—– Original Message —–
From: ODEIO A FALSIDADE DO NATAL NA MINHA FAMÍLIA
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Sent: Thursday, December 30, 2004 2:20 AM
Subject: Vivo em uma casa atormentada…
Olá pastor querido!
O senhor não sabe a felicidade que eu senti quando vi na minha caixa de entrada um e-mail seu. Veio na hora certa, como tudo o que o Senhor Deus faz. Realmente pra mim é uma honra.
Sabia que eu era muito legalista e moralista numa época da minha vida (que nem é tão longa assim!), porque eu era de uma igreja pentecostal?
Eu era tão triste, tão desanimada comigo mesma, eu não entendia porque eu não era feliz se o pastor lá na frente dizia que quem aceitasse Jesus ia ter paz e alegria.
Mas algo aconteceu depois que eu comecei a ler o seu site… Eu comecei a conhecer quem Jesus é de verdade, e senti uma paz imensa… aquela que excede todo o entendimento.
Nada de julgamento, nada de condenação, eu estava livre!
E agradeço a Deus, primeiramente, de todo coração, por ter colocado o senhor na minha vida, mesmo que pela internet.
E tenho aprendido não só sobre pacificação da alma, e coisas relacionadas à espiritualidade, como aprendi muito sobre a vida através das respostas às cartas; aprendi mais sobre a humanidade, e vi como a religiosidade pode fazer adoecer.
Eu admiro muito o que o senhor é… Tenho muito orgulho de ver o senhor assim… tão forte e seguro de si…no Senhor…e tão saudável.
Após essa pequena introdução, eu queria compartilhar com o senhor o que tem acontecido na minha vida e família.
Muita coisa pra falar…
Meu pai vem de uma família problemática, muitos filhos, uns preferidos, outros menos queridos que outros; ele sempre se sentiu rejeitado.
Eles, os “KHJ” (sobrenome que eu omiti), são donos de um gênio peculiar: ao mesmo tempo que são muito trabalhadores, honestos (até onde eu sei), eles são muito agressivos, gostam de beber, fumar, são moralistas; e o que sabem fazer de melhor é: tratar mal as esposas, que por sinal são todas lindas e maravilhosas como pessoas.
Minha mãe é crente de berço, família bem estruturada, calma; pobre, mas honesta, mas com um pai muito rígido, muito moralista também, pelo fato de ser presbítero da igreja e ter uma imagem a zelar (o senhor sabe como é!).
Então minha mãe não é muito carinhosa, não sabe ser porque também não recebeu isso dos pais, mas é maravilhosa, muito boa, adora doar, é divertida…; mas foi ensinada a ser aquela esposa submissa, aquela mãe boa; e é assim que ela é…
Meus pais casaram na igreja que o senhor conhece bem, né?
Eles sempre me falaram muito do senhor, do tempo em que eram jovens, sentem saudades…; e resolverem nos criar de acordo com os ensinamentos de Deus. Viviam como bons cristãos. Mas meu pai montou um negócio que começou a crescer e dar muito dinheiro. Logo ele esqueceu de nós e até de Deus. Foi aí que tudo começou…
Nós nos acostumamos com um pai ausente, mas que dava muitos presentes… Tínhamos tudo o que queríamos, mas não tínhamos o pai; ele dava mais valor à empresa, mas como estávamos acostumados, não reclamávamos.
Já sabe o resultado?
Há 5 anos o casamento deles entrou em crise. O meu pai começou a chegar tarde em casa… e a fazer tudo o mais…
Muitas brigas, muitas discussões, muita raiva, muito rancor, proibições; e essas coisas acabaram por encher nossos corações; o meu, da minha mãe e do meu irmão.
Bom pastor querido, eu só tenho 16 anos, e realmente tenho consciência que não sei praticamente nada sobre vida, e sobre casamento, mas pelo menos percebo os princípios básicos pelos quais são formados os casamentos saudáveis. E eu via, e vejo que o casamento deles não os tem.
Eles não conversam, não são cúmplices, não são amigos, não se divertem juntos, não se beijam, não se abraçam; e às vezes meu pai nem respeita a minha mãe; e ela vive falando mal dele, das coisas ruins que ele faz.
A pessoa que eu mais amo é a minha mãe, e a pessoa que eu mais tenho raiva na vida é o meu pai, pelo fato de eu sempre ver a minha mãe sofrendo por causa das coisas que ele faz.
