—– Original Message —–
From: “ANTÔNIO SANTOS”
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Sent: Monday, February 27, 2006 10:56 PM
Subject: DA TIRANIA À LIBERDADE, SEGUNDO CHICO BUARQUE
Querido amigo Caio,
Vinha hoje do aeroporto e me lembrei de uma poesia do Chico Buarque que me pareceu muito com o espírito do caminho que eu tenho andado com você.
A poesia chama ROSA DOS VENTOS, porém, eu entendo, no contexto da minha existência em Cristo, após te conhecer como: DA TIRANIA À LIBERDADE.
Dentro da metáfora da poesia (que era contra a ditadura militar) escreverei o encarte que ela propõe hoje para a minha vida e para o que eu tenho visto
Deus realizar através da sua vida.
E DO AMOR GRITOU-SE O ESCÂNDALO
A graça (AMOR) de Deus em Cristo, é um grito de escândalo para os que não aceitam o acordo entre Deus e Deus de salvar o homem gratuitamente pela Sua misericórdia.
DO MEDO CRIOU-SE O TRÁGICO
Ovelhas de Cristo vivem hoje debaixo de uma tragicidade de medo sobre medo, acerca de um “Deus nervoso e tirano”, que espreita os homens num trágico e medonho juízo.
NO ROSTO PINTOU-SE O PÁLIDO
A palidez do susto sobre susto dos que ouvem de púlpitos as pragas e maldades que “Deus” pode lançar sobre quem não se puser sob o jugo da tirania religiosa.
E NÃO ROLOU UMA LÁGRIMA NEM UMA LÁSTIMA PARA SOCORRER
Como você disse no seu livro, SEM BARGANHAS COM DEUS, na página 197: “Nesse lugar ninguém quer saber se você está melhor, mas apenas se está tudo em ordem”. Não existem lágrimas para socorrer, Caio!!!
E NA GENTE DEU O HÁBITO DE CAMINHAR PELAS TREVAS
Não há mais a luz do Evangelho da Graça, e as pobres ovelhas destinadas à matança andam às cegas, pois não há luz no coração de quem deveria trazer luz, e não trás por medo de que as ovelhas possam Ver.
DE MURMURAR ENTRE AS PREGAS
O lamento das ovelhas não chega aos ouvidos de quem não quer ouvir. Murmuram e gemem entre os intervalos de suas próprias lutas mas sem ninguém para socorrer.
DE TIRAR LEITE DAS PEDRAS
Venha cá, pode pedra dar leite? Porém essas ovelhas mamam em corações
pedrados, sem compaixão nenhuma. O importante é o TEMPLO ornamentado para suas próprias performances de “leite de pedra”.
DE VER O TEMPO CORRER
“Porque é preceito sobre preceito, preceito e mais preceito, preceito e mais preceito, um pouco aqui, um pouco ali.” Is. 28:10
MAS SOB O SONO DOS SÉCULOS AMANHECEU O ESPETÁCULO
Eu começo a ouvir de novo, após séculos de adormecimento total, um Evangelho
que é o grande espetáculo: Cristo crucificado por nós. O preço pago por nós. Consumado está, apesar de espetáculo!
COMO UMA CHUVA DE PÉTALAS
A suavidade de Deus revelada novamente em palavras suaves para os enfermos e feridos, vindas de você, meu amigo.
COMO SE O CÉU VENDO AS PENAS, MORRESSE DE PENA E CHOVESSE O PERDÃO.
Essa frase é linda, Caio. Os céus vendo as nossas angústias, e o Senhor morrendo de pena, de compaixão por nós, fizesse novamente chover sobre todos o Seu perdão. Porém, quem está pregando isso? Não tenho ouvido isso por aí. Mas já vejo essa chuva de perdão não somente derramada sobre minha vida e sobre a vida da minha família, como algo que tem me dado novamente o direito de dançar ao redor do fogo do Espírito Santo, para que as chuvas abundantes do Seu perdão caia sobre quem ouvir, a partir de agora, as palavras que novamente foram colocadas em minha boca, pelo amor que partiu do seu coração, meu amigo, para comigo.
