma espiritualidade que combina anjo e palmeira: o natural e sobrenatural!
Esta é a lei do templo: entre pela porta estreita, viaje para dentro de si mesmo guiado pelo Espírito—o que estiver morto ganhará vida—, cresça interiormente, inclua toda a criação em sua espiritualidade, e não tenha medo do mundo exterior, pois, uma vez fazendo a viagem, ganha-se na consciência—não nas exterioridades—o discernimento entre o que é santo e o que é profano!
“Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundices e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em voz espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ez 36:25-26, ver 11:19-20).
Este era o sonho dos profetas!
Este é o Templo que Jesus disse que em sendo destruído Ele o reconstruiria em três dias!
E nós nos tornamos esse templo em Cristo!
Afinal, eu estou Nele, por isto Ele vive em mim!
Assim, fica-se sabendo que o único lugar onde o caminho de Deus se realiza é o coração. Isto porque “os céus dos céus” não podem conter a Deus. Ele, no entanto, habita com o quebrantado e com o contrito de coração!
Nele,
Caio