PASTOR-MARIDO: O CREDOR INCOMPASSIVO!
Pastor Caio, Graça e paz!
Tenho uma história triste para lhe contar e gostaria de sua sinceridade para que eu pudesse tomar as decisões mais acertadas para o momento.
Tudo começou há 23 anos, quando eu ainda era muito jovem, e nunca tinha namorado.
Fiquei apaixonada por um menino na adolescência, e namorei com ele até descobrir que ele estava me traindo.
Logo depois tive mais três ou quatro namorados, os quais repetiram a façanha de me trair.
Nesse mesmo período fui a uma igreja e conheci aquele que veio a ser o meu esposo.
Ele é original do Sul do Brasil e veio fazer seminário no Brasil Central. Acabou por ficar amigo do pastor de uma igreja e foi estagiar por lá.
Após alguns contatos fizemos uma grande amizade. Nesse período ouvi mensagem que você pregou e me converti ao Evangelho.
Nesse mesmo período, começamos a namorar. Nessa época eu fazia psiquiatria e abandonei…
No princípio do nosso namoro tudo era bênção. Até que começamos a nos
envolver fisicamente. Depois de uns meses de namoro, ele me contou de seus envolvimentos anteriores e eu resolvi contar-lhe que já tinha tido um envolvimento intimo com um dos meus exs, porém sem perder a virgindade.
Foi o fim do mundo! Ele passou a agredir-me moral e fisicamente, dizendo que eu tinha que provar ser virgem… Então, passamos a manter relações sexuais onde dava!
Quando eu não queria, ele se tornava agressivo, e até me batia. Eu achava que eram apenas momentos de raiva e que passaria após o casamento. Além disso, não me via sem ele, pois, naquela época e naquelas circunstâncias—digo: na igreja—era melhor morrer do que acabar o namoro-noivado com um quase-pastor.
Após um ano e meio nos casamos, apesar de eu ter ficado sabendo de algumas traições dele durante o processo de nosso namoro. Mas… ele era tão envolvido com a obra…! Pastoreava, evangelizava, tinha tido uma experiência forte de conversão… e por todas essas coisas achei que aquilo era passageiro.
Logo após o casamento… tivemos um bate-boca e ele me bateu de novo!
Após isso, vivíamos entre tapas e beijos, adocicados por traições dele, sem falar na grande dificuldade financeira…
Fiquei grávida e tive um filho lindo…
Ele foi ordenado pastor…
Um dia… do nada… ele me disse que tinha tido um caso com uma moça que era nossa conhecida… de outra igreja. Quase enlouqueci!
Entrei em depressão profunda, porém ninguém sabia de nada.
Nesse período você me ajudou de novo, sem saber. Uma mensagem sua acalmou meu coração.
Após isso fomos para o extremo sul do Brasil. Lá ele me bateu de novo… Decidi que ao voltar para minha cidade, eu iria estudar, ser independente, e separar-me dele.
Mais humilhações…
Depois de um tempo voltamos para a nossa cidade… Muitas lutas!
Terminei encontrando um amigo, uma antiga paquera, e, de tão carente que estava, acabei indo pra cama com ele. Foi o suficiente para eu morrer por dentro. Nunca disse ao meu esposo, pois, ele jamais me perdoaria.
Comecei a estudar e terminei a Faculdade, mas só cuidada de meu filho e de meu marido.
Via meu marido pregando… ora o amava… ora o odiava. Culpava a Deus por tudo, culpava a mim, e lutava contra sentimentos de traição e ódio que me invadiam.
Até que tive uma renovação de fé e melhorei no meu interior. Mas nesse mesmo período, ele estava sendo acusado por uns pastores da cidade de ter tido um caso com uma menina de uma igreja, e que trabalhava na casa de um outro pastor; e que teria contado a esse pastor sobre ela e meu marido.
Nunca soube se realmente o fato ocorreu, mas a verdade é que ninguém acreditou nele; e, assim, saímos da igreja. O povo já não confiava nele.