E A PRUDÊNCIA DOS SÁBIOS NEM OUSOU CONTER NOS LÁBIOS O SORRISO E A PAIXÃO
Aqueles que são Dele, porém, ainda sob o jugo tirano da “igreja farisaica”, que se formou debaixo de dogmas evangélicos e idólatras —há sete mil joelhos que não se dobraram, e não conseguirão conter seus lábios silenciosos, o sorriso e a paixão por Jesus, que é todo sorriso e paixão por nós, inclusive por você, meu amigo. ALELUIA!!
POIS TRANSBORDANDO DE FLORES
Novamente a suavidade, o perfume, as cores lindas e as formas diversas, que nada mais são do que a própria humanidade em suas individualidades, mas que, para Deus, é transbordamento de gente linda.
A CALMA DOS LAGOS ZANGOU-SE
O vento soprou novamente da direção do barquinho dos verdadeiros apóstolos que estavam sossegados; e o rebuliço do Mar vai começar! E Ele vai mostrar Seu poder!
A ROSA DOS VENTOS DANOU-SE
A bússola falsa que apontava para o inferno, virou, pela sua própria maldade, à sua própria danação. O Evangelho será pregado (e já está sendo) pelo rumo do vento de Cristo. A Palavra será novamente lida pela chave do Evangelho da Graça que reside em Jesus Cristo, conforme você vem ensinando a todo o tempo.
O LEITO DO RIO FARTOU-SE E INUNDOU DE ÁGUA DOCE A AMARGURA DO MAR.
Isso me faz lembrar um outro poeta, Djavan, que escreveu: “Sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar?” Tanta água à frente, porém incapaz de matar a nossa sede de Deus, pois está contaminada, poluída, pelos excrementos amargos de quem se dizia Portador da Vontade Divina. Davi mesmo disse: “Minha alma tem sede, e sede do Deus vivo”. Isso, Caio, nós estamos experimentando no CAMINHO DA GRAÇA o beber da Água!! Não mais a sede, porém a água doce, mineral, pura e purificada pela Verdade que é Verdade.
NUMA ENCHENTE AMAZÔNICA
Não posso deixar aqui, meu irmão, de ligar o fato de você ser oriundo, justamente, ironicamente, da Amazônia. Se eu estivesse aqui puxando seu saco, não seria eu, mas Chico Buarque. Porém, quem conhece Chico Buarque, sabe o tamanho da envergadura da sua virilidade para que possa puxar saco de quem quer que seja. Da mesma forma, quem me conhece, sabe que filho de Rafael e D. Carmen jamais bajulou ninguém. Porém, foi justamente do Amazonas que tem vindo essa enchente. Problema de Chico Buarque que anteviu; ou, melhor ainda, problema de Deus, que colocou no coração desse poeta o que para mim é profecia já cumprida. E é problema de Deus, também, que colocou no seu coração, meu amigo, as Palavras maravilhosas que eu tenho ouvido. É de fato problema de Deus, também, que decidiu fazer assim com alguém tão fraco como você. Porém se você não fosse fraco, você não seria de Deus, porém de você. Bendita a fraqueza que reside em ti, meu amigo Caio.
NUMA EXPLOSÃO ATLÂNTICA
Sabe o que eu penso sobre isso? Que o Senhor é grande demais para circunscrever essa mensagem, limitando-a dentro do Brasil. A explosão sairá pelos oceanos. Esse Evangelho de Graça sobre Graça, de Perdão sobre Perdão, de Misericórdia sobre Misericórdia, explodirá para todos os confins da terra.
E A MULTIDÃO VENDO EM PÂNICO.
Aqui eu menciono os pastores que dominam sobre ovelhas, e que estão com medo do rio que vai explodir o Atlântico.
E A MULTIDÃO VENDO ATÔNITA.
Aqui eu menciono as ovelhas que se verão livres dos jugos pesados e dos fardos esmagadores. Uma multidão atônita por entender que tudo já está feito e consumado por Jesus Cristo e que irá diretamente a Ele, atônitas, aliviar-se de um jugo e de um fardo pesado nos ombros; e conhecerão leveza e suavidade para sempre.
AINDA QUE TARDE O SEU DESPERTAR.
