Pastor, o que está acontecendo é que tenho ultimamente me sentido um verdadeiro tarado. E percebo que tem sido uma coisa gradativa, cada vez vou mais além; descubro novas formas de me excitar via Internet; seja por fotos, histórias. O que está acontecendo é que não sei como me livrar disso. E sei que está errado, é impureza e lascívia; e a Palavra de Deus condena a prática dessas coisas. Sou um homem impuro. Pela manhã gasto algum tempo adorando a Deus, orando pela igreja, pelos irmãos; mas quando chego no trabalho e ligo o computador, se o rapaz que trabalha comigo sair e eu ficar sozinho…. começo. Desculpe o que vou falar, mas parece que a oração não funciona nesses casos; e muito menos “declarar a Palavra”; aliás não entendo quando a Bíblia diz que o pecado não terá domínio sobre vós… Percebo nas cartas a você enviadas outra realidade, e também na minha própria vida. Como ser normal? Como ter um coração puro? Como agradar a Deus nessa área? Tenho o Espírito Santo e falo
Resposta:
Meu querido amigo: Paz e Força!
Sua carta é a confissão de Romanos 7, e de um ser que ainda não andou até Romanos 8.
Você está na angustia da religião, e que procura agradar a Deus por conta própria. Por isto sua alma grita em contínua aflição: “Desesperado homem que sou!”
No entanto, o caminho continua, e prossegue para a pacificação do ser na Graça de Jesus, e faz o coração saber que “já não há nenhuma condenação para os que estão
A questão é que esta é nossa condição real…
De um lado, em nossa natureza, experimentamos estranhas pulsões, e que crescem com o volume enorme de indução sensual que existe à nossa volta, e que é o único “ar envenenado” que muitas almas respiram.
De outro lado, temos a realidade de que estamos justificados pela fé em Cristo.
O que está faltando, então?
Falta você ser honesto com sua queda, e saber que de si mesmo você não tem como agradar a Deus.
Falta você crer que Jesus já agradou a Deus por você.
Falta você descansar na justiça de Jesus que está sobre todo aquele que crê.
E falta você, sem agonia e culpa, começar a buscar o “novo pendor”, a nova “inclinação”, e que é vida e paz.
Então você me diz: Mas como é isto?
Ora, você mesmo já viu que religião e regras de conduta e devoção não realizam nada como bem para o homem interior.
Ao contrário, tais coisas, em si mesmas, dada a sua natureza presunçosa, moralista, legalista e cheia de justiça própria, apenas aumentam o volume de energia psíquico-espiritual negativa dentro do indivíduo, posto que pela Lei vem o pleno conhecimento do pecado.
Desse modo, quanto mais Lei, mais pecado. E quanto mais desejo de agradar a Deus pelo cumprimento da Lei, mais angustia, culpa, neurose, e, pulsões taradas brotam do coração.
O que desmonta esse mecanismo da morte na gente é uma dupla admissão, seguida de uma simples certeza:
1ª Você precisa admitir sem desespero que você é pecado. Que todas as suas virtudes são trapos de imundícia se vistas sob a Luz Divina da Verdade. E precisa saber que é assim. Sim, você e eu somos pecadores; e, por nós mesmos, estamos destituídos da glória de Deus. E, meu amigo, quanto a isto, não há exceção: todo homem está sob tal realidade. Ninguém escapa.
2ª Você precisa admitir que Jesus agradou a Deus por você, pois, “ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar…” em nosso lugar. “Aquele que não tem pecado, Deus o fez pecado por nós”. Em Cristo a Lei foi abolida ( “o fim da Lei é Cristo, para a justiça de todo aquele que crê…”), a maldição da Lei foi cancelada (“…Ele foi feito maldição em nosso lugar…”, e Deus reconciliou consigo o mundo, quando Cristo consumou toda a justiça diante de Deus.
Assim, a sua herança em Deus é a herança de Jesus. E também assim você pode viver sem medo, nem da morte e nem da vida, e nem de nada, pois, em Cristo, nada pode divorciar você do amor de Deus.
