QUANTA VIDA JOGADA FORA…
—–Original Message—–
From: QUANTA VIDA JOGADA FORA…
Sent: domingo, 29 de fevereiro de 2004 01:24
To: [email protected]
Subject: ESTAVA TUDO ERRADO
Mensagem:
PASTOR Caio,
Sou sua conterrânea e me sinto muito feliz em ver o que Deus faz em sua vida.
Eu nasci na igreja, fui criada na igreja, estudei (seminário) pela igreja, trabalho na igreja, meus namorados foram da igreja,meu pai é pastor, meu tio é pastor; enfim, a igreja era o meu único mundo.
Aprendi bastante sobre o que é e o que não é pecado, o que pode e o que não pode, aprendi bem o que é carregar a culpa e não ter soluções.
Com 16 anos tive o meu primeiro namorado, e era tudo muito complicado, apesar do amor que sempre senti por ele. Complicado, pois, sempre deixei as pessoas na igreja controlarem a minha vida; pois de uma certa forma, sempre fui a “queridinha” de todos eles.
E aí…eu muito imatura e ele também, tivemos muitos problemas; namorávamos e terminávamos quase todos os dias. Ele me trocava por outra e eu voltava pra ele assim mesmo. E assim foi a nossa vida por mais de 12 anos.
Todo mundo se metendo, dando palpites, mandando “termina, agora pode voltar”.
Tínhamos muitas coisas em comum, inclusive uma vocação para o ministério. Então, apesar do nosso relacionamento, fomos enviados para o seminário por vontade própria, ainda bem novos. Até que um dia ele começou a ter um caso com uma mulher casada da igreja. Foi excluído e expulso do seminário, e eu quase morri de aneurexia.
Eu consegui terminar o seminário e comecei a trabalhar remunerada pela igreja e também a trabalhar como secretaria de um pastor de outra igreja.
Ele foi embora, se afastou da igreja, fez muitas coisas que para ele não foram boas, mas mesmo assim tentava se aproximar de mim; mas ai de mim se permitisse… e acabei acreditando que era o melhor a fazer.
O tempo passou e fiquei cada vez mais doente…
Ele conheceu uma moça, e em meses casou-se, e logo depois teve um filho.
Até que um dia ele voltou e “enfrentou a mim”, a minha família e “a igreja”, dizendo que tinha se separado e que me amava.
Foi um bafafá!!!
Eu o amava e depois de lutar comigo mesma, resolvi enfrentar tudo e todos. Foi muito difícil vencer os preconceitos e a mim mesma. Ficamos durante um ano, orando, reconstruindo, ou melhor, recomeçando.
Nesse período ele começou a me ajudar no meu trabalho na igreja e a se envolver de novo, apesar dos boicotes que “nós” tivemos.
Ele me mostrou como a graça que o “Caio” vive e prega tinha mudado a sua vida. Começamos a conversar sobre muitos assuntos, como dízimo, pecado, sexo, bebidas, etc, coisas que sempre fui ensinada, até no seminário, a ter respostas certas para tais questões.
Eu era muito legalista, mas não sabia que era.
Hoje tudo mudou!
Estou sendo alcançada pela graça do nosso Deus a cada dia. De uma certa forma, ele me ensinou o caminho da graça e eu o encontrei. Ainda tenho muitas crises, acho que vc sabe como é a vida nos bastidores da igreja, principalmente de uma secretária de Pastor, funcionária e ministra na igreja.
Romper com algumas coisas é quase como assinar uma sentença de morte.
Mas então, resolvemos neste meio tempo nos casar e tudo estava indo muito bem.
Até que ele viajou pra assinar os papéis do divórcio. Quando voltou, “todos” estavam vibrando com as notícias sobre o divórcio. Passados alguns dias de sua volta ele começou a ficar muito nervoso e a querer jogar tudo pro alto, dizendo que não suportava os bastidores hipócritas da igreja.
Sofri em silêncio, esperando, conversando, até que um dia eu soube que ele estava sendo ameaçado pela ex-mulher, pois quando foi assinar o divórcio, dormiu com ela todos os dias, e agora ela estava grávida.