Apesar de tudo, comecei a acreditar que
finalmente teríamos colocado um fim nas nossas mazelas, e que iríamos trabalhar juntos para fazer de nossa nova igreja crescer, e tornar-se uma igreja de grande, sadia e forte…
Sentia-me completamente perdoada por Deus, apesar de saber que jamais poderia conversar com ele sobre o que havia acontecido comigo naquele “episódio”.
Tudo estava bem! Até que … ele continuou com muitas amizades femininas… brincadeiras com meninas… E, comigo, agressões e ignorâncias… e tapas.
Eu acreditava que tudo era uma questão de tempo para que Deus transformasse
seu caráter. Foi quando a nossa igreja começou a crescer. Porém, há três anos e meio, uma nova acusação surgiu de outra moça da igreja; e a igreja se esfacelou…
Fiquei como sempre do lado dele, garantindo não acreditar, mas lá no íntimo triste com a liberdade que ele dava as pessoas, e por não ter ouvido os meus conselhos para ter cuidado com o sexo oposto.
Caio, além disso, eu e ele não temos uma boa relação sexual desde o nosso casamento; e, às vezes, literalmente, fujo dele!
Não estou aqui no papel de juiz, nem quero dar uma de vítima. No entanto, creio que Deus pode mudar um homem… Mas por que Deus permite que ele não mude?
Caio, fui ficando com raiva… Acabou que me envolvi com um rapaz bem mais novo do que eu, e fui pra cama com ele.
Sei que estou completamente errada. Sei também que isso pode ser uma fuga, porém estou muito confusa.
Será que Deus não pode tomar uma providência nisso tudo?
Eu jamais poderei contar a meu marido… No entanto, não me sinto em paz sem dizer nada.
Sempre preservei o meu casamento por causa de meu filho, e também porque o amava. Como fiz isso?
Às vezes acho que o odeio, que odeio até Deus por ter deixado que eu me casasse com ele.
Não quero prejudicar a vida desse rapaz, que já me disse que dificilmente poderíamos ficar juntos…
Caio, estou muito triste e acho que já resumi um pouco do meu drama. Por favor, responda esse e-mail.
Com muita dor na alma, sua filha em Cristo, que te ama muito.
Um beijinho fraterno pra você!
Em Cristo,
Resposta:
Minha querida amiga e filha na fé: Graça e Paz!
Como você bem sabe, Deus nada tem a ver com isto. Nossas escolhas são nossas, e a maturidade decorre de se entender isso. Quem entende isso, amadurece. Quem não entende, jamais crescerá, e sempre desejará que Deus seja responsável por tudo o que a própria pessoa escolheu por si mesma. O problema é que não desejamos assumir que os “resultados” também fazem parte da escolha inicial; e que foi nossa.
Você era jovem e inexperiente. Simplesmente foi como foi. Não existe um “oráculo” nisso. O que é divino não é o que escolhemos, mas o que fazemos com nossas escolhas e com as conseqüências delas.
Seu esposo é um meninão tolo. Foi ordenado pastor, mas é uma criança irresponsável.
Digo isto, minha querida, sem julgamento. Todavia, devo afirmar que até para “pular a cerca” o sujeito tem que ter certas responsabilidades.
O “filho pródigo” quando quis “azarar” foi para “uma terra distante”. Sim, ele não ficou “pegando” as meninas da propriedade do pai.
Um pastor cair em tentação sexual não é nada mais especial do que qualquer homem cair na mesma tentação. Aliás, eu diria que no caso do pastor a possibilidade de que ele seja atormentado por tais sugestões é até maior, visto que ele é o líder referencial de uma comunidade de carentes, especialmente mulheres, e, da qual, ele é o ser “mais visto” pela própria função que exerce. Então, normalmente, ele recebe as projeções e transferências psicológicas de todas as ordens possíveis e imagináveis.
No entanto, embora as “ofertas” sejam muitas—e cheguem sempre camufladas pelo próprio inconsciente das pessoas, que raramente admitem tais pulsões—, o pastor de uma comunidade não têm nas “ofertas inconscientes” das mulheres carentes nenhuma desculpa para pular a cerca dentro da comunidade.
Ninguém deve pular a cerca jamais. Mas, no caso de um pastor, ou de um psicólogo, ou de um psicanalista, etc… ter um envolvimento sexual com alguém do “grupo de pacientes” (no caso do pastor é até mais grave o vínculo)… é muito sério; e sempre gera grandes e graves conseqüências.
