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From: QUISERAM ME “LIBERTAR” DA LIBERDADE EM CRISTO
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Sent: Wednesday, August 30, 2006 5:22 PM
Subject: Cura e libertação. O que houve realmente?
Caro Pastor Caio: Graça e Paz!
Em primeiro lugar, apresento-me: tenho 40 anos e 6 anos de fé.
Conheci você pelo seu site, que uma pessoa um dia me indicou; e Glória a Deus por isso!
Não tive o prazer de conhecê-lo antes, mas soube que você é uma figura bastante conhecida nos meios evangélicos; e, se me permite dizer, bastante controvertida… rs… Mas nosso Mestre também o foi, não é mesmo? Tenho certeza de que isso não o afeta.
Há tempos tenho vontade de escrever, mas a princípio tinha tantas dúvidas com tudo que lia em seu site que nem sequer sabia COMO colocar; ou o que escrever…
Minha caminhada no evangelho foi como a da maioria das pessoas, acho eu. Ou seja: converti-me um dia, após muitas lutas interiores, depois de ter-me aventurado por tantas crenças, tantas filosofias, tantas fortalezas humanas; passando pelo catolicismo ingênuo dos meus pais, depois pelo catolicismo engajado da teologia da libertação, com as lutas políticas durante a ditadura militar, as CEBs, a militância político-social… Enfim… Até um dia encontrar Jesus, meu único Senhor e Salvador.
Ele pegou-me ao colo, curou minhas feridas, consolou minhas dores e mostrou-me que nada pode ser encontrado ou construído sem amor. E o amor de Deus preencheu realmente aquele vazio persistente na minha alma, meu espírito, meu coração.
Ah… o primeiro amor… Sei que você sabe do que estou falando… Claro… A delícia suprema deste amor sem mácula, incondicional e perfeito!
Mas, como já deve imaginar, veio a Lei. Veio a intolerância. Vieram as acusações. E a CULPA.
Puxa… Como sofri pelas minhas culpas… Eram tantas que um amigo psicólogo e agnóstico, um dia me disse que eu era uma grande presunçosa por me sentir culpada por tudo e por todos, como se eu fosse o centro do Universo.
Mas… Como podia me sentir digna? Como podia aspirar à salvação com estes pensamentos tão contraditórios, tão diferentes dos meus irmãos, tão rebeldes… E essa mania que eu tenho de pensar e pensar… Usar meu cérebro, quando o que devia fazer era apenas aceitar. Uma “neófita” na Fé, cheirando a pecado ainda… Como poderia ousar discordar ou questionar?
Ah Caio, quanta tristeza… Amo tanto a Deus, mas como poderia Ele me amar desse jeito? Pensava até que, talvez, Ele nem tivesse me chamado realmente.
Enfim… Sentia-me muito “aquém” da tarefa… Ela parecia simplesmente uma missão impossível… Literalmente. Pelo menos, para mim.
Quando conheci seu site, foi numa fase muito difícil da minha vida (numa delas, já que enfrentei e enfrento várias). E não entendia quando você dizia pra LER novamente o Evangelho, todinho,
sozinha. Você não dava receita nenhuma. Só dizia pra ler com o Espírito…
Ai… Que espírito?
O Espírito, segundo me diziam, devia ficar muito pouco comigo, já que toda vez que eu pecava Ele se afastava… Sendo assim, Ele jamais ficava mais que alguns momentos comigo.
Ah, mas sou realmente persistente. (Talvez resquícios da minha vida de militante, naquela anacrônica esquerda dos anos 70…).
Li reli e reli os evangelhos… E as cartas de Paulo… Foi um longo processo. Minha mente, prejudicada pela “intelectualidade”, pelas filosofias, sociologias e outras “ias” — não captava aquilo que, afinal, era tão simples… Simples como Ele foi… Simples e verdadeiro.
Afinal, um dia, lendo Efésios, sabe-se lá em qual das trocentas vezes, algo aconteceu e tive meu “eureca”!
” Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, – pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar-nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a
suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”
Amém e amém!
Glórias a Deus!
Caio, o que vi naquela hora só pode ser descrito em uma palavra apenas: LIBERDADE!
Ou seja: sou LIVRE, porque Jesus morreu. Sou livre, porque Ele me escolheu, porque me ama; só por isso, não porque mereça, não porque vá merecer um dia, não porque seja capaz de merecer: “… não de obras, para que ninguém se glorie”.
Não há NADA que alguém como eu, simples criatura, envolvida na carne, possa pretender fazer para merecer esse amor. Assim, Ele me amou, Ele me ama como sou, como fui e, inclusive, como Ele sabe que ainda vou ser; já que é onisciente.
