Pastor, não aguento mais meu casamento!

—–Original Message—– From: D. Sent: domingo, 13 de julho de 2003 To: [email protected] Subject: To morrendo, pastor. Pastor Caio, Vou direto ao assunto. Tenho 5 filhos, três meninas e dois meninos. Amo meus filhos mais que tudo. Mas nunca gostei da mãe deles. Somos cristãos desde muito cedo. Já jejuei, orei e até já fiz sessão de unção peniana para ver se sinto alguma coisa, mas “aquilo” também pela mãe deles. Pastor, eu daria tudo para gostar dela. Tudo mesmo. Casei por culpa. Ela era batista e eu era pentecostal. Ela forçou a barra. A gente foi pra cama um pouco antes. Ali mesmo, pastor, eu vi que não gostava dela mesmo. Mas o senhor deve saber como é. Ela forçou a barra e eu era todo culpado, casei com muita tristeza. Os filhos já estão grandes. Acho que eles vêem que eu amo ela só como irmã, mas Deus sabe a minha luta para gostar dela como mulher. Daria tudo, pastor, tudo mesmo. Como lhe disse já orei, jejuei, fiz até a tal da unção do pênis num grupo desses novos, dos 12. Mas não funciona pastor. Sou brocha pra ela. Acho ela criança, chata, imatura e uma mãe muito infantil…além de viver deprimida. Parece que ela é sempre mais imatura que meus filhos. É muito egoísta também. Sei que ela não gosta de mim. Já me confessou até que andou meio balançada por um cara. Quando a gente transa eu passo mal. Não gosto de nada nela, principalmente do jeito dela. Até o cheiro dela me faz mal. Não combina em nada, pastor. Estou desesperado. Faz mais de décadas que sofro esse casamento sem amor. Já pedi pra morrer ou pra ela também. Nem fiquei zangado quando ela falou da paquera dela com rapaz da igreja. Pastor, Deus faz um homem gostar de uma mulher sem ser apenas como irmã? Eu já fiz de tudo…terapia…profeta…e já jejuei muito. Mas sinto até asco. Fico com muita culpa. Ela é crente. Por que, meu pastor? Não sou feio. Sei que minhas colegas de trabalho, na Repartição Pública, me olham. Sou engraçado e acho que agrado. Fica assim…óó…muita mulher, que eu digo, puxa, porque eu não posso cuidar dela e dos filhos e me separar… Tô morrendo meu pastor. Deus, sabe, acho que só Ele mesmo é que sabe de meu sofrimento. Sou pastor de tempo parcial. Sou pastor de uma comunidade, tenho uma igreja boa, que me ama, mas fui ensinado que divorcio não pode, só em caso de traição, etc… Ganho um salário razoável e sou muito respeitado na minha cidade. Assim, tipo…virei referância. Mas me sinto escravo…sinto desejo de jogar tudo pro alto. Mas vi o que fizeram com o senhor e confesso que acho que sou covarde. Eu num ia agüentar a pressão. Os filhos me fazem chantagem, pastor. A mãe sofre de depressão. Fico sem saber o que fazer. Será que não tenho direito de ser feliz? E pra piorar me apaixonei pela mulher de um colega. Eles vivem aos tapas. Ela é muito sofrida, pastor. Até apanha. O marido dela é meio tarado. Fique querendo botar coisas dentro dela. Ela vomita de nojo. Mas ele ameaça. Diz que se ela se separar o ministério dele acaba e que ela vai ficar na rua da miséria. O que eu faço, meu pastor? Não quero ferir ninguém. Choro muito. Minha mulher desconfia. Morro de pena dela. Mas e se eu e a mulher do outro pastor, se a gente se separar e todo mundo cair de pau? Acho que a gente não vai suportar. Mas como está não dá, não dá mesmo…o que eu faço? Tô desesperado… O marido da outra já tá desconfiado. Ela não aceita mais ser nem tocada por aquele tarado. Ele pega e bate nela. Tem servir a ele quando ele manda. Tem medo de ficar na miséria. Sei que ela me ama de paixão. Eu também. Não entendo nada. Com toda a minha teologia….que não serve pra nada numa hora dessas. Já conversei com muita gente…até com um famoso professor de Bíblia. Mas o cara disse que eu podia até me separar, mas casar de novo, NUNCA. Vou ficar assim? To morrendo, pastor. Não quero trair ninguém, mas tô, pastor Caio. E o pior de tudo é que quando estou com a outra sou o cara mais feliz desse mundo, com a minha mulher é que eu me sinto traindo até a Deus. Nunca pensei que alguém pudesse se sentir em pecado transando com a própria esposa. Mas e se eu ficar na rua? E se os meus filhotes