Salvando a Certidão de Casamento…e perdendo a alma!
Mensagem:
Pastor Caio Fábio,
Minha história não é diferente da de muitos cristãos que sucumbiram por não saber distinguir corretamente a voz de Deus.
Uma conversão tardia (aos 32 anos), um grande amor pelo Senhor Jesus, a descoberta do fazer, fazer e fazer a Sua obra, o que me levou ao ativismo próprio do recém convertido.
Em menos de dois anos já era obreiro credenciado da organização, diácono, professor da Escola Dominical, professor do instituto teológico da mesma organização, presidente do grupo de casais por três gestões, até me atrevi a pregar em muitas de nossas igrejas, perdi a conta de quantos congressos e convenções participei…inclusive dirigidos pelo senhor.
Enfim…igreja de domingo a domingo.
Meu coração reluta em acreditar que eu tenha feito tudo isso com amor, com dedicação, com desejo de trazer outros à Cristo porque tudo isso eu fiz com muito amor…Pois não deu certo.
O que eu não podia imaginar é que a esposa e os três filhos que estavam debaixo do “meu sacerdócio”, não estavam nem ai para tudo o que eu estavam fazendo para o Senhor Jesus.
Até íamos juntos aos cultos, à escola dominical, às programações da igreja e etc.
Até então eu tinha um emprego estável, o salário não era lá essas coisas, mas víamos o Senhor multiplicando, fazendo-nos crer que agia porque eu estava fazendo a Sua obra.
Mas, sou obrigado a reconhecer que muitas vezes minha esposa desejou algumas coisas que meu orçamento não pode suprir e ela, digamos, “aceitou” como que esperando um suprimento maior do Senhor…e muitas vezes ela não viu esse suprimento e teve que sufocar aquele desejo.
Até que veio o caos…a tragédia propriamente dita sobre nós.
Uma oferta para participar de uma sociedade empresarial com dois sócios, irmãos em Cristo.
Muito bem, não preciso dizer que a sociedade foi um tremendo fracasso.
Em menos de seis meses um dos sócios que detinha o equipamento necessário para o andamento da empresa, ao ver o barco furado no qual entrara, pegou o que era seu e saiu fora.
O segundo sócio agüentou mais seis meses e não preciso dizer o trauma que foi o rompimento de nossa sociedade…
Perdi os amigos, os irmãos em Cristo, e fiquei sozinho na tentativa de recuperar uma indenização salarial de 22 anos de trabalho…Naquele emprego estável que falei anteriormente.
Como se tratava de uma transportadora, a família vendo a situação…Arregaçaram as mangas e se lançaram na mesma tentativa que eu.
Foi em vão.
Sabe uma areia movediça ? quanto mais se mexe…mais afunda?….assim foi!
Agora vieram as perdas materiais, carro, casa foi a leilão por não poder pagar as prestações…um inferno.
A essa altura, enredado por essa avalanche, a vergonha do fracasso—afinal, como pode alguém que amava as cartas do Apostolo Paulo, que muitas vezes ensinou, pregou que “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”, “Que o meu Deus segundo as suas riquezas suprirá minhas necessidades em glória?”—agora estar vencido? derrotado diante de um negócio que foi fruto de muita oração, de aconselhamento de pastores que disseram, “vai é de Deus”?
Era de se esperar de minha parte um afastamento da igreja, da comunhão e conseqüentemente um esfriamento na fé…de tal forma que nos afastamos todos. Eu e minha família.
Afinal de contas, quando de todo aquele envolvimento de trabalho e ativismo, minha casa vivia cheia de irmãos, casais com seus filhos, estávamos sempre juntos em eventos de lazer, etc…
Mas agora…completamente sós!
Isolados…
Nenhum irmão para fazer uma visita e perguntar se estávamos precisando de alguma coisa, uma oração que fosse.