Negar esta verdade é negar o sacrifício de Jesus na cruz. É torná-lo inócuo e irrelevante esperar que o homem salve-se a si mesmo por suas obras e observância das leis.
Bem, desculpe ser me alonguei tanto nisso, mas falar nesse dia, o mais importante da minha vida, o dia da minha segunda e melhor conversão, é, para mim, especialmente agradável.
A partir de então ler o Evangelho foi maravilhoso, descobrindo mais e mais do que hoje sei que é o Pacto da Graça de Deus; o último e mais perfeito Pacto de Deus com o homem.
Minha vida mudou desde então.
Não exatamente as lutas e circunstâncias que enfrentava e ainda enfrento, mas EU mudei, meu coração mudou e passei a descansar NELE. Minha angústia e minha depressão se foram, e encontrei realmente o verdadeiro sentido de AMAR sempre; amar a todos, incondicionalmente.
Ah! Tivesse eu descoberto tudo isto antes e tanto sofrimento teria sido evitado… Mas tudo bem, creio que tudo se dá no tempo DELE.
Se tudo ficasse assim, esta seria apenas uma carta venturosa. Porém, algo aconteceu comigo recentemente. É preciso que eu diga antes algo sobre minha vida. Como já falei, tenho enfrentado muitas lutas. Moro numa cidade pequena, onde sou conhecida e congrego num ministério bem visível aqui. Tenho alguns motivos para congregar lá, por ser um ministério que tem um chamado para os jovens perdidos, drogados, desiludidos desta geração herdeira dos nossos
descalabros, fator à que sou especialmente sensível, pois enfrento problemas nesta área com meus filhos adolescentes, além de trabalhar com os jovens na minha vida profissional. Assim, fiquei dentro da Igreja, guardando pra mim meu tesouro, a Graça; aproveitando nela, na igreja, apenas coisas que vêm da Graça,
mesmo que involuntariamente; e não dando ouvidos quando a lei se manifesta; afinal, pensava ter adquirido critérios para distinguir o que é Graça e o que é Lei.
Porém, sabedora dos problemas que enfrento numa cidade onde tudo se sabe, a direção da Igreja preocupou-se muito com tudo isso, e passou a tentar me assessorar, por assim dizer, no que sou até muito grata, já que corpo cura corpo, não é?
Resumindo, embora tivesse adquirido a convicção que o Espírito habita em mim sim, tanto como no Pastor ou em qualquer um dos diáconos; e que Ele não fica entrando e saindo de mim a todo o momento; alternando-se com demônios e entidades malignas, coisa até absurda; mesmo assim deixei-me arrastar para um congresso de cura e libertação, de um ministério muitíssimo conhecido e conceituado nos meios evangélicos, que se dedica apenas a isso e do qual me abstenho de dizer o nome. Basta dizer que são pastores muito estudados, a maioria com doutorado e tudo mais; o que, na verdade, deve ter me influenciado (a velha criatura, a intelectual, dando valor à ciência e títulos).
Caio, já faz cerca de 20 dias; e eu não sou mais a mesma.
Perdi algo neste processo e gostaria muito de explicar, porém, não sei se vou conseguir; é tudo muito confuso pra mim.
Fui ministrada individualmente; isso me foi garantido até como um privilégio, já que havia um número enorme de pessoas pretendendo a mesma coisa e não podendo ser atendidas pela falta de tempo para tanto.
Acredito que você saiba como se dá este processo. Entrei numa sala com uma pastora especializada em cura e libertação, e mais dois intercessores. Esses intercessores tinham idade para serem meus filhos e eram da minha igreja, só que de outro Estado do Brasil. Meninos mesmo. E ali, com uma ficha que me haviam solicitado preencher no dia anterior, com todos os detalhes da minha vida em todos os sentidos, desde meu nascimento, a pastora foi questionando ponto por ponto, detalhe por detalhe, coisas das quais sequer havia me dado conta que seriam pecados tão graves e comprometedores, ou de coisas que pareciam perfeitamente inocentes; tipo: ter feito um dia judô, na infância; ou ter
usado um brinco de penas… Enfim… E também dos meus “pecadões” do passado, dos quais há muito me arrependi e já pedi perdão, de que me acreditava livre e salva pela Graça do Senhor.
Tudo foi esmiuçado e de tudo tive que falar e pedir perdão novamente, como se nada do que tivesse feito até ali tivesse tido valor, como se Deus nunca tivesse me perdoado, como se ainda fosse à mesma pessoa que era antes de conhecer Jesus e a Graça.
