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From: REALIDADE EM VERSOS: Livre da Neurose Missionária
Sent: Wednesday, February 21, 2007 7:44 AM
Subject: Realidade em versos – Livre da Neurose Missionária
Caro Caio!
Hoje li seu artigo sobre a Neurose Missionária e como um missionário no campo eu quero agradecer, pois, depois da leitura, pude entender um pouco melhor o que esta acontecendo comigo.
Perdi a pressa e não sabia a razão.
Este ano completo 40 anos de idade. Estava pensando em algumas coisas que eram muito vivas em mim, mas que não voltavam mais. O riso, as brincadeiras, a poesia, entre outras coisas… — os quais que depois de 10 anos no campo missionário, foram desaparecendo.
Acho que é o mesmo fenômeno que aconteceu com você: o amor se foi…
Hoje pela manhã com um monte de obrigações, resolvi parar tudo e escrever. Quando me dei conta estava tudo virando versos como antes.
Fiquei muito alegre e depois fui fazer a minha visitinha diária no site; e vi este artigo.
Foi uma benção para mim camarada, pode crer!!
Obrigado pelo que você tem escrito. Isto tem feito muito bem num ritmo mais acelerado do que você pensa. Gera muito efeito na vida das pessoas que amam o evangelho.
Tenho um sentimento gratificante cada vez que vejo estas suas reflexões que falam despreocupadamente de suas lutas pessoais. Isto me faz enfrentar as minhas sem aquele sentimento de que devo ser um super-homem da fé.
Você é uma benção cara!! E espero um dia poder me encontrar com você pessoalmente! Quem sabe em Israel, estou trabalhando firme aqui para isto. Quero levar um grupo e já estou fazendo os preparativos.
Com toda humildade apresento a você os versos que tenho certeza têm em seu conteúdo um pouco do que tenho aprendido no site!
Um grande abraço e vai aí a poesia.
Marcos
REALIDADE
Quando não se pode tocar
Fogem dos lábios as palavras pra explicar
Do pensamento ausentam-se as idéias
As figuras que tudo podem aclarar
Um Deus que eu não vejo
Um Deus que eu não toco
Não me traz nenhum desejo
É um Deus que não invoco
Assim a mente fecha os seus portões
Como uma defesa natural
Só os abre para tristes ilusões
Em uma fuga irracional
Então prostra-se no chão
Tenta-se uma reação
Vasculha-se o coração
Mas de resto só se tem intenção
De tanto somente intentar
De desejos se alimentar
Forma-se um edifício sem nenhum andar
E assim como se ergueu começa esfacelar
Vem então o desespero
Quer-se de Deus pelo menos o cheiro
Confunde-se Deus com dinheiro
E no trem da avareza se torna mais um passageiro
A matéria torna-se a única companhia
O que era desejo ter
Torna-se aquilo que você não queria
Torna-se um motivo pra sofrer
O prazer aparece como uma solução
As companhias se tornam variadas
As noites aumentam a sua extensão
Pra terminá-las só com álcool, pó ou agulhadas
O desvario passa a ser uma constante
Uma vazia jornada virtual
Muito tempo, passa a ser um instante
O saldo do tempo, é puro mal
Na luz do dia, quando tudo continua
Quando o Sol brilha e não a Lua
Tenta-se além do ter e do prazer
Viver pela força do poder
Poder que domina
Poder que traz opressão
Poder que fascina
Poder corrupção
Inseparáveis causas e conseqüências
Árvore e seu fruto
Desilusões e falências
Fracasso certo e absoluto
Então, estas divagações da mente
Trazem a febre da cegueira
Encontra-se nos ritos do que é crente
A religião como anti-térmica companheira
A religião que apresenta leis
A religião da causa e efeito
A religião do vendedor e do freguês
A religião do preconceito
Viver de aparências
Passa a ser a estratégia
Não medir as conseqüências
Da cruel hipocrisia
Pedras, tijolos e telhas
Templos ornados de ouro
Apresentam de muitas maneiras
Um deus humano que acumula tesouro
O que antes era uma confusão
Têm agora sua força no vil metal
Um deus que é vendedor de ilusão
Que controla com poder descomunal
O dar fica preso na quantidade
Se não der sofro maldição
Um ensino que aponta para a prosperidade
E não difere da primeira situação
Antes o dinheiro foi confundido com Deus
Agora deus é o dinheiro
Sem se importar com os súditos seus
Funda-se um reino passageiro
Que proposta apresentar?
