SERÁ QUE ESTOU FICANDO MALUCA?
Graça e Paz, Caio Fábio!
Não sei ao certo por onde começar, diante de alguém com tanta habilidade no assunto Deus, porém vou tentar me expressar de maneira clara e objetiva (o que acho difícil, rsrs).
Começo com um retrospecto de quem fui e sou, apesar de hoje ser nova pessoa em Cristo.
Meu nome é HJG, tenho 24 anos, tenho uma filha de 6 anos, e sou abençoadíssima, uma teóloga nata, com diz um amigo.
Sou filha genética de uma prostitua com um cafetão, adotada aos 2 meses por uma tia (irmã de minha mãe biológica). Sempre sofri alguns problemas com o meu pai adotivo, pois, não me aceitava como filha, apenas me tolerava. Muitas foram nossas discussões e brigas; tentativas de abuso sexual dele para comigo; enfim, muito conturbado. Mas pela Graça divina, ele morreu; morreu depois da diabete ficar em estágio critico, e outros fatores que não convém dizer agora—mas foi isso o que o levou a buscar a Deus e a se converter. Nos últimos meses de sua vida cuidei e zelei dele. Foi perfeito nesse tempo. Conversávamos e brincávamos. Foi tremendo nosso relacionamento. Mas isso também ocorreu por um erro meu, pois, engravidei aos 17 anos; e foi difícil, pois, meus pais não aceitaram.
Sofri com alegria, pois era o propósito de Deus em nossas vidas. Foi quando minha irmã levou um pastor até nossa casa, e foi uma benção. Isto porque a situação estava critica. Até aí meu pai e minha mãe ainda estavam chocados com minha gravidez. Nesse dia eu e meu pai nos abraçamos pela primeira vez e pedimos perdão um pro outro. Dali em diante foi uma paz imensa em nosso lar, mesmo com a doença dele.
Pena que ele se foi no meu sétimo mês de gestação, mas louvo a Deus por isso, por que no meio de tanta tribulação, me acheguei a Ele e ao meu pai.
No entanto, mesmo assim, cometi erros. O pai da minha filha não a assumiu. Pelo contrario, foi para a China logo que ela nasceu; e está lá até hoje. Mas os tempos ficarão difíceis. Na época que tive minha filha, para dar conta das responsabilidades e das contas a pagar, me tornei amante de um homem casado, que me ajudava. Porém o preço a pagar era caro. Foi quando comecei a freqüentar mais assiduamente a igreja. Vale ressaltar aqui que sempre fui católica assídua, apesar de adorar a noite (as baladas). Nesse tempo houve dias que este amante me tirava de dentro da igreja e me levava para o motel. Eu orava para que Deus me ensinasse como a sair daquela situação, pois, sozinha, eu não conseguiria. Levou 1 a 2 meses, e resposta veio novamente. Ele me ouviu. Em uma semana eu mudei de cidade e me livrei do amante. Então tomei minha posição: decide servir a Deus.
Nessa cidade onde moro atualmente comecei a freqüentar uma igreja pequena, porem muito temente. Me batizei, porém tive dúvidas sobre o que tinha feito. Me mudei pra um bairro distante, o que tornaria minha ida a igreja mais difícil. Mudei de igrejas várias vezes. E não me achava em nenhuma. Até que me firmei em uma igreja perto de onde moro. Fiquei 1 ano, me tornei membro, participava do louvor, dirigia cultos, aconselhava os irmãos, era presidente dos jovens, uma benção. Porém comecei a conhecer as doenças da igreja; e não aceitando isso, me afastei. Comuniquei aos irmãos que não concordava, e sai daí igreja. Hoje apenas os visito, mas mesmo assim não deixei o meu Deus de lado; e freqüento há quase 1 ano uma igreja renovada. Confesso para ti que essa igreja onde fui membro me deixou receosa em relação a outros ministérios, mas enfim…
Porém, Caio, o que aprendi em meio a tantas divergências foi que eu era a menina dos olhos de Deus, e que nada e nem ninguém me tiraria isso.
Caio, agora cheguei onde eu queria de fato chegar.
Com o passar do tempo Deus foi lindo na minha vida. Tenho aprendido e buscado cada vez mais; e acho que eu estou ficando no mínimo uma liberal ou maluca mesmo. Isto porque muitas questões me deixam indignada dentro das igrejas. Muitas das situações estão seu site, que por sinal colabora, e muito, para o meu desbloqueio de mente e alma.
Mas gostaria de saber a sua opinião sobre o futuro da humanidade. Minha opinião é que muitas pessoas são doentes e não percebem. Pregam coisas e vivem de maneira contraditória. Se preocupam com a vida alheia, e com coisas que não são importantes e necessárias.