Tive que renunciar a tudo, novamente, quebrar a tal legalidade que havia dado ao diabo em cada pecado, para que ele me ccompanhasse até os dias de hoje. E até dos pecados dos meus pais, dos meus ancestrais, que ao que parece, ainda pesavam sobre mim.
Soube que em mim habitavam demônios, entidades que me escravizavam, que foram tirados ali naquele momento. E fui avisada de maneira muito séria sobre o fato de OMITIR qualquer coisa ali, que seria um entrave na minha cura e na minha libertação. Mas sabe, acabei por nem citar certos detalhes, por puro cansaço em alguns casos e por constrangimento em outros… Aqueles meninos… Ah! O que poderiam saber eles da vida de uma mulher como eu, com o dobro da idade deles, e com experiências que, com certeza, eles não tem parâmetros para avaliar? E, afinal de contas, eu sequer os conhecia antes.
A confissão católica, ao menos, é apenas com o padre, geralmente mais velho, desinteressado e sonolento; muitas vezes através de um confessionário… Ou seja: bem menos constrangedor.
Caio, o que acontece é o seguinte. Depois disso, sinto-me mal. Não quero ir mais a Igreja… Gostava tanto de estar lá louvando ao Senhor… Mas não consigo me convencer a ir e nem sei bem por que.
É como se algo que fosse tão bonito tivesse sido maculado…
Sinto-me magoada, assustada, com medo, e nem sei bem por que. Não é contra ninguém, especificamente.
Sinto a velha culpa se amontoar sobre mim de novo… Mas, não era pra estar LIMPA e LIVRE? Depois de todo aquele processo?
Sei que sou pecadora. Existe justo sobre a terra? Mas já sabia antes e estava conseguindo viver com isso numa boa, sentindo sobre mim o amor de Deus como raios quentes de sol.
Caio, pela primeira vez sinto que não consigo entender o que acontece comigo. Sinto-me resvalar para aquele velho poço escuro de tristeza e de mágoas. Estou caindo cada dia mais depressa… Sei que logo estarei em queda livre mesmo.
Por quê? O que haverá comigo?
As pessoas estão doidas atrás de mim… O Pastor, o líder da minha célula, irmãozinhos… Ninguém entende o que está havendo…
Onde já se viu alguém sair de um processo destes de Cura e libertação PIOR do que antes?
Sei que tenho sido motivo de especulações, de preocupação e até de
estranhamento… E sei até qual deve ser a conclusão mais óbvia: não me libertei nada, estou ainda doente espiritualmente, tenho demônios e entidades comigo… Essas coisas todas… Sei lá.
Não sei o que fazer; o que dizer; sei apenas que estava muito mais feliz antes.
E agora estou triste… Muito triste mesmo. Como diz o velho Chico: “Sou um pote até aqui de mágoas…”
Você pode me ajudar, Caio? Por favor?!
Será que poderia fazer alguma leitura por meio de minhas palavras, do que ocorre na minha alma?
Não quero recorrer a ninguém da Igreja, por enquanto. Algo me diz que estou muito vulnerável e eles podem… Ah, sei lá… Podem mexer profundamente em mim, neste momento; e tenho medo de perder algo essencial… Entende?
Sei o quanto você é ocupado. Mas, por favor, se possível, me ajude a refletir.
Se não for possível, por favor, ore por mim, tá?
Fica na Paz e na Graça Dele!
Em Cristo Jesus,
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Resposta:
Minha querida amiga: Graça e Paz!
Quando você chegou à parte da carta em que disse que já havia experimentado a consciência na Graça, mas que ficava em sua igreja por outras razões (todas ligadas à ajuda que você dá ou dava a eles) — percebi que aquilo não duraria muito tempo.
Por quê? Ora, é que num ambiente assim… — híbrido, existindo entre a Lei e a Graça (mais na Lei que em qualquer outra coisa) — em pouco tempo as liberdades de sentimento e pensamento que a Graça gera no processo de individuação de cada um, acabam se tornando insuportáveis para quem convive e não crê do mesmo modo; posto que nos ambiente da Lei (ainda que seja camuflado pela “graça que salva”), assistir a jornada de alguém como você, se torna uma provocação para a qual eles não estão preparados.
Um legalista sentir-se-á infinitamente mais à vontade no “Caminho da Graça” (pois ninguém irá tentar convence-lo de nada; a menos que ele tente fazer proselitismo legalista) — do que o contrário: alguém que conheceu a Graça poder se sentir bem e aceito num ambiente legalista.
Assim, a tentativa deles de inventarem um demônio para “explicar” sua liberdade, em tal caso, é mais que natural.
Portanto, a questão é: O que eles fizeram, e o que aconteceu a você?
