Convidei minhas duas irmãs para irmos comer um tambaqui na Pupeca do Mamá, o melhor tambaqui da cidade, feito na brasa e sob umas árvores no meio de uma pracinha quieta.
Pouca coisa faz tanto bem a alma quanto poder sair com as irmãs na carne, todos adultos, todos com filhos, dois de nós com netos; e, no meio da semana, alegres pelo que está sendo a recuperação de papai, sairmos juntos no meio da noite para um tambaqui-pretexto para nossa melhor conversa, os três, em toda a nossa vida como irmãos.
Não que nossas conversas não fossem sempre no mínimo agradáveis e boas; mas, para mim, com a visceralidade da conversa de hoje, jamais havíamos tido nenhuma.
E como é bom ver a maturidade de um e de outro, as analises, as auto-analises, as experiências, as pacificações, as revelações, as admirações, as trocas livres, as cumplicidades de sempre, a visão comum dos pais (nem sempre nos foi comum em tudo); e, sobretudo, alegres por vermos quem cada um se tornou e está se tornando, para Deus, para si mesmo, e uns para os outros. E também vermos isto no espírito e no caráter de nossos filhos, todos marcados pela certeza do amor de Deus e do significado do amor em família como trilho da história dos que se bem-aventuram no amor.
Conversamos nós em nós, nós em Deus, nós uns nos outros; e vimos a bondade de Deus em tudo, em todos, e, muitas vezes, apesar de tudo; pois, hoje, em cada um de nós não se encontra ninguém com trauma de nada em relação um ao outro ou a nossos pais; ao contrario, há uma crescente pacificação em todos e uma unanimidade de sentir e de descanso que nunca antes houve com tanta harmonia no nível do expressar..
É como milagre de vinho velho-novo em vinho novo-velho.
É como subir uma escada espiral conversando no hoje e olhando o passado em degraus pouco ou muito abaixo na escada.
O recente, bem atrás; e o longínquo bem lá nos degraus do térreo da escada.
De modo que qualquer viagem de volta na escada, põe você num degrau de memória que permite olhar mais abaixo ainda; e também observar os companheiros nos degraus de hoje, nos de ontem, e nos de muitos ontens atrás… lá embaixo… na infância.
Alguns estão sempre presentes. Mas entre irmãos, quando se amam, mesmo na ausência uns dos outros, o que acontece ou aconteceu a cada um em cada lugar ou situação, torna-se não apenas pertinente aos demais pelo interesse, como também trás revelação de você nos dramas dos outros, e, sobretudo, sobre o significado de nossos pais para nós.
Talvez o melhor legado humano dos pais para os filhos seja essa benção de se amarem sem nunca se desconhecerem como irmãos. Esses são irmãos que crescem para a simplicidade da fraternidade cada dia mais segura do amor do outro.
Tais pais de tais filhos deixam herança; pois a verdadeira herança humana na terra é exclusivamente feita da qualidade dos legados do amor e da fidelidade entre os irmãos filhos desses pais; sobretudo quando o elo mais forte é feito de fé e entendimentos comuns sobre Deus e o Evangelho.
Obrigado Suely e Ana, manas amadas, pela noite tão intima e serena que me proporcionaram.
Nele, em Quem irmãos irmanados Nele se tornam mais que irmãos,
Caio
09/08/07
Manaus
AM