Ele é grosso, é EXTREMANETE orgulhoso, ele sempre acha que pode controlar as nossas vidas e que tem todo o poder (às vezes eu tenho muito medo que ele consiga fazer o que quer com a minha vida!). Ele atrapalha a nossa vida!
Chegou ao ponto de nós nos sentirmos leves e muito felizes quando eles está viajando a negócio. Quando estamos só nós três reunidos pensamos: “Que bom seria se fossemos só nós três!”
Porém a realidade é outra. Ele sempre volta!
Eu passei a odiar natal e ano novo por causa de tanta hipocrisia na minha família; eu estou pra vomitar por causa de tanta falsidade.
Esses meus tios tratam as mulheres o ano inteiro como se elas não valessem nada, e quando chega o final do ano querem se reunir ao redor da mesa farta, e dar graças a Deus por estarem reunidos, e depois ainda se abraçam, desejam feliz ano novo, etc… Traem as mulheres, as humilham, e depois fazem isso.
Eu queria poder nunca mais ter que participar de um evento desses. Eu odeio as festas de final de ano.
Bom, quando foi dia 25, no almoço, por causa de uma besteira, o meu pai começou a gritar com a minha mãe, dizer que ela tinha que baixar a bola dela, que quem manda é ele; ela disse que só queria conversar. Ele não ouviu…
Ela foi pro quarto chorar de raiva… Sabe, minha mãe nunca chora, só quando ele faz esse tipo de coisa. O senhor imagina a dor que eu sinto vendo a minha mãe chorar? E não poder fazer nada?
A briga foi feia, e ela disse que não agüentava mais, que só não se separava porque ela é lesa; minhas tias choraram também; enquanto ele foi pro quarto dormir, ou desmaiar de remorso, não sei bem…
Antes disso, na briga, ele falou: “Eu não amo ninguém, eu não amo ninguém!”; e a minha tia disse: “Nem me ama?”. Ele: “Não! Eu gosto, mas não amo. A única pessoa que eu amo é a … (e disse que era eu)”. Ele disse isso na frente do meu irmão mais novo. Que absurdo! Como alguém pode falar isso na frente de um filho? O senhor pode estar imaginando o quanto de raiva eu estou sentindo dele!… mas mesmo assim eu me sinto triste porque alguém me ama tanto… e eu não retribuo à altura; eu me sinto mal com isso!
Depois que todo mundo foi embora e que a minha mãe parou de chorar, eu decidi me encher de força, pra ser um suporte pra minha mãe querida. Tentei amenizar o quanto pude o sofrimento dela. Na rede nós conversamos de novo e ela disse que não ia se separar por causa de dinheiro; ela tem medo que nos falte alguma coisa, pelo fato de ela não ter um emprego mesmo…
Ela tem medo de mexer com a nossa vida e tirar nossa estabilidade; então, por nossa causa, ela diz “não” pra ela mesma.
A minha tristeza alcança o grau máximo quando eu lembro das palavras dela. Eu queria tanto que ela fosse livre, que pudesse se sentir uma mulher de verdade, desejada outra vez; não uma mãe cansada e uma falsa esposa. Mas ela já tá totalmente desacreditada da vida. Ela diz que vai continuar firme, sendo sustentada pelo Senhor… que vai agüentar por nossa causa!
Eu queria tanto fazer as coisas serem diferentes. Ela é muito acomodada, muito mesmo, mais uma vez vai se acomodar na lama, mesmo depois de ter admitido que não sente nada pelo meu pai, só raiva. Como isso pode se resumir a dinheiro?!
Eu sei que eles não transam faz um bom tempo; é fácil deduzir isso! E como eu sei que um cara de 45 anos como o meu pai não fica sem transar por muito tempo, ele deve ter traído, ou trai a minha mãe; tenho quase que certeza; pode ser com alguém fixo, ou casual, mas que trai, trai…
Ela teria respaldo na lei pra se separar também. Tudo está do lado dela, mas ela não quer. Eu fico decepcionada com ela, triste por ela não decidir ser feliz.
Agora, eu estou tão pesada Caio! Cheia de pensamentos e sentimentos em mim, e não são coisas boas, me fazem mal, e tenho que ser forte pra ser suporte da minha mãe…
Eles fazem eu me sentir num inferno, morando em um lugar atormentado.
Não era melhor se separarem logo!? Por que têm que ser tão falsos e não verdadeiros!? Isso está me fazendo adoecer!
Como filha eu não sei o que fazer, preciso de uma orientação. Eu sempre vejo no seu site o lado ou do esposo, ou da esposa, mas ainda não vi esse tipo de problema sob a óptica dos filhos.
