—– Original Message  —– 
From: “José Alfredo Bião Oberg” 
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Sent: Saturday, July 10, 2004 9:37 PM 
Subject:  A metáfora esclarecedora… 
Solução do problema da relação de Paulo  de Tarso com Jesus. 
Albert Shueitzer prega o misticismo de Cristo com  base no conceito escatológico da solidariedade predestinada dos Eleitos uns com  os outros, e com o Messias, como Jesus tinha feito antes de Paulo, mas com a  diferença de que Paulo a apresenta na forma que ela adquire como conseqüência da  morte e ressurreição de Jesus. 
Que incessante perturbação a teologia tem  dado a si mesma acerca do “problema de Paulo e Jesus”, e qual substituto tem  sido colocado para explicar porque Paulo não deriva seu ensino da pregação de  Jesus, mas neste aspecto permanece tão independente ao lado Dele!  
Fazendo isso, a teolgia está andando em volta de um problema por falta  de ser compreendido na sua inteireza. Dizer que Paulo tornou-se independente é  enganador. Paulo participa com Jesus da cosmovisão escatológica, a única  diferença é a hora no relógio mundial nos dois casos. Criando uma metáfora como  analogia; ambos estão considerando a mesma cadeia de montanhas, mas enquanto que  Jesus a vê como estando diante Dele, Paulo já encontra-se sobre ela e seus  primeiros declives já estão atrás dele. As características da certeza  escatológica assumem um aspecto diferente. Nem tudo que então parecia sólido  parece assim agora, e nem tudo que agora é válido parecia assim anteriormente.  Porque o período do tempo mundial é diferente, o “ensino de Jesus” não pode  traçar continuamente as linhas para Paulo. A autoridade dos fatos deve ser mais  importante. Para ele a verdade e o conhecimento da redenção como ela resulta,  sobre a base da expectação escatológica, do fato da morte e ressurreição de  Jesus. 
Contra aqueles que não consideram adicionar qualquer  consideração, ele diz: “Assim que nós daqui por diante, a ninguém conhecemos  segundo a carne; e se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o  conhecemos deste modo” (II Cor 5:16). 
Aqui ele ousa afirmar que aqueles  que conheceram Cristo na carne daqui em diante não o conheceriam mais assim.  Paulo é forçado a tomar em seu ensino, uma atitude original ao lado de Jesus.  Ele não abandona, mas continua o seu ensino de Jesus no tempo. Ele partilha com  Jesus da morte e ressurreição de Jesus como eventos cósmicos. Visto que Jesus  espera que o início do Reino ocorra imediatamente após a Sua morte, Ele não  pressupõe qualquer doutrina de redenção aplicável àquele período. Quando em  conseqüência da demora do Reino Messiânico, uma doutrina como esta devia ser  necessariamente proposta. Eles esperavam que a redenção realizada por Jesus  seguisse as linhas da escatologia tradicional, que não dá importância para o  fato de que o futuro Messias devia previamente morrer e ressuscitar.  
Somente Paulo remodela a doutrina da redenção de acordo com os fatos no  tempo, a saber, que o Messias não deve apenas voltar a aparecer no futuro, mas  já está no presente na terra nas condições da existência humana, e que por Sua  morte e ressurreição deve tornar-se a primeira causa da ressurreição dos mortos.  
Os Eleitos participam uns com os outros e com Cristo de uma corporiedade  que de um modo especial é suscetível à ação dos poderes da morte e ressurreição  e é consequentemente capaz de adquirir o estado de existência da ressurreição  antes que a ressurreição geral dos mortos ocorra. Não começa pelo crer e nem  pela fé, e sim pelo batismo do crente ao entrar na “comunidade de Deus”; e entra  em comunhão, não somente com Cristo, mas também com a comunidade dos Eleitos.  Portanto o Misticismo Paulino nada mais é do que a doutrina de tornar manifesta  a Igreja pré-existente ( a Comunidade de Deus ), como conseqüência da morte e  ressurreição de Jesus. 
