Mensagem:
Querido Caio,
A carta abaixo foi escrita por um querido amigo que está passando pelas duvidas e dificuldades oriundas de um problema que ele próprio cita no corpo da carta.
Eu fiquei encarregado de enviar-lhe a mesma e acrescentar as minhas opiniões a respeito de tudo o que eu tenho visto no decorrer do tempo em que nos conhecemos.
Segue a carta dele e no final exponho o que penso.
Carta:
Caio,
Desculpa a intimidade, mas leio tanto seu site que me sinto de casa. Rsrs…
É um enorme prazer escrever pra você!
Tenho 25 anos e me converti com 17.
O que me leva a mandar esse e-mail é o problema de muitos homens que te escrevem: homossexualismo.
Seus artigos e respostas às cartas me ajudam bastante a começar a entender, mas ainda tenho muitas dúvidas.
Ate me converter eu não tinha muitos problemas (culpa, neuras…) com a questão.
Tinha inclusive um amigo da mesma idade e transamos dos nove anos até me converter. E aos treze tive um rolo com um amigo do meu pai que morava na minha casa.
Os relacionamentos que tinha nunca envolveram sentimento. Era sexo por sexo.
Porém, depois da minha conversão, cortei tudo e fiquei sete anos sem sexo, beijo e namoro… tanto com homem como com mulher… e durante esse tempo a culpa foi minha companheira, e pensei e repensei quais foram os motivos que me levaram a gostar de homem.
Quando criança (com seis anos, mais ou menos) gostava de ver a Playboy e me sentia excitado vendo mulheres nuas. Me lembro que me trancava no banheiro e deitava em cima de um pôster… quase do meu tamanho… simulando uma transa com a mulher da foto.
Fazia “sexo” com três primas minhas, sendo que uma delas foi até os 10 anos.
Depois disso, sexo só com homem. Cheguei a varias conclusões, que de uma forma inconsciente acho que acabaram guiando minha vida. Vou lhe contar algumas das conclusões:
1- Na minha casa minha mãe e irmãs sempre se trocaram e tomaram banho na minha frente; e quando me masturbava (as vezes até hoje) e ficava pensando em meninas… vinham à mente minhas irmãs e minha mãe nuas, e acho que isso me deu uma certa repulsa ao órgão feminino.
2- Eu era forçado por um primo mais velho a fazer certas brincadeiras e, com o tempo, fui gostando daquilo que não gostava. Nessa época alternava entre primo e primas.
3- Meu relacionamento com meu pai foi dos piores. Ele era tudo o que eu não queria ser. Eu o odiava e fazia questão de não gostar de tudo que ele gostava (mulheres talvez?), e até acho que seduzi o amigo dele (ele 45 e eu 13) como uma forma de afrontá-lo, (sem ele saber, lógico!). Na minha visão de criança, ser um homem representava ser igual ao meu pai. Quando comecei a ter barba eu entrei em desespero porque estava crescendo e me tornando um homem; ou seja, parecido com meu pai.
4- Cresci ouvindo minha mãe, tias, avó, amigas da minha mãe falando mal de homem… que homem é isso, que é aquilo… e nunca ouvindo uma razão que me parecesse boa para ter nascido homem.
HOMEM É UMA DESGRAÇA, por que eu gostaria de ser um?! Ser mulher é que era legal!
Uma vez eu li numa revista acerca do prazer de ser homem, e vi que isso é uma coisa que não sentia na infância.
5- Medo, insegurança, o mesmo sentimento de um rapaz que te escreveu falando que tinha lido num livro que umas das causas do homossexualismo era a fuga da competição com outros machos. Tenho um sentimento muito semelhante. No meu trabalho tem uma garota linda, linda mesmo, mas não me acho capaz de ter uma mulher daquela, não me acho homem o suficiente; e em razão disso, acho que preferi relações com homens.
Você diz que o que define um homossexual é ele se apaixonar por outro homem independentemente de ser ter sexo ou não. Eu já fiquei encantado por alguns homens, até cheguei a sofrer, mas o mesmo sentimento eu tive por uma garota quando eu tinha 20 anos.
Essa garota do meu trabalho, por exemplo, só de vê-la passando… eu fico feliz; gosto de apreciar sua beleza; ela é noiva e também gosto de olhar o noivo dela.
De uns tempos pra cá eu tenho estado mais confiante pra namorar uma garota, mas eu não quero estar andando de mãos dadas com ela e desejar um cara que está passando; não acho isso justo com a garota.
Hoje não tenho nenhum relacionamento, mas no ano passado eu resolvi sair com um cara… sete anos sem sexo foi algo cruel comigo… Eu não sou apto pra ser um eunuco por amor ao reino; acho essa condição muito injusta.