tiverem a cabeça feita pela mãe. Além disso ela é muito cheia de manipulação. Como é que pode? Se ela não gosta de mim, por que não deixa quieta? Eu ajudaria ela em tudo. Mas assim é um inferno. Tenho 39 anos. Não quero ser sepultado vivo. Me ajude. O que eu faço? Sempre achei que se alguém tivesse que me falar a verdade era o senhor e também o único que não ia me julgar. Quero uma palavra de Deus. Preciso sair dessa, pastor. Não quero ser canalha com ninguém. Te confesso que sei que Deus me entende. Tenho medo é dos homens, especialmente os meus colegas fariseus. Me ajude pelo amor de Deus. Não me esconda nada. Como não sou famoso, será que vão me deixar em paz? Soube que tem um apóstolos aí no Rio que se separou. Aqui em sampa tá cheio de pastor adulterando, até atendo uns “casos” deles. Fico morrendo de raiva. Tudo hipócrita. E também alguns se separaram, tem até “bispos” que fala na tv. Mas tenho medo é de sofrer como o senhor. É muita hipocrisia. Deus quer que eu seja infeliz? Pelo ministério tenho que viver assim? Me responda por favor. Tô sozinho, agora o senhor sabe. Me ajude. Paz pra você, meu pastor amado. Aguardo. D. *************************************************** Querido irmão D. Sua carta chegou agora de madrugada. Ontem respondi umas cinco ou seis cartas (e-mails) assim como a sua. Mesmas dores! Parece que a panela abriu e o vapor está saindo…a “igreja” tem que se enxergar. Há muita gente na sua situação. Serei franco e honesto com você. Primeiro, quero dizer que “limpei” sua carta de qualquer coisa que possa identificar você e sua família. Segundo, quero que você saiba que escolhi responder publicamente a sua carta apenas porque ela corresponde ao drama de muitos outros. São todas histórias muito parecidas. Não faz muito tempo e um amigo meu me contou a situação dele…igual a sua. Ontem falei com outro que me disse que só não largava tudo pelo medo de ficar sem dinheiro. Um outro me escreveu falando que era medo que a mulher tentasse suicídio…já ameaçou antes. Você me perguntou umas três vezes o que fazer. Sinceramente, posso ser honesto com você, mas não tenho como dizer o que você tem que fazer. Posso dizer apenas o que penso, mas não posso assumir responsabilidade pelas decisões de ninguém. Já cansei de ser o “boi de piranha” dos evangélicos, de botar a cara para apanhar…desde sempre! No fim até os que se beneficiam me julgam e me deixam só. Depois que me separei, em abril de 1998, virei o Judas das Malhações da antiga festa católica da sexta-feira da paixão. Ironia: paixão e malhação andam de mãos dadas na festa da religião! O que tenho a dizer? 1. Que cada vez mais ajudo casais a não se separarem. Mas como me separei um dia, ficou o estigma. Antigamente eu aconselhei um monte de gente a se separar…e ninguém dizia que eu era “pró-divorcio”. Assim como não sou pró-amputação. Mas agora, mesmo que o caso seja escabroso e todo mundo saiba que a situação é indigna e desumana, se eu falar…é porque estou me auto-justificando. Cada um que responda a Deus pelo seu próprio julgamento! 2. Creio que Deus derrama amor em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado. Mas não esse amor de homem e mulher. Não vejo um único caso na Bíblia de orações feitas e respondidas acerca do tema. Jacó amava a Raquel, e não a Lia. Elcana, amava a Ana e nem tanto a Penina (mesmo que houvesse unção peniniana). E no N.T. a questão nem é mencionada…digo: essa de amor entre homem e mulher ser criado por milagre ou decreto. 3. Aliás, desde antes da Queda que não é assim. Deus deixou um lugar de liberdade no coração humano para esse amor…e nem o próprio homem consegue controlá-lo. Não havia ainda pecado…Adão falava com Deus na viração do dia…nada lhe faltava…nenhuma nostalgia de pecado estava presente…e o Criador não estava separado, muito menos distante…mas Adão procurava uma companheira. 4. O que isto quer dizer? Ora, que antes de haver pecado já havia liberdade…e que Deus não quis ser um Deus que não desse à criatura a capacidade de se surpreender…foi Deus quem criou a carência de Adão, não o pecado. O pecado a agravou e a tornou confusa e solta. 