—– Original Message —–
From: QUANDO A “FIXAÇÃO” PASSA POR AMOR
To: [email protected]
Sent: Thursday, March 23, 2006 8:58 AM
Subject: Não consigo esquecer meu ex-marido
Pastor Caio,
Estou vivendo um conflito interior muito grande. Há mais de seis anos fui casada com um homem que foi o grande amor da minha vida e primeiro em todos os sentidos. Ele me fez muitas e muitas juras de amor. Ele trabalhava comigo, só que morava em outra cidade. Como ficou desempregado, meus pais não deixavam ele durmir lá em casa, com medo de comentários dos vizinhos. Então as coisas foram ficando difíceis e resolvemos nos casar para ficarmos juntos. Ele ainda estava desempregado. Foi aí que começamos a brigar. Ele chorava muito pela situação e tinha ciumes de tudo que eu fazia, até se, ao dirigir, entrava em outra rua, ele ficava desconfiado.
Ele era de uma denominação diferente da minha, a Congregação Cristã do Brasil. Eu sou da Assembléia. Mais um motivo para brigarmos. Apenas eu estava trabalhando… Então estávamos morando com meus pais… Ele não procurava emprego. Acordava tarde e queria que eu alugase uma casa para sairmos da casa dos meus pais.
Como estava desempregado eu não achei justo embarcar com todas as despesas da casa. Pedi que ele primeiro arrumase um emprego para dividirmos o aluguel e as outras contas. Bem, eu estava querendo fazer um curso técnico que seria muito bom pra mim.
Esse então foi o motivo da separação!
Quando falei pra ele que iria estudar ele virou pra mim e disse: “Você escolheu! Fique com seu curso e ADEUS.”
Pastor, até hoje não entendo o que houve. Éramos casados de papel. Ele simplismente não teve nenhum diálogo comigo. Arrumou as roupas, não adiantou eu implorar, virou as costas, e saiu da minha vida como se eu fosse um nada.
Destruiu meus sonhos, meu amor e me tornei uma pessoa triste e deprimida; pois achava que agora tinha uma mancha na minha vida, e que os homens que se aproximassem de mim era apenas para curtir uma divorciada…
Então escondia de todos o meu passado!
Mudei de cidade e sofri de depressão por mais de três anos sem ficar com ninguém, achando que nunca mais poderia me casar, pois não houve adultério, e a Bíblia é bem clara com relação ao casamento como uma aliança que não pode ser quebrada a não ser pelo adultério.
Eu tinha apenas 19 anos e sofria demais. O tempo passou e conheci uma pessoa. Então namoramos e resolvemos nos casar. Agora estou com 29 anos, tenho um filho lindo, mas não consigo esquecer meu ex-marido. Já participei de palestras sobre cura interior, vivo orando, mas não tem adiantado…
Pastor me ajude.
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Resposta:
Minha querida amiga: Graça e Paz!
Nem mesmo consideremos as loucuras que precederam o seu “casamento” com o “grande amor de sua vida”. Entre elas, e entre tantas, praticou-se a “premissa-verdade-evangélica” que ensina que sexo a gente resolve casando; a qual também ensina que a fim de que ninguém deixe de pensar que somos os santarados anormais que a gente se orgulha de dizer ser ou se fazer passar por “algo assim” — deve-se fazer qualquer coisa; e isto a fim de manter a imagem. Desse modo, côa-se o camelo e engole-se o mosquito, bem à moda dos fariseus.
Com relação ao “amor de sua vida” sugiro que você procure um psico-terapêuta com certa urgência. Afinal, somente uma alma muito adoecida pode viver o drama angustiante de ficar anos preocupada em se “arrumar” para encontrar um outro homem (você sempre quis casar outra vez), e, ao encontrar, fica angustiada em razão do “amor da vida”. Isto sem falar que para chamar aquele carinha de “amor de minha vida” a pessoa tem que inexistir como indivíduo (tem que ter ficado “um nada”, como você disse). No seu caso foi por se haver entregue, mediante uma profunda insegurança, à idéia de que um homem infantil, ciumento, acomodado, inafetivo e irresponsável, possa ser o “amor de sua vida”.
