Pr.Caio,
Tenho uma trajetória até bonita no evangelho. Batizei-me aos 12 anos de idade; o primeiro batismo que presenciei foi o meu; e ainda nada conhecia a respeito de Deus quando isto aconteceu.
Ainda bem jovem me aproximei mais da igreja, pois adorava contar durante os cultos. Me converti nas assembléia de Deus, e, sinceramente, acho uma igreja difícil de se congregar. Hoje penso muito a esse respeito.
Durante a minha vida adulta me preocupei muito com os cultos, principalmente as escolas dominicais. Percebia que as pessoas que ensinavam a bíblia, pouco ou quase nada sabiam para passar às outras, principalmente as que ali estavam com sinceridade.
Por isso, não sei se conhece, mas fiz um curso chamado ETADDE, que dura aproximadamente três anos. Nada com profundidade, mas que dá uma luzinha teológica às pessoas que querem aprender um pouquinho a respeito de Deus.
Por um lado achei legal e por outro percebi que era um curso voltado para os dogmas da igreja que eu congregava; e que defendia o tempo todo suas “doutrinas” baseadas nos usos e costumes que a assembléia acredita como regra de fé.
Então preferi ingressar-me num seminário de costumes batista tradicional, principalmente porque era o seminário mais renomado do meu Estado. Isso na época me ajudou a escolher, a optar; pois, como todos os jovens, eu também queria me auto-afirmar.
Li a Bíblia algumas vezes e fui descobrindo aos poucos quem de fato Deus é.
Hoje posso dizer que Ele se fez conhecido para mim. Tenho assim como todos os problemas e limitações que perturbam os humanos, mas, confesso sinceramente, que não tenho dificuldade em entender a palavra de Deus no que é necessário à sobrevivência espiritual.
Meus pais são da Assembléia de Deus e sempre que têm oportunidades, dizem que sou liberal por pensar e defender a Bíblia fora dos “dogmas” da igreja, o que acredito ser uma “santa” heresia, reprovada pela palavra de Deus.
Não tenho dificuldade em congregar em qualquer igreja, pois reconheço que em Jesus as igrejas se desfazem e cedem lugar para a vida em Graça, sob o domínio do Espírito Santo, pois isso depende de cada um de nós.
Todavia, é difícil conviver com pessoas que estão bitoladas com aparência, uso e costumes, e roupagem que maquiam o cristianismo.
Mas como disse Paulo, o apóstolo: temos que suportar os irmãos mais fracos.
No seminário havia um pastor… , um recém-formado em psicologia… na minha concepção a maior autoridade daquela faculdade…, quando o assunto era a Bíblia, em sua humildade ele era claro em dizer que dominava certos assuntos… e isso me fazia confiar ainda mais nos seus argumentos durante suas aulas.
Um certo dia meu amigo e eu fizemos menção ao seu nome, Caio, e sobre os seus livros e mensagens, pois o acompanhávamos com muito entusiasmados, e apreciávamos suas mensagens nos finais de semana através da TV…. O pastor ao qual fiz referência respondeu-nos com a seguinte frase: “Caio Fábio é um fenômeno, literalmente. Ele consegue falar sobre todos assuntos com tanta propriedade que ele parece ser medico, engenheiro, psicólogo, arqueólogo etc-; menos um teólogo, porque teólogo gosta de enrolar; mas ele é direto e objetivo, e alcança desde o gari que limpa as nossas ruas até o juiz que interpreta os nossos códigos de leis. Há pessoas a quem Deus deu a graça sem medida; e ele é exemplo disso”. E brincou: “Eu não consigo alcançá-lo… Mas, sinceramente, fico feliz por ver Deus usar um homem com tanta propriedade”.
Esse mesmo pastor, que tanto respeitamos, um dia abordou a questão do homossexualismo em uma de suas e aula e afirmou que na universidade federal do nosso Estado, os pesquisadores defendiam o assunto tendendo a dizer que os gays não eram responsáveis por sua escolha sexual.
É justamente aqui que residi a grande questão: se os gays não são responsáveis pelos seus atos, e estou me referindo a sua opção sexual, quem seriam os responsáveis?