Depois de muito ler seu site, entendo, e me corrija se eu estiver equivocada, que o fundamento da vida em Deus é a graça e a misericórdia. Sou o tipo de pessoa que tenta viver um dia de cada vez, mas me preocupa o fato das igrejas não pregarem a Graça de Deus. Só se pegam em detalhes mesquinhos e individualistas. As mensagens são sempre embasadas em experiências próprias, sempre com o mesmo tema. Parece que fogem de falar da realidade e não dizem o que de fato é amor. Como podem dizer “viva o amor”, se não sabemos o que é o amor? Como pregar “Não façam sexo, jovens!” (alias sexo é em dos temas mais freqüente das cartas em seu site), se não mostram o por que e onde está o erro? As escolas dominicais se limitam em explicar o óbvio e esquecem que a Bíblia tem entre linhas; esquecem da mensagem, dos contextos, da história; se preocupam mais com brechas demoníacas, ações do diabo, manifestações do diabo, e esquecem de viver a vida de Deus. Acham que tudo vem do inimigo e esquecem do livre arbítrio. Se esquecem que somos formados em decisões, e que elas mesmas é que vão dizer se somos bons e maus… Eles se escandalizam com tudo!
Tenho que desabafar. Muitas vezes minha vontade é de levantar do banco da igreja e ir para casa.
Há algum tempo atrás eu dizia para uma amiga que me questionava em relação à veracidade de Deus (ela não crê na existência Dele), e eu dizia a ela que Ele é tão real quanto a dúvida dela; e que está duvida era somente o fato dela não querer assumir sua fraqueza e impotência. Assim, sem crer em Deus ele crê na sua dúvida, pois pratica atos que a corrompem enquanto individuo, que a iludem num prazer irreal, e que a verdade é que esses atos e fatos tão somente fazem mal a ela mesma (pecado). E concluí que sendo assim, sua ideologia falsa não a permite aceitar a existência deste Deus.
Caio, como as pessoas podem ser puritanas em determinados assuntos!
Vejo a igreja como repressora, onde 80 % dos atos que cometemos são considerados errados.
Quando entro em seu site, fico espatifada com tantas questões sobre homossexualismo, sexo, adultério, depressão, poucas pessoas, pelo que já li, lhe questionam sobre Bíblia ou coisas assim. Vejo que as igrejas não têm ouvidos para as pessoas; pessoas que lhe procuram como única fonte que não haverá de tratar as coisas com repreensão e repressão. As igrejas são apenas jogo de marketing: onde se faz o superficial apenas para calar a oposição, ou até mesmo os próprios membros.
Não que eu seja instruída para dizer o que digo, pelo contrario. Mas apenas me pergunto: por que não tratar as questões do ponto de vista de Deus?
Não sei se estou sendo ansiosa demais, mas amo meus irmãos, e me deparo hoje com tanta gente machucada e com medo das igrejas, que me preocupo.
Quando tenho algo para resolver, eu digo: “Senhor me diga e me instrua como o Senhor agiria diante de tal situação”. E as pessoas não acham isso correto. Me consideram sossegada demais, ou, então, louca; e eu só acho que só estou no aguardo do tempo Dele.
Faço a minha parte que é de levar a Palavra de Deus da minha maneira. Não sou pastora, nem coisa alguma, pois não tenho desejo de me apegar em títulos e placas.
Mas é difícil levar a Palavra. Há muita contradição quando se fala de Deus. As pessoas o confundem com religião e eu muitas vezes me vejo sem saída.
Até quando as pessoas viveram do passado?
Até quando viveram se iludindo, ou será que sou eu que estou iludida?
Como, prezado amigo, lidar com tais situações?
Enfim, Caio, muitas são minhas dúvidas, e creio que outras mil surgirão, uma vez que começo a Faculdade de Teologia no próximo ano; e confesso para você que muito do que aprenderei será mais do que um desafio. Tenho orado para Deus não deixar a Teologia, a Filosofia ou qualquer outra ciência, venha a tirar o que considero o mais importante, que é a Graça Divina (amor gratuito).
Fico por aqui no aguardo de sua resposta e esperando sua correção no que eu estiver errada, pois será de grande valia na construção do meu ser.
Que a graça do Deus vivo esteja sempre contigo.
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Minha querida amiga: Graça e Paz!
Você disse que não sabia como começar, e eu não sei o que dizer. Sim, porque concordo com quase tudo que você disse, mas apenas não acho interessante sua atitude mental, que questiona e não propõe com a própria vida.
Ver o que está errado, é fácil. Fazer o que é bom é que é importante.
Uma pessoa pode não enxergar nada, mas se faz o que é certo, ela vê tudo. Outra pode enxergar tudo o que é certo, e ter uma critica para cada coisa errada, mas se não faz nada, mesmo que veja, sua visão torna-se a sua própria cegueira.
O ensino do Evangelho é que a verdade só faz bem se é experimentada, posto que ninguém conhecerá a verdade apenas com a mente. A verdade é maior que a mente. Ela só cabe propriamente na experiência da vida. A verdade não se permite equações, nem formulações, mas apenas experiência.
