Paulo é o ser menos estereotipadamente “freudiano” que conheço.
Não transfere a responsabilidade de nada para ninguém que não seja o próprio sujeito.
Nem o diabo leva a culpa. No máximo se aproveita do que lhe é oferecido.
Aliás, em Paulo o diabo não tem tanto Ibope.
Fala dos principados e potestades, mas os põe sob o desprezo oriundo da vitória da Cruz.
E quanto a Satanás…não lhe ignoramos os desígnios.
Para enfrentar os “poderes do mundo invisível” ele oferece sandálias, capacete, escudo, espada, couraça e vestes íntimas…isso no Dia Mal. Mas garante que se houver vigilância em oração é possível permanecer inabalável.
Para ele o grande problema não era o diabo, era o próprio homem. O velho homem, nascido de Adão e as obras de sua própria carne ou corpo de morte.
Ao analisar o problema, ele, entretanto, conclui sempre com a responsabilidade pessoal:
Desventurado homem que sou…
Sou o principal pecador…
O pecado habita em mim…
O bem que prefiro, eu não faço…
O mal que detesto, este mesmo eu faço…
Não há em Paulo nenhuma fixação temática por qualquer pecado “tópico”.
As listas de corrupção do ser que ele apresenta põe todas as coisas no mesmo saco, de inveja e gritarias à feitiçarias e idolatrias—esta última para ele bastante vinculada a avareza.
O pecado habita o ser…e pode se manifestar ou não no fazer…mas mesmo que não apareça, não deixar de ser e estar.
A cura não é mágica. É um processo de confiança em fé na justificação e continua por toda a existência. E não adianta ficar cheio de auto-proibições, tipo: não pegues, não toques, não proves e nem bebas. Tais coisas são só “fachada”, mas não ajudam na luta contra a idolatria dos sentidos, a sensualidade.
Cada um que se julgue, diz ele.
Cada um que se examine, afirma ele.
Todos são indesculpáveis…
Por Adão o pecado entrou no mundo, mas Adão não é o bode expiatório, pois, todos pecaram.
Em Paulo, Adão sou eu…ele era Adão…cada um é Adão.
Adão é a natureza herdada…mas que não se auto-determina fatalistamente pela herança, mas pela confirmação da herança, pois, todos pecaram à semelhança do pecado de Adão.
É porque a culpa é minha que Paulo diz que Só Cristo pode levá-la por mim…e somente Ele pagou o preço…e somente Ele poderia pagá-lo.
Não depende de quem quer nem de quem corre…mas cada um veja como anda…não em dissoluções para o ser.
Em contra partida…
Os evangélicos são os seres mais “freudianos” que conheço: “transferem” sempre a responsabilidade de tudo para o diabo e “só pensam naquilo”.
Para os evangélicos o diabo é o responsável por só se pensar em sexo.
Aliás, o único pecado que existe na culposa e neurótica consciência “cristã” é o pecado sexual. O resto pode…pode-se tudo…desde que não seja sexual o que se pode.
Assim, fazem uma remetência de tudo para “aquilo” que se carrega entre as pernas.
Carne, para a maioria dos cristãos, não é maior que o prepúcio ou a genitália–herança judaica!
Nem Freud escapou da herança. Falou como um judeu e um judeu imerso na cultura ocidental…judaico-cristão.
Um chinez não “criaria” uma psicologia “freudiana”…esse “grilo” não habita o inconsciente coletivo e nem a consciência individual dos orientais.
O ocidente é que se “freud”…
Daí Paulo dizer que a fixação judaica na circuncisão era um problema “freudiano”. Mas diz: deixem-me fora disto. E afirma que se alguém gosta de circuncisão deve ser por outras razões…ou seja: para se gloriar na carne.
Então diz: Oxalá se castrem a si mesmos—Gálatas, para quem não fez a associação.
E depois os “cristãos” queixam-se de Freud…
Ora, Freud apenas mostrou o nível da nossa fixação neurótica na questão.
Para Freud os mecanismos inconscientes sempre buscam um escape de responsabilização projetada sobre outros—sejam as figuras parentais ou as figuras de autoridade.
Para Paulo, tal consideração não existia como “desculpa”. E, o oposto–a tentativa de auto-justificação–somente adoecia ainda mais o ser.
Em Paulo o sexo era apenas aquilo que a gente faz o sexo se “tornar”.
É “freud”, mas é verdade!
Assim, muita gente se “freud” botando a culpa em Freud.
Paulo, entretanto, não “freud” nada.
Estou convencido de que todas as coisas são puras para os puros—diz ele.
Desse modo, Paulo tira o eixo culposo de fora do ser e o chama para o olhar do ser.
Nada pode ser mais libertador e nem mais revolucionário.
Quem conhece a revelação que Jesus deu a Paulo, não se “freud” pela vida…
E se algo acontecer, a culpa não é de Freud.
A culpa é de quem se “freud” e bota a culpa nele.
A culpa de Paulo era de-si-mesmo…e essa culpa já não era dele, pois Jesus a rasgara na Cruz.
O escrito de dividas fora cancelado e encravado na Cruz!
Assim, os principados e potestades passaram a alimentarem-se apenas de que “se freud” e não por não crer na Cruz…
Em Cristo, não se busca um culpado, mas se expia a culpa.
Cada um que se julgue.
E bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova.
Afinal, tudo o que não provêm de fé é pecado.
Volto amanhã…se Jesus deixar.
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