Uma vez que isto é admitido não apenas com a mente, mas com o coração, tudo começa a mudar.
E, para mim, nada há mais “lógico” do que crer na loucura do Evangelho, visto que sem ele nada me resta se não o esmagamento insuportável da Lei ou, quem sabe, um mergulho desesperado na “morte de Deus”, ou numa crença que me oferecesse um Deus Zen. Mas uma parte enorme de mim teria que desaparecer.
O Evangelho, todavia, coincide com a vida. Nele eu tenho espaço para viver, e carrego dentro de mim a paz da justificação.
O Evangelho, por ser a Verdade, atende a todas as dimensões da realidade. E é Boa Nova para todas as camadas do ser e da existência.
Mas qual é o benefício que vem de se admitir com o coração, tanto quem eu sou quanto o que Cristo já fez por mim?
Ora, uma vez que sei que estou morto por mim mesmo, e que nada há em mim que mude minha morte, acaba a pior luta da alma, que é a luta da auto-justificação.
E é do esforço da auto-justificação que nascem todas essas pulsões que gritam como tara e descontrole, posto que a auto-justificação é um palco de justiça para fora, e torna-se, justamente por isto, um forjador de fantasmas opostos aos personagens praticados como esforço e lei, do lado de fora—esforço de ser para Deus, para os outros, e para nós mesmos.
Mas quando eu sei que estou morto, morto estou; e quando sei que em Cristo morreu a minha morte, com Ele eu morro; e quando sei e creio que Ele ressuscitou dos mortos, eu celebro o fato de que assim como sou morto, também com Ele morri; e assim como Ele ressuscitou dos mortos, também com Ele vivi.
E, assim, por Ele vivo e Nele sempre viverei.
Ora, você pergunta:
O que isto muda?
Começa por deixar você em paz na neurose de que é você quem vai agradar a Deus pela via da Lei. Prossegue na certeza de se estar em paz com Deus por meio de Cristo (Está pago!). E conclui dando paz para que a pessoa busque sua nova inclinação (Rm 8), visto que a nova inclinação só se inicia se o indivíduo estiver em paz com Deus.
Ora, esse é o Vazio.
Esse é o Vácuo que ninguém aceita.
Fica esse aparente espaço entre quem eu sou e aquilo que Cristo fez por nós; e esse espaço é a vida cotidiana, na qual eu sou quem sou, embora creia que por causa de Cristo sobre mim já não paire condenação.
O que aqui, escrito num texto, não toma espaço, na vida é um grande Abismo. É aí que a maioria pára. Confessam-se pecadores. Dizem que crêem no que Cristo fez por nós. Mas, então, voltam à lei para se santificar e poder agradar a Deus, e, assim, não pulam na fé, não dão o salto, e voltam para uma quase-graça, para uma quase-cruz, para uma quase-benção, para um quase-evangelho, e para uma quase-vida.
O que não se entende é que para usufruir pacificação que vem da nova inclinação, a pessoa tem que se aceitar justificada pela fé; embora, em sua vida e pulsões, ela, muitas vezes, encontre uma outra tendência.
Se se enfrenta essa tendência natural que se exacerbou em todos nós pela Lei (como Paulo declara) com as força da Lei, a gente morre em culpa, medo, e angustia. Mas se se crê que em Cristo já se está justificado, embora sejamos injustos e pecadores, inicia-se um processo inesperado.
Ao invés disso gerar frouxidão, isso gera uma nova inclinação, uma nova vontade, e uma nova força.
E por que?
Ora, é que as forças do ser já estão liberadas da angustiosa e invencível batalha pessoal contra o pecado como algo a ser vencido pela Lei ou por mérito próprio; e, assim, livre desse temor e desse conflito infindo, a alma descansa em paz, embora se saiba pecadora.
E, é justamente aí que o benefício do Evangelho começa a se existencializar como bem de paz para o coração.
Desse modo, existe um abismo entre a certeza da minha condição como pecador não-auto-redimível, e o benefício da justificação pela fé.
E, para que se salte para o outro lado, para o descanso, a pessoa não tem que apenas acreditar na “doutrina da justificação pela fé”.
