SABENDO SEM NADA SABER – João nove.
O texto de João capitulo nove — ao introduzir através do “cego de nascença” o tema da Graça como poder de cura [da cegueira], de revelação [de quem Jesus era, de quem o cego era, de quem os pais do cego eram, e de quem os religiosos eram], de misericórdia [manifesta pela decisão unilateral de Jesus de curar o homem], de juízo [sobre os religiosos incrédulos], e, sobretudo, de desvendamento do poder da Graça na desestabilização dos poderes constituídos [o fato moveu as entranhas do Templo] — nos faz ver como a pressuposição de que se “vê” algo, como diziam os religiosos do texto, “nós vemos”, é justamente aquilo que mais nos cega.
“Se fosseis cegos, pecado não teríeis; mas porque dizeis ‘nós vemos’, subsiste o vosso pecado”.
Assim, a equação espiritual do Evangelho acerca de “ver”, é simples:
Não veja por você mesmo. Veja através do Evangelho. Pois o ver mediante o Evangelho sempre parte do fato de que aquele que vê, antes de tudo viu que nada via. E viu sendo cego, pois, agora vê não porque tenha visto Quem o curaria, mas porque por Esse fora antes visto.
No entanto, aquele que diz: “eu vejo”, esse está cego!
Ora, mesmo nos meus melhores dias de percepção [Sim! Pois a percepção sofre variações] ainda vejo que nada vejo, ou, na melhor das hipóteses, vejo apenas muito e tão somente em parte e em parte…
Afinal, quem sou eu?
Sou o que não é em todos os sentidos!
Não tenho poder nenhum sobre e contra quase tudo, ou tudo.
Sim! Pois até na minha melhor segurança, somente seguro me sinto pela multidão de minhas ignorâncias, assim como alguém que dorme sobre um ninho de cobras hibernantes, e pela ignorância acerca da presença delas, descansa em paz.
Dou graças a Deus pela minha ignorância, pela minha chance de não saber, pelo descanso que advém de apenas confiar e viver em paz!
Dou graças ao Pai por apenas viver pela fé. Afinal, por mais hiper-confiante em Deus que eu seja [de fato: fosse], não sou Jesus; e não suportaria viver sabendo para além do que posso como homenzinho e vermezinho de Jacó.
Assim, cada dia mais amo todas as minhas limitações!
Estou tirando prazer da fraqueza e aprendendo dia a dia a benção de não poder e de não entender quase nada, e, ainda assim, andar satisfeito e muito em paz!
O paradoxo do Evangelho neste aspecto da vida, é que quanto mais você se satisfaz apenas em andar pela fé[e não que pelo que se pensa ver], mais surge em você a compreensão que excede o entender e o entender que prescinde do compreender.
E, assim, “sem vírgulas”:
Você começa a não saber enquanto já sabe sem saber como tudo aquilo que você não compreende possa estar em você entendido como algo que você não compreende para poder explicar.
Entendeu?
Rsrsrs. Mas é assim mesmo!
Creia e fique sabendo!
Nele,
Caio
1 de agosto de 2008
Lago Norte
Brasília
DF