Estar no Espírito – A possessão do Espírito prova  aos crentes que eles já estão transferidos do estado natural de existência para  o sobrenatural. Eles estão “no Espírito”, o que significa que não estão mais na  carne. É a manifestação-testemunho do renascimento do estar-em-Cristo. Agora,  estão erguidos acima das limitações do estar-na-carne. A circuncisão do coração  é agora realizada neles. O Espírito agora tem forma, é o Espírito da Nova  Aliança. Através do Espírito eles sentem-se amados por Deus em seus corações. A  manifestação é o testemunho expresso da Sua Presença. 
“Agora, pois, já  nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do  Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da  morte”(Romanos 8 : 1-12 ). 
Paulo prova a verdade da sua ética por sua  forma de vivê-la. É um ser humano que pelo Espírito de Cristo foi purificado e  elevado a uma grande humanidade. Apesar de não ser um recluso, era um asceta por  viver uma vida não mundana, por causa daquela que ele no Espírito de Cristo se  tornou interiormente. Só não se tornou um iluminado para mim, porque, como  alguém que pensou, serviu e dirigiu no Espírito de Cristo, achou-se com o  direito de dizer aos homens de todas as épocas, através das escrituras : ” Sejam  meus imitadores, como eu sou de Cristo”, criando aí a idolatria personalista dos  pastores eruditos. 
Ao apontar a lua, mandou-nos olhar para o seu dedo e  não para a lua. Estabelecendo em si a referência “o ministro de Jesus Cristo”.  Só a Sua Graça lhe bastariam… Dessa forma, o “espinho na carne” teria que ser  mantido para equilibrar o ego inflacionado. Crer na Boa Nova, o Evangelho de  Jesus, significa deixar a crença no Reino tornar-se uma realidade viva dentro da  crença Nele e na redenção experimentada Nele. Acho que Paulo foi o primeiro  humano a realizar isso de forma íntegra, sendo por isso razoável para nós, não  negligenciarmos os ganhos que ele assegurou. Agora, tentar alcançar o mesmo  resultado copiando-o, não seria desacreditar do arbítrio do Espírito e do poder  da Graça? 
Principalmente se considerarmos que Deus não escolhe os  capacitados, e sim, capacita os escolhidos… A doutrina de Paulo, serve-nos  como ponto de partida, assim como ele fez com Jesus, não como referência de onde  deveríamos chegar. A autoridade de Paulo é tão grande, que não precisa ser  imposta a ninguém, apesar de muitos terem encontrado nele o seu centro. O  “estar-em-Cristo” é o grande enigma Paulino : – uma vez entendido, dá a chave  para o todo! 
O Mistério de Cristo é o meio pelo qual o ser entra em  relação com Deus. Ou seja: eu estou em Cristo; Nele eu conheço a mim mesmo como  um ser que é elevado acima deste mundo pecaminoso e transitório; Nele sou um  filho de Deus. Estar em Cristo é como ter morrido e ressuscitado novamente com  Ele, em conseqüência do quê, aquele que participa, tem sido liberado do pecado e  da lei, e possui o Espírito de Cristo, e está seguro da ressurreição. 
–  Eu me acho nessa condição! 
Quando eu disse à você que estava lendo um  livro sobre Paulo de Tarso, de autoria de Albert Schueitzer, você não considerou  que fosse algo que me fosse acrescentar mais do que ler Lucas no Novo  Testamento. Não desconsidero o seu parecer, mas para mim, que estou engatinhando  no Caminho, um Caio Fábio com a sua visão contemporânea, ou Albert Schueitzer,  que é Doutor Honoris Causa em Teologia, medicina e música, um prêmio Nobel, que  achou tempo para dedicar a sua vida como médico aos des-assistidos da África,  são para mim parâmetros para o meu aprendizado. Não me sinto em condições de  desqualificar pessoas que me falem de Jesus ou de qualquer apóstolo. Não tenho  conhecimento e nem essa pretensão. Sei apenas que me acrescentou algo sobre o  Caminho, e me deu uma visão da capacidade humana de Paulo com todo o seu  temperamento… 
Um grande abraço,  
Alfredo
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Resposta:
Querido  amigo Alfredo: Graça e Paz!
