QUERO SERVIR A DEUS, MAS TENHO MUITAS FRAQUEZAS
—-Original Message—–
From: Quero servir a Deus, mas tenho umas fraquezas!!!
To: contato
Subject: Aconselho casais, mas dou umas caídas…
Mensagem:
Reverendo, que a graça de nosso Senhor e Salvador esteja sobre você nesta hora e em todo o tempo.
Tenho mais de trinta anos, sou seminarista e encontrei Jesus em uma reunião há muito tempo atrás.
Há quase quatro anos tenho sentido uma grande necessidade de servir ao Senhor Jesus com mais força e intensidade. Algo que queima dentro de mim.
Às vezes sinto uma tristeza muito grande, pois não consegui até o momento servir a Deus de todo o meu coração.
Faço Teologia em um seminário de Manaus. Sonho com o ministério pastoral. Muitas pessoas chegam a dizer que eu tenho esse chamado de Deus. Trabalhei em algumas igrejas, inclusive com casais, jovens e adultos. Hoje estou sem ministério. Sinto muita falta de estar perto do fogo vivo. Ao ver algum pastor pregando eu me entristeço, pois não estou lá.
Sou muito falho, tenho lutado para mudar meu jeito de agir…
Tenho muita facilidade em orientar casais, ironia do destino, pois a minha maior luta é contra esse inimigo chamado “adultério”.
Um dia confessei a minha esposa lhe pedi perdão. Ela me perdoou, e tem me amado cada vez mais. Mas não estou totalmente curado, pois a cada dia é um novo desafio.
Reverendo quando penso em abandonar a idéia do chamado de Deus para minha vida sinto uma tristeza muito grande. Quando pensa em sair do seminário me desespero. Eu sinto que preciso servir ao Senhor no “campo”, mas não consigo romper.
Ouvi várias vezes meu ex-pastor dizer que eu precisava “romper”—largar tudo e ir. Mas não consegui ainda.
Reverendo eu sinto no fundo do coração o desejo de servir ao Senhor Jesus com força, já até pensei em largar meu trabalho secular e trabalhar somente na obra.
Mas como lhe falei, hoje estou sem ministério, sem igreja…
Eu preciso me encontrar. Por favor me ajude. Sei que o senhor é um homem de Deus. Por isso ore por mim para que Deus mostre o Seu querer para minha vida.
Várias vezes já disse a Ele que a minha vida pertence a Ele, mas ainda não tive resposta. Eu não quero afrontar à Deus, mas Ele não tem me respondido.
Por favor me ajude. Tenho filhos amados entre 4 e 12 anos de idade. E minha esposa é uma benção dada por Deus, louvo a Deus por isso.
Por favor me responda.
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Resposta:
Meu amado irmão: Graça e Paz!
Li sua Carta com toda atenção e carinho.
O que tenho a dizer a você é simples, porém de coração.
Falo como seu irmão em Cristo, como homem e como Amazonense, como você.
Como seu mano em Cristo digo o seguinte:
1. Faça seu seminário. Já vi que você gosta. E se gosta e instrui você, será bom.
2. Não associe “ministério” à profissão pastoral. Esse é um terrível laço e engano. No que me diz respeito, sempre que vejo alguém com seus “ardores”, e, ao mesmo tempo, sofrendo dessa tendência de pensar que “servir a Deus” é um “ofício” que tem numa “organização” a sua validação e seu único veio de expressão, sofro e faço o possível para dissuadir a pessoa acerca desse equivoco.
3. Esse “encurralamento” do ministério ao “púlpito” e às “posições oficialmente designadas pelo homem” é uma invenção da “religião”, e que no cristianismo é filha do Imperador Constantino. No Corpo de Cristo há dons e ministérios, mas não se trata de uma “organização”, mas sim de um “organismo vivo”, onde cada parte vive seu próprio dom na Graça, e sem necessidade de nenhuma validação que não seja a do amor e a do serviço genuíno a Deus e ao próximo.
4. Assim, como disse Wesley, “mundo passa a ser a paróquia”, e o ministério nada mais é que a vida, o encontro com o próximo, e se expressa como encontro entre as pessoas no mundo—ou seja: na vida.
5. Transformar o “ministério” nesse aquário “pastoral” tem feito muito mal à Igreja, pois, entre outras coisas é daí que nasceu a “igreja”. Ou seja: o que era Corpo e Organismo, virou Estrutura e Organização.