Eu não sei por quanto tempo vou conseguir ficar sem… E também eu fico na dúvida se realmente um dia vou me livrar disso… e se também eu quero me livrar disso.
Nunca transei com uma mulher de verdade pra fazer uma comparação.
Confuso, né? Bom, espero que você tenha compreendido as complexidades e os paradoxos da minha alma e essa mistura de sentimentos.
Um grande beijo.
Agora fala o amigo através de quem a certa acima me foi enviada, e, como ele disse, recebeu autorização do amigo para comentar comigo o que pensa:
Em primeiro lugar: Eu não o vejo como um homossexual e sim como alguém que devido às circunstâncias que estavam à sua volta, desde muito cedo teve como caminho quase que natural aquele que ele seguiu.
Na verdade eu fico pensando na seguinte equação: ele foi uma criança que teve como pai um homem totalmente falto de discernimento e com aquele já famoso espírito do “machão” constrangendo com palavras, brincadeiras e cobranças.
Ao mesmo tempo não havia, por assim disser, nenhuma conduta que o inspirasse a seguir aquele modelo.
Ao contrário: a única coisa que de certa forma ele podia sentir por um pai que bebia muito (morreu em decorrência de cirrose), tratava a mãe da pior forma possível (e ela foi quem sempre segurou a barra com os três filhos – pessoa fantástica) e em determinada época colocou até fogo na casa deles—era ódio, muito ódio.
O que eu acredito que ele fez, foi exatamente o contrário de tudo aquilo que o seu pai era, queria e odiava. Isso inclui a opção sexual.
Como já foi dito, foi a mãe quem criou e supriu as necessidades (pelo menos até onde ela podia) dele e das irmãs (duas, ele é o caçula). Portanto, ele foi criado por mulheres e não teve presente a figura do homem.
Caio, talvez eu não esteja conseguindo colocar no papel tudo aquilo que na minha cabeça eu enxergo a respeito dele mas acho que você já entendeu.
Como pessoa ele é ótimo. É um daqueles amigos que você coloca em uma galeria à parte e restrita. Tanto eu como minha esposa o amamos muito e queremos que ele seja feliz.
Outro dia enquanto conversávamos a respeito de suas dúvidas e inquietações, ele soltou essa: “Às vezes eu me pergunto: Será que eu nunca vou poder ser feliz, ter uma família?…”
Eu acho que vai poder sim! Ele nunca teve outra opção, sempre trilhou por um só caminho. Ele não tem antipatia por mulheres; pelo contrário, acho que só não sabe como começar, mas também não quer usar ninguém como experiência.
Bem, é isso.
Quando você puder responder, ele próprio vai ler o e-mail.
Por ora é isso. Que o Senhor continue te abençoando, guardando, dando sabedoria, e paz.
Amamos muito você!!!
Um grande beijo pra ti.
Minha resposta ao moço que escreveu a carta original com o fim de ser a mim encaminhada:
Querido amigo: Graça e Paz!
Sua analise acerca de você mesmo está certa, sendo possível que todo esse caldo histórico-psicológico possa ter “induzido” você a seguir pelo caminho da ambivalência sexual.
Portanto, admirei sua coragem de se auto-examinar na verdade; e também gostei do modo maduro como você expressou tal realidade, especialmente por não ter sentido em você nenhuma tentativa de autojustificação, mas apenas de admissão de um processo.
De fato, pode ter sido apenas pelas causas e circunstâncias já vistas e bem expressas por você mesmo que as coisas ficaram assim.
No entanto, conhecer a verdade acerca das coisas, não tem em si o poder de nos libertar, a menos que o queiramos. Na realidade, a ser verdadeira a sua impressão do desenvolvimento de sua própria sexualidade, tudo está explicado. Ora, tal fato, em si mesmo, já é metade de qualquer que seja a solução. Mas não é ainda a solução.
Você fez o diagnóstico, mas ficou na dúvida acerca do prognóstico, e até mesmo sobre se deseja ou não buscar mudar nessa área de sua vida.
“… não sei se quero…”, você disse.
Na minha maneira de ver, seu amigo está certo na avaliação que fez de seu autodiagnóstico. Todavia, como disse, saber não realiza nada sem o querer.
Sim, eu acho que você ficou viciado na referência sexual da infância, especialmente em razão das causas por você narradas. No entanto, sei também que isso se instalou em você como vício. Isso porque sua única outra relação sexual na infância com um adulto aconteceu também com um homem de meia-idade. Portanto, homem e adulto. Assim, ter relações sexuais adultas, inconscientemente, acontece com homem adulto — é como, inconscientemente, sua alma respondeu.
Esse, porém, é o seu condicionamento e vicio mental. Significando dizer que você se tornou condicionado pela homossexualidade, não sendo, todavia, gay.