Ora, eles usaram do antigo poder que tinham sobre você. E não digo que tenha sido algo consciente. Sim, porque uma coisa é conhecer intelectualmente a Graça; e outra, bem diferente, é experimentar tal realidade contra a religião na qual se veio a encontrar, originalmente, a Jesus. Enquanto você pôde manter sua experiência para você, tudo bem. Mas quando eles decidiram que sua liberdade era uma ofensa ou um perigo para eles, então, confrontaram você; e, o resultado foi expor você a um confronto que gerou decepção e tristeza em sua alma; posto que uma vez que a pessoa conheceu o significado do Evangelho para si mesma, já não é mais possível sofrer o que você sofreu com a cabeça dos submissos apavorados. Sim, porque antes de conhecer a Graça de Deus, você tinha dúvidas. Hoje, entretanto, você tem certezas.
O que daí resulta é decepção. Decepção por eles, que levaram você a Cristo, até hoje não terem discernido a plenitude do significado do Evangelho, e, por tal razão, viverem entre a Lei e a Graça. Decepção por eles não terem respeitado você, submetendo-a a algo tão patético como o que sobre você foi realizado no tal encontro de “libertação”. Decepção por ver que eles preferem ver você sob supostos poderes malignos, e assim tendo que depender deles (do pessoal da igreja) — do que verem você livre, em Cristo, andando com as próprias pernas, e sem dependência deles.
Assim, sua dor é tristeza mesmo. É a dor de quem descobriu que a família não era tão amiga e solidária quanto se cria que ela era. É a dor dos que vêem que os demais preferem ver a pessoa infeliz, mas dependente deles; a vê-la livre, e se auto-determinado em sua própria consciência.
Conheço esse pessoal que você mencionou (os da “libertação” até de espírito de judô…) desde há muito, muito tempo. Sim, desde antes de serem assim… — como hoje são. Eles fizeram cursos de mestrado ou doutorado em seminários estrangeiros, e, por tal razão, chegam como “doutores em diabo” — e os incautos embarcam nessa. São uns “Caça Fantasmas” evangélicos. Não tenha nenhuma preocupação com o que fizeram e disseram. Eles dizem a mesma coisa para todos. E podem dizer o que quiserem, pois, se alguém se dispõe a ir a um lugar desses, e, além disso, ainda se submete a preencher uma ficha (pesquisa), e ainda apresenta-se para a “analise” das cargas passadas e dos demônios presentes — já está tão condicionado; e o que quer que eles digam “fará sentido”; pois, a alma fraca, aceita tudo contra ela mesma.
Desse modo, duas coisas aconteceram, e que provocaram o estado no qual você se encontra hoje — tristeza, conforme expliquei acima; e, além disso, uma ponta de medo, e que decorre da associação emocional e afetiva que a sua alma faz à figura deles como sendo as que sempre lhe trazem a Palavra da Verdade; pois, assim foi por um tempo — e você teme negar isto; e, com tal negação, negar algo essencial. E isto na mesma medida em que, pela consciência que já tem da Graça, teme estar entre eles e ver que algo muito mais essencial venha a lhe ser roubado. Veja o encurralamento: se você vai, teme perder a essência; e se não vai, teme estar negando a Deus neles — afinal, foi por eles que você originalmente encontrou a Jesus.
Tudo isto, entretanto, está acontecendo apenas porque a alma é “tarda”, é atrasada em relação à mente e ao espírito. Sim, porque com sua mente você já sabe a verdade; porém, em sua alma, em seus afetos, em seus vínculos, você tem ainda raízes com aquilo que você mesma, hoje, já sabe que não é Evangelho.
A alma sempre vem no vagão de trás em relação ao entendimento. Primeiro se entende. Depois, e só bem depois, é que, pelos contraditórios da vida, a pessoa põe em pratica, pela via do choque, a certeza de sua fé — a qual, jamais se solidificará sem a experiência do contraditório; especialmente entre “irmãos”.
Quanto aos seus pecadinhos e pecadões, saiba: todos estão lavados e cobertos. Porém, muita coisa que eles chamam de pecado e de maldição, nada são; sendo apenas o fruto da própria neurose legalista de cada um deles.
Diga a eles para virem expulsar o meu espírito de Jiu-Jitsu (rsrsrs). É pior do que o do Judô (rsrsrs).
Se você desejar ser mais especifica em relação às suas lutas, pode fazê-lo sem temor; pois, assim, não nessa de “pecadinho e pecadão”, mas apenas vendo o que é bom e o que não é bom para a alma — terei prazer em ajudá-la.