6. E só mais uma coisa: esse negócio de ver alguém no púlpito e desejar estar no lugar dele, não é sadio. Se Deus deu a você uma palavra e colocou sobre você certos dons; exerça-os, pois, ninguém pode impedi-lo, e nada poderá abafar a realidade daquilo que é genuíno e verdadeiro. Nunca deseje ser o outro, ou estar no lugar dele.
7. Esse “ministério de aconselhamento de casais” pode ser um desgraça quando o sujeito vive o tipo de fraqueza que você diz experimentar. Por que? Ora, você fica sabendo das “vulnerabilidades” de todos os homens e das “vontades” de todas as mulheres. E, muitas delas, passam a olhar para o “conselheiro” como o cara que “sabe das coisas”, e que, eventualmente, teria o potencial de dar uma “aula prática”. Sem falar que muitos “conselheiros” ficam pensando em dar umas “praticadas” para ver se estão com o “dever de casa” com possibilidade de “atualização” fora de casa. Portanto, se tua mão, pé, olho, ou qualquer outra parte de teu corpo te faz “tropeçar”, elimina-o de ti—pelo menos até que tua alma fique mais firme e segura.
Como homem quero lhe dizer o seguinte:
1. Faça tudo o que você puder para ter seu próprio dinheiro a fim de sustentar a sua própria casa, sem jamais depender dos “humores da religião”.
2. Sua família terá mais liberdade. E você não sofrerá a tentação de barganhar a Palavra a fim de agradar aos escribas, anciãos do templo, fariseus, saduceus, e demais executivos da “igreja”.
Como homem amazonense quero dizer o seguinte:
1. Você e eu sabemos como as coisas por aí são “brabas” nessa área das mulheres. Manaus é um dos lugares onde o sexo se expressa com mais agressividade que eu conheço.
2. O que você está me dizendo é o que vi, vejo e conheci desde menino “aí”.
3. E os pastores locais sabem o nível de assédio que há na “cultura” da cidade.
4. O caldo cultural é algo muito forte. Quase todo amazonense se acostumou a ter uma mulher de quebra. E, entre as mulheres, a coisa é mais ou menos natural. Elas também pulam a cerca com muita tranqüilidade. Tanto as solteiras quanto as casadas. Você sabe que não exagero.
5. Por isso, se puder lhe dar um conselho, digo-lhe o seguinte: se você ama sua esposa, foque seu carinho todo nela.
6. E saiba o seguinte: quando a gente vive numa “cultura” como essa, algumas das coisas que se tornam naturais, acabam também se tornando parte de nossa “insegurança” quando nós não as praticamos. Ou seja: todo mundo faz, por que apenas não eu? Ora, isso gera uma insegurança latente, e que vem como elemento de estranha diferenciação da gente em relação à “normalidade do todo”—ou seja: dos demais.
7. Por isso, saiba: se você ama a sua mulher, mais pratica esse “esporte”, isso nada mais é que profunda insegurança. A alternativa não parece ser o caso: você não amar a sua esposa. Sinto que você a ama mesmo. Então, pare com isso logo, pois, pode ser que ela canse. E você tanto não quer perdê-la, como também não quer magoá-la. Sem falar que parte de sua “perdição” existencial—essa indefinição da qual você falou—vem dessa irresolução de alma que você vem experimentando. Não dá para almejar o que você almeja e viver como você vive. O coração se divide mesmo, e a gente sofre.
Por isso, meu amado: sirva a Deus, pratique seus dons, cresça em conhecimento, ame sua esposa, crie seus filhos, aproveite as oportunidades de ministério, cresça em sua profissão, e não fique nunca dependente dos homens—especialmente no ministério.
E deixe os “aconselhamentos de casais” para quando você estiver mais “resolvido”. Pode ser que você goste justamente porque isso seduz você. Então, pare.
Por último, rompa com esse desejo de “romper”. Não há vida secular e vida sagrada. Em Cristo a vida é uma só.
Portanto, caminhe com firmeza. Um dia depois do outro. E com paz no coração.
Ninguém precisa anunciar o verão nem o inverno. A gente os sente. Eles falam de si mesmos.
Assim são os dons de Deus. Quando eles existem, eles sempre aparecem.
Um beijão,
Caio