5. Não é bom que Adão fique só—disse Deus. Adão não estava só, no sentido existencial mais profundo e essencial: Deus era com ele e nada os separava. Mas Adão não era um espírito a-temporal e desencarnado…ele via os animais em cópula e comparava a “realização animal” com sua irrealização…ainda que espiritual e materialmente nada lhe faltasse. Assim, desde o Princípio, Deus deixou esse “lugar” no ser humano…e, nem Ele quer ocupá-lo em substituição. Portanto, diz: Farei uma companheira para o homem que seja da altura dele! 6. Aqui para mim reside uma das principais características do casamento que é bom…muito bom…e sadio: encontrar alguém que seja do nosso tamanho. 7. Mas nem isto é tudo. Tem que haver um “Uaou”. Tem que haver algo que assusta de dentro para fora. Um susto da alma. Um choque. Uma surpresa. Tem que haver um “esta afinal é carne da minha carne…” Sem a descoberta da carne que continua a nossa…não há casamento. E nem toda carne é continuação da nossa. Obviamente que não falo só de carne…mas de corporalidade…de totalidade. Mas se não começar no “Uaou” não vai muito longe, não entre pessoas que ainda não estão no tempo da total delicaceza…na velhice. 8. No V.T. há várias palavras para definir amor, mas a que aparece em Cantares é ligada ao desejo e a alegria do homem e da mulher…começando na pela, na carne, no sangue, na alma, na anima animal. Como diria um amigo meu: Sem esse poder não vai… 9. A gente pode amar até ao inimigo. Mas a conjugalidade não está incluída nessa forma de amor. A gente pode amar ao cônjuge com o amor com o qual a gente ama até ao inimigo, apenas para salvar o “amor-de-homem-mulher” que a gente só tem por ele (a). Mas não se vive só de amor etéreo no casamento. A finalidade é outra, desde o princípio: para que se tornem uma só carne… 10. Então, vêm todas as questões químicas, de pele, de cheiro, de prazer, de completação—que começa na apreciação estética e vai até a comunhão no espírito. 11. Depois da Queda…raramente um casamento preenche cada gavetinha do ser—homem-mulher. Tem gente que tem mais comunhão física que espiritual. Tem gente que tem mais comunhão espiritual que física. Tem qente que tem mais objetivos comuns que qualquer outra coisa, etc… Mas ninguém vive bem onde não há nada…especialmente se o coração da pessoa reclama a presença de uma dessas dimensões. Toda essa discussão religiosa sobre “clausulas de exceção” para o divórcio, sinceramente, é geradora de hipocrisia. Muita e adoecedora hipocrisia! Alguma coisa errada com as “clausulas”? Não! O problema somos nós. A gente acaba virando fariseu no processo. Aplicamos de modo perverso a Lei. Tem gente que “torce” para a mulher trair ou o marido. Sem falar em quantas orações para que ele (a) morra… São verdadeiros assassinatos intercessórios! É a Lei sendo maior que a Vida! Desse modo, o coração fica do jeito que o diabo gosta…e tudo em nome de não se quebrar as exterioridades da Lei…enquanto no coração ora homicidamente! Eu, pessoalmente, nem quando comecei o ministério, jamais entendi foi o segunte: Se minha mulher me disser que está infeliz ou que não gosta de mim como homem, por que e em nome de quê eu pediria a ela para ficar? De que adiantaria? A resposta tem que ser honesta por parte dos que pensam que o outro tem ficar de qualquer jeito… Não vale dizer que se não ficar ambos ou um tem que ficar preso à Lei para sempre sem constituir novas núpcias. Para mim, as razões são outras. Vai desde de dinheiro até ao orgulho de não ser “deixado” ou “trocado”; pode até passar por um amor adoecido…mas não compreendo assim mesmo. Eu daria e dou liberdade na hora. Jamais gostaria de ter ao meu lado alguém infeliz. Eu mesmo seria horrivelmente infeliz se criasse tal obrigação para alguém. Sem falar que eu me respeito demais para desejar tal vinculo. E também, sem falar na Cruz, e na vitória dela sobre toda a Lei, inclusive a lei conjugal! Depois da Cruz a Lei Conjugal é o amor! O que todo mundo tem que saber são três coisas: 1. A primeira é que se pode escolher errado…seja pela imaturidade, seja por carência—especialmente no meio cristão, onde se casa antes de tudo para se resolver o “problema sexual”. Além disso, há também o convívio de seita, que a “igreja” oferece…apenas jovens do mesmo grupo…convivendo e casando entre si…fazendo o planeta ficar do tamanho da “mocidade da igreja”. Para mim esse já é um problemão. Depois de um tempo as pessoas vão trabalhar e decobrem a “América”, a “Europa”, a “África”, e o resto do mundo, e se perguntam: Ué, o mundo é maior que a mocidade lá da igreja? 