De fato, em razão da história inacabada com ele, pelo modo como ele saiu, surgiu em você uma culpa. Sim, culpa até de ter feito tudo certo (embora, paradoxalmente estivesse tudo errado desde o começo).
Ora, “fixação” do tipo da que lhe aconteceu, em geral, é a combinação de certos elementos: memórias de bons tempos (esquece-se dos maus tempos nessa hora), mais a inexplicabilidade acerca da “subiteza” da saída dele, mais a dor sentida (dor cria raízes exatamente em relação à coisa que faz doer), mais a culpa de pensar que ele se foi porque você não “era boa o suficiente” para segurá-lo, mais a imensa inseguraça que esse fato provocou em sua alma, mais a neurose religiosa de que casar-se agora é ir contra o “casamento” (que, para você, supostamente, foi o que você teve com ele), mais o medo de sentir outra coisa que faça doer — fazem com que que, agora, encontrando alguém que deseja casar com você, o outro re-surja dos mortos. E isto não é em razão dele ter qualquer significado verdadeiro para você (se tivesse, nem ficado à procura de um novo namorado você teria estado), mas sim em razão de duas realidades: a) Por agora haver um homem interessado em você, sua auto-imagem começa a se recuperar, e, com isto, surge a ilusão de que se você fosse naquele tempo como você é agora (capaz de despertar interesses masculinos), ele estaria com você até hoje; b) A culpa religiosa acerca de um outro casamento, situação essa para qual você já tem uma certeza: “… a Bíblia é bem clara com relação ao casamento como uma aliança que não pode ser quebrada”.
Ora, se não pode ser quebrada, como então a sua aliança o foi? Se não pode, não se pode. Ou estaria você desejando dizer: “Não deve ser quebrada?”
No entanto, não importando o que isso signifique para você ainda, o importante é dizer que você nunca foi casada, que aquele papel não casa ninguém que no coração não tenha se casado de verdade, e que você é uma mulher solteira, e que foi repudiada pelo homem que um dia disse ser seu marido.
Portanto, em qualquer perspectiva, mesmo se andarmos o seu caminho legalista, tenho que dizer que você é livre, posto que você foi “repudiada”; isso se você prefere se sentir como sentiam-se as mulheres de milênios atrás.
Entretanto, saiba: Jesus morreu para nos salvar desse peso também. Sim, Nele, também essa lei foi levada para o Seu devido lugar: a morte.
O que lhe acomete não é amor, mas apenas fixação. Até porque ninguém que não se ame primeiro, tem poder para amar quem quer que seja. E não creio que você se ame com saúde, pois, caso assim fosse, você não chamaria esse cara de “amor da minha vida”, mas sim de um “menino que passou em minha vida”.
Desculpe-me, mas essa combinação de “Congregação Cristã no Brasil” com “Assembléia de Deus”, só pode criar dois tipos de casamento, no caso de ambos terem a cabeça feita por seus respectivos grupos: ou gera um casamento fixo, do tipo: “… não importa o que aconteça, estamos juntos, pois um dia dissemos que estaríamos…”; ou, de outro lado, produz “fixação”, do tipo: “Casamento é só uma vez. Portanto, quem chegou primeiro é o homem da minha vida”.
Ora, isto tudo acontece em razão da falsa premissa de que todo casamento feito pela “igreja”, ou pelo “juiz”, foi também feito nos céus. Casamento só acontece para um homem e uma mulher se acontecer no coração. Do contrário, todos os poderes da Terra apenas nos concedem uma certidão, um contrato social, uma obrigação legal e suas conseqüências.
O que se tem que saber é que sem amor nenhum casamento nos aproveitará!
