QUANDO O SEXO UNE NA MORTE

 

 

 

 

 

 

 

—– Original Message —–

From: QUANDO O SEXO UNE NA MORTE

To: [email protected]

Sent: Thursday, January 26, 2006 11:13 AM

Subject: DANDO UM BASTA NESSE CASAMENTO?

 

 

Olá, Rev. Caio,

 

Depois de navegar e ler ininterruptamente este site, resolvi lhe escrever e lhe pedir uma orientação/conselho/sugestão/opinião sobre meu casamento; pois, estou vivendo um dilema e não sei (ou talvez saiba) o que fazer.

 

Vou completar 40 anos, tenho 13 anos de casada, e nos primeiros 09 anos de meu casamento congregava no MIR, igreja do Paipóstolo Terra Nova.

 

Meu marido sempre bebeu muito, e vivia em farras-prostituição-adultério… E eu nunca consegui aceitar isso. Quando estava demais eu colocava ele na parede e pedia a separação, e ele me prometia mudar… Na igreja, meus líderes diziam para eu aceitar e orar-jejuar-pagar preço por ele; pois, um dia Deus mudaria o coração dele…

 

E eu esperei por isso durante todos esses anos… Até que em 2002, quando já não agüentava mais tanta traição, eu dei um basta…

 

Saí de onde morávamos, levando meus dois filhos, e dizendo a ele que vivesse a vida dele como bem entendesse.

 

Voltei para casa de meus pais; e com uma semana ele voltou querendo retornar ao nosso casamento…

 

… Já convertido, congregando em outra igreja, a IPDA, o senhor conhece?

 

Pois é, dei um tempo a ele, e vi que ele estava mesmo disposto a mudar. Então nós reatamos nosso relacionamento, só que eu no MIR e ele na IPDA.

 

E aí, pastorzinho, é que o bicho pegou!

 

Pois, começamos a nos desentender de verdade! Ele não aceitava a doutrina da igreja que eu congregava, pois a doutrina da IPDA é mais rígida e ele queria que eu seguisse essa doutrina.

 

Bem, pra encurtar um pouco, eu saí do MIR e fui para a IPDA com ele… Só que eu não conseguia aceitar as coisas que se pregava naquela igreja; e em 2004 literalmente saí daquela instituição-igreja; e até hoje sou considerada desviada da igreja. Mas estou vivendo em graça desde que conheci este site.

 

Bem, mas voltando ao meu casamento, em 2004 meu marido também saiu da igreja, e voltou a beber e ir às farras. Hoje não estou mais agüentando viver com ele. Esperei tanto tempo para ele mudar, que hoje eu estou cansada.

 

Cansada de dormir sozinha, e ele só chegar de madrugada, ou até mesmo no outro dia, completamente bêbado.

 

Cansada de nunca saber onde ele está; se está no trabalho, ou bebendo; pois, para ele não tem dia para começar a beber; qualquer dia é dia.

 

Cansada de resolver todos os problemas de família sozinha.

 

Cansada de estar sempre sozinha em tudo e em todas as ocasiões. Pois, ele não me acompanha para quase nada e sempre sai sozinho… Etc. e tal…

 

Cansada de tudo.

 

Enfim, estou resolvida a me separar e pedir o divórcio.

 

Mas, pastorzinho (pois, para mim o senhor é o meu pastor), também vou lhe dizer que eu o amo muito e sei que ele também me ama.

 

Me ama apesar de não saber viver de outra maneira.

 

Apesar de tudo isso nossa vida sexual é ótima. Na cama nós nos despimos de todos os problemas, e usufruímos do melhor; tanto eu quanto ele.

 

Posso lhe dizer que estou completamente satisfeita, tanto que nosso casamento vem se arrastando só por esse motivo. Só que hoje a mágoa que sinto dentro de mim está transbordando, e, às vezes, me pego querendo que ele não me toque.

 

A dor no meu peito está me sufocando; e não estou conseguindo mais aceitar essa vida.

 

O que eu faço?

 

Ele sabe que quero me separar, mas diz que não vai me deixar, que vai tentar mudar; mas eu já ouvi isso, eu sei que ele não vai mudar…

 

Agradeço desde já pela sua resposta, que aguardo com ansiedade. Um beijão.

 

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Resposta:

 

 

Minha querida irmã: Graça e Paz!

 

 

Somente hoje, dia 22 de março de 2007, é que sua carta me chegou aos olhos, nessa loteria de cartas que é o meu e-mail.

 

Quase sempre estou on-line, e as cartas vão entrando. Toda hora vou lá, dou uma checada, e tento manter as coisas sob controle. Mas se fico uns dias sem escrever, ou sem abrir o notebook, então entram milhares; e me fica impossível acompanhar.

 

Uma vez na semana vou atrás do que ficou muito para trás; e vou tentando responder como posso. Foi assim que achei a sua carta.

 

Provavelmente, dada a distancia no tempo e a angustia de então, esta carta seja para você como um carta de seu passado. Pois, possivelmente, você já tenha virado esta página.

 

Entretanto, como sei que um tempo depois da separação a pessoa comece a pensar se fez a coisa certa, decidi escrever para você.

 

Assim, escrevo tendo duas hipóteses em mente: a) você se separou e está vivendo algumas sérias questões; b) você não se separou, mas está ainda mais amarga… 

 

 

Você é caso feminino típico da mulher que tem muito prazer na cama, apesar do companheiro ser como o seu é; e só vir a dizer um ‘basta’ para a situação bem depois do aceitável; pois, prefere não perder a chance de ter prazer sexual, a ter uma solução que interrompa a cama com ‘aquele parceiro’ em particular.