Paulo foi o mais extraordinário dos apóstolos  por uma única razão maior: ele não andou com Jesus na carne, mas “entrou em  Cristo”, e foi desse lugar que ele enxergou tudo o que concerne ao significado  tanto histórico quanto também Meta-cósmico de Jesus.
De fato, ninguém  antes discerniu a profundidade e o significado do que seja “estar em Cristo”, e  até hoje poucos o fizeram na mesma qualidade existencial. 
Ninguém antes  de Paulo tinha visto o mundo com o olhar de quem olha “de dentro de Cristo” para  fora. Todos os demais—à exceção de João, que fez essa síntese pela via do amor,  ainda que sem a profundidade de consciência de Paulo—olharam o mundo “de fora”  desse “estar em Cristo”. Todos enxergaram apenas de fora o que fosse estar em  Cristo. Daí eles terem uma palavra da redenção muito mais material e  externa—muito mais Crucificação que Cruz; muito mais evidencia da Ressurreição  que poder da Ressurreição—, enquanto Paulo nos faz ver e sentir como quem olha  de dentro para fora. Isto é não conhecer a Jesus segundo a carne na mais  profunda acepção dessa compreensão.
Paulo foi o primeiro a  existencializar conscientemente o significado de Jesus para a totalidade do ser  e da existência!
No mais, há quatro coisas que desejo lhe  dizer:
1ª Acerca de Lucas. Ora, Lucas foi o biografo de Paulo (veja Atos,  e muitas epístolas nas quais ele está sempre presente: “somente Lucas está  comigo…”). Portanto, a cegueira dos teólogos que pretendem ver em Lucas um  Jesus diferente do de Paulo é a mais horrível evasão da realidade, posto que foi  Paulo a fonte inspiradora da cosmo-visão do evangelho de Lucas. Assim, se alguém  desejar saber como Paulo via o Jesus histórico, basta ler Lucas. Pensar  diferente é negar a visceralidade da importância de Paulo na vida e no  entendimento de Lucas, e significa também não poder explicar como alguém dedica  a sua vida a acompanhar um apostolo, e, na hora de escrever as narrativas acerca  de Jesus, fazê-lo sem a influencia da mente e do entendimento espiritual de seu  mestre humano. Para mim tal possibilidade é impensável.
2ª Acerca da  escatologia. O erro do Albert Shueitzer foi tentar fazer de Jesus um ser  auto-enganado com relação a Sua próxima vinda—isto sendo plain and clear! Jesus  nunca teve a intenção de deixar os discípulos com qualquer certeza acerca de Sua  segunda vinda. E isto por uma razão simples: o mundo acabou na morte e  ressurreição de Jesus. Todos os dias, portanto, são dias escatológicos, e a  volta do Senhor é algo para ser vivido com a expectação existencial do dia  chamado Hoje. Tudo no evangelho carrega essa existencialidade do Hoje. Afinal, a  escatologia tem duas mãos: Uma de Cristo para nós. Outra de nós para Cristo. Ou  seja: Jesus ainda não voltou para que “todo olho veja”, mas muitos olhos já o  viram voltar, quando daqui se foram. Ora, neste sentido, Jesus já voltou para o  meu filho Lucas, que foi ao encontro Dele. Um dia, todavia, todo olho o verá.  Assim, o dia da volta de Cristo tem significado escatológico todos os dias,  visto que de um modo ou de outro está às portas, e cada geração tem visto isto  acontecer. Afinal, quando era apedrejado, Estevão disse: “Vejo os céus abertos,  e o Filho do Homem em pé à destra de Deus”. Ora, essa é uma visão escatológica,  mas seu cumprimento era subjetivo, porém não menos real.