Sim, se falar em linguas de homens e anjos, se profetizar, remover montanhas com a fé, saber e entender todas as coisas, dar o próprio corpo para ser queimado, e distribuir todos os bens entre os pobres, ou qualquer outra virtude que possa ser manifesta como algo historicamente observável — não possuem nenhum valor diante de Deus se feitos sem amor, e se vividos sem amor, por que então aquilo que mais simboliza o amor entre os humanos, desde o princípio, que é o casamento de um homem e de uma mulher, poderia acontecer sem amor, e, ainda assim, ter qualquer valor diante de Deus?
O amor que sustenta casamentos sem amor entre homem e mulher, é do mesmo tipo de amor com o qual se deve amar o inimigo; mas não o companheiro de vida e cama.
Para mim está mais do que claro que se falar em línguas sem amor me torna “incomodo” para Deus como o bater de um latão ou como um zunido de metais estridentes, então por razão uma ainda superior em significado, o casamento só “aproveita” se for fruto do amor verdadeiro. Do contrário, que se fique sabendo: um casamento sem amor é algo existencialmente pagão; é como culto de tolos; é como o nada querendo ser visto como algo.
Ora, quando digo “aproveita” me refiro ao que pode ter significado para Deus.
Afinal, mesmo que o doador não faça as coisas com amor, o faminto que recebeu a doação não tem como ser prejudicado. Entretanto, o doador embora tenha doado tudo, para Deus é como se não tivesse doado nada, pois somente o amor dá significado a qualquer coisa diante de Deus.
Sim, até a fé sem amor de nada aproveita. Isto porque a verdadeira fé é aquela que, segundo Paulo, “atua pelo amor”.
Se assim é com tudo, por que a “igreja” põe o casamento fora de tal realidade espiritual, como se para Deus valesse casar sem amar ou ficar casado sem amor?
Ora, o que se tem que saber é que o ambiente mais adoecido da humanidade provavelmente tenha sido o do casamento.
Isto porque por milênios os casamentos não tinham quase nada a ver com amor, mas apenas com interesses econômicos, sociais, religiosos, morais, circusntânciais ou até políticos.
Poucas foram as mulheres na antiguidade que casaram, de saída, com quem amavam. A maioria foi “dada”, “trocada”, “usada”, “vendida”, “entregue”, ou qualquer outra coisa que fosse também barganha.
Sim, mulher era dinheiro ou era prêmio.
Algumas, muito em razão da “cultura” ou dos “costumes”, acabavam “aprendendo” a amar os seus maridos; embora, na maioria das vezes, o amor conjugal pouca importância tivesse; sendo que o que importava para tais casais era a “família”; a qual também tinha seu papel de ordem econômico-financeiro-social.
Entretanto, olhando o Gênesis, vê-se que o “grito” de Adão foi um “Eureca!” Isto quando Deus lhe trouxe a mulher.
“Essa afinal…!” — exclamou ele.
Portanto, no princípio, o encontro gerava um “Ôba!”, um “Uau!”, um “essa afianl é…”
Ora, se depois virou negócio de cartório ou de qualquer outro interesse sem amor, tal fato tem a ver com a “dureza de nossos corações”, e não com a revelação de Deus.
Por esta razão é que Jesus é tão duro em relação ao divórcio, pois os homens escolhiam conforme a conveniência a mulher que desejavam ou que interessava por alguma razão, sem nenhum amor, mas apenas baseados em interesses e negócios, e, quando já não desejavam, apenas “repudiavam” a mulher.
Cansando-se da mulher, sendo o homem um religioso, de preferência um fariseu, ele apenas a “repudiava” e a largava sem pai, sem mãe, com princípio de dias e com a existência já contada; especialmente naqueles dias, quando o amparo à mulher inexistia, pois o machismo era implacável.
Desse modo, a “repudiada” se tornava “tabu”, um ser imundo. Além disso tal fato fazia ainda com que aquele que com a “repudiada” viesse a casar-se, fosse também visto como um ser em estado de adultério.
Assim é que Jesus disse que, naqueles dias, naquele contexto, daquele modo, cada homem que “repudiava” a sua mulher, a “expunha a tornar-se adúltera”.