Como???? Ele dizia que me amava! Ela ligou pro pastor e pra mim e contou tudo, ameaçando fazer um 2° aborto.
Eu o procurei…e ele fria e simplesmente confirmou tudo.
Depois disso, praticamente não conversamos mais. O pastor achou que a melhor forma de resolver tudo era mandando ele sumir de novo da igreja e da minha vida…
Eu continuo engolindo muitos desaforos, tipo: não te avisei? Foi se envolver com aquele doente!
Agora ele se afastou completamente, está revoltado com tudo e com todos e eu continuo sofrendo em silêncio.
Sinto-me morta e sem vida por dentro. Acho que estou fisicamente doente novamente. Continuo indo à igreja, como por obrigação. Todo mundo me fala: viu o livramento de Deus????
É só isso, pastor Caio????
O que aconteceu com minha vida nesses 17 anos?
O que é realmente importante pra nós???
As respostas que os cristãos dão, são sempre tão exatas???
Me sinto confusa, magoada, invadida, mas não consigo odiar a quem tanto me feriu.
Odeio os legalistas que vivem me rodeando!
Mas no que me resta, só consigo acreditar que pra Deus e na sua eterna graça, exista uma luz no fim de tudo isso.
Não sei se vou conseguir amar novamente; ele já está com outra; mas mesmo assim, não consigo odiá-lo.
Mas me sinto só e confusa. Incapaz de ser feliz!
Já não sei se a vida que levo, foi o melhor caminho pra mim. Acho que sou medíocre em viver de coisas nas quais não acredito mais, não tenho certezas, pois algumas coisas na igreja me enojam.
Fico me perguntando sobre como devo agir agora que tantas coisas mudaram em relação a forma de ver a igreja, ministério e, principalmente, DEUS: ao mesmo tempo, me sinto livre; mas ainda estou aprisionada.
O que fazer com tanta dor em relação a tudo que passei com ele?
O meu pastor me perguntou: Você por acaso ainda pensa nele?
É claro que sim, que eu penso e sofro por ele. Não sou um boneco de pilhas que desligam o botão quando querem!!!!
Pastor Caio, me perdoe por ser tão longa, mas só hoje tive coragem pra lhe falar. Se não puder me responder, eu vou entender.
Desde já agradeço sua atenção e sinceramente desejo que seu ministério e sua vida continuem sendo inspiração para aqueles que ainda podem ser inspirados pelo que a graça de Deus faz.
Com carinho,
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Resposta:
Minha querida conterrânea: Que o amor de Deus banhe a sua alma!
Primeiro quero agradecer pelo carinho e pela confiança. E desejo ser bem simples e pratico em tudo o que lhe vier a dizer.
Há dores que fazem até um amazonense não querer comer nem mesmo uma caldeirada de Tucunaré.
Acerca do amor. Numa hora dessa uma das maiores agonias é ter que explicar para as pessoas porque a gente ainda ama a quem todos dizem que não deveríamos amar. Não aceite nenhuma obrigação de odiar. Tal mandamento vem do diabo. Ainda que todos os crentes do mundo a culpem por “querer bem a ele”, aceite o vitupério, e honre a Deus com a verdade de sua alma.
Outra opressão será a que virá se eles souberem que você ainda o ama. Não podem saber. Se souberem eles classificarão você como “doente”; ao mesmo tempo em que a verão como uma filha do pecado, uma mulher presa a uma paixão…
Prepare-se também para a tirania de “um novo relacionamento”. Todos desejarão ver você “curada”, e o sinal por excelência de tal sanidade será o imediato ou não tão longo tempo para o re-início de uma outra relação, ou amor…
Eu nunca entendi porque as pessoas fazem tanta força para que outras pessoas arranjem sempre um par conjugal. E quando é o caso de uma mulher que padece de amor e que não seja feia…todos se sentem no compromisso de “curá-la” logo.
Parece até que tais sentimentos incomodam a todos. Eles se apresentam como absolutos, e isto relativiza ainda mais os poeiris sentimentos que unem as pessoas.
Então, nem odeie…e nem brigue contra o amor. Apenas não se deixe amargurar pelo sentimento. Se é um sentimento verdadeiro, que ele exista com doçura, não com amargura…até que assim seja ou deixe de ser.