Agora leia Colossenses e Gálatas de cabo a rabo. Colossenses foi escrita para uma comunidade que vacilava entre o gnosticismo asceta e os judaizantes da fé, os legalistas. Leia o capítulo dois e veja que todo escrito de dívida já está rasgado; e os principados e potestades destronados. Já em Gálatas você verá que toda maldição já foi levada na Cruz; e que foi para a liberdade que Cristo nos libertou, não sobrando para nós nenhum jugo de escravidão voluntária, exceto ao amor.
Observei, todavia, a imensa quantidade de “sinto”, “senti”, “estou me sentido”, etc… — existentes em sua carta. Ora, enquanto o sentir for assim tão determinante para você, sua vida não terá estabilidade; posto que a vida do discípulo não é baseada em sentimentos, mas em fé. E a fé convive com toda sorte de sentimentos. Exceto o medo. Sim, “quando o medo entra pela porta da alma, a fé sai pela janela” — já dizia meu velho pai. O justo, todavia, vive pela fé; e não pelos sentimentos. Portanto, equilibre sua consciência na fé e não nos sentimentos; pois, na fé, tudo se torna firme; mas, pela via dos sentimentos, a existência é jogada solta e aflita como uma canoa no Oceano.
Por último, peço que você preste atenção na sua hiper-valorização do que você chama de “intelectualidade”. Existe certa vaidade em você acerca disso, a qual apenas lhe retardará o processo de firmeza na fé; e somente na fé. E saiba: ela se faz perceber nitidamente.
Por enquanto é o que tenho a lhe dizer. Mas aguardo uma carta mais especifica, na qual você fale acerca desses problemas que você disse que tem e por eles passa frequentemente. Até porque, se percebi correto, eles levaram você ao tal do encontro de libertação em razão de algo que eles acham “irregular” em sua vida. Fale-me sobre isto. Certo?
Nele, em Quem você, eu, e todo aquele que crê está guardado, e o maligno não nos toca,
Caio
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To: [email protected]
Sent: Saturday, October 14, 2006 8:48 PM
Subject: Cura e libertação…. o que houve realmente?
Querido Caio, Graça e Paz!
Em primeiro lugar, fiquei felicíssima por ter sido contemplada com uma resposta sua, pois, sei o quanto é assoberbado de compromissos. Senti-me muito feliz mesmo e agradeço por sua delicadeza e atenção.
Bem, sua carta me alcançou na medida certa, como eu esperava que acontecesse quando pedi socorro a você… Instintivamente, sabia que colocaria as coisas nas devidas proporções, pois estou bem consciente da tendência que tenho à uma certa… Digamos… Passionalidade nas reações, infelizmente… Digo ‘infelizmente’, porque pessoas que colocam sentimentos exacerbados à frente de tudo, realmente acabam por distorcer a própria visão. Sei que sou assim, desde menina… rsrsrrss… meio dramática… O pior é que SINTO mesmo… Uma lástima! rsrsrsrs. Tenho sangue quente.
Mas, refletindo sobre o que tão sensatamente me escreveu, entendi a leitura que fez, por meio da minha carta, do que me acontecia em coração. Percebeu bem a minha tristeza; explicou-a até, de forma correta.
Sei muito bem o quanto a liberdade acaba por agredir as pessoas… Talvez seja natural do ser humano esperar sempre dos outros uma certa dependência, o que nos torna importantes e imprescindíveis. Muitos de nós não fazemos, ao menos em algumas situações, o mesmo com nossos filhos? Não se faz necessário um certo sacrifício, por assim dizer, para reconhecer que são pessoas distintas e diferentes de nós, que pensam, decidem, fazem e até erram sozinhos?
Assim, acredito que, de alguma forma, em algum momento, eu possa ter despertado esse mesmo sentimento em pessoas que, na verdade, achavam-se até responsáveis por mim na fé.
Outra coisa que acho que devo esclarecer a você, para ser justa com estas pessoas: como declarei na outra carta, as circunstâncias atuais da minha vida são particularmente complicadas e, assim, logicamente, posso entender como pensaram os lideres da minha igreja: “Ora, algo deve estar muito errado na vida desta irmã, para estar acontecendo tudo isso; Deus, não erra. Logo, o que quer que esteja errado, está nela!” (Cura e Libertação nela!)
O que acontece comigo, Caio, é que enfrento um casamento praticamente destroçado, de mais de vinte anos. Casei menina. Além disso, meu marido tem problemas com uso de droga (maconha) e de álcool (em menor escala). Tenho três filhos (dois meninos e uma menina). E dois deles também apresentam problemas com uso de maconha; e, para coroar tudo isso, meu filho mais velho foi preso, acusado de um crime que não cometeu.