Digo isto porque assisti, enquanto li, sua viagem de igreja em igreja, e de critica em critica, e de certezas e convicções fortes…, ao mesmo tempo em que essas mesmas convicções não passaram ainda de sua mente e alma, e não se enraizaram em seu espírito. Digo isto porque se assim fosse, você não temeria que a ida à Faculdade Teológica tivesse o poder de acabar com sua fé no amor de Deus.
Teologia só acaba com a fé de quem nunca conheceu a Deus!
Portanto, com todo carinho e amor, lhe digo o seguinte: seja propositiva, e se não encontrar um lugar sadio (igreja), seja você esse lugar de Graça e saúde humana, em Cristo. E mais: não fique preocupada com a humanidade, mas sim com esse pedaço do mundo que constitui a sua existência.
Quem apenas olha o globo, perde a iniciativa para arar a terra sob seus pés!
O reino de Deus é como uma semente, a nossa fé é grande quando é pequena como uma semente de mostarda; pois, os grandes mundos são feitos de bilhões e trilhões de pequeninos mundos. Ora, a existência, a vida, e o reino de Deus, existem em perfeita ordem de seqüência e progressão: tudo vai do pequeno para o grande; e o grande é feito de muitos pequenos, e de tal modo que sem o que é ínfimo não teríamos o que infinito.
Estou lhe dizendo isto apenas a propósito de uma certa angustia ou ansiedade, que é no mínimo existencial, que detectei em quase tudo o que você disse; ao mesmo tempo em que percebi uma certa vocação em você em relação a se sentir bem quando diz o que é certo, só que, em você, a coisa pára na fala certa, e não se transforma em ação ou em revelação pessoal.
Ora, isto eu digo não em relação à sua vida como indivíduo que caminha sobre a Terra—e que me parece ser uma existência bondosa e graciosa—, mas sim com respeito a um vício mental que as pessoas inteligentes tendem a desenvolver, que é pensar que o que pensam realiza alguma coisa pelo simples fato de ser pensado. E mais: esta minha observação se concentra apenas no seu modo de sentir e falar em relação ao que é “comunitário”, ao invés de também se transformar em declaração de sua alma, não em observação de sua mente.
Na realidade, o que você me disse ao final—que orava para que não perdesse a fé na Graça de Deus—, me remeteu para o início de sua carta, e, sobretudo, para a terrível experiência de conhecer um “pai” que era perversidade e carinho. Dois “pais” co-existem em você: um que é capaz da perversão, e um outro que é capaz do arrependimento, da reconciliação e do perdão.
Achei interessante, embora tenha entendido completamente, quando você disse que “pela Graça de Deus seu pai morreu”. Senti essa ambigüidade na fala acerca do pai. E, na minha maneira de ver, é daí que vem esse seu amor pela Graça, ao mesmo tempo em que você teme que alguma “informação” possa desconstruir esse amor em sua mente.
Busque transformar seu amor a Deus em propostas de sua vida ao mundo, e não numa expectativa de adesão do mundo às suas propostas, e todas a serem ainda implementadas.
Também percebi uma grande dificuldade sua em falar de sua alma. Por exemplo, você deu a volta ao mundo, mas não explicou o que significava a não compreensão das pessoas no que tange à sua decisão de “esperar no Senhor”. Disse isso sobre as pessoas, mas não foi capaz de dizer: “Minha alma é carente, eu gostaria de ter um marido ou namorado, mas vou devagar, pois, temo tomar uma decisão errada”.
Em outras palavras: mais do que conhecer a Bíblia, você precisa conhecer a você mesma, pois, do contrário, a Bíblia nunca lhe fará bem algum, como por si só, ela jamais fez bem a alma de nenhum teólogo, nem mesmo do mais ilustre de todos eles.
Assim, minha amiga, sendo seu irmão e amigo, estou chamando a sua atenção para você mesma, e não para a Humanidade.
Seu grande desafio será encarar o seu próprio coração, sem nenhum tipo de disfarce de superioridade moral, ética, teológica ou humana, mas apenas revelar a você mesma, chamando as coisas de sua alma pelo próprio nome.
A falta de proporção entre a sua preocupação com o destino coletivo e as suas ações, revela que você está nessa bolha de proteção invisível, na qual seu disfarce é, aparentemente, não ter disfarce algum.
Pense no que lhe disse com um bom coração, e leia esta carta com muito carinho. E peço isto por duas razões: primeiro porque ninguém escreve uma carta como a minha se não estiver com muito carinho; e, segundo, porque foi com carinho e amor mesmo que li e respondi esta carta.
Receba meu carinho e amor no Senhor!
Nele, em quem DEUS não é um ASSUNTO, mas a experiência da própria vida,
Caio