2. A segunda coisa a se saber é que sendo dois…eles não irão a lugar nenhum se não forem juntos: basta um não querer ou boicotar, que tudo fica freud, insuportável. 3. Só recorre ao divorcio com simplicidade aquele que for muito insensível. O divorcio é mais que freud também. Meu Deus! mesmo para se deixar a quem não se ama…se se é gente e cristão…dói muito. Nenhum cristão—que tenha amor no coração; digo: ágape ou phileo no coração—, consegue se separar tranqüilamente. Eu, pelo menos—e a maioria dos que atendo—comem e comeram o pão que o diabo amassou. É uma desgraça…dói por fora e por dentro…dói de dia e de noite…dói pelo outro—que você ama com outro tipo de amor, e, quando há filhos, aí é que se conhece as angustias do inferno e da culpa, especialmente em razão do clima de beligerância e morte que a religião cria. Portanto, divorcio é sempre uma amputação…e ninguém recorre a tal intervenção se não for para salvar a vida…a alma. Uma vez vi uma mulher “pirar” porque o marido dela era pastor e gostava de enfiar uma cabo de vassoura no anus dela. Mas ela não podia dizer nada…tinha que agüentar e gostar. Enlouqueceu! E não há “clausulas” para tal maluquice. Moisés não tinha uma outra página de pedra para ser aplicada a tais casos. Talvez porque não seja nem preciso. É óbvio! Mas há aqueles casos politicamente corretos: o cara é bom, é gentil, é virtuoso, etc…mas a mulher não consegue gostar dele de jeito nenhum e vice-versa. Costumo dizer que é mais fácil salvar um casamento onde um dos membros é até meio ruim…se a outra parte gostar dele(a) assim mesmo… Sou filho de um casamento que foi salvo. E dou graças a Deus por isto sempre. Tem sido lindo ver a velhice de meus pais…seus cinqüenta anos foram maravilhosos. Mas havia o que salvar entre eles. Mamãe gostava e amava papai e ele gostava e amava mamãe…ainda que tenha vivido uma paixão entre os 35 e os 40 e poucos anos… Se um dia existiu algo que significou um “Uaou” para a alma…há sempre esperança. O terrível é quando não há “uaou”…há só “hêhê”…nesse caso, acaba em “ai, ai”. E mais: tal processo vai indignificando as pessoas e acaba fazendo mal aos filhos…mais mal que uma honesta e transparente separação…com responsabilidades assumidas. O que não se deve minimizar jamais é a incompatibilidade essencial que se instala entre certas pessoas. Até mesmo entre gente boa. Vejo toda hora! E é fácil saber como é: Imagine-se casando com uma irmã ou irmão na fé…com o mais manso, amigo e consagrado da igreja…e, então, se pergunte: quanto tempo eu agüentaria se eu não o amasse como homem ou mulher? Se você for honesto (a), logo vai descobrir que a bondade não é tudo nessa hora…e que a alma não escolhe esse bem como bom, à menos que haja um correspondente de admiração, carinho, desejo, amizade e fascinação fazendo parte do conjunto das coisas. Outro dia alguém de mais de sessenta anos veio me dizer que queria se separar de um cônjuge com as qualidades descritas acima. Eu perguntei “para quê”. A resposta veio com pelo menos uns 25 anos de atraso. “É que eu não gosto dele como homem”. Eu disse: “Olhe, você já está mais para urubu do que para colibri…você já imaginou o custo desse ato?” Ou seja: há um tempo também para tomar tais decisões…caso a pessoa em questão não seja um agravo para a vida. Costumo dizer que não havendo saída mesmo—mesmo, mesmo, mesmo!—então, que se faça isto enquanto não se tem filhos; ou, dos males o menor: enquanto eles são pequenos o suficiente para não psicologizarem o processo como o fazem os adolescentes. Ou ainda—dos males um menor, repito: se não houver jeito mesmo!