—–Original Message—–
From: Eduardo Souza
Sent: terça-feira, 11 de novembro de 2003 10:54
To: Caio Fabio
Subject: O que é o hímen para Deus?
Querido pastor Caio Fabio!
A Graça e a Paz de Jesus!
Uma pessoa emprestou-me um livro chamado “O porque do hímen”. A autora é uma pessoa chamada Shelia Cooley. A editora é a Graça Editorial, do “missionário” R.R. Soares. Vou reproduzir aqui partes do livro e gostaria muito de saber a sua opinião (que sempre é equilibrada e cheia de sabedoria).
“… O hímen é criado por Deus como uma semente. Quando a semente é rompida, o sangue que surge é a primícia da semente.”
“… O sangue do rompimento, sendo incorrupto, é recebido pelo Pai como a primícia do casamento. O sangue é a vida da carne e quando dizimado para Deus, você está dando a Deus a própria vida do casamento.”
“…Quando um marido e sua esposa se deitam juntos pela primeira vez, o hímen se rompe. Quando isso acontece, há um fluxo de sangue incorrupto: o sinal da virgindade. Uma razão para isso é que se trata do símbolo da aliança que nós temos com Deus o Pai, por meio do sangue derramado de Jesus Cristo.”
“… O derramamento de sangue da ruptura do hímen é plano divino para um marido e uma mulher entrarem em aliança de sangue um com o outro, e é a primícia do seu casamento.”
”… Talvez você seja jovem ou uma mulher casada cujo hímen tenha sido rompido durante uma atividade esportiva… ou tenha sido violado por alguém. Talvez o inimigo tenha roubado a sua virgindade, ou você voluntariamente a tenha entregado. Você gostaria de entrar em um casamento que Deus realmente deseja que você tenha? Então, você pode ter o hímem recolocado ou recriado.” “… Ore e peça ao Pai que substitua o hímen. Esta é uma parte muito importante do plano de Deus.”
“… A recriação do hímen é um milagre muito especial para Deus.”
Aguardo sua opinião sobre estas afirmações.
Fraternalmente,
Eduardo Souza
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Resposta:
Meu amado amigo: Graça e Paz!
Que o hímen de sua alma sempre esteja intacto!
Meu querido, o que li é um exercício de fantasia espiritual comum naqueles que têm uma tese e desejam justificá-la usando de qualquer pretexto.
O que é o hímen para Deus eu não sei.
Sei o que é para um homem…
Pessoalmente não creio que Deus esteja muito preocupado com o hímen, mas com a pureza do coração.
Fazia tempo que não lia nada tão estranho e bizarro, embora já conhecesse essa “tese”. Mas de tão absurda, havia até esquecido que ela um dia havia existido.
É a isto que se deve chamar de falsa espiritualidade e de rigor ascético — conforme Paulo em Colossenses.
A virgindade na Bíblia acontece como algo não moral, mas, sobretudo, como algo psicológico.
É claro que o ideal de Deus seria que cada homem tivesse na vida apenas uma mulher e que cada mulher apenas um único homem — e que isso fosse como foi com Adão e Eva.
As complicações de natureza psicológica advindas da sexualidade são enormes. E a multiplicidade de parceiros, obviamente, não ajuda a alma a se focar na simplicidade do vínculo. Freud que o diga!
Não é difícil imaginar que o melhor e mais gostoso seria que cada casal que se encontrasse “inaugurasse” um ao outro em tudo. E, nesse caso, esse ideal não seria “machista”, detendo-se apenas na importância do hímen da mulher.
O interessante é que na Bíblia a circuncisão do menino ao oitavo dia funcionava como um desvirginamento ritual, com a remoção do prepúcio da criança. Sangue era derramado! Derramado na terra!
O que o pensar?
Que o sangue da mulher é do homem, e o do homem é da terra?
A levar-se esse principio ao extremo, ter-se-ia que dizer que os homens têm direito a derramar suas sementes pela terra, mas a mulher apenas num único homem.
E mais: se estaria fazendo da mulher a única responsável pela pactualidade do vínculo conjugal; afinal, o homem não teria outro papel a cumprir a não ser romper esse véu — sendo que ele mesmo poderia romper quantos véus desejasse.
Jesus disse que o ideal de Deus se estabeleceu no Gênesis; ou seja: no princípio.
Mas de lá para cá houve muita coisa… Os corações humanos se endureceram. Daí, no meio de tanta confusão de alma, Deus ter permitido o divórcio como remédio do tipo “dos males o menor”.