Escrevo aqui duas coisas: primeiro ao meu amigo Caio Fábio, que despertou. Não te conheci antes do sono e nem durante o acordar. Já conheci o Caio desperto por Deus, fortalecido por Deus e abençoado por Deus, que não permitiu que o inimigo cirandasse contigo, apesar de tudo ter parecido uma ciranda. Mas foi, para o meu coração que te ama, um emissário de satanás para te esbofetear, para que a multidão das revelações que o Senhor te deu não te ensoberbecesse; e que você vivesse apenas porque Graça sobre Graça reside da parte Dele sobre você. Segundo o despertar de multidões de ovelhas, multidão de vidas que vão entrar nos céus somente porque as vestes estão salpicadas pelo sangue do Cordeiro.
É isso aí, meu amigo. Deixo aqui declarado meu amor por você.
Fonseca.
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Querido amigo Fonseca: Graça e Paz!
E do amor gritou-se o escândalo
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar pelas trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão
Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar
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Fonseca, amigo querido,
Espero que o Chico não ache uma heresia que sua poesia, sirva-serva, possa inspirar um coração que a lê conforme o Evangelho da Graça de Cristo. Mas se é poeta de verdade, não briga por sua “própria” interpretação, mas almeja que sua inspiração seja conforme a inspiração de cada um.
Se formos usar o critério da Bíblia de interpretação de si mesma, veremos que os escritores do Novo Testamento tiveram a “liberdade” interpretativa, a qual o próprio Jesus lhes ensinou, conforme, entre tantas interpretações que Ele mesmo fez e a eles “abriu”, se vê, ilustrativamente, na narrativa de Lucas 24, quando Ele mostrou aos Seus discípulos “o que a Seu respeito constatava em todas as Escrituras.”
Assim é que vemos os evangelhos tirarem textos do Antigo Testamento, aparentemente, algumas vezes, de seu próprio contexto histórico-imediato, e aplicá-los ao “momento-hoje-profético” que eles estavam vivendo.
Se o Salmo 19 nos diz que um dia ensina sabedoria a outro dia, e que nos movimentos da vida e da natureza se ouve a Palavra de Deus, então como não pensar que palavras soltas ao vento não possam se tornar profecia de amor para qualquer coração, e conforme o amor da alma daquele ser?
Sim, creio no poder da inspiração espiritual que visitou seu coração com alento e esperança, posto que eu mesmo, inúmeras vezes, ouvindo uma musica, vendo um filme, assistindo a um documentário, e até vendo a reação de um lutador num luta, sinto que Deus fala comigo; e, saiba: muitas vezes de modo muito forte.
Também ouço Deus falando a mim em todas as coisas!
Faço de cada palavra sua a minha oração, sabendo que, sobretudo o “Amazonas” desse milagre, não sou eu; sendo eu, no máximo, apenas mais um dos muitos filhos de um “amazonas de amor e graça” muito maior, e que há de invadir não somente o Atlântico, mas o Pacifico, o Indico, e até o Mar Vermelho; o qual ainda haverá de curar corações mais doentes do que o Rio Tietê.
Minha alegria é ver que lá no “Caminho”, entre tantas graças, o povo está aprendendo a amar a Deus por Deus; sem barganhas; e, portanto, ficando cada vez mais livres da Tirania dos Falsos Sucessos ou da Irrealidade praticada em nome de uma fé que é apenas superstição; e que apenas sempre propõe evasão da dor e da vida; impedindo assim, sempre, muitas boas podas que Deus só realiza em nós se estivermos na vida, e não num mundo paralelo.
Ou seja: as pessoas estão crendo que Deus trabalha em todas as coisas, ainda que alguns dos meios sejam vistos como “profanos” por gente que é mais santa que Jesus.
Desse modo, amado amigo, em cada detalhe de nosso existir, até nos catastróficos, quando se ama a Deus, tudo vira bem.
O que me aconteceu em 1998, pode ter sido um espinho na carne. Mas me parece que foi mais na carne dos evangélicos do que na minha. Eu estava precisando dele para perder tudo, e os evangélicos, para me perderem. Isto porque me ficou claro que continuar no meio daquela Casa de média e de homicídios, praticados pelo poder das palavras-veneno, estava para além de mim. Tornou-se insuportável. Eu não queria mais estar ali por nada. Vira quem eram eles, o que queriam, e como desejavam, de verdade, que “o espinheiro reinasse sobre eles”.
