PRESO NA CADEIA QUE EXISTE ENTRE ROMANOS 7 E 8




PRESO NA CADEIA QUE EXISTE ENTRE ROMANOS 7 E 8

 

Dia 13-12-2004 – 00:39

Sinto raiva de mim mesmo, às vezes chego a me odiar, ás vezes odeio o conflito que há dentro de mim, entre o servir a Deus e o meu hedonismo. Às vezes quero acreditar que não existe um Deus, para que então eu possa me chafurdar em minhas sujeiras, em minha sordidez, em meus pecados favoritos sem nenhum sentimento de culpa, ah… A culpa, essa velha inimiga!

 

Deus salva-me de mim mesmo. Quando começo a me chafurdar na lama entro em frenesi, não quero e talvez não possa parar, me escarafunchando até o limite de minhas forças desço ao mais baixo nível, busco encontrar satisfação pra minha carnalidade, minha sexualidade animalesca e como um dependente químico, sei que estou me prejudicando, mas o prazer fala mais alto que a voz do Espírito que é suave como uma brisa, até que tudo se consuma, e sei que aquela brisa virá em breve, já está chegando e aumentará em intensidade até que eu não mais a possa resistir e me dobre mais uma vez ante ao peso de minha própria consciência. Falei consciência? Não seria culpa? Talvez remorso? Talvez me sinta como o assassino do Espírito que habitava em mim… Quero sua comunhão de volta… Onde está você? Por que isso sempre se repete, como numa espiral sem fim? Vou dizer que não quero e não mais o farei, mas sei que minto pra mim e para Ti novamente, e Tu o sabes melhor que eu, e ainda assim me perdoas, para meu total desespero, para minha vergonha maior. Pois sei que voltarei a Te ferir e Tu continuarás me amando. Consome-me ó Deus, para que eu não Te entristeça mais uma vez. Acaba com essa agonia entre o Te amar e o amar a mim mesmo, (não teria eu que renunciar a mim mesmo? Como posso fazê-lo?).

 

Tu me vês, e tudo sabes sobre mim; e pior: me fazes saber que estás por aqui. Quisera eu que tu estivesses bem distante para que não me visses. Não foi assim desde o principio? Isto também já lhe é familiar… “Adão, onde estás?”

 

Quando serei liberto desses grilhões?

 

Sujo estou, mas vestes brancas me preparaste…

 

Escarneces de mim com tua misericórdia?

 

Antes me consumisse, para que não mais tivesse que me suportar. A dor da culpa é pior que a da sentença. Mas não me sentencias, e maior é minha culpa. Minha culpa. E tu ainda me justificas…

__________________________________________________________________________________

 

Resposta:

 

Meu amigo amado: Deus o abençoe com paz!

 

Hesitei quanto a responder o seu e-mail porque ele é uma oração, e, oração eu não respondo como oração. Portanto, antes de tudo, repeti sua carta como oração diante de Deus.

 

A sua oração Deus mesmo responderá…

 

Eu, aqui, apenas tomo a liberdade de responder a você acerca dos conteúdos mentais, psicológicos e espirituais de sua oração.

 

1o Processo: “Às vezes quero acreditar que não existe um Deus, para que então eu possa me chafurdar em minhas sujeiras, em minha sordidez, em meus pecados favoritos sem nenhum sentimento de culpa, ah… A culpa, essa velha inimiga!”

 

Resposta: Você sente o desejo ardente. Sua alma o quer realizar. As pulsões crescem. Sua consciência cheia de conteúdos morais e legais atribuídos a Deus se volta de modo implacável contra você. Então, por um pouco de tempo, você assume um ateísmo emocional. “Deus é tolice!”—diz você nesse momento.

 

2o Processo: “Quando começo a me chafurdar na lama entro em frenesi, não quero e talvez não possa parar, me escarafunchando até o limite de minhas forças desço ao mais baixo nível, busco encontrar satisfação pra minha carnalidade, minha sexualidade animalesca e como um dependente químico, sei que estou me prejudicando, mas o prazer fala mais alto que a voz do Espírito”.

