SEI QUE VOCÊ NUNCA LERÁ ESTA CARTA

—– Original Message —– Olá Pastor… Hoje prometi a mim mesma que não iria sentar em frente a este computador, mas a vontade de escrever-lhe é maior que o cansaço. Ontem passei toda madrugada na net, tive vontade de escrever para você, mas depois de ler que os assinantes tem prioridade, resolvi tentar achar algum consolo conversando com alguém em algum site. Tudo em vão, não encontrei ninguém, e até mesmo os desconhecidos, em salas de bate papo não conversaram comigo. Então fiquei vagando entre um site e outro, e vi muitas pessoas felizes, com diversos amigos e fotos de viagem, outras pessoas tristes, e outras com más intenções. Então, 06:00 horas fui dormir e ainda com este sentimento ruim em meu coração. Hoje estou aqui novamente, e mesmo sabendo que este e-mail talvez nunca seja respondido, vou tentar pois tenho que conversar com alguém que, veja com outros olhos para tentar descobrir onde está meu maior erro… Vou começar pela primeira lembrança da minha mente, eu com dois anos soltando pipa com meu pai, e algum tempo depois ele chegando bêbado e brigando com minha mãe e logo depois eles se beijando… Aos 4 anos eu morava em outra cidade com minha mãe e minha avó, eles haviam se separado. No ano seguinte morei em na casa da minha tia, com suas três filhas, minha avó, minha mãe e eu. Lá eu tratada como uma filha de empregada, eu só podia circular em certas áreas da casa, nem comer o que era das minhas primas. Fiquei por lá ate os 11 anos nesse mesmo esquema, quando nesse mesmo ano minha mãe comprou uma casa para nos duas, então eu passei a cuidar de casa, limpar, lavar, passar e estudar. Não tive muitas amigas, não tinha tempo para brincar. Com 16 anos comecei a sair com colegas, beber e fumar cigarro, tudo escondido da minha mãe. E em uma dessas festas em uma fazenda, um garoto me obrigou a transar com ele, e eu bêbada não tinha forças para lutar, era minha primeira vez… Fui embora a pé… Andei cerca de uns 6 km até minha casa. Passado alguns anos, já na faculdade, comecei a namorar um garoto. Esse era o meu primeiro amor. Nos amávamos muito, e como conseqüência do amor, o desejo… Era minha terceira vez. Um mês depois eu estava grávida. Eu queria morrer… não queria um bebê. Ele me deu alguns remédios para que abortasse, mas eu passava mal e vomitava depois. Ele não queria aquele filho. Dizia que me amava muito, mas não estava preparado para ser pai. E com quase três meses de gravidez, ele me abandonou. Quando meu filho nasceu, toda família ficou muito feliz, inclusive a família dele, pois havia nascido um bebe lindo, loirinho e de olhos claros, a cara do pai. Mas ele nem se manifestou. Não registrou o bebê, e hoje estou com processo na justiça para paternidade e pensão. Ano passado comecei a namorar um rapaz. Era tudo muito perfeito. Ele tratava meu filho como se fosse dele. Depois de 1ano e 3 meses, íamos ficar noivos, quando nessa mesma semana, descobri traições dele, inclusive uma delas era uma garota com quem saímos várias vezes. Ela se dizia minha amiga…. Eu estava disposta a relevar as traições dele, mas ele terminou tudo comigo. É duro ver os dois juntos na faculdade (ele e a menina), e ainda fazendo intrigas sobre meu passado e de meu filho… Agora ele diz que não é dele. Sábado passado eles se casaram, com apenas três meses de namoro. Ela está grávida. Nossa Pastor! é difícil aceitar que a pessoa que antes se dizia “o grande amor”, nos abandonar no caso de uma gravidez… A gente nunca imagina isso acontecer de verdade… Ou no caso de sermos trocadas por outra mulher apenas por dinheiro… pois ela é rica, e está bancando tudo. Até o casamento ela que pagou… tudo… ele não trabalha…. E ela é mais velha 7 anos do que ele. Na verdade eu nunca tinha feito esse balanço da minha vida. Hoje estava relacionando uma coisa com a outra. É difícil também aceitar e enxergar nossos erros, como no caso da bebida no passado; ou nossos defeitos: … sou uma pessoa ciumenta e possessiva. Tenho meus defeitos, mas também minhas qualidades. Sou uma garota bonita, sempre recebo elogios por onde passo; sou honesta, fiel, companheira e amiga; mas sempre estou só… Minhas amigas se casaram, mas eu não encontro um companheiro que me ame de verdade. E, ultimamente, não saio de casa… ou melhor: saio para levar meu filho a brinquedotecas e parques, vou a reuniões de família, faculdade, e fazer compras com minha mãe; e, em alguns sábados vou a cultos de jovens em algumas igrejas. Mas apesar de tudo sou feliz, pois tem gente com maiores problemas que