Paulo via o reino de Deus de muitos modos.
Ele sabia que havia o reino que está em nós. Não aparece aos sentidos externos; cresce para dentro; como o Templo de Ezequiel, e que somos chamados a conhecer a altura, a profundidade, a largura e comprimento—mergulhando no amor de Cristo, que excede todo entendimento.
Cristo em vós é a esperança do glória—dizia ele.
Ele também via o reino de Deus como manifestação do amor e da graça na vivencia comunitária do corpo de Cristo. Neste caso, dizia ele, que o reino não é comida nem bebida, mas justiça, alegria e paz—tudo isso como obra do Espírito Santo no encontro fraterno.
E este encontro não geraria algo tão pequeno quanto uma simples e imitável instituição. Seria um Organismo Vivo, feito de todos aqueles que a ele fossem agregados pelo próprio Senhor, como membros de Seu Corpo.
Para Paulo ser o maior ali era como ser lixo do mundo, escória de todos.
Ninguém deveria se impressionar com nenhuma personalidade, mas discernir as pessoas no espírito.
Nesse Corpo a única Impressão Esmagadora viria da Cruz.
Tais pessoas entenderiam pela fé que o pecado havia sido aniquilado na Cruz, e com ele todos os seus insufladores espirituais. O sobrevivente duro de morrer dessa vitória já conquistada ainda é, temporariamente, a carne.
A carne é quem servia o banquete pelo poder da lembrança da culpa; o que gerava o medo da morte como última punição.
Mas no reino de Deus, Paulo cria que todos cresceriam para atingir um dia essa percepção; desistindo de vez das coisas de menino; e crescendo em amor na direção da varonilidade do ser, em Cristo.
Assim, ele desejava que todos crescessem na Graça e no Conhecimento Experiencial de Deus.
As distinções nesse Corpo que deveria dar beleza visível ao reino de Deus, não seriam estabelecidas pela pompa, mas pelo serviço, pela liberdade, pela justiça, pela graça e pelo amor.
E todas essas coisas não viriam de títulos, nem de cursos, nem de ciências, mas de relacionamento com Deus, mediante uma consciência justificada em Cristo; e, completamente sóbria quanto a saber que tudo o que tem e é—incluindo todos os seus dons—; é única e exclusivamente Graça de Deus.
Desse modo, Paulo sonhava que nessa expressão do reino cessassem as invejas e as disputas. E que assim todos celebrassem a diversidade do Corpo; sendo capazes de abraçarem como membros a todos aqueles que confessassem que Jesus Cristo é o Cabeça.
Paulo não tinha sonhos irreais para o reino de Deus na Terra como ela é.
Estava claro para ele que havia uma progressão do reino que transcendia também a sua própria percepção, e que acontecia nas regiões celestes; e que essa progressão aconteceria até o dia em que todas as coisas que já estão a Cristo subordinadas, apresentem visível e claramente toda a sua sujeição a Ele.
Por isso ele sabia que os dias eram maus; e que ficariam ainda piores. Ele também enxergava que a grande luta desse Corpo seria contra aqueles que viriam como “falsos”; ou seja: falsos apóstolos, falsos profetas, falsos mestres, falsos ministros de justiça; e até falsos anjos.
Mas ele sabia que a semente do reino jamais seria abalada.
O Dia Viria. Então seria tragada a morte pela vitória!
Pregar a Palavra do Evangelho, para ele, era o ato mais subversivo que ele sabia poder ser praticado na terra.
Por isso, ele se via como o mais bem aventurado dos homens, por poder ser ministro daquela palavra por toda a terra.
Havia nele a clara consciência de que o evangelho do reino tinha que ser pregado em todas nações debaixo do céu—e ele se via o mais privilegiado ministro daquela certeza.
Para ele, quem cria deveria se reunir, se encontrar, se irmanar. O nome desse encontro era igreja.
A igreja deveria ser o encontro dos filhos do evangelho do reino. E essa consciência de pertencerem ao mesmo Senhor, deveria irmaná-los onde quer que fossem.
Ele, no entanto, também sabia que o reino de Deus tem seus agentes ignorantes e involuntários. De modo que até mesmo suas prisões faziam parte de uma intenção oculta, e que visava infiltrar a palavra da boa nova dentro de todas as camadas dessa vida.
Entretanto, ele também sabia que as dinâmicas da história, por mais alienadas da consciência de Deus que pudessem ser, ainda assim cumpriam, até inconscientemente, papéis que, somados, gerariam sempre o produto da soberania do reino de Deus na História.
Paulo reina em vida!
Cristo era o Senhor de vivos e mortos, e, Paulo, era seu ministro.
É impossível não sentir o peso de seus próprios sentimentos em relação ao significado existencial de sua própria vida.
E, por último, ele cria que do céu viria o Senhor Jesus, com os anjos de seu poder.
Ele aguardava aquele dia para si mesmo, não apenas para outros. Sua existência era movida pela pulsão daquela esperança.
Todavia, sua certeza acerca da eternidade era uma realidade presente. Conhecia o Terceiro Céu. Por isso, morrer ele já sabia ser mais que lucro.
O reino de Deus, na consciência de Paulo, chegava ao inimaginável. Ele sonhava com a possibilidade de todas as coisas virem a se reconciliar com Deus em Cristo, para que o Pai fosse tudo, em todas as coisas por Ele criadas.
Tenho certeza que era assim que ele via o reino de Deus.
Caio, acerca de um amigo.