QUANDO A ALMA DIZ: BASTA!
—– Original Message —– Querido Caio. Que a Graça esteja te dominando, como desde sempre. Você foi e é um dos meus referenciais intelectuais e espirituais. Para que você saiba um pouco quem sou eu. Meu nome é SJTP. Sou pastor da Igreja XXXIX. Me formei em teologia pelo YYYY, pastoreei 6 anos uma igreja histórica e depois fui convidado para o Ministério GGG, para trabalhar com o (disse o nome). Na Igreja GGG tive um “bom desempenho” ministerial e cheguei ao Bispado, além de pastorear uma bela igreja. Estava feliz da vida e compenetrado nos meus “desafios”, que cumpria mês a mês com muito empenho. Os anos se passaram… Depois de muitos erros e falhas pessoais na minha caminhada ministerial, principalmente na área pessoal, com práticas e atitudes impróprias; e conflitos éticos e ministeriais; solicitei meu desligamento do ministério. Fiquei um tempo trabalhando secularmente… Fui convidado para pastorear uma igreja em outra cidade, e para lá fui. Passei três anos lá e recebi o convite para pastorear em uma cidade grande, e aqui estou há seis anos. A MINHA VIDA HOJE. 1. Estou vivendo um colapso nervoso. 2. A Igreja não está crescendo e me culpo muito por isso. O motivo de me sentir muito culpado é porque tenho tido muitas fantasias sexuais e pensamentos impuros. Tenho violentado meu corpo, mas os pensamentos parecem me roubar a Unção. Eu tenho uma esposa linda e maravilhosa, e que é uma mulher de Deus. Se não fosse ela eu já havia desistido. 3. Pessoas da liderança da igreja estão indo embora da igreja. 4. Estou me sentindo impotente diante de uma situação que parece fácil de se resolver, mas impossível de viabilizar. 5. Não consigo mais orar como antes. 6. Não consigo jejuar. 7. Fizemos compromissos financeiros e estou morrendo de medo de não conseguir cumprir com eles. A decisão foi feita pela Comunidade, mas sinto-me sozinho com as responsabilidades. 8. O pior de tudo. Eu já consegui superar coisas muito mais sérias e desafios muito mais comprometedores. Estou sem forças e me achando um “pigmeu”. 9. Estou envolvido com os Movimento de Mover, cujos integrantes são pessoas conhecidas (mencionou os nomes)… mas eu mesmo estou precisando de um mover de Deus. 10. Caio, estou me sentindo completamente vazio. Vou para o Altar sem muita expectativa, e pela Misericórdia de Deus, as coisas acontecem, mas só eu sei o que estou passando. 11. Às vezes acho que nunca deveria ter saído da igreja GGG. Às vezes acho que nunca deveria ter ido para lá. Às vezes acho que estou no lugar errado. Às vezes acho que estou endemoninhado. Às vezes acho que sou um louco. Me desculpe se estou escrevendo algo banal. Sei que estou errado. Sei o caminho de volta. Sei que não posso continuar assim, mas não consigo mexer uma palha. Não agüento mais. Me sinto um tremendo hipócrita dizendo às pessoas coisas que eu não estou conseguindo vivenciar. Por favor, ore por mim. Estou precisando. De quem te admira e o ama, sem o conhecer. Nele, ____________________________________________________________________________________ Resposta: Meu querido irmão e amigo: O Vinho Novo é Melhor! Quando eu vi esses “moveres” começarem aí pelo final da década de 80—os anteriores tinham características diferentes—, disse de modo audível que em alguns anos bateria um cansaço insuportável, e que muitos, depois de anos de muita excitação de palco e auditório, desmaiariam extenuados… E não disse isto apenas acerca desse modelo que você bem conhece, e no qual tem estado a maior parte do tempo. Os demais modelos de experiência “de igreja” se tornaram completamente inadequados às demandas da alma e, além disso, são todos voltados para fora, para os “desafios exteriores”, para os mundos externos a serem conquistados, para os sucessos demonstrados em números e bens, para o crescimento numérico da igreja, para