REVERENDÍSSIMO APÓSTOLO ATEU: Desgraça e ranger de dentes!
Você ouve o Evangelho de Jesus e se apaixona.
Assenta-se para ouvir.
Começa a ler.
Fascina-se com as promessas de resposta às orações.
Vê crescer em você uma imensa expectativa de ouvir a Voz e saber a Vontade Dele.
Alegra-se ao ver que Deus fala, que a Palavra é viva, e, também, que orações são de fato respondidas.
Mas…
Então você começa a desejar crescer em Deus, mas, ao mesmo tempo, como todos os que você admira são pastores, evangelistas, líderes, missionários, cantores, etc. — surge em você a idéia de que crescimento somente acontece nas fronteiras do ministério e no convívio com a liderança.
Assim, o eixo da emoção da fé começa a mudar, e, devagar, a pessoa vai ficando cada vez mais desejosa de parecer-se com os que aparecem, e faz isso sem culpa, pois, de fato e sinceramente, a única coisa que a pessoa quer é fazer uma assimilação daquilo que ela, agora, entende como sendo o caminho visível e imitável da piedade.
Nesse ponto inicia-se o processo de esquizofrenização do ser devotado a crescer em Deus nos bastidores da suposta organização de Deus entre os homens: a igreja.
Então, devagar, você vai vendo que os seus “homens de Deus” são levianos, mentem, são egoístas, avarentos, cobiçosos por sórdida ganância, odiosos, invejosos, hipócritas, e, muitas vezes, até mafiosos, sendo que, em tal caso, a associação menos danosa de alguns é com a maçonaria.
Ora, gradualmente, depois de ter odiado por um tempo as coisas que veio a saber, você persiste no mesmo convívio; e, então, começa a se sentir melhor do que as outras pessoas do clube da maldade; e, por isso, o próximo passo será que você diga a si mesmo que tem crédito de coerência na vida, a fim de “pedir umas férias a Deus”, e, assim, dedicar-se, pelo menos como hobby, a algum pecado ou surto de capricho.
Quando você faz isto, sente o que Adão sentiu no Éden, e, assim, vendo-se nu, cobre-se, e, por causa disso, busca cobrir-se com as vestes convencionais, a saber: mentira, hipocrisia, performance, falsa humildade…
Entretanto, mais que tudo, a tendência é que você se torne misericordioso com o pecado, embora não necessariamente com o pecador que não seja você.
Entretanto, aqui também pode surgir outro filho do povo do engano, que é aquele que, justamente porque já se sabe agora membro do clube dos que ele antes repudiava, decide agora disfarçar-se de hostil e acusador daquilo que ele mesmo, às ocultas, pratica; pois, assim, pela denúncia do tema, ganha um forte e poderoso álibi para os outros; embora ele mesmo cristalize-se na hipocrisia.
Ora, como neste ponto Deus está no exílio da vida da gente, o que fica é o poder das networks. E, também, muita dedicação à imagem pública, à comunicação e à autoproteção; enquanto você vai vivendo da máquina que à sua volta foi montada.
Então, quanto mais tudo funciona, mais distante de Deus você fica, e sem notar.
E mais: você começa a dizer para você mesmo que aquela vida com Deus de antes era coisa de criança, mas que agora, depois de ver como as coisas são, ainda assim você faz a Deus o favor de pregar o evangelho. E como você pensa que é isso que Deus quer (que se pregue o Evangelho, ou qualquer coisa que cite o nome “Jesus”), você julga que o crédito é seu justamente por você fazer o que Deus quer que se faça, mas que sem você Ele não faz ou faria. Desse modo, por razão de seu auto-engano, você começa a tornar-se a medida de todas as coisas para você mesmo, sem perceber que você está monstrificado, e isto enquanto é endeusado pelos pagãos que, de tão cegos, só enxergam as purpurinas das glórias de cultos de fumaça de gelo seco e de levitas angelicalmente erotizados, que se exibem meigamente como ninfos e ninfetas de um culto pagão estranhamente oferecido em nome de Jesus, e, em cujo espetáculo você seduz Deus para que lhe faça mais concessões, pois você prega; e, segundo você aprendeu, Deus tem delirium tremens quando ninguém prega o nome Dele no mundo.
Se você não sabia, saiba agora: Foi assim que você chegou até aqui onde agora, gloriosamente, se jacta de estar.
E você passa a ser parte de tudo isso, e se justifica dizendo que seria pior sem a sua presença, pois você já não é como era antes, mas, pergunta você: “Quem é?” — e responde: “Eu pelo menos sei o que não é, e, estou aqui apenas para ver se mudo alguma coisa”.
Então, você prega em meio às piores contradições e sentimentos interiores, e as coisas acontecem, e isso faz com que você diga: “Deus é bom, pois, mesmo assim, cheio das concessões, Ele ainda me abençoa!”
Ora, neste dia, o antes singelo e alegre jovem crente entra no Templo dos Lobos vestidos de Ovelhas, e, sem propaganda, adere à maçonaria das ações secretas praticadas pelos membros do clube do sucesso ministerial.
Daí em diante ele é ateu e não sabe. Afinal, ele já é tal ateu que o nome de Deus é falado por ele sem que ele sequer perceba. Deus é oco e mais leve que o nada no coração desse um dia crente, mas que hoje é líder de crentes exatamente por já não crer em mais nada.
O casamento arruinado pela hipocrisia e a insinceridade. Então, com tanto assédio, esse ser um dia crente diz para si mesmo: “Sofro tanto. Está na hora de ser consolado por alguma irmã”.
E assim ele vai… Até que tem um harém.
O mesmo acontece com o dinheiro. Ele pensa: “Sem mim nada entraria aqui. Então, eu é que dou a eles e não eles a mim. É meu!”
Chega a hora em que você se levanta para pregar e o diabo senta para descansar; isto porque o diabo pensa: “Ele é meu orgulho! Representa-me muito bem. Com lobinhos assim eu poderia tirar férias!”
Então você prossegue. Vira bispo, apóstolo, primaz, pai-póstolo, Reverendíssimo Augustus, um César da Religião.
Cheio de altivez, de empáfia, de arroto.
Viram pastores de si mesmos, e, existem para o banquetear-se.
Quem não faz a viagem por essa vertente, em geral, ao passar pelos desapontamentos, se havia sido “ungido” e não pode mais voltar atrás, o que daí nasce é muita amargura e ressentimento em razão de que os que apareceram não foram eles, mas sim os “piores”. E ficam com raiva de Deus, e isto apenas por jamais terem tido a visão certa da vocação, que não é para o que é elevado entre os homens enquanto é abominável diante de Deus, mas para o oposto.
Esses que não viraram lobos vestidos se ovelhas tornaram-se ovelhinhas vestidas de coelhinhos ou de Barbies. Ou então se tornam poetas e menestréis da perplexidade humana, embora de Deus sintam, quando sentem, apenas saudades.
Não faça essa viagem. Ninguém escapa impune por andar nas trilhas desse enganado caminho.
O chamado à conversão em tais casos é um só:
Arrepende-te! Volta ao teu primeiro amor!
Enquanto é tempo!
Nele, que confirma o que digo como verdade do Evangelho e fato da existência,
Caio
23 de agosto de 2008
Lago Norte
Brasília
DF