—, depois que os filhos já tiverem passado a “fase crítica”. Isto no caso dos interessados na separação—em razão da angustia na carne e na alma—ainda serem relativamente jovens para prosseguir. Do contrário, tal separação será justificável apenas se houver abusos fiscos e psicológicos envolvidos na conjugalidade. Ontem aconselhei um jovem pastor a ficar mais tempo…a mulher está grávida…há sintomas de depressão e já houve tentativas de suicídio da parte da esposa. Mas disse que o próprio fato dela estar em depressão e de já ter feito ensaios suicidas, já indica a infelicidade dela também. Muitas vezes, dois ficam infelizes…e os filhos no pacote…apenas porque não confessaram um para o outro que não agüentam mais…e, assim, vão empurrando com a barriga e comendo veneno todos os dias. Unção peniana é a alma que faz. Se ela não se auto-ungir—e por mecanismos interiores que ela mesma não controla—, não há unção que realize esse milagre! Eu, você e a nuvem de testemunhas damos testemunho dessa realidade! Quanto à chantagem dos filhos…acontece mesmo…especialmente se um dos cônjuges desejar trazê-los, covardemente, para dentro do pacote. Nesse caso, os filhos—especialmente os adolescentes—tendem a se condoer com a depressão de um dos pais—geralmente com o auto-vitimado…e, então, é freud mesmo. Jesus disse para a gente avaliar se tem tijolos para terminar a torre. Esse principio deveria ser aplicado “antes de tudo”. Mas, no casamento, infelizmente, a gente quase sempre não sabe “antes”. Se soubéssemos…só o faríamos se fossemos loucos. Mas não tendo sido “antes”, pede-se que avalie-se pelo menos “depois”. Veja se você agüenta. Este mundo é caído…e ninguém será plenamente feliz nele. O que vale é saber o quão infeliz—nesse caso—você será: se como está ou como ficará. Mas mesmo assim, não se sabe ainda e nem se sabe nunca..até que se saiba. Portanto, tem-se que viver responsavelmente com as conseqüências no caso de se “ficar” ou de se “sair”. De minha parte, fui ao inferno muitas vezes…cheguei a dormir meses num canto desse lugar infernal. Sei o que é choro e ranger de dentes. Mas, estou aqui…andando na Graça de Deus…e, nenhum de meus filhos acha, hoje, que eu poderia ter evitado a situação. O que se pode evitar é fazer a separação ser “por causa de adultério”. Estranho, mas é isso mesmo. Se alguém vai se separar…digo eu: que não seja por causa do seu próprio adultério. Fica pior ainda…muito mais infernalmente pior…e, na maioria das vezes, mesmo que se ame a outra pessoa, as perturbações da alma não permitem que haja paz para que se construa uma nova vida. Portanto, não “torça” e nem “ore” pela vitimização do seu cônjuge—na diabólica expectativa que o outro “caia”—, a fim de você ficar livre. É muito mais honesto e cristão olhar para si mesmo e para o outro e decidir o que fazer. Mas repito: 1. Todas as fontes têm que ter sido esgotadas; 2. Saiba que corresponde a uma amputação; 3. Prepare-se para o inverno na alma por algum tempo. No caso de homens que desejem tomar tal de-cisão, que sejam responsáveis para com as mulheres e amorosos e indivorciáveis de seus filhos…para sempre. No caso de mulheres, que sejam boas mães, e que não transfiram o problema para os filhos como manipulação da imagem do pai e nem como vitimização covarde…e que faz mal aos filhos. A maioria dos filhos sofre muito mais no “processo” que no “antes” no “depois”. Se há decência no “processo” e se ambos os cônjuges são maduros e cristãos em suas dores…até os filhos logo entendem. Mas lembro: essa viagem, no mínimo, faz a curva pelo beirada do inferno psicológico e existencial…e só vale fazer a viagem se for para sair do inferno mesmo…e não apenas pela leviandade de quem diz: Acho que tem coisa melhor por aí! Honestamente, é isto que tenho a dizer. E, aqui, não há conselho: há apenas a descrição de cenários que estão longe de me ser estranhos, tanto por experiência própria, como pela síntese que faço dos milhares de casos que atendi e atendo todos os dias de minha vida, desde os 19 anos de idade. Espero que minha resposta ajude a você e a muitos outros. E lembre: Se sou boi de piranha, é porque nesse rio só tem piranha… Em rio que não tem piranha, boi atravessa sossegado! Que Deus o guarde e lhe dê sabedoria na travessia… Nele, Caio