PAPAI: conhecimento de Deus e auto-conhecimento…
Uma vez contatado o fato que papai tinha que tirar a próstata, conserta a bexiga imensa, tirar um cisto do rim direito e um câncer do rim esquerdo — eu fiz de tudo a fim de dissuadi-lo da cirurgia.
“Tire a próstata papai e ajeite a bexiga, mas fique aí”, eu dizia a ele insistentemente.
Mas a lógica dele era outra:
“Meu filho, eu já passei para a eternidade, está na hora; além disso, que proveito tenho eu de aqui ficar sem poder servir? Também, o que pode me acontecer que não me ponha diante do meu Senhor? Posso morrer na cirurgia, posso partir nos pós-cirúrgico, ou posso sobreviver um tempo e partir… Mas em todo caso eu vou estar com Jesus. Então, está tudo bem meu filho!”
À semelhança de José, com toda tranqüilidade, reuniu a todos e deu instruções. Deu conselhos e fez muitas recomendações. E dormiu cedo na véspera… E acordou e saiu para resolver coisas… Chegada à hora de irmos, ele não fez despedidas, apenas foi… Não falou muito na viagem, mas estava tranqüilo. Apenas abraçava sua grande companheira: a muletinha.
O que me impressionou deveras foi a paz desse homem que vai como um cordeiro mudo para o matadouro e o faz com sorrisos e com palavras de ânimo. Ao ver minhas manas chorando, disse: “Ânimo meninas! Ânimo!”.
E mais: ele se auto-diagnosticou durante todo o processo:
- Saiu da cirurgia inicial perguntando se tinham mexido também no intestino dele, o qual, nada tinha. Depois é que se viu que a septicemia era oriunda do intestino; operou-se e acabou a septicemia.
- “Caio Fábio, meu filho! Não se preocupe com a diurese, mas sim com o sangue!” — disse ele a mim e ao Dr. Marcel. Ora, depois veio o quadro mortal e milagrosamente revertido da dyscrasia do sangue. Milagre instantâneo.
- Toda vez que eu dizia que estava chegando a hora dele voltar pra casa, ele se agitava e dizia com os olhos que não seria assim…
Em outras palavras: parece que ele era o único que de fato sabia tudo o que o aguardava.
Nosso encontro de amanhã às 14 horas, antes de o levarmos ao cemitério para o sepultamento, será um culto de louvor e muita gratidão no espírito.
Papai é um daqueles que, mesmo em meio à saudade, nos faz saltar ao redor do caixão e da tumba, e indagar com Paulo:
“Onde está ó morte a tua vitória? Onde está ó morte o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei. Mas graças a Deus que
Partiu para a morte de olhos bem abertos e sem nada além de paz, confiança e certeza da glória!
Ah! Como eu amei, amo e amarei sempre esse meu pai que é mais que pai, e que é meu mestre e minha melhor consciência entre os homens!
Nele, que é Aquele que faz brincadeira de roda à volta de sepulcros, perguntado: “Onde está ó morte a tua vitória? Onde está ó morte o teu aguilhão?”.
Caio
14/09/07
Manaus
AM