 

Resposta: Desse modo, você faz a “suspensão de Deus” por um pouco—pelo tempo de um coito—; e, depois, retorna ao estado de semilucidez no qual você vive, e que nem mesmo é estado de lucidez, posto que vivendo entre o conflito de servir a Deus e (ou) ao seu próprio hedonismo, não é possível haver lucidez, em razão de que na angustia não há luz… Não há lucidez. A luz e a paz se casam naturalmente, mas a angustia da culpa só sabe casar-se com as trevas interiores. Ora, isso remete você para um outro processo.

 

3o Processo: “Talvez me sinta como o assassino do Espírito que habitava em mim… Quero sua comunhão de volta… Onde está você? Por que isso sempre se repete, como numa espiral sem fim? Vou dizer que não quero e não mais o farei, mas sei que minto pra mim e para Ti novamente, e Tu o sabes melhor que eu, e ainda assim me perdoas, para meu total desespero, para minha vergonha maior.”

 

Resposta: O “seu Deus” existe em você apenas quando você o “ressuscita” pela dor da culpa. De fato, o “seu Deus” existe na energia de sua própria culpa. Na realidade o “seu Deus” é bom apenas como alívio da culpa. E o perdão Dele, em você, não é perdão, mas apenas um “santo sarcasmo”, pois, você mesmo, odeia saber que existe tal perdão; e é assim que você sente apenas porque o “seu Deus” é aquele que fixa mandamentos apenas para serem “quebrados”. Daí você o amar com tanto ódio!

 

4o Processo: “Escarneces de mim com tua misericórdia? Antes me consumisse, para que não mais tivesse que me suportar. A dor da culpa é pior que a da sentença. Mas não me sentencias, e maior é minha culpa. Minha culpa. E tu ainda me justificas…”

 

Resposta: Como você enxerga a Deus apenas sob as lentes da culpa e, na melhor das hipóteses, sob as lentes da doutrina da justificação pela fé, você acaba por se convencer de que Ele perdoa, mas, ao mesmo tempo, como você o conhece apenas como doutrina, o bem da verdade não se consuma em você como paz, mas apenas como alívio mental. E, assim, o ciclo continua interminável, “como numa espiral sem fim”…

 

A sua oração é a sua oração. Meu Deus! Quem terá a pretensão de corrigir orações? Portanto, não é de sua oração que falo, mas dos conteúdos que nela estão presentes.

 

Para mim a frase que diz tudo acerca de sua relação com Deus é “às vezes me sinto como um assassino do Espírito”. Ora, essa declaração apenas revela os conteúdos de Hebreus, quando fala de uma “estranha expectação de juízo de fogo vingador”, o qual, no texto de Hebreus, se atrela ao ato psicológico de “crucificar” sempre outra vez o Filho de Deus, vivendo sempre para repetir o sacrifício da Cruz em razão de “obras mortas”, sentindo, enquanto isto, que você mesmo mata e ressuscita o Espírito em você. E como sua consciência não existe no ambiente da Graça, e sim no ambiente da Lei, o ciclo jamais cessa—e de tal modo que você tem que repetir sempre o processo, que inicia com o conflito entre seu desejo e o que você chama de desejo de Deus para você, e com a prevalência obvia de seu desejo sobre o de Deus. Assim, naturalmente, você mesmo cria a suspensão de Deus por um pouco de tempo, a fim de poder experimentar o “momento de suspensão de Deus” como frenesi. Afinal, quem pode esperar que Deus fique “suspenso” por muito tempo? Ora, nesse caso, até o coito se torna mais rápido e mais frenético, posto que ninguém consegue “suspender Deus” por muito tempo. Desse modo, quanto mais você faz suspensão de Deus, mas frenesi tarado você sente no momento do surto do desejo. Portanto, tanto mais quanto assim você faça, tanto maior voltará o desejo, e tanto mais aflita e freqüente torna-se-á a sua necessidade de suspender a realidade de Deus de sua consciência; ou melhor: de sua culpa pensante. Ora, nesse caso, nada mais natural há do que odiar o perdão de Deus, pois, para você, Deus é tão cínico quanto você, posto que o perdoa sempre, enquanto você mesmo sabe que tal perdão não se fará acompanhar de pacificação interior. Desse modo, o perdão de “Deus” acaba por ser sentido como “escárnio”.