Quanto a mim, vejo que o espinho na carne não foi para que eu não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, até porque eu estava ficando árido de alma, de tanta frustração e perda de romance até com a história da igreja que eu tinha vivido.
Creio que o espinho me foi enviado, a fim de me esbofetear, justamente para três outras coisas, pelo menos: 1) salvar minha alma de ficar cínica e impermeável, pois, naquele meio, ou você sai, ou fica igual; 2) me relativizar aos olhos deles, para que sob tal pretexto, não ouçam a Palavra apenas porque eu a falei; e, assim, confessem com a boca que não são gente da Palavra de Deus, mas sim dos ídolos e das palavras dos homens; 3) a fim de que eu ficasse livre para gritar do eirado aquilo que antes eu só declarava no interior da casa.
Quanto ao mais, as revelações só voltaram depois que eu saí desse meio de homens de mármore. Minha alma foi acordada pelo “espinho”.
E por falar em sonho de Deus em bocas não “santificadas pela igreja”, devolvo-lhe uma letra do Chico que poderia ser também mais que o sonho de uma Cidade, mas acerca do povo de Deus, especialmente em seu final, quando aparece o conceito de “crianças” liderando na pureza do amor, conforme Jesus disse que deveria ser entre nós.
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A Cidade Ideal, Chico Buarque
Composição: Enriquez/Bardotti/Chico Buarque
Ao longo da estrada fui percebendo que os meus amigos tinham umas idéias meio loucas de o que era uma cidade, umas idéias exageradas, cada ilusão, negócio de louco:
CACHORRO
A cidade ideal dum cachorro
Tem um poste por metro quadrado
Não tem carro, não corro, não morro
E também nunca fico apertado
GALINHA
A cidade ideal da galinha
Tem as ruas cheias de minhoca
A barriga fica tão quentinha
Que transforma o milho em pipoca
CRIANÇAS
Atenção porque nesta cidade
Corre-se a toda velocidade
E atenção que o negócio está perto
Restaurante assando galeto
TODOS
Mas não, mas não
O sonho é meu e eu sonho que
Deve ter alamedas verdes
A cidade dos meus amores
E, quem dera, os moradores
E o prefeito e os varredores
Fossem somente crianças
Deve ter alamedas verdes
A cidade dos meus amores
E, quem dera, os moradores
E o prefeito e os varredores
E os pintores e os vendedores
Fossem somente crianças
GATA
A cidade ideal de uma gata
É um prato de tripa fresquinha
Tem sardinha num bonde de lata
Tem alcatra no final da linha
JUMENTO
Jumento é velho, velho e sabido
E por isso já está prevenido
A cidade é uma estranha senhora
Que hoje sorri e amanhã te devora
CRIANÇAS
Atenção que o jumento é sabido
É melhor ficar bem prevenido
E olha, gata, que a tua pelica
Vai virar uma bela cuíca
TODOS
Mas não, mas não
O sonho é meu e eu sonho que
Deve ter alamedas verdes
A cidade dos meus amores
E, quem dera, os moradores
E o prefeito e os varredores
Fossem somente crianças
Deve ter alamedas verdes
A cidade dos meus amores
E, quem dera, os moradores
E o prefeito e os varredores
E os pintores e os vendedores
As senhoras e os senhores
E os guardas e os inspetores
Fossem somente crianças
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Eu também gostaria muito que no “Caminho da Graça” a gente não perdesse o sonho-verdade das crianças!
Obrigado pela manifestação de seu amor e de sua certeza-esperança acerca do que Deus está fazendo e fará.
Que o Espírito de Jesus encha você e sua família de um modo extraordinário, conforme a beleza das almas de todos vocês, as quais resplandecem o amor de Deus com simplicidade e singeleza de coração.
Nele que usa mulas, e, mais extravagante-mente, a mim, abençoe a sua vida, e, também, que ainda dê ao Chico a chance de ler sua própria letra com os olhos do Antônio Fonseca,
Caio