Tenho absoluta certeza da inocência dele, pois, naquele dia estávamos juntos; eu e ele; mas a situação é bastante complicada; não estamos conseguindo provar nada e existem testemunhos forjados pela polícia.
Parece paranóia, não é? Mas acontece que ele, meu filho, assistiu a um crime praticado por um policial civil muito conhecido na cidade. Essa pessoa matou alguém. E meu filho viu. Detalhe: esse policial estava “convertido” e freqüentava uma igreja. Meu filho estava no lugar errado, na hora errada…
Sei que tudo parece surreal, resumindo desta forma, mas, acredite, parece assim até para meus irmãozinhos. Logo, não acha que eu sou uma candidata perfeita à cura e libertação? Rsssss …
Descobrir a Graça foi o que me salvou da insanidade. Tudo aconteceu para que eu aprendesse a confiar Nele. Meus filhos confessaram Jesus um dia, logo, são filhos Dele, antes de serem meus filhos. Assim confio. E nunca mais perdi a coragem. Nem por um momento duvido que o que acontece está nos planos Dele e sei que Ele SABE o porquê de tudo; eu não sei; logo, tenho que confiar e esperar.
Isso foi o que a Graça fez por mim, mudou minha vida, minha perspectiva. Aprendi a ser feliz, apesar de tudo parecer horrível no momento, porque agora creio na existência de coisas que não posso enxergar com olhos carnais, mas sei que me são destinadas por ser co-herdeira em Cristo Jesus.
Então, na verdade, isso deixou todo mundo confuso, eu acho… Minha atitude mudou, diante de tanta desgraça… sei lá… Compreendo, mesmo, o ponto de vista deles. Se não estava louca… devia estar com demônios… algo assim…
Enfim, eu fiquei por muito tempo verdadeiramente triste com a Igreja, com todo aquele processo que já conversamos. E ainda me sinto triste e decepcionada sim, como você diz. Isso, porque ir lá me parecia tão legal, adoro aquela molecada, eles são tão… íntegros, na sua recém descoberta fé… Chegam lá destroçados pelas drogas; pela marginalidade; pela desesperança; pela falta de heróis, tão necessários à juventude; pelos péssimos exemplos que nós, ditos cidadãos de bem, damos a eles; exemplos de falta de amor, de falta de solidariedade… Ah, sei que você sabe perfeitamente a que me refiro. E louvar com eles, conviver com eles, me fazia muito bem mesmo…
Porém, percebo agora, lendo e refletindo em sua carta, que estava compactuando com coisas que não concordo. Por exemplo: a igreja está colocando PEIAS nesses jovens; claro, do mesmo jeito que quis fazer comigo… Felizmente, eu conto com algumas estruturas mentais já formadas e amadurecidas, além da FÉ e da consciência da Graça de Deus. E Ele, em sua infinita bondade, me iluminou os olhos. Esses meninos, lamentavelmente, estão sendo submetidos mesmo, com certeza; já que representam 90 % da Igreja, no mínimo. Libertaram-se das drogas, prostituição, suicídio… Mas … serão livres, realmente? Essa é a pergunta que se me impõe, agora.
Bem, Caio, claro que não estou despreocupada com os aspectos problemáticos da minha vida, como talvez tenha dado a entender… Mas estou em pé, com certeza, não mais caída no fundo de um poço, não mais tomando antidepressivos e calmantes. Estou em pé; e, como li em algum texto seu, essa é a maior prova da existência do nosso Deus, não é? Sem Ele, como acha que eu estaria?
Quanto ao meu casamento, pra mim já acabou; porém, neste momento, estamos juntos em função da LUTA pelo nosso filho. Sei perfeitamente que terei que enfrentar, em determinado momento, toda tensão que será acabar ‘de direito’ com o que já morreu ‘de fato’. Mas entendo que este não é o momento para isso. Sei que sempre amarei meu marido, de uma outra forma agora, mas sempre amarei. Ele foi meu único namorado, meu único amor, meu único homem, e é pai dos meus filhos. Contaremos sempre um com o outro, mas não existe mais nada da relação homem/mulher… E gostaria muito de viver, um dia, um amor em outras bases; nos critérios do evangelho; pois, hoje SEI que é o mais perfeito critério para uma relação feliz. Mas sei que tudo tem seu tempo… e que na verdade, o tempo é de Deus.
Estes são os aspectos que omiti na outra carta. Aqui estão as razões de minhas lutas. Claro que de forma sucinta…
Quero que saiba que suas cartas, reflexões, textos e tudo mais que encontro em seu site — são de grande valia pra mim; estou sempre lendo e refletindo nas suas palavras, quando estudo a Palavra de Deus.
Você foi um instrumento importante na minha libertação verdadeira. Glória a Deus pela sua vida.