Esse período serviu para muita coisa pastor…
Serviu para ver que lideranças que deveriam se preocupar com suas ovelhas não estão nem ai com a situação; serviu para que verificasse quão frágil era a minha fé; serviu para eu ver meus filhos se revoltarem contra Deus por ver o pai—que tanto procurou fazer na Sua obra—, agora estar derrotado e sem ajuda nenhuma; serviu para eu ver minha esposa demonstrar toda sua aversão àquilo que durante dez anos ela fez apenas e tão somente porque eu estava fazendo; serviu para eu constatar a mais dolorosa das dores para um marido…
Saber que em quanto eu estava em Serra Negra naquele congresso que citei acima…no qual minha esposa não pode ir… por um espírito de vingança…nessa hora alguém apareceu lá em casa se dizendo disposto a ouvir e se fazer de conselheiro…sim, apareceu um “irmão”… amigo de dentro de minha casa—muitas vezes dobramos os joelhos juntos para orar uns pelos outros, fazia parte pessoal do louvor da igreja, também era pregador—pois é, pastor Caio, esse irmão aproveitou o momento propício para uma ação diabólica, maligna… Manteve um relacionamento amoroso com minha mulher durante quase um ano.
Esta confissão foi ela mesma quem fez, quando a consciência pesou.
Já conversamos muito sobre o assunto. Porém, desde então, eu não tenho feito outra coisa se não lutar para a manutenção do nosso casamento, procurando aceitar a confissão como verdadeira, não sei afirmar se o perdão que eu liberei teve realmente algum efeito.
O que ocorre é que além da aversão que ela criou contra a igreja, contra o evangelho, contra pastores, contra Deus…é algo alarmante, assustador.
A ponto de ela afirmar taxativamente que não acredita em céu e nem em inferno, que Deus e o demônio é história da carochinha e coisas assim.
Recentemente ela foi acometida de um câncer e eu quase a perdi na cirurgia. Quando soubemos da gravidade da doença eu mobilizei igrejas, pastores, missionários para interceder por ela, mas nem isso fez com que ela voltasse a temer a Deus…chegando a afirmar que Deus não teve participação nenhuma na sua recuperação…Eu entendo foi um milagre ela estar viva hoje.
Para alguém que ficou mais de 5 horas na mesa de operação, para alguém que poderia estar muda ou no mínimo com sérios problemas de fala, me assusta as colocações que ela tem feito.
É importante lembrar que apesar do afastamento da igreja eu não perdi o temor a Deus, continuei crendo em Sua palavra, nos momentos de maiores lutas foi em Deus que eu busquei sozinho o meu refúgio…mas busquei…e creio que Ele me ouviu porque aos pouquinhos estamos dando a volta por cima da situação caótica em que ficamos.
E como não poderia deixar de ser, eu não consegui ficar longe da casa de Deus e também aos pouquinhos estou voltando a congregar, a estar na igreja, não mais com a preocupação de fazer alguma coisa para o Senhor, mas para me alimentar da Sua palavra, freqüentando um ou dois cultos no máximo durante a semana…
Esse episódio da sociedade já faz 7 anos que aconteceu e desde então eu não tenho feito outra coisa que não seja apagar focos de incêndio no meu casamento.
São 7 anos de luta para não contrariar a Palavra de Deus que diz “o que Deus uniu não separe o homem”; são 7 anos acreditando que a família é realmente um projeto de Deus; que um lar destruído é uma vitória para o inferno.
Mas minha esposa não fala outra coisa que não seja separação, separação, separação…
Eu tenho buscado forças em Deus, em oração, mas confesso que estou esmorecendo, sinto minhas forças escorrendo entre os meus dedos e já não sei mais se Deus está interessado na manutenção desse casamento.
Eu amo a minha esposa, amo a minha família e não desejo e não quero me separar.
Por isso estou lhe escrevendo, para saber do senhor se há um limite para se lutar por um lar, por uma família.
Para saber se existe alguma outra estratégia de Deus para se vencer este inimigo que está tentando destruir minha família.
Eu aguardo uma opinião sua…
No aguardo…
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Resposta:
Meu querido irmão,
Este mundo é caído e nele nada é feito sem dor e perseverança.
Todos nós já nascemos devendo e no mundo a gente deve sempre.
Somente na Graça de Jesus é que a dívida está paga…no mais…é sempre dívida.
Sua narrativa equivale a milhares de outras que me chegam aqui. Entretanto, há algumas coisas nela que nessa resposta eu espero que sejam úteis para muitos também.
Por isto, tirei todos os elementos que poderiam criar qualquer identificação sua—como sempre faço—, e estou também responde no site…pois muitos poderão aprender com sua história.
Primeiro, Deus.