Seria Deus?
Como se não bastasse, conheço alguns gays que afirmam que nasceram assim. Aqui no meu bairro há alguns anos tinha um menino com aproximadamente 5 anos que parecia ser gay… e recentemente, tivemos noticia que realmente ele é gay.
Caio, sei que Deus não nos dá todas as respostas que precisamos; às vezes acho que Ele “pensa” que seria muito para nós… mas você teria alguma explicação plausível para esse assunto?
Gostaria, sinceramente que você me respondesse essa questão…
Um forte abraço, de seu irmão e amigo que muito te admira!
Graça e Paz.
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Resposta:
Meu amigo querido: Graça e Paz!
O Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo por todos os desvios ou anomalias da criação, não importando a natureza da anomalia.
Foi por isto que Jesus disse acerca do cego de nascença: “Nem ele pecou, nem tampouco seus pais, mas sim para que nele se manifestem as obras de Deus”.
Ora, naquele caso, Ele “curou’ o enfermo; mas em bilhões de outros casos, Ele tão somente usa o fluxo ‘anômalo’ a fim de fazer Sua obra mediante aquilo que para os ‘normais’ parece ser inconcebível.
Quando Jó fez perguntas aos céus, Deus lhe respondeu do meio de um redemoinho, e não disse ‘nada’ que respondesse a Jó. Deus apenas mostrou a ele que o que ele não conhecia equivalia a praticamente tudo o que ele aceitava todos os dias sem questões.
“Onde estavas tu?”… era a questão de Deus, a qual sempre se fazia acompanhar de mais questões acerca do que Jó nada sabia.
Assim, lhe digo: ninguém é responsável por nada e todo mundo é responsável por alguma coisa!
E mais: dentro de cada situação condicionante desta vida, cada um dos envolvidos sabe, em tais circunstâncias, o que é o seu melhor…, mesmo quando nasce gay.
No mais, meu amigo, é saber que Deus é bom e é amor, e que Ele não pede de ninguém o que Ele mesmo não tenha dado. Visto que cada um será perguntado —segundo a parábola dos talentos— acerca do que recebeu, não do que não recebeu.
Paulo fala do dia “quando os segredos dos corações serão abertos”; e ele faz isso com tom de positividade acerca de muitos e muitos da humanidade cujo ‘destino’ não é tão ‘alvissareiro’ do ponto de vista da “igreja”.
Jesus disse que é para não julgar os homens. Ora, se é assim com os homens, que não dizer do juízo do homem feito a Deus?
De minha parte, estou tranqüilo. Sim, creio que Deus é amor porque ama a todos; e não que Ele é amor porque ama apenas a mim e os parecidos comigo…, enquanto odeia a outros… os distantes e diferentes.
Quero, todavia, com todo amor, dizer que sua preocupação ainda carrega o vício dos usos e costumes, embora não se preocupa com as roupas de ninguém, mas ainda se aflige com a ‘roupagem de gênero’ ou de ‘tendência sexual’… o que revela ainda aquele sentir que olha para um gay, e diz: “Pobre coitado!”
Um gay não é nem mais e nem menos responsável por si mesmo do que eu ou você somos por nós mesmos!
O que nós fazemos com nossa liberdade é algo tanto mais sério quanto menos dificuldades a gente tenha para realizar o que nos foi dado ser.
Portanto, uma pessoa com qualquer que seja a anomalia ou dificuldade, será sempre julgada com muito menos rigor do que aquela que teve tudo ‘de mão beijada’ e, ainda assim, fez mau uso de seu potencial… ou, conforme a parábola dos talentos, usou-a com total atitude de omissão: aquela que ‘esconde’ ou ‘enterra’ o que recebeu.
Portanto, o livre arbítrio só concerne a mim e ao que farei com o que tenho e sou. Quanto aos outros, são todos filhos amados do Pai, e Ele sabe o que deu e o que pede de cada um.
Diante de Deus, cada um é cada um!
Receba todo meu carinho, amizade e amor no Senhor!
Beijão para você!
Nele, em Quem cada um é objeto de amor singular,
Caio