De fato, é muito mais do que isto…
Sim, a pessoa tem que confiar; tem que se tornar como aquele homem cara-de-pau acerca do qual Paulo falou em Romanos 4, que não trabalhou o dia inteiro, mas que apareceu no fim do dia para receber a recompensa; recebendo-a apenas porque creu que o Senhor é bondoso.
Esse é justificado pela fé… E, assim, não vive na vagabundagem, cada vez fica menos vagabundo, mas a sua não vagabundagem progressiva jamais será uma moeda de troca entre ele e Deus, pois, ele sabe, que com Deus não há barganha.
Assim, ele cresce em virtude, mas essa virtude não se chama de virtude, ela apenas se percebe como vida e paz.
Há muita gente neurótica com o pecado.
Há muita gente pregando a justificação pela fé e santificação pela Lei.
E, por esta razão, o bem do Evangelho nunca se consuma como paz para a grande maioria. Posto que o Benefício vem da confiança.
Assim, meu amigo, vindo para a sua questão prática, eu lhe digo:
2. O que importa é poder dizer: “Jesus, vê como minha alma está carente e compulsiva. Dá-me paz para que meu coração se pacifique. Mostra-me de onde vem essa pulsão. Sei que estou justificado. Por isto, sonda-me, e cura-me”. Chame a Jesus para junto de seu computador. E não se trata daquela coisa neurótica de que Jesus não olharia nem mesmo para um computador. Falo de ter a liberdade de “mostrar” para Jesus o que é flagrante. O estranho é que nesse momento de liberdade o bicho molestador começa a perder poder na alma. Você verá.
3. Essas pulsões se alimentam de culpa e Lei. E elas são tão fortes assim porque você as odeia, e é por isto que elas têm poder sobre você. E você as odeia por causa da lei e da justiça-própria. Não as odeie e elas começarão a morrer.
4. Para começar esse exercício você não tem que fazer a sua devocional vendo pornografia. O que estou dizendo é que quando o mistério, o medo, a culpa, e a angustia da condenação acabam, o bicho interior começa a perder a força, posto que ele se alimenta das proibições.
5. O seu amigo ao lado, por não ter esses grilos, mesmo não tendo nenhuma consciência do bem do Evangelho, vive muito mais tranqüilo que você, e deve olhar essas coisas—se olhar—de modo muito menos diabólico. Portanto, veja que até quem não sabe, vive melhor do que aquele que pensa que sabe, mas não confia.
A Internet tem sido uma desgraça para os crentes porque ela dá acesso secreto e seguro para que a alma culpada do fariseu do comportamento se expanda, e entre sorrateiramente em todos os ambientes; só que o cara entra acompanhado pelo “diabo”, e, assim, o diabo cresce dentro dele.
Na Lei até um animal tem que ser apedrejado se pisar no Lugar Santo de Deus.
Ora, se alguém vive nesse espírito, como ficará a sua alma quando entrar num site pornô? Apedrejada até ao inferno!
O problema é que culpa é algo doído, porem altamente excitante. É por isto que a mulher do vizinho, embora mais feia, é sempre mais desejada pelo fariseu do que a esposa dele. Além disso, devo também lhe dizer que suas pulsões sexuais estão como um magma a ponto de explodir.
A questão é: Por quê?…
Não sei nada sobre você. Se é casado. Se é solteiro. Como é sua vida sexual. E outras coisas que ajudam a elucidar as causas de tais pulsões. Mas mesmo sem saber de nada, sei que você anda sexualmente premido e reprimido, pois, caso você estivesse satisfeito, a própria natureza também encontraria o seu caminho de pacificação interior nesta área.
Crer no que Jesus fez por você lhe dará paz. Mas tratar a si mesmo com paz é o que lhe dará calma e tranqüilidade para que você mesmo também se trate com a moderação que leva à paz como um bem para o coração, e que se transforma em caminho pacificado.
Portanto, se há uma fome, é porque há uma inanição.
Me diga qual é.
Nele,
Caio
2004
Copacabana
RJ