Eu queria que se separassem!
Meu pai deve estar achando que a minha mãe está nos jogando contra ele, já que ele sempre pensa mal de qualquer um, ainda mais da minha mãe.
E eu acabo não sabendo qual é o meu lugar na história.
Eu sei que falei demais, mas tentei lhe dar algo para analisar.
Um beijo no grande pai que o senhor se tornou pra mim!
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Resposta:
Minha querida filha: Graça e Paz!
Há um tempo em que os filhos podem ver os pais sendo infelizes, mas ainda assim eles querem vê-los juntos. No entanto, chega a hora quando a dor de certas “uniões” é infinitamente pior do que a separação. Nessa hora os filhos querem ver os pais separados a fim de poderem ter um mínimo de paz e respeito cercando-os.
Seu pai sucumbiu ao “modo macho típico” dos homens amazonenses. Quando você descreveu a relação dele com as esposa, a dos irmãos com as mulheres, e as “preferências” em relação aos filhos—sem falar na macheza das certezas hipócritas!—, eu imediatamente vi um montão de cenas de minha vida no Amazonas, especialmente no que tange ao tempo de pastoreei aí, no qual narrativas como a sua me eram contadas todos os dias… pelas mulheres!
Na realidade, a sua mãe ainda é escrava de antigos vícios masculinos e antigas dependências femininas.
Portanto, a menos que ela mesma decida se separar—e para isto ela deve arranjar um advogado sério!—, não vejo como se possa fazer com que ela tome uma decisão em favor de si mesma, e dos filhos, se ela se sente completamente impotente em relação ao marido.
Entretanto, ela precisa saber que o mundo mudou, e que as mulheres não precisam mais aceitar tal cativeiro, podendo sair de relações perversas, e, também, podendo reivindicar direitos legais em relação ao amparo financeiro necessário, para ela e para os filhos.
No norte e no nordeste do Brasil as mulheres de mais de 50 anos ainda assumem a infidelidade gritante, indiscreta e sistemática dos maridos como um “carma do casamento”.
Ora, qualquer “macho grosso” adora pode dizer que “pinto é como dolar: desce no oficial e sobe no paralelo!”
Sim, em tais contextos culturais o homem assume que é assim, e a mulher assume que é seu carma aceitar o homem que tem, sendo seu direito apenas molhar a barriga no tanque de lavar roupa, e, depois, aquecê-lo no fogão!
Esse tempo acabou!
A libertação dos escravos já foi proclamada!
Apenas a religião ainda crê na escravidão das mulheres aos homens de Belial!
É por isso que dizem: “Agüente, minha irmã! Deus vai salvá-lo!”—, e depois, vão para as suas casas, e deixam a irmãzinha nas mãos do carrasco!
Paulo, todavia, pergunta: “Como sabes, ó mulher, se converterás o teu marido?”
Então ele mesmo aconselha a que se se tem uma “oportunidade de ficar livre do jugo da escravidão”, que se “aproveite a oportunidade”; e conclui: “Deus vos tem chamado à paz”.
Levanta-te, ó mulher oprimida! Cuida de tua alma, sara as tuas feridas!—diria Paulo hoje!
Quanto ao mais, acho que até para que você um dia possa ajudar seu pai, melhor seria de essa humilhação acabasse. Além do quê, homens como ele, em geral, só começam a cair em si quando sentem que a mamata da roupa passada e da casa pronta… já não estão disponíveis.
É o reinado da grossura o que eles praticam!
Sua mãe, por seu turno, ou decide se separar, ou, de outro lado, tem que parar de chorar.
É perverso deixar você no meio dessa história, solidária com ela (uma solidariedade sem fim… posto que ela fica sob a escravidão… chorando!), e cheia de ódio do seu pai… ódio e amor!
Diga a ela que dinheiro não vale as perdas que estão se estabelecendo emocionalmente por conta dessa opressão consentida!
Deus deu a você um belo coração. Não o polua com as tristezas amargas e sofridas de sua mãe, e nem com as grossuras de seu pai. Honrar pai e mãe, para você, será melhorá-los em você!
Ainda haverá muitos natais de alegria em sua vida!
Peça a sua mãe que leia a minha carta. E que pense no que falei!
Receba meu beijo carinhoso!
Nele, que nasceu para nos libertar até dos homens,
Caio
30/12/04
Copacabana
Ano em que Lukas partiu.