o meu como; problemas como fome, miséria, desemprego, violência na família, doenças, etc… O que eu sempre quis e quero é dar uma família de verdade para meu filho: mãe, pai, e mais um irmãozinho… E se puder, gostaria também que minha mãe morasse comigo que é pra ela não ficar sozinha… Sim, queria morar numa casa bem arrumada, com cachorro e uma jardim com muitas flores e grama verdinha… Pastor, peço que ore por mim, por minha família, e pelo pai do meu filho, para dar a ele a responsabilidade de pai. Ah! esqueci de dizer: tenho 23 anos e meu filhinho fará 2 anos em janeiro. Desculpe por falar tanto. Mesmo que você não leia essa carta, já estou mais leve e o coração mais calmo. Acho que hoje conseguirei dormir melhor. Deus abençoe você e sua família… obrigada. Daquela que espera no Senhor… _____________________________________________________________________________________ Resposta: Minha querida filha: Que Deus a guarde em Seu amor! Seu jeito de escrever e seus sonhos são de menina. Inclusive as ilusões. Tipo: “…todas as minhas amigas já casaram, mas eu não consigo encontrar alguém que me ame de verdade”. Ora, na realidade,as suas amigas apenas se casaram, mas como você sabe se estão felizes? ou se encontraram o amor de suas vidas? No entanto, dada a sua angustia e ansiedade pelo casamento, imaginei você com uns 28 anos. Quando, todavia, você me disse que tem apenas 23, meu susto se estabeleceu como carinho cuidadoso por você. E por que? Ora, é que de fato sua vida é normal!—hoje em dia, ter que lidar com o que você lida, ainda é uma benção! No entanto, dado ao fato que sua vida foi marcada pela “solidão” em relação ao seu pai, você não deseja que seu filho viva o que você viveu; e, assim, deseja de todo coração dar um pai a ele. Todavia, essa não é uma boa motivação para se casar. Isto porque, pode aparecer alguém que deseje estar com você; mas pode ser que você se auto-engane de tal modo que “aceite” o cara pelo seu filho, e não por você mesma. Seria trágico, no futuro, se você, hoje, e ainda menina, fizesse uma decisão de ficar ou casar com alguém como se fosse uma espécie de Casamento INSS ou Casamento Fundo de Garantia ou Casamento Seguro de Vida. Você é jovem e bonita. Não nivele por baixo. Não aceite as propostas no dia da carência, pois, é como fechar negócio quando se está falindo: vende-se o que há de mais preciso por uma bagatela apenas porque se está “na bacia das almas”, respondendo não ao bom-senso e à razão, mas sim a ansiedade, a pressa, e a carência. Mas se você ficar calma, e andar sem ansiedade, você vai ter muito mais chance de encontrar alguém de quem “você mesma” goste, e que você mesma escolheria em qualquer circunstância, e não apenas porque quer dar um pai ao seu filho. Reprodutores há muitos! Pais há poucos! Quanto ao garoto que deixou você e casou com a menina da faculdade, saiba: você tinha mais é que estar feliz! Sim, você ficou livre de um grande e espinhoso abacaxi! Um cara que casa porque a moça é rica (essa foi uma de suas conclusões!), que vive de vento e valsa, e não olha para vida como homem, mas como menino que busca facilidades, é, sem dúvida, se não se converter em homem, uma receita certa para a infelicidade. E, essa mesma moça, talvez, um dia, ainda procure você para falar dele, e, nesse dia, você verá do que foi salva. Portanto, não chore a sua salvação. Ao contrário, alegre-se nela! Outra coisa. Você é jovem. Portanto, viva a sua juventude, ainda que você seja já mãe. No entanto, não fique “disponível” na internet. As relações na internet são tão fáceis quanto vagas e sujeitas a grandes surpresas. Ora, se no ambiente não-virtual a gente tem surpresas, quanto mais no ambiente virtual, onde, para fins de cantada, todo sapo vira príncipe, todo tarado vira santo, e todo esquisito se torna apenas exótico? O melhor a fazer é ser você mesma, conforme sua idade e juventude. Negar a si mesma a benção esta estação da vida, pode, no futuro, trazer grandes cobranças de você para você; e da pior forma possível, em geral criando desejos reprimidos e vontades recalcadas, mas que brotam um dia do coração forçando o caminho para fora pela via que a alma encontrar mais vulnerável ou disponível—a maioria das vezes apenas exacerbando tudo aquilo que no tempo próprio era apenas algo normal, mas que um vez “reprimido” acaba por se tornar pulsão que gerará “fortes desejos”, os quais, um dia, voltam, e cobram uma conta injusta e desigual. Espero que tenha podido ser útil a você! Que Deus a abençoe e a guarde! Nele, que nos ama, Caio