É claro que a multiplicidade de experiências sexuais não ajudam ninguém a ser mais feliz na vida. Os ciumentos que o digam!
Quantas angustias de alma não sentem, muitas vezes, os casais inseguros que se põe a buscar saber se “com o outro” (a) foi melhor? se foi mais gostoso? como foi que aconteceu? Com quantos? O que fizeram? Etc…
A história dos casamentos na Bíblia, nem sempre é a história dos virgens. O ideal humano em quase todas as sociedades antigas e primitivas — até hoje — é que a mulher se mantenha virgem para o seu esposo.
Mas esse é apenas o ideal. Na realidade nem sempre aconteceu e acontece assim.
A genealogia de Jesus (Mt 1) não nos permite atribuir papel especial demais ao lugar da virgindade na história. A maior parte das mulheres ali citadas não eram mais virgens quando encontraram os homens por cujo casamento elas e eles entraram para a História.
O que dizer de Tamar, filha de Jacó? Ou de Raabe, a prostituta de Jericó? Ou de Rute, a moabita? Ou de Bateseba?
O interessante é que todas as mulheres mencionadas nominalmente na genealogia tiveram histórias que não se deixam recomendar por essa “teologia do hímen”.
Dar valor espiritual a tal coisa é negar a Graça de Deus e mergulhar na arrogância do virtuosismo dos fariseus; que não cometiam o ato, mas viviam com o interior cheio de rapina.
O pacto que ajunta um casal não é feito com o sangue da virgem, mas com amor — mesmo que a mulher tenha sido uma prostituta.
Só há um sangue que serve de pacto para nós cristãos: O Sangue do Cordeiro! E ele não simbolizado no derramar do sangue da virgem no leito conjugal, mas no sacramento do pão e do vinho, que é feito em memória Dele.
Vale lembrar, que a própria Encarnação opera numa perspectiva ambígua nesse particular.
Afinal, “a Virgem” concebeu por obra do Espírito Santo, mas para a perspectiva humana de José, não fora o “sonho angelical”, ele teria que lidar com um caso de adultério; pois, de fato, não foi ele, o esposo, quem desvirginou a mulher, Maria, mas o filho, que ao nascer desvirginou-a de dentro para fora.
Se tal “pelinha” fosse tão importante assim, Deus teria cometido um ato de desrespeito para com o pobre José. Aliás, aqui no site há um texto meu no qual eu falo do assunto, e digo que José foi o Príncipe da não Mediocridade, pois, contra a sua própria Moral, acolheu sua esposa em silencio.
Há penas mais duas coisas que desejo dizer aqui:
1. E o que dizer do hímen complacente? Aquele que a mulher não perde nunca, e que não derrama sangue?
2. A proposta de revirginamento milagreiro dessa senhora é mais uma proposta de neurose sexual, num mundo “religioso” sexualmente adoecido como o evangélico.
Por que será que Jesus não se ofereceu para restaurar os hímens das meretrizes e pecadoras que o encontraram e passaram a serv-lo?
A primeira testemunha ocular da Ressurreição dos mortos foi Maria Madalena. Ela não tinha mais hímen fazia tempo, porém foi ela quem viu antes de qualquer um o hímen da morte ser rasgado, de dentro para fora, pelo Filho de Deus, ressuscitado de entre os mortos!
Bem, eu poderia escrever um livro sobre o assunto, mas creio que já demonstrei que as idéias dessa senhora são completamente alucinadas. Pois nem a circuncisão, nem a incircuncisão, nem a virgindade e nem a não virgindade são coisa alguma. Mas sim o ser uma nova criatura!
Tudo o que é recebido com amor e ações de graças é santificado, incluindo uma mulher que não seja mais virgem no hímen.
A verdadeira virgindade só é entregue quando o coração ama, e a mulher se dá por inteiro a primeira — e, provavelmente, uma única vez na vida.
Todas as mulheres que eu já conheci só foram de um único homem, mesmo que já não fossem mais virgens quando encontraram esse Homem.
Machos não sabem tirar virgindade. Essa é uma missão para um homem. E uma mulher nunca vê um homem num machinho, à menos que o ame!
As mulheres me entendem. Elas sabem que eu sei o que estou dizendo!
Nele, um beijão,
Caio
Copacabana
terça-feira, 11 de novembro de 2003 10:54
Primeiro ano do site.
Outro link: COM HÍMEN, MAS NÃO NA ALMA