Portanto, o que Jesus diz, antes de ser uma Lei de Obrigações, conforme a Lei da morte, é um grito de proteção ao desamparo ao qual a mulher era submetida pelo marido cheio de machismos banais e caprichosos; os quais (os maridos), muitas vezes, trocavam de mulher alegando que não gostavam até do pé da bichinha.
E “legalmente” tal alegação era suficiente para deflagrar o divórcio do macho e abismar a mulher no mundo dos juízos e preconceitos. Ambiente esse no qual a mulher ou virava mendiga ou se casava com outra pessoa, mesmo que fosse apenas para sobreviver. Porém sempre carregando o “carma da adúltera”.
Crer que um casamento-legal, embora sem amor, seja um casamento “diante de Deus”, sendo, portanto, algo interminável pelo simples contrato que foi realizado pelas partes (você chamou inapropriadamente de aliança; mas aliança, quando alia, quase nunca des-alia) — equivale a crer numa lei do carma.
Sim, porque sem amor qualquer casamento é carma se tiver que ser mantido a qualquer preço.
Assim, de volta à sua questão, digo-lhe apenas mais duas coisas:
1. Mesmo que você amasse esse homem a quem você chama de “amor de minha vida”, não valeria a pena; pois, ele não ama você. Um homem que ama de fato uma mulher não faz o que ele fez. Acredite em mim quanto a isto. Deixe essa ficha cair logo!
2. Mesmo que ele quisesse você, quem não deveria querer mais era você. Afinal, que segurança você terá num homem que diz “Adeus” e nunca mais diz nada? Tenho medo de gente assim! Admiro quem faz isto depois de esgotar todas as possibilidades. Nesse caso “adeus” deve ser adeus mesmo; e mesmo à-Deus; ou seja: uma entrega a Deus e um basta. Todavia, não se faz isto com a simplicidade com a qual ele o fez. Ora, na minha opinião, ele não agüentava mais a situação como um todo (você no pacote), e usou seu “egoísmo” (o egoísta foi ele) a fim de “justificar” a saída dele. Do contrário, se houvesse qualquer outra coisa, mesmo que fosse apenas desejo sexual por você, e nada além disso, ele teria procurado você; fosse por cuidado, fosse por desejo. Afinal, ele ainda era seu “marido” e, portanto, na posição boa para até mesmo apenas namorar você quando vocês desejassem. Porém, nem isto ele quis.
Desse modo, tenho agora apenas mais duas coisas a lhe dizer:
1. Não case com quem você não ama ou não sabe se ama. Espere. Namore. Conheça. Vá com calma. Afinal, para quê essa pressa toda? A vida é sua; e não deixe que ninguém diga a você o que fazer a menos que fique ao seu lado para ajudar. Portanto, namore e só case se estiverem já casados.
2. Saiba que o que você sente por esse cara “ex-qualquer-coisa” (menos marido) é pura obra de ficção sua; e é fruto de sua insegurança e culpa. Afinal, ninguém que não se ama e nem se respeita tem poder para amar um outro; visto que eu só amo alguém se for capaz de amar a mim mesmo. Ora, se você se amasse e se respeitasse, um cara que tratou você como ele tratou você até hoje (antes com egoísmo e depois com silêncio total), nem mesmo estaria ainda presente em você; e se estivesse seria, no máximo, apenas como uma “memória cerebral”, mas não mais como memória emocional. Portanto, é a partir de você mesma que digo que você não o ama; pois, quem se ama como mulher ou homem, não fica amando para sempre quem não o ama; e, todos aqueles que assim ficam, mesmo sem serem amados, não amam de fato, mas apenas agarraram-se a um “holograma psicológico”, uma fabricação da alma, mas que nada tem a ver nem com a pessoa real e muito menos tem a ver com amor.
Por enquanto é isto que tenho a lhe dizer!
Nele, em Quem só vale o que é, e em Quem tudo o que é, só o é se o for em amor,
Caio