3ª Paulo, “um  quase iluminado”. Ora, isto ainda é parte de sua visão espiritual forjada tantos  anos conforme os ensinos dos mestres do oriente. No entanto, vale a ilustração,  embora, para mim, não valha o seu significado. O apelo de Paulo não era o de um  narcisista, mas de um apóstolo angustiado, e que temia ver seu trabalho perdido,  como pode acontecer no coração de qualquer ser humano. De fato, do ponto de  vista histórico, Paulo “perdeu a parada”. Isto porque se o ensino de Paulo  tivesse sido crido, não teríamos nem mesmo tido o “cristianismo”, posto que este  é uma fusão da igreja de Jerusalém com o sincretismo pagão. Da igreja de  Jerusalém temos um híbrido entre a fé na justificação e muitos aparatos  culticos, litúrgicos e sacerdotais praticados pelos discípulos de Tiago e os  judaizantes. Ora, essa “síntese de Jerusalém” foi invadida pelo paganismo  greco-romano, e surgiu esse Bezerro de Ouro chamado de Cristianismo. Paulo só  não perdeu a parada espiritual, visto que, até hoje, quem quer que deseje ter  uma visão mais profunda do significado de Jesus como o Cristo Histórico e também  Meta-Cósmico, não tem como fugir de Paulo, nem Pedro o pode, apesar de dizer que  o “irmão Paulo dizia coisas difíceis de entender”. Além disso, é de Paulo que  vem aquilo que eu chamaria de uma psico-teologia da Graça. Ora, sem tal  revelação não haveria a consciência da nossa total libertação da Lei, conforme a  afirmação paulina de que Cristo nos tornou “viúvos da Lei” a fim de podermos  contrair “novas núpcias”, só que num casamento sem Lei, e feito na aliança da  Graça de Jesus. Veja bem, sem essa revelação ninguém teria paz para existir,  mesmo que tivesse nas mãos todas as demais cartas e epístolas dos demais  apóstolos. Paulo é o apostolo da redenção da consciência.
4ª Você disse:  “Não começa pelo crer e nem pela fé, e sim pelo batismo do crente ao entrar na  “comunidade de Deus”; e entra em comunhão, não somente com Cristo, mas também  com a comunidade dos Eleitos”. De fato, meu querido, jamais poderia ser assim,  visto que nenhuma inclusão consciente é possível se não se derivar da fé e do  mergulho místico em Cristo. Ora, sem fé é impossível estar em Cristo. E creio  que não preciso nem explicar as razões, visto que você já sabe que “sem fé é  impossível” qualquer coisa em relação a Deus.
Com todo amor e carinho  quero dizer a você mais duas coisas:
1ª Fico feliz em Cristo ao lembrar  que há menos de três anos você entrou pelas portas do Café como um “pai de  santo”, e hoje é “santo do Pai”. Para mim isto é grande alegria. E quando vejo  sua busca de progresso na fé, e constato seu efetivo crescimento, meu coração se  rejubila. Você foi a primeira semente de conversão no Café. E folgo que ela  tenha vingado, e que esteja a cada dia dando fruto.
2ª Há alguns pequenos  reparos que eu faria em algumas das coisas que você escreveu. Mas como você já  me conhece, sempre deixo que aquele que começou a boa obra, Ele mesmo a termine.  Como seu irmão mais velho na fé, tenho consciência de minha influencia em muitas  coisas em sua vida, e me alegro que Deus tenha me dado a chance de dividir com  você o que Ele mesmo me tem dado pela Graça. Todavia, muitas foram as vezes em  que eu tinha algo a dizer e não disse; e isto apenas para que eu mesmo não  atrapalhe o trabalho do Espírito em seu coração. Portanto, são filigranas, e  como tais devem ficar, pois sei que você, guiado pelo próprio Espírito, as  discernirá na hora própria. Por isto, meu amigo, apenas celebro o tanto que Ele  já lhe deu, e descanso no amor Dele por todos nós, e no fato de que Ele mesmo  nos guia a toda verdade.
Receba meu beijo de amigo!
Nos veremos na  próxima quarta-feira, lá no Café.
Nele, em Quem Paulo viu tudo o que viu,  especialmente de dentro Dele; ou seja: Nele,
Caio
  
 
								 
								