Qual então é o remédio?
Antes do fim da vida terrena chegar
Ou mesmo antes da morte pelo tédio
Tédio que mata aos poucos
Que fica esperando o expresso da morte passar
Que fabrica muitos loucos
Que por vezes aquele expresso querem abreviar
Um dia descobri
Que Deus falou e tudo ficou escrito
Para que assim eu pudesse ouvir
O que hoje eu acredito
Não pelo ter, não pelo prazer
Preciso daquilo que é realidade
Não pelo poder ou pelo vazio crer
Preciso me livrar da religiosidade
Lendo uma coletânea de boas noticias
Que deram o nome de Evangelho
Descobri estradas propicias
Pra me ver livre do que é velho
Mais adiante li cartas de amor
Diferentes destinos e muitos assuntos
Vi nos escritos de homens de dor
Que o que hoje se ensina são terríveis insultos
Eles disseram ser os menores
Açoitados e lançados na prisão
Não pregavam para encher seu odres
Fizeram esterco da sua religião
Descobri que existe uma realidade
E o resto é pura sombra
O perfeito habitou entre a maldade
Para aniquilar a morte que assombra
Sem Ele poderia viver dentro dos templos
Ouvir a maior pregação
Ter o melhor dos bons intentos
Mas não teria a minha salvação
Descobri, depois desta epopéia.
Pela Graça, não por mérito ou boa ação
Que no meu louvor Deus é platéia
E minha oferta é de amor e gratidão
Descobri a realidade escondida
Descobri aquele que disse:
Eu sou o caminho a verdade e a vida.
JESUS
Marcos Elísio
Comunidade Cristã em Amsterdam
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Resposta:
Meu mano Marcos: Graça, Paz e Descanso!
O “modelo” de igreja na forma institucional é uma máquina de triturar almas. Hoje, entretanto, ela se tornou um buraco negro, para dentro do qual as almas são sugadas, e o que sai do lado de lá é a anti-alma original.
A Bíblia é o livro da poesia.
Em hebraico quase todo texto carrega uma prosa, e, nos salmos, profetas, cantares, provérbios, etc. — tal espírito poético ganha estilo particular. Sim! O estilo de cada autor; pois, Deus, sendo puro amor, não tem relações congênitas com ninguém, mas apenas relações unigênitas; significando dizer que Ele leva cada pessoa a ser ela mesma, até quando escreve um texto inspirado.
Joaquim Jeremias (há muitos livros dele em português, mas a maioria está em inglês) — mostrou ao mundo como os textos dos evangelhos, especialmente Lucas, eram poéticos quando falados em aramaico.
Ou seja: Jesus era poeta; e falava com poesia.
Em hebraico um dos textos literariamente mais celebrados como poético em tudo, das rimas às construções, é o texto que Davi escreveu chorando a morte de Jonatas e Saul.
As cartas de Paulo (ex: Colossenses) carregam forte carga poética em alguns momentos. Certas partes são verdadeiras poesias em grego.
Mas poesia demanda calma, silencio, ausência de certas coisas, quietude, contemplação, sentimento, envolvimento, e muita emoção com liberdade de ser — coisas essas que o tal “ministério” muitas vezes rouba das pessoas, pois, nele, digo, no ministério, poesia é coisa de tolo; pois dizem: “A alma de um missionário só faz poesia quando escreve o relatório”.
Amei sua poesia. Amei seu coração!
Estou aguardando você e seu grupo para a nossa viagem a Israel. Será um prazer para mim usufruir de sua companhia.
Nele, que é a Poesia do Verbo e o Verbo da Poesia,
Caio
21/03/07
Lago Norte
Brasília