 

Ou seja: você é altamente sexual na sua maneira de ver a vida conjugal. Para você, por anos, ter uma vida sexual intensa e livre com seu marido, e que lhe dava muito prazer, era muito mais importante do que ter o marido com e para você.

 

 

Ora, esse tipo de mulher, com esse fogo sexual, tende a confundir a química do sexo com amor.

 

Então, como os dois são sexualmente ultra-compatíveis, naturalmente se fundem de modo intenso na cama (por razões de natureza psicológica e até mesmo animal) — e, por tal razão, se vêem como pessoas que se amam; pois, pensam que porque dão tanto prazer um ao outro (mais do que com qualquer outra pessoa antes), isso seria um atestado de amor essencial.    

 

Também esse perfil de mulher tende a adiar para sempre a decisão de ficar livre daquilo lhe está matando; pois, teme que o pênis daquele homem seja a “pedra filosofal” da vida dela como mulher.

 

E assim a tristeza e a magoa apenas crescem…

 

Mas há um até que … em tudo.

 

 

Os homens, por seu turno, crêem, a maior parte deles, que se “comparecerem” todas as noites (não importando se na rua estejam também tendo um caso sexual), a esposa ficará tranqüila e satisfeita.

 

E quando entre eles existe química semelhante a que existe entre você e seu marido, a inevitável conclusão é aquela que faz a mulher dizer: “Esse desgraçado é um canalha. Não presta. Mas é com ele, só com ele, que eu consigo ter prazer. E ele sempre me diz que com ninguém mais é como é comigo!”.

 

Aí que o sujeito transa mais com a mulher, a fim de ter mais álibi para a sua infidelidade.

 

A maioria crê que mulher que é devidamente ‘procurada’ todos os dias, será sempre fiel.

 

A maioria crê que mulher que tem prazer em casa não o aceita na rua.

 

A maioria crê que mulher que tem sexo todo dia é capaz de segurar todas as ondas.

 

Pois, para o homem, a mágoa de uma mulher só começa mesmo quando ela não quer mais ser tocada, e quando pára de sentir prazer.

 

Então, lá vai o ‘apaixonado’ pela ilusão, ferindo-se e ferindo enquanto vai, sempre ‘amando muito’ para poder ter liberdade para fazer o que lhe é compulsivo… Longe de casa.

 

É claro que ele pode ter um encontro genuíno com Deus. Mas nem Paulo disse que diante dessa possibilidade se deveria aceitar o que não fosse digno (I Co 7).

 

Muita gente acha que a mulher tem o poder de agüentar isso. Muitos homens realmente acreditam que assim como eles teriam maior impulso sexual, do mesmo modo as mulheres teriam a capacidade de auto-satisfação e de autocontrole.

 

Tem gente que pensa que essa insatisfação feminina com um casamento unilateral é coisa moderna. Mas eles esquecem que toda mulher, em todas as épocas, amando o seu marido, sempre desejou ser a única, assim como os homens gostam e precisam sentirem-se os únicos na conjugalidade.

 

Tem gente que esquece que Sara ficou infeliz quando Abraão começou a gostar da escrava Hagar. Esquecem-se que Hagar também tinha coração e se envolvera. Esquecem-se que Lia era infeliz, e que nem a sua capacidade de dar filhos a Jacó lhe fez mais realizada do que Raquel. E esquecem-se de que Raquel também não era feliz com a situação. Também esquecem que Penina, mesmo dando filhos ao seu marido, não era feliz, pois, sabia que o coração do marido era de Ana.

 

Em todas as culturas polígamas da História o que se vê é adaptação, não escolha. Especialmente da mulher.

 

Para um homem entender isso só mesmo sendo capaz de inverter as coisas, pondo-se no lugar da mulher; ou, então, só se ele carregar uma galhada na cabeça. Do contrário, a maioria foge do discernimento desse desconforto das mulheres usando esse tal de direito masculino de ser infiel, se discretamente.

 

Assim, o que lhe digo é que você tem profunda atração sexual por ele; e que é em razão disso que você adia sua decisão de dignidade pessoal. Sim. Em razão desse “santo”.

 

Mas a alma tem limites!

 

Chega a hora em que a pessoa, forçada pela alma abusada, diz: “Nunca mais sinto isto na vida, mas não vou carregar essa morte apenas por prazer!”

 

Esse tipo de ‘amor’ em geral carrega o outro para o mesmo buraco!

 

E os dois vão se matando; e vão transando enquanto isto… Até que a alma diz “Basta!”

 

Além de tudo o que é problema numa relação assim, o que é o pior de tudo é que os dois vão contaminando um ao outro, até que ficam cínicos.

 

Desse ponto em diante eles se xingam, se batem, se esfolam, se ameaçam, mas não desistem; pois, fazem o teste sexual, e dão ‘prazer’ um ao outro.

 

Então a doença se instala. E um amor maldito se estabelece entre eles.

 

E pode ser que continuem juntos para sempre, sempre se fazendo mal. Depois de um tempo a mulher não agüenta e trai o seu algoz.

 

Aí… Pode ser que ela se vicie em procurar outros pra poder dizer para ele, sem que ele saiba a razão, que não outro como ele.

 

E assim o ciclo da morte gira sem parar em suas vidas, até o fim de ambos, em profunda amargura e ódio.  

 

Desse modo, sem saber se ajudo de algum modo, deixo essa descrição de possibilidades da alma, a fim de ver se hoje ainda lhe posso ser útil.

 

 

Nele, que nos chama à Verdade e à Vida Abundante,

 

 

Caio

 

22/03/07

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