Deus não é o garantidor de nossas sociedades e nem o avalista de nossos negócios.
Já fiz muita coisa que deu certo—a grande e esmagadora maioria das vezes!
Outras coisas deram errado—umas porque o princípio estava errado e outras porque Deus achou melhor que o insucesso me faria mais bem…me faria melhor.
Continuo a poder todas as coisas Nele!
Posso viver em abundancia e em escassez…posso poder e posso não poder…posso tudo Naquele que me fortalece…inclusive posso passar pela estação da impotência Nele.
“Posso”, nesse caso, não é capacidade do super-homem de voar, atravessar paredes e se tornar invulnerável.
“Posso”, nesse caso, significa: posso agüentar tudo Nele…não importam as circunstancias…Nele eu sempre sou mais que vencedor…mesmo quando me julgam derrotado…posso vencer a pobreza…posso enfrentar o que é maior do que eu…e minha vitória não é mostrar sucesso…o sucesso da fé é a perseverança que não perde a alegria de ser de Deus…apesar de tudo!
Segundo, o Casamento.
Quanto ao seu casamento, leia o texto que segue:
Se algum irmão tem mulher incrédula, e ela consente em habitar com ele, não se separe dela.
Mas, se o incrédulo se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou a irmã, não está sujeito à servidão; pois Deus nos chamou em paz.
Pois, como sabes tu, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, como sabes tu, ó marido, se salvarás tua mulher?
Somente ande cada um como o Senhor lhe repartiu, cada um como Deus o chamou.
E é isso o que ordeno em todas as igrejas—disse Paulo.
Você acha que Deus deseja que você viva uma existência diabolicamente infeliz para o diabo não ter vitória…mediante a manutenção de uma casamento que não existe?
A derrota do diabo já aconteceu na Cruz…a vitória dele é você não se apossar da vitória que já é sua em Jesus.
Deus não tem nada a ver com essa história.
Amor de homem por mulher e de mulher por homem, saiba, Deus não faz acontecer. Nisto reside sua inexplicável liberdade…e que é maior que sua própria razão.
Deus deixou, mesmo antes da Queda, um espaço de liberdade no coração do homem, para que este escolhesse sua mulher pela realização…e não pela formalidade de um vinculo.
Tudo era perfeito—ainda não havia nem pecado e nem Queda—, mas o homem que falava com Deus na viração do dia…ainda assim precisava de algo menos que Deus: uma mulher.
Na Bíblia toda não se vê Deus criar paixão, desejo e amor de homem e mulher…nem por unção, imposição de mãos ou qualquer outro meio.
Amor de homem e é mulher é Mistério…é tão misterioso que serve para ilustrar o Amor Livre de Cristo pela Igreja.
Ou seja:
Se não houver amor…nem o casamento me aproveitará…
Tem gente que pensa que I Coríntios 13 tem no casamento uma clausula de permissão para a instituição do desamor…mas nada aproveitará mesmo…nem se eu der meu corpo para ser queimado…sem amor nada vale.
Portanto, separe-se em paz…seja um bom pai e o melhor e mais justo ex-marido que você puder—ampare a todos, conforme as suas responsabilidades.
E mais: de filhos ninguém se divorcia.
A dissolução de um vínculo conjugal não implica necessariamente no dissolvimento da família…Assim como a manutenção de um vinculo conjugal como o seu, não necessariamente faz surgir nesse caldo grosso nada que seja uma família.
Nada que não for feito como exercício da fé que atua pelo amor realiza coisa alguma…Nem no casamento.
E Deus nos deu pele, sentidos, gostos, desejos, apetites, e preferências—e nenhum homem tem poder de fazer você amar quem você não ama como mulher, e nem Deus deu a ninguém o poder de fazer uma mulher amar a gente apenas porque a gente a ama…
It takes two!
Se não houver acordo, como andarão dois juntos?
Portanto, estou dizendo a você aquilo que a verdade dá testemunho…não só no seu coração como também no de todos aqueles que a amam.
Dizer diferente é uma tarefa à qual não me proponho…pois não fui educado para ser um fariseu.
Nada podemos contra a verdade, senão em favor da verdade.
Esta é minha opinião. A dou a você com toda paz de coração.
Que o Senhor proteja a todos vocês.
Em Cristo,
Caio