QUANDO O DIABO SE ESCONDE NA
Caro Pastor Caio! Sou grato a Deus pela tua vida e ministério, e pela forma como sou abençoado nele. Sou Pastor de uma pequena comunidade evangélica pentecostal numa cidade também pequena e tive a seguinte experiência este começo de mês: Uma diaconisa me procurou para falar sobre uns sonhos esquisitos com perturbações, aparições durante a madrugada. No meio da explicação destas perturbações interrompi e perguntei se ela tinha freqüentado em algum tempo reuniões no espiritismo. Tendo ela confirmado, eu disse: “Vamos orar agora sobre isso porque isto é coisa de espíritos perturbadores”. Para minha surpresa quando pedi que ela renunciasse essa experiência no espiritismo um demônio começou a gritar na boca dela: “Não, não, eu não quero!” Eu e minha esposa o repreendemos em nome de Jesus, e ele sem muita resistência saiu dela. Marcamos uma reunião com ela para conversarmos sobre isso e também sobre uma dificuldade em seu casamento, que ela já queria ter conversado conosco. O resultado da reunião é o motivo de escrever-lhe. Creio, até onde conheço da Bíblia, que um crente não possa ficar possesso de um demônio. Eu conheço essa mulher/diaconisa; conheço seu trabalho na igreja; sua paciência, seu amor por Jesus. Depois de contar sua história desde a infância, minha esposa anotando algumas coisas, quisemos orar com ela. Demônios falaram na boca dela nos seguintes momentos: 1 – Quando pedimos que ela perdoasse o pai por sua negligência em cuidar dela; o demônio gritava: “Não, não, eu não quero, eu não saio”. O expulsamos e então ela consegui perdoa-lo; 2 – Quando pedimos que perdoasse o pai por ameaçar, muitas vezes suicidar-se na frente da família. Dessa vez o demônio ria, batia palmas e falava como tinha atirado seu pai embaixo de um caminhão, e descrevia toda a cena. Quando o expulsamos ela novamente conseguiu perdoar o pai; 3 – Quando pedimos que perdoasse a mãe por bater nela quando aos sete anos fazia xixi na cama. O demônio ria e debochava dela dizendo que fazia ela urinar muito na cama; 4 – Quando pedimos que perdoasse seu avô por iniciar a família no espiritismo. O demônio ria, zombava, fazia caretas, como fazem as crianças; e batia palmas. Depois que o expulsamos ela conseguiu também perdoar o avô. Esta jovem senhora é batizada nas águas, no Espírito Santo e exerce ministério em minha igreja. Querido Pastor como posso explicar biblicamente este fato? Por acaso nunca houve conversão na vida dela? Ela neste tempo todo nunca aceitou Jesus de fato? Peço sua ajuda dentro da sabedoria e discernimento que o Senhor Deus te conferiu. ______________________________________________________ Resposta: Meu querido amigo: Graça, Paz e Discernimento! No curso dos anos fui aprendendo a fazer diferença não apenas entre opressão, sujeição e possessão demoníacos, mas também acerca de algo mais sutil ainda: entre possessão e o desenvolvimento de uma histeria com contornos de possessão; sendo uma espécie de “psiquismo-demoníaco”, sem que seja, de fato, uma possessão. Toda a indicação do quadro descrito por você é de histeria veiculada através do tema demoníaco, posto que esse é o “tema de descontrole” mais familiar à irmã diaconisa-pentecostal. Espero que me entenda. Na realidade eu creio que ela anda atormentada no casamento dela, que está profundamente infeliz, desejosa de jogar tudo para o alto ( mas não pode), e com raiva de si mesma por não poder ficar livre do que a atormenta; e, assim, inconscientemente, começou a desenvolver as aparições e perturbações, posto que para uma pessoa como ela, e que está frustrada e com raiva de si mesma, não pode haver punição e nem identificação mais forte com o que é ruim do que fazendo-se associar à figura do próprio demônio. Ora, como vocês deram o “mote” que a alma dela, inconscientemente, precisava—o do diabo, que é o “bode expiatório” de todos os males evangélicos não explicados e não confessados—, ela apenas respondeu de modo bastante “lógico” para vocês, visto que, na mente evangélica, todo mal vem do espiritismo e ou da macumba e derivados. E como a família dela já teve tal