E quero que saiba que entendi quando se referiu a hiper valorização dada por mim á sabedoria humana, sei que tem razão. Por muito tempo, foi nisso que me estribei e o mundo em que vivia, na verdade, competia nessas questões. Mas tudo vaidade, tudo bobagem, diante da simplicidade do Evangelho, diante da verdade ali contida e que se faz entender para todo tipo de pessoa. Que sabedoria podemos nos arvorar a ter diante do Senhor?
Agora, depois de tudo posto, apenas fica uma dúvida: o que fazer? Não é necessário que tenhamos comunhão com os irmãos? Não é necessário que estejamos debaixo da cobertura da Igreja de Cristo? Não é necessário e importante estar diante do Senhor na sua casa para louvá-lo? Como fazer, Caio, se não é possível? Pois jamais quero ser encarada novamente como alguém que tem entidades malignas dentro de si; ou ser julgada pelos problemas que atravesso, como uma crente fracassada.
E note que o ministério que freqüento (ava) é conhecido por ser um dos mais “ligths”… É, inclusive, muito criticado pelos evangélicos da cidade.
Haverá uma congregação de pessoas que pensam diferente?
Deixo esta pergunta e recomendo-me às suas orações.
Mais uma vez obrigada, amado, pela atenção e pela ajuda.
Fica na paz e na graça do nosso Deus Perfeito!
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Resposta:
Querida amiga: Graça e Paz!
Imaginei que os problemas passavam por aí, já que, conheço o grupo que você freqüenta (ava) e sei que eles são bastante atraentes para quem vive em tais problemas; sejam os envolvidos; sejam seus pais dos envolvidos. Os primeiros vão buscando libertação. Já os pais vão buscando uma identificação com quem deixou algo considerado danoso, e que ainda está presente na família deles.
No seu caso, já que você casou menina; conviveu com cabeças de uma outra geração; amou, pelo menos de ouvido, os Beatles e os Rolling Stones; e casou com um cara que fuma um baseado — suponho que você mesma fumava com ele; e, sendo tocada por Deus, desejou parar com tudo; e refazer a vida sobre “novos critérios”. E como eles (marido e filhos) não foram com você para a “igreja”; e como em sua igreja pecados são sempre esses — você tentou “salva-los” como pôde e pode. Eles, porém, estão noutra; e, seu marido, provavelmente, odeie a idéia de que a igreja deu a ele outra mulher… Legal (a mulher), mas convertida ao caretismo e incapaz de vê-lo do modo anterior. Assim, a igreja, a sua, deve ter tido um papel triplo em sua vida: era o lugar de sua libertação; era o lugar-esperança para a “salvação” de seu marido e casamento; e era o lugar de “salvação” potencial para seus filhos.
Além disso, você se identifica com o grupo, apesar da diferença de idade, porque eles remetem você a algumas coisas. Primeiro, lembram você que é possível ter sido muito doido e ser de Deus. Segundo, ilustram para você o que você deseja ver acontecendo com seus filhos (e já desejou ver acontecer com seu marido). Terceiro, servem de ponto de contato, nos modos e no linguajar, com um passado-cultural, underground, com o qual você sente identificação; e, de certa forma, sente falta — saudade!
Com relação ao grupo, o que penso e sei é o seguinte: eles têm maneirismo de gente moderna e light (gírias e modos) — mas são assim só no jeito. Ora, os evangélicos da cidade e do Brasil, não sabem distinguir substancia de significado. Daí pensarem neles como “light”; coisa que de fato eles não são no significado, mas só na aparência da substancia. Na realidade eles são muito legalistas. E, num certo sentido, dado ao começo de tal ministério, não era possível ter sido diferente. Pois evangélicos querendo libertação, demonizam tudo!
Creio que você se vê na molecada; e vê seus filhos neles; e desejaria que tudo fosse mais ou menos assim — um ambiente light na forma e no conteúdo; no qual você se sentisse bem; e com o qual seus filhos tivessem identificação em fé. Entretanto, dificilmente eles mudarão (os moleques de sua igreja), fazendo substancia e significado uma coisa só. E, além disso, até por “implicância”, dificilmente seus filhos e marido terão qualquer identificação com eles.
Você falou que seu marido foi seu único homem, amor e melhor amigo a vida toda. O que mudou? Foi o fato de você se converter? Foi o fato de que a maconha dele virou coisa do diabo do dia pra noite? Foi o fato de alguns de seus filhos fumarem maconha também, e, na igreja, isso ter se tornado culpa de seu marido — o pai maconheiro?