a multiplicação de gente, para a capacidade de arrecadar, para a manutenção de um estado de euforia que não condiz com a existência, cometendo-se uma violência contínua contra os sentidos e o bom senso, levando a pessoa, depois de um tempo, a se sentir assim como você está agora. A boa notícia é que isso só dá em gente boa, em quem pode e quer se converter de verdade, e em quem deseja conhecer a verdade do Evangelho, no coração. Eu vivi outra experiência pessoal. Mas o que aconteceu, de fato, é que minha alma se cansou, e, diante do que se me configurava, perdi a esperança. E como tinha sonhado muito com a “conversão da igreja evangélica”, mergulhei em estado de desânimo. O resto foi mão amiga de Deus, quebrando tudo aquilo, me libertando e me deixando livre para Ele e para a Palavra, por mais trágico que tenha sido aos sentidos de todos. O que desejo lhe dizer, meu irmão, é que “isto” não tem mais jeito. Eles tornaram-se seu próprio fim. E quando isto acontece, é o fim. O fenômeno evangélico precisa ser apenas considerado como uma grande colcha de retalhos cristã, e que é composta de todos os cristãos que não sendo católicos, por exclusão, são “evangélicos”, mas que não necessariamente conhecem o Evangelho, assim como acontece com os demais “cristãos”. A igreja evangélica é uma hidra! O seu sentir é todo “evangélico” e é completamente coerente com a proposta. A proposta evangélica ministerial, na maior parte das vezes, mata a alma humana que se veste de pastor. E por que? Ora, as razões, meu amigo, não cabem no espaço de uma carta, mas sim de um longo e bem pesquisado livro, e que ainda falta ser escrito, mas, no âmbito de nosso interesse imediato, o que interessa como explicação é basicamente o seguinte: a espiritualidade evangélica não é honesta com a Queda e, por isto, nunca experimenta a Graça. Quando digo que ela não é honesta com a Queda, estou afirmando que todos os moveres que caracterizam a igreja evangélica são moveres de supernaturalidade. Ou seja: se alguém é evangélico, lhe é dito que ele ganhou superpoderes—e todas as “teologias populares” dos evangélicos são “teologias de superpoderes”; ou seja: são mágica; e nada têm a ver com a Realidade conforme o Evangelho. O que eles chamam de “unção”, Jesus chamou de tentação. Ora, com o passar do tempo as pessoas vão sendo esmagadas pela realidade e, num primeiro momento, sentem o que você vem sentindo, chegando até mesmo a pensarem que estão enlouquecendo ou mesmo endemoninhadas. E assim se sentem também porque lhes foi dito que quem tem “carga horária” de trabalho para Deus—significando para o “ministério”— tem “fórum especial”; mas como isto não é verdade, logo a existência se incumbe de fazer o cara cair na real e perguntar o que está errado. Ora, você está cansado. O nome desse diabo é cansaço! O que está acontecendo é que a Queda está sendo honesta com aqueles que não são honestas com ela. Assim, todas as supressões, repressões, sublimações, fantasias e podas desnecessárias feitas ao fluxo normal e sadio da vida, estão voltando como monstros; e, lhe digo: só está começando… Nosso estado natural existe; e é um estado “caído”, e demanda ser tratado com realidade. A supernaturalidade evangélica faz repressão, supressão, sublimação e fantasia acerca da realidade, assim, a realidade se volta contra ela e, agora, a espanca sem piedade. Os evangélicos estão conhecendo, agora, em sua própria alma, o veneno da espiritualidade incompassiva e irrealista que por eles foi gradualmente inventada, e que é também por eles implacavelmente mantida. Ora, em que isto abala aqueles que são de Jesus e aqueles que crêem no Evangelho? Sinceramente, além da pena de ver o desperdício, não abala em nada. E por que? Porque o caminho do Reino não se deixa condicionar por “odres” e nem por “vestimentas velhas”. O Reino é como o vento: passa…e segue. E é como a água: faz seu próprio caminho…mesmo que seja entre as pedras. Com isto não estou dizendo que não haja milhões de pessoas “gente boa de Deus” nas igrejas evangélicas. Ao contrário. É justamente desses que vem grande esperança. São esses aqueles que ainda verão como o Espírito não se deixa prender a “nenhuma jarra”, pois Ele não é o “gênio da lâmpada”, correndo o risco de cair nas mãos do tolo Aladim, ou, quem sabe—muito mais provavelmente—, nas mãos dos 40 ladrões (número este que hoje deveria ser elevado a muitas potências). O que você precisa? Primeiro você precisa de férias. Férias de “igreja” e férias para “higienizar” a alma. Você precisa deixar de lado a “mulher de Deus” e pegar com toda alegria sua mulher. Precisa também sair desse circuito de maluquices. Essa moçada com quem você andou, e esses com quem você anda hoje, caso não sejam honestos com a Queda e, assim, mergulhem na Graça e na Verdade—conforme o Evangelho—, haverão de sucumbir à loucura total; e muitos deles já entraram num processo quase sem retorno. De fato, humanamente falando, é muito mais fácil crer na conversão de qualquer um ao Evangelho do que crer na conversão de um desses Super-Homens e Mulheres Evangélicos ao simples Evangelho da Graça. Segundo, você precisa encher sua alma de outros conteúdos. Você precisa aprender a ler a Palavra com outros olhos, e a ver o Evangelho como benefício para você. E, para tanto, você terá que esquecer toda essa falsa espiritualidade; tendo a disposição de aprender o “espírito do Evangelho”. Honestamente creio que a leitura deste site, não esporádica, nem apenas daqui para frente—visto que há livros e livros escritos aqui, e que são textos produzidos on line, aqui, nos últimos 2 anos—, pode ser de grande ajuda para você. Digo isto com temor e tremor, e com toda responsabilidade. Reúna a igreja e seja honesto. Não me refiro ao que possa ter lhe acontecido no comportamento pessoal, mas sim acerca do está acontecendo com sua alma. E, quanto a isto, não digo que lhes chame para falar de “depressão” ou “estafa”, mas sim de necessidade de se rever tudo. Conte sua jornada para eles. Diga que você quer ver a beleza do Evangelho, e não “isto”—que haverá de cansar logo a todos, se é que já não estão todos cansados. Na realidade, saiba, as pessoas estão deixando a “igreja” porque não agüentam exatamente isto que está matando você. Portanto, sua melhor chance de re-agrupá-las é sendo honesto com elas. Mas não faça isto já e nem agora. Primeiro tire uns dias de férias. Vá para um lugar tranqüilo e aonde você tenha internet; e entre de cabeça aqui no site. Leia tudo. Ore. Confira na Palavra. Deixe as coisas irem descendo até o fundo de você. Enquanto isto, ame a sua mulher… Faça também a experiência de se misturar ao povo, às pessoas em geral, longe do ambiente de “igreja”. Olhe os rostos delas. Converse com elas. Ouça tudo e não catequize. Preste atenção ao drama humano. Seja um homem entre os humanos e você aprenderá a ser um homem de Deus. Quem andou muito tempo nesse “meio”, em geral desaprende quase tudo sobre a realidade. De fato, para eles, a realidade é aquilo acerca do que se diz que “foi obra do diabo”, e a ausência dessas coisas é aquilo que se diz ser a “realidade”. Por isto ser tão importante voltar a ser humano e sensível. Além disso, recomendo a você que não sinta obrigação de fazer nada “crescer”. Tudo que é vivo, cresce naturalmente. No entanto, o crescimento que vem de Deus é natural, não é fruto de campanhas e manipulações irreais. Descanse, entenda a Palavra da Graça, prove-a para você mesmo e, de modo simples, compartilhe-a com o povo. E não ande mais atrás de “novidades”. Quem anda conforme o Evangelho anda no Novo. Pense no que lhe disse e, depois de meditar, me escreva. Fico aguardando! Nele, que é o nosso Pastor, Caio