envolvimento no passado, esse reavivamento se tornou útil para mascarar e explicar a vontade de gritar e explodir. De fato vocês assistiram a uma catarse que manifestou uma histeria que estava guardada na alma dela há tempos. E saiba: não tem tanto a ver com o espiritismo, mas sim com as frustrações conjugais, sexuais e afetivas dela. Se eu estivesse presente, e ela começasse a se declarar demônio, e eu apenas invocasse o real nome e identidade dela (como mulher), você veria que ela voltaria a si sem resistência. Mas como o fluxo da relação de vocês com ela levava, sobretudo, em consideração a possibilidade de que fosse um demônio… “de demônio” ela se manifestou! Para quem vive num ambiente de igreja onde demônios de manifestam, nada há mais simples do que incorporar tal personagem. Aprende-se a “possessão”, assim como aprende, inconscientemente, um monte de outras coisas, como, por exemplo, a “falar em línguas”, quando, na realidade, não se está falando no espírito, mas apenas num surto da alma desejosa de se afirmar e pertencer ao grupo dos “consagrados”—isto no caso das línguas. Na igreja quem quer “consagração” e “aceitação”, “fala em línguas”, mesmo quando não fala; e quem deseja se degradar e se “auto-punir”—ou chamar atenção em estado de desespero—, acaba por ficar “possesso”, pois, que há de pior no meio evangélico do que um “crente possesso”? De fato, o perigo agora é que ela já perdoou a todo mundo, numa suposta libertação, quando, na realidade, o problema dela ainda não foi tocado. Nesse caso, a grande obra do diabo é mascarar uma histeria com contornos de demônio, deixando, assim, o real problema sem solução, e a alma dela em estado de angustia e de irresolução interior. Estou dizendo isto porque sei o que é possessão demoníaca, mas também sei como há uma grande quantidade de “possessões” que nada mais são do resposta à sugestão de um tema demoníaco, e que se manifesta, especialmente em mulheres, como histeria inflada por aquilo que eu chamo de “psiquismo demoníaco”, não sendo, todavia, demônio. Portanto, não provoque essa área “demoníaca” e se concentre nas questões de natureza conjugal, sexual, afetiva e emocional, pois, o “demônio” está “alojado” nessas gavetas da alma dela. E lembre: quando falo de “demônios”—entre aspas—, estou apenas me referindo à máscara psicológica que ela está usando a fim de não tratar da questão mais profunda. O que se tem que saber é que no meio evangélico a coisa mais diabólica que existe é “solucionar” os problemas da alma sob o pretexto de que é “demônio”. Ora, é por essa razão que a alma evangélica é tão doente, posto que quem tem um “diabo” tão ávido por levar todas as culpas, não tem que se enxergar, não tem que olhar para o coração, e não tem que tratar as coisas como elas são, pois, o “diabo” serve para levar a culpa e camuflar a situação, que não se resolve, mas apenas permanece em estado latente, podendo arranjar, no futuro, outras máscaras a fim de si manifestar—no caso da mascara atual não ser mais estimulada por vocês. O demônio dela é carência, é frustração afetiva e sexual, é angustia de mulher mal amada ou que não ama. O demônio dela é feito desejos reprimidos e de um monte de pulsões escondidas, e que serão malignas para a alma dela até que ela tenha a coragem de enfrenta-las, na luz e na verdade. Ela é de Jesus. Ela apenas não sabe que “já não há nenhuma condenação para quem está em Cristo Jesus”. Sim, ela é de Jesus, sendo que ela ainda não aprendeu que em Jesus ela tem liberdade para ser, para confessar, sem se esconder, podendo trazer tudo para a luz, pois, “tudo o que se manifesta é luz”. Esta é minha opinião considerando a semelhança do quadro descrito por você com centenas de outros casos observados por mim no curso de 32 anos de observação desses fenômenos e das muitas nuances que o envolvem. Receba meu carinho, e minhas orações para que Deus lhe dê sabedoria para tratar o assunto. Nele, em Quem todo aquele que a Ele pertence está salvo do diabo, pois, na Cruz todo escrito de dívida foi rasgado, e todo principado foi despojado e exposto ao desprezo, Caio 03/02/05