Sim, não há como não ver a situação como não sendo muito mais “covarde”, posto que se está “usando” uma mulher completamente fragilizada, e que se entrega a alguém que seduz em nome de Deus ou da ciência da alma.
O histórico de casos sexuais dele com gente da igreja é triste e lamentável…
Sinceramente, acho que ele deveria fazer outra coisa da vida, pois, será um horror se ele continuar a transformar a igreja numa praça de casos sexuais.
Quanto a você, sinceramente, não sei como conseguiu se auto-enganar tanto tempo; e, nem tampouco, como você conseguiu ficar… apesar de tantos rolos.
Chega! Se você continuar… não reclame mais, pois, como você mesma disse, “entre tapas e beijos”… só existe espaço para uma relação adoecida.
Quanto ao que lhe aconteceu com o “ex” e com o “moço”, pelo amor de Deus, esqueça. Fico surpreso que tenha sido só isso, dada a situação estabelecida pelo seu próprio marido!
Quanto a ter que contar para o seu “esposo”; eu pergunto: para quê? por que?
Pelo amor de Deus! Não se torne a “algoz” de uma relação na qual você tanto foi a vitima, como também a auto-vitimada!
Paulo disse que no casamento Deus “nos tem chamado à paz”( ICo 7).
Portanto, não havendo paz e respeito em tempo algum, saiba: aí não existe um casamento digno de ser mantido, mas apenas uma documentação de sociedade conjugal adoecida.
No caso de separação, pelo histórico dele, também devo adverti-la de que dificilmente ele assumirá as responsabilidades financeiras com você e com o filho—ele pode até desejar, mas, certamente, não terá de onde tirar, a menos que um milagre transforme a vida dele e o amadureça.
Insistir nesse casamento de mais de 20 anos de tortura, será amargurante e adoecedor para a sua alma, e, no futuro, as conseqüências poderão ser piores.
Para ele é “confortavelmente adoecedor”; mas para você é uma desgraça.
Você ainda é jovem. Use o seu diploma e procure um emprego. Prepare o seu caminho com discrição. E quando estiver tudo pronto, caso ele não tenha mudado significativamente em nada, apenas informe a ele acerca da separação. No entanto, em tempo algum, conte a ele o que lhe aconteceu. Você não deve essa confissão a ele.
Digo isto porque ele tem o “perfil do credor incompassivo” da parábola de Jesus, porque é perdoado de muitos pecados; porém, à saída da sala do perdão, tenta estrangular quem a ele deve quase nada; isso se compararmos as dívidas dele com as suas dívidas para com ele. Dívidas das quais ele tem sido perdoado por Deus e por você; embora ele seja incapaz de perdoar você até do que aconteceu a você antes dele existir em sua vida.
Ninguém tem que ser perfeito. Todavia, tanto mais quanto alguém reconheça suas próprias deficiências, tanto mais misericordioso e benigno tal pessoa tem que ser. O que é insuportável é o imperfeito que julga a todos com juízo implacável. A esse Deus vomita!
Quanto às agressividades e espancamentos que ele cometeu contra você (agora isso importa pouco a meu ver!), saiba: tais coisas foram o resultado das projeções dele sobre você!
Ora, ele julga a você por ele mesmo. E como ele tem um monte de desejos e pulsões estranhas dentro dele, ele julga que você também as tenha na mesma medida; daí julgar a você com o critério com o qual ele mesmo será julgado, posto que quando enuncia os critérios de seus juízos, ele próprio declara o estado de seu próprio coração, e emite os juízos que ele mesmo acha que alguém que faz aquelas coisas deva receber. É sempre assim. Daí, também, os maridos que pulam a cerca serem sempre os mais ciumentos. Eles acham que a esposa vê a vida e os homens com os mesmos olhos com os quais eles vêem as mulheres.
Fique firme e não se abale. A vida só está começando. E saiba: o que você teve até agora não é para ser comparado com o que de bom ainda pode lhe acontecer na Terra.
Receba meu carinho e amor.
Nele, que nos tem chamado à paz,
Caio