Maconha não é ar. Portanto, não é natural fumar maconha. Além disso, maconha não é legalizada. Portanto, no meio evangélico é coisa do diabo por duas razões: por envolver fumaça (evangélico tem uma relação psicológica e arquetípica complicada com tudo aquilo que queima — vide incenso, cigarro, etc.); e, também, por ser contra a lei. No mínimo isso.
Entretanto, acabar um casamento por causa disso é como coar o mosquito e engolir o camelo. A menos que você me diga que não ama mais seu marido; que ele bate em você; que ele a trai; que ele é mau; e que ele era um engano maligno em sua mente até a uns tempos atrás. Do contrario, temo que você esteja desistindo pelas razões erradas. Ou, então, suas razões (as alegadas nesta carta) — são apenas auto-engano seu. Pois, de fato, você não quereria mais nada com ele mesmo que ele parasse de fumar o baseado dele e de tomar as biritas que toma. Mas se for por causa da maconha e da biritagem de leve — saiba: você não apenas está perdendo a chance de ajudá-lo, sem moralismos; como também está perdendo a melhor chance da vida de um ser humano, que é envelhecer ao lado da pessoa que amou a vida toda, e com quem teve os filhos; e, um dia, terá os netos. Infelizmente só se aprende isto com o tempo.
Dificilmente você encontrará alguém que a faça feliz. Pode até ter umas cócegas eróticas. Mas dificilmente olhará para trás e dirá: “Agora sim! Encontrei a vida!” E pode ser que você se arrependa mesmo. Mas, como disse, se o problema acontece em razão do fim de qualquer amor conjugal, então, a questão é outra — embora eu creia que se um dia houve amor homem-mulher, tudo possa ser refeito. Não creio, todavia, no surgimento de tal realidade num casamento onde isso NUNCA existiu. Deus não é cupido.
Quanto a seus filhos, penso o seguinte: há muitos filhos de pais que fumam maconha e que não querem nem ouvir falar no assunto, justamente porque os pais fumam. É verdade, entretanto, que a maioria sente um consentimento familiar para fumar (ou fazer qualquer coisa), se vêm os pais fazerem aquilo. Todavia, como tenho dito aqui no site, pior que a maconha, é a demonização dela; posto que empurra a pessoa, cheia de culpa, para os braços do proibido; que, espiritual e psicologicamente, é a “árvore” na qual a serpente se esconde para falar com os humanos — desde o Éden.
Assim, pegue leve. O melhor antídoto contra as drogas (se é que a classificação é esta) — é não fazer da vida uma droga; pois, em tal caso, se torna numa droga (a vida) de poder destrutível incomparável; e torna qualquer outra droga uma bobagem em comparação a isso.
Sobre seu filho que está preso, saiba: eu creio que deve ser o inferno. E entendo de surreal mais que você imagina. Ou, entre outras coisas, o que você pensa que foi o chamado “Dossiê Cayman” para mim —se não algo surreal? E a postura em tal caso deve ser de equilíbrio. Sem evasão da realidade; dizendo: Não é tão grave assim! E nem de desespero; dizendo: Meu Deus, por que me desamparaste?
Não é para se desesperar. E nem é pra achar que não é grave. Confiança e responsabilidade não se auto-excluem. Assim, nunca se desespere, mas também nunca minimize a situação. E esta é a paz de Cristo. Sim, porque nela, a gente aprende a chamar a realidade de realidade, ao mesmo tempo em que não sujeita o coração às circunstancias.
Se há outro lugar a freqüentar? Ai onde você reside não sei se há tal lugar. Mas por que você não reúne os amigos e começa a ler os evangelhos, a meditar em textos aqui do site, ou a ouvir com eles os cultos e conferencias que a rádio do site transmite? Pode ser o início de algo bom.
Procure um bom advogado para seu filho. Não há ninguém que tenha visto você com ele (com seu filho) enquanto o crime acontecia? Pois apenas isto poderia fazer de você uma testemunha isenta, segundo a lei dos homens.
Há mais uma coisa que desejo dizer. Para a “molecada” de sua igreja você é apenas uma mulher a quem eles evangelizaram, e que tem filhos e um marido com problemas que eles vêem como demoníacos. E, a menos que eles amadureçam na Graça, será impossível que eles vejam de outra forma.
Pense, entretanto, sobretudo, no que lhe falei sobre seu marido. Ou, então, me escreva dizendo que era mais um auto-engano seu; e que, de fato, não existe mais nada entre vocês por outras razões; e que você não está mais a fim de experimentar nada. Mas se ele é legal; e os problemas dele são maconha e birita — então, sugiro que você pense melhor; pois, a emenda pode sair pior do que o soneto!
Um abraço carinhoso!
Nele, que nos chama à verdade,
Caio