 

De fato, se sua oração fosse uma confissão de um dia, não haveria nela nada errado. Mas como ela revela um estado de ser, digo-lhe que ela é um atestado de devoção enferma, fruto de uma alma na qual Deus e “Deus” não são a mesma realidade.

 

Sim, trata-se da oração de uma alma protestante, que ama a causa de Deus (que é também, para você, uma causa moral), e que não conheceu a Palavra como reconciliação, mas apenas como “alternativa de reconciliação” com Deus; e de tal modo que a sua dinâmica interior oscila entre o “estado de devoção raivosa” (às vezes com vontade de que Deus não existisse), e o estabelecimento do “frenesi”, e que se alimenta justamente desse conflito.

 

Deus não é moral. Deus é amor. E no amor de Deus há a ética da justiça, da verdade, da alegria e da paz, mas não há moral. Ora, para você Deus é moral, e o Seu amor é também moral; e de tal modo é assim, que você mesmo tem que suspender a Deus quando acontecem os seus surtos, apenas porque a consciência de “seu Deus” é tão moral e fraca quanto a sua própria. Assim, você tenta pecar longe de Deus, sem saber que o que nos salva é poder pecar na Presença de Deus, posto que é somente com Deus presente em justiça que justifica e que dá paz, apesar de nosso pecado, é que se tem a paz pela qual o frenesi das compulsões vão sendo silenciados a fim de que o coração possa encontrar paz que pacifica o sentir, o pensar e o caminhar.

 

Perece contraditório, todavia, é somente na Presença do Deus para quem as “trevas e a luz são a mesma coisa” que a alma pode encontrar a paz.

 

Sim, só se entra no estado psicológico da paz que pacifica o coração quando pela fé já se assumiu que toda a nossa culpa real já foi levada de uma vez por todas na Cruz.

 

Sim, para que se tenha paz para vencer os nosso próprios pecados, dia a dia, é preciso que se saiba que o “pecado morreu” em Cristo; posto que a Lei é que alimenta o pecado; e, em Cristo, a Lei morreu. Desse modo, não mais crendo na Lei como um ente vivo, mas morto, é que se pode ter paz para entrar num caminho de pacificação do interior, pois, de outra forma, tal coisa jamais será possível. Afinal, quem pode ter paz se não crê que o pecado já morreu?

 

Sim, o pecado está morto para Deus, em Cristo, e isso para a justiça de todo aquele que crê!

 

É aqui que a doutrina da justificação deixa de ser uma formulação teológica e passa a ser um bem espiritual e psicológico. Deixa de ser uma doutrina, e que como doutrina seja acionada de vez em quando a fim de amainar conflitos interiores, e, passa a ser um bem real que se estabelece como estado interior; e não mais apenas como possibilidade de contingência espiritual momentânea, e que se faz depender da disposição interior do indivíduo de não mais pecar qualquer pecado exterior.

 

Em outras palavras: a gente só conhece paz e libertação apenas depois que já creu e tomou posse pela fé do fato de já estar reconciliado com Deus, em Cristo, no matter what…

 

Sua oração é um retrato psicológico de uma alma que está presa e atolada em Romanos Sete, e que não conseguiu confiar na promessa dos bens que nos estão garantidos em Cristo, conforme Romanos Oito.

 

Ora, é simples de entender: se sou salvo em Cristo, mas se só me mantenho salvo se eu mesmo conseguir bancar o comportamento da salvação como moral, de que me vale crer em Cristo no início, se terei que eu mesmo me salvar no cotidiano e para o resto da vida por poder e conta próprios?

 

Assim, meu irmão, se eu cresse em Deus como você, e se cresse na obra de Cristo com as limitações que você crê, eu mesmo assinaria em baixo de sua oração, posto que é impossível crer em Deus como você crê, e, como conseqüência, não sentir o que você sente… e como você sente.

 

Não vou dizer um montão de outras coisas apenas porque tudo o mais está dito aqui neste site, e, se você o ler com atenção entenderá o que estou dizendo, e, desse modo, apropriar-se-á do bem espiritual que já é seu, posto que em Jesus já está Consumado.

 

Receba meu beijo e carinho!

 

 

Nele, que nos reconciliou com o Pai para sempre,

 

 

Caio