OS TEMAS DE JESUS E OS TEMAS DOS JESUSES!
Em Jesus nós temos os temas por Ele propostos [que eram Sua agenda], os temas propostos pelos homens [que eram suas angustias e ou tentações e dúvidas], e temos os temas que Ele se nega a responder, e, menos ainda a propor.
Entretanto, mesmo quando a resposta a uma proposta seria para Jesus como o lançar pérolas aos porcos, ou ainda algo como ideologizar a Palavra — ainda que não tratando dela [da proposta], é possível ver porque Ele não a respondeu; ao mesmo tempo em que é possível saber o que Ele pensava, não o expressando apenas para não fazer de algo tópico um dogma para os incautos ou um motivo de acusação desnecessária dada aos abutres.
Assim, os temas de Jesus são os de sua mensagem declarada e espontânea. E o Sermão do Monte bem expressa quais são esses elementos essências da agenda do Evangelho de Jesus.
Nos diálogos com as multidões ou os religiosos [de todos os pedigrees], vemos as respostas que Ele julga fundamentais; e que em geral carregam os elementos mais próximos da compreensão humana; mesmo quando era uma disputa dos fariseus ou escribas dos sacerdotes, buscando algo a fim de o acusarem.
Nos diálogos com os discípulos há tanto o que Ele propõe, como também o que eles criam como problema ou circunstancia da vida para a qual a Palavra de Jesus tem sua direção sempre.
Até mesmo o tema da Vinda do Filho do Homem, conquanto seja uma proposta Dele, Nele sempre ela é tratada de passagem, como certeza para além da obvia claridade do sol. Quando, porém, o tema “escatológico” [últimas coisas] é ampliado, é porque os discípulos curiosos perguntam sobre o fim de tudo aquilo.
No mais, Ele força a pensar, a sentir, a intuir, a abrir-se à revelação, a comparar as coisas com a natureza das coisas, e com a natureza humana também; e, sobretudo, Ele sempre dá a chance de que a história-parabola-da-vida falasse por si mesma aos de coração ávido pela verdade do reino. Ele as explica [as parábolas] apenas quando dúvidas aparecem; e nesse caso [das parábolas], tal extensão explicativa acontece apenas na do Semeador e na do Joio e do Trigo. Nas demais, os fatos da vida se impuseram como ilustração vívida do que estava acontecendo no coração dos circunstantes, de tal modo que as explicações eram eles próprios.
Dos temas tópicos o que Ele mais menciona é o dinheiro. Seja como denuncia de seu poder corruptor; seja até como ilustração em parábolas [para o bem e para o mal]; seja no desfecho da história do Evangelho, quando é por dinheiro que Jesus é traído.
Ele não fala nada de questões morais. Diferentemente de João Batista Ele nada tem a dizer acerca dos bacanais dos Herodes e das orgias dos romanos.
Também nada diz dos publicanos, meretrizes e pecadores sem que seja mediante parábolas de amor e perdão. Sua pior descrição de tais situações acontece quando Ele diz que o pródigo judeu foi cuidar de porcos [ofensa aos judeus], e disputava babugens com eles. Mas isso tudo para trazer o rapaz de volta para o abraço do Pai.
Nele também não vemos traumas. Ele bem que poderia falar da “matança dos inocentes” [quem resistiria se isso fosse sua história mais primitiva?], de Seu exílio no Egito, da visita dos magos, da vida em Nazaré, do pai, da mãe, dos irmãos, dos amigos, de tudo. Mas Ele não toca nesses assuntos jamais. Ele não tinha testemunho a dar. Ele era o testemunho. E o testemunho do Pai a cada dia era confirmado Nele de todos os modos no dia chamado Hoje.
Ao contrário. Houve coisas que Ele não só não levou quase ninguém com Ele para que fossem vistas; mas, além disso, proibiu as testemunhas de relatarem o que haviam visto até que Ele ressuscitasse dos mortos — e pediu que fosse assim até no caso dos outros apóstolos; os que não tinham presenciado o ocorrido; como a Transfiguração, por exemplo.
Temas políticos explícitos Ele não tratou. Entretanto, denunciou-os mediante ilustrações sarcásticas, irônicas e mordazes. Ou seja: Ele fez cartoons; charges de imagens-histórias. Fez isso de modo sutil [como quando diz que o centurião romano tinha mais fé que qualquer judeu que Ele tivesse encontrado na vida]; ou quando, por exemplo, elege um Samaritano para herói da história da bondade solidária. Sua manifestação política mais explicita está na denuncia ao fermento de Herodes e dos fariseus, que era a hipocrisia. No mais, não entra em rota de colisão com Roma, não aceita a polemica sobre o que era de Deus e o que era de César [embora com toda fineza diga que Deus está acima de César], não se empolga com a possibilidade de mediar uma questão de bens de família e herança [ao contrário: nega-se a fazê-lo], e quando denuncia politicamente, dirige sua denúncia à política feita em nome de Deus, no Templo e entre os “representantes” da “divindade”.
O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode viajar [qualquer homem] da pocilga dos porcos para a herança do Pai Celestial.
O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode ser infinitamente melhor do que é; e que nós podemos vir a nos parecer tanto com Deus que a vida se torne sem ansiedade e sem guerra.
O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode amar, e nunca odiar; vencer pelo amor e pelo perdão, e não pela espada e pela opressão; e conhecer o amor como poder que vence tudo; mesmo quando quem ama morre.
O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode viver sem saber por que uns morrem antes e outros depois; por que uns são vitimas de calamidades [como aqueles que tiveram seu sangue misturado com oferendas de ódio no altar] e outros estão ao lado e não são “apanhados”; ou por que uns vêem e outros não; ou por que uns padecem e outros apenas riem; ou por que a casa cai e mata a família boa, enquanto a casa rebelde dá festa durante o enterro do Lázaro; ou por que alguém nasce eunuco [sexualmente disfuncional ou invertido]; ou cego; ou aleijado; ou qualquer coisa.
Sim, para Ele nada havia a saber sobre isto; pois a vida que confia no amor do Pai sabe que Ele cuida de todos; e que tem glória para todos.
O que Ele faz o tempo todo é dizer que o homem pode amar a Deus e a seu próximo como a si mesmo.
E diz que se assim fosse, Ele mesmo reuniria todos os homens, de todas as Jerusalens, e os poria sob Suas asas, como a galinha ajunta seus pintinhos!
Mas há os que preferem eleger para a vida os temas que Ele não propôs; e fazerem deles a agenda de Deus, sem saberem que cumprem os desejos homicidas daquele que é mentiroso e pai da mentira.
Se a agenda é de Deus, é divino-humana [como vimos em Jesus]. Se a agenda é humana, é divina em sua real e necessária humanidade [como vimos em Jesus]. Mas se a agenda não vem de nenhuma dessas duas fontes-propostas, então, saiba: ela pode ser confessada em nome de Deus, mas o proponente é o diabo; e acerca dele [do diabo], Jesus diz: “Eia! Vamo-nos daqui; pois aí vem o Príncipe deste mundo; e ele nada tem em mim!”
O que hoje mais se precisa é tirar uns certos “jesuses” do que se diz sobre Jesus. Pois Jesus não é o Gadareno, que diria: “Jesuses é o meu nome, pois somos muitos!”
Pense nisso!
Caio
Escrito em Agosto de 2007
Manaus – AM