“Preguiça existencial” é o que está presente em você; e isso é tipicamente infantil.
A barba cresceu e você se apavorou, pois, não queria crescer. No entanto, não sendo possível não crescer, você cresceu com o mínimo de esforço possível na área sexual, razão pela qual, ao invés de tentar com mulheres, se acomodou a um sentir sexual pelos homens. Afinal, esse, no seu caso, seria o caminho da pessoa que não quer crescer: a preguiça de ir à luta e se aventurar em si mesmo… e com as mulheres.
Você declarou como sua auto-imagem é baixa, fazendo com que você tema se arriscar… e partir pra cima da menina de seu trabalho.
Sim, dá trabalho!
Ora, a fim de livrar você desse trabalho, você mesmo já arranjou uma nobre desculpa: não quer andar de mãos dadas com uma namorada e sentir tesão pelos homens. Lindo! Nobre! Mas ainda é uma desculpa, dada dignamente com antecipação, a fim de que, por uma ética elevada, você não corra o risco de crescer se enfrentando.
Meu amigo, porventura estaria um heterossexual livre desse risco? Digo, de ir de mãos dadas com a namorada e sentir atração por uma garota que passe?
Ora, é claro que não; e nem por isso as pessoas deixam de namorar.
A questão é que você julga o desejo homossexual um desejo pior. Daí você não achar justo para a menina que você possa se sentir atraído por um homem enquanto passeia por com ela.
Mas você diria a mesma coisa se gostasse de uma menina, e, num passeio com ela, sentisse uma atração por uma garota que passasse?
Talvez sim! Mas lhe garanto que isso não faria você pensar em terminar o namoro.
Estranho… pois é exatamente a sua preferência homossexual o que faz você desejar uma saída, ao mesmo tempo em que é seu juízo sobre o homossexualismo aquilo que o impede de tentar sair. Digo isso porque você provavelmente não terminasse um namoro se sentisse atração por uma outra menina que passasse, mas ameaça a si mesmo com o juízo acerca de sua indignidade se o objeto da atração for um homem.
Portanto, até para você começar a ter coragem, você precisa estancar esse processo. Sim, você precisa saber que qualquer que seja a pulsão sexual, ela é apenas uma pulsão sexual; seja ela heterossexual ou homossexual.
Enquanto você não deixar toda pulsão estar debaixo da Graça do Cordeiro, as de natureza homossexual terão esse poder paralisante sobre você.
O que você deve fazer?
Ora, sua tarefa será comparável a de um cara que começa a esquiar na água. O sujeito começa com os dois pés. Só depois passa para um pé só. Do mesmo modo você terá que “sair da água” mesmo que seja com esses dois pés motivacionais (ambivalência sexual); e depois que tiver também provado ao esqui de sua heterossexualidade, conhecendo uma mulher, e a partir daí ir deixando o esqui da motivação homossexual… Visto que quando você tiver um pé no esqui da sua heterossexualidade, a outra motivação se desvanecerá, podendo, todavia, haver, de tempos em tempos, um impulso de natureza homossexual… mas logo se acalmará. Isso se você quiser.
Jesus perguntou ao homem do tanque de Batesda se ele queria “ser curado” apenas porque sem vontade ninguém é curado.
Seu grande problema, eu assim vejo, está na sua disposição ou não de entrar na peleja, sem medo, de alma aberta, correndo os riscos do “novo”; e, ao mesmo tempo, rompendo com velhos vícios, os quais se instalaram mais profundamente ainda em você em razão de sua preguiça quanto a se definir.
Não conheço você. Não sei se é bonito, feio, magro, baixo, charmoso ou um chato. Todavia, se levar em consideração a sua carta, direi que você me parece agradável. Portanto, não vejo razão para não estimular você a si considerar apto para ganhar essa menina de seu trabalho. Mas talvez dê trabalho; e, também, demande investimento e coragem. Creio, todavia, que se não for ela, poderá ser qualquer outra menina que lhe suscite atração gostosa, e que também tenha o potencial de estimular sua mente e coração.
Vejo também que provavelmente você “elegeu” uma menina tão “impossível” para se interessar apenas para que inconscientemente você tenha mais um álibi para não fazer nada. Afinal, ela é “in-alcançável”; diz você a si mesmo; sempre adiando o dia da decisão.
Não tenha medo. O medo apenas tira de você a energia criativa e construtiva.
Mas de uma coisa eu sei: você está longe de ser gay!
O resto é com você!
Receba meu carinho e orações!
Nele, em Quem ninguém tem que ter medo de buscar seu próprio ser,
Caio
Obs: Considere um privilégio ter como amigos o casal que me enviou esta carta. É raro ter amigos com o coração limpo como o deles no mundo da religião.