Deus mesmo mostrará a você qual será o caminho.
O trágico de tudo isto é que me parece que o rapaz gosta de você, mas não teve nem paz interior e nem circunstancial para estar com você.
Isto acontece toda hora. E quando acontece, o grande problema é que não “desacontece” apenas porque a razão ordena. Então, separados…eles vão…mas sofrem enquanto caminham…pois muitas vezes o coração é muito maior que a razão.
Nas circunstâncias atuais eu acho que você deve ser cautelosa. Não deixe que sua compreensão da Graça a torne intolerante. É justamente o contrário: a Graça nos faz misericordiosos.
Por outro lado, sinceramente, se você tiver alguma chance de conseguir um trabalho fora da igreja, muito melhor será para você. Com suas qualificações creio que você tem boas chances de conseguir.
Sair desse circulo vicioso é fundamental. Será importante até para você conseguir romancear outra vez a sua alma com a “igreja”. A grande maioria das pessoas que trabalham dentro da “igreja”, como funcionárias, em geral perdem a alegria de cultuar a Deus, e a pureza de servir os irmãos.
Você está precisando se afastar desse “crik-crik” da “igreja” a fim de poder ter prazer na Igreja, nos irmãos.
Quanto à sua nova vida—sim, porque você está a caminho de encontrá-la—, não deixe que haja nela qualquer tipo de invasividade…de ninguém…nem da família, nem da igreja, nem dos amigos, nem dos pastores. Você é adulta. Chega de tutela.
Os irmãos não avaliam como as interferências deles são danosas e profundamente perturbadoras…na maioria esmagadora das vezes.
Jesus disse: “A minha vida, ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou; tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la; esse mandato recebi de meu Pai”.
Bem, eu não tenho poder de reaver a minha vida, mas recebi de Deus o mandato de decidir como entregá-la; e para quem, e também para o quê entregá-la.
Portanto, é prerrogativa sua viver a sua vida. Não deixe que ninguém a decida por você; pois, isto apenas gera muita mágoa e amargura no final da vida.
Você perguntou se era só isto? Se a vida tem que ser assim, sem graça; passada e decidida pelos humores e caprichos dos que não cuidam de como nos sentimos e nem de como é a nossa vida. Perguntou também por que os últimos 16 ou 17 anos de sua vida tinham sido tão “medíocres”… e para que teriam eles servido.
Ora, eu quero responder as suas perguntas com uma única resposta:
Tudo aconteceu assim para que hoje, iluminada pela luz da Graça de Jesus, você possa crescer, e conhecer ainda nesta vida as dimensões mais impensáveis do amor de Deus, que excede a todo entendimento.
Isto não é “clichê”. É verdade!
Deixe todas essas coisas se acalmarem em você. Você não tem obrigação de resolvê-las. Não há pressa. O tempo está do seu lado…
Não brigue contra e nem a favor de nada. Aquiete-se!
Entregue seu amor a Deus, e não se preocupe mais com ele. Deixe-o quieto. Calmo. Irreflexivo. Mudo. Livre. Aberto para Deus. Grato por existir. Disponível para ser…ou deixar de ser…ou até virar outra coisa.
Peça a Deus que a ajude a encontrar alguns poucos amigos. Quem sabe alguns deles nem da “igreja” serão. Quem sabe? Se forem, o importante não é que sejam da “igreja”, mas sim que sejam gente boa de Deus. Diga a tais amigos que você não está aberta para “catequeses” ou para qualquer “opressão” de opiniões que eles tenham. Se eles forem sinceros e verdadeiros eles aceitarão os seus termos. Ter amigos assim é mais que importante.
Por último gostaria de dizer que sinto que sua alma precisa escrever. Escreva. Crie seus salmos. Registre seus sentimentos. Esvazie seu coração em prosa e versos…se necessário chore…mas não chore demais. Chorar demais pode viciar a alma.
Continue a ler o site. Sei que aqui haverá bom alimento para o seu coração.
Ah, só mais uma coisa: não se compare com ninguém; e não aceite que ninguém dite a você o que é ser feliz.
Nele você irá descobrir,
Caio