SÍNDROME DE ABADOM E APOLIOM
“Os homens desmaiarão de terror pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo” — Jesus
Na minha infância quase ninguém sentia depressão. As pessoas apenas ficavam tristes.
Depois, já na década de 70, comecei, muito de longe, a ouvir falar numa coisa chamada “depressão”.
Mas no Amazonas era raro ouvir alguém dizer que estava deprimido. Nem mesmo psicólogos havia para fazer tal diagnóstico. Afinal, mulheres tinham 10 filhos pra conseguir criar 5, no máximo. Os demais morriam ainda pequenos, de febre ou impaludismo; ou qualquer mal estranho, ou mesmo tragados pelo rio. Porém, nenhuma mãe ficava deprimida. Choravam o tempo do luto. E os irmãos dos meninos falecidos achavam uma pena, mas ninguém se desesperava.
Durante os meus sete anos de fé e pastoreio em Manaus (73-81), atendi no máximo a umas 10 pessoas que sofriam de tristeza crônica. Depressão. Mas tanto eu quanto elas lidávamos com aquilo como tristeza crônica mesmo, e não como depressão.
Foi de janeiro de 1981 em diante, já pastoreando em Niterói, que passei a ter que ler (e muito) sobre Depressão, pois, lá, o pessoal urbano sempre chegava a mim falando que estava deprimido.
E era depressão por tudo: pelo namoro acabado, pelos pais problemáticos, pelo casamento falido, por frustrações, pelo desemprego prolongado, ou até mesmo por se ter tido um aborto espontâneo aos dois meses de gravidez…
Na década de
Então, fui vendo que no eixo Rio – São Paulo a Depressão era imensa.
Na medida em que viajava pela Terra, ou mesmo depois de ter passado uns tempos nos Estados Unidos, percebi como a Depressão era uma epidemia global; mas sempre muito mais ligada aos ambientes urbanos ocidentais; exceto no Japão.
Já foi no início dos anos 90 que ouvi falar em “Síndrome do Pânico”. Então, de súbito, muita gente passou a sofrer de pânico. Muita gente andava com o remédio na bolsa a fim de ter um “Frontal” no caso de uma crise de pânico e falta de ar.
Uma ocasião (1991), no meio da estação das chuvas no Rio, uma amiga me disse que estando dentro do carro, com a água subindo acima da metade da porta, ao invés de desejar ter um celular (à época ainda um luxo), sua preferência seria por um Frontal, e não pelo meio moderno de pedir socorro: o celular. Aquilo me impressionou muito.
Daquele momento histórico pra frente a “Síndrome do Pânico” foi crescendo e a Depressão continuando, mas perdendo o seu glamour psicológico.
Passei a ler e buscar entender a “Síndrome do Pânico”; e o sentimento de desamparo que dela decorria.
Hoje me trazem até crianças com a Síndrome. Ou, então, aventam a possibilidade de que uma criança de quatro anos esteja já “panicada”. Crianças “deprimidas” já se tornou algo corriqueiro.
Agora vejo outro fenômeno psicológico-urbano
A pessoa passa tanto tempo em chats, em salas de sexo virtual, em papos eróticos, ou em namoros distantes, que, quando volta do ambiente virtual, ou que tem que lidar com as pessoas reais no mundo concreto, ela não sabe mais se sentir em contato.
Então, a cabeça começa a ficar distante. A pessoa se sente como uma observadora dos acontecimentos, mas como se ela fosse um fantasma. A invisibilidade virtual toma conta dela; e, agora, diante de gente concreta, ela sente essa ausência profunda. Todavia, se você pergunta se na sala virtual ela sente-se desse modo, a resposta é que “não”; que “lá ela se sente presente”.
Assim, o que sobra é um mergulho cada vez mais profundo na virtualidade dos relacionamentos sem toque, cheiro ou convívio; pois, no mundo dos sentidos, fora desse Matrix relacional, tudo parece não existir e não ter mais sentido.
Entretanto, tal experiência é um fenômeno de profunda dissociação do mundo e da vida. E como as pessoas são forçadas, por uma razão ou outra, a saírem da câmara matrixiana e lidar com a vida (emprego, escola, faculdade, família, etc.) — não conseguindo mais se sentirem parte de nada tangível, elas mergulham em Depressão e ou na Síndrome do Pânico.
Minha amiga falara em 91 sobre preferir ter um “Frontal” a ter um celular para pedir ajuda no dilúvio urbano do Rio de Janeiro. Hoje você ouve as pessoas dizerem que precisam de seu computador ligado à rede, mas do que de qualquer outra coisa. O remédio é a virtualidade, numa evasão do mundo concreto; o que vai gerando um processo de sensorialidade dissociada da vida, único lugar onde os sentidos são tocados pelo outro.
Cada vez mais ouço as pessoas queixarem-se de que estão, mas não se sentem presentes em nada, em lugar algum. Até mesmo sexo tem gente me dizendo que prefere quando é virtual.
Pais, amigos, amantes, mundos virtuais. Pura e total tragédia humana!
Semana passada, Adriana e eu vimos o filme chamado “It is all about love”. A tradução é “Dogma do Amor”. Quando ela me mostrou o DVD na locadora, pensei tratar-se de um romancezinho.
Que nada! Era a história de uma bailarina (no ano 2021, mais ou menos), e que estava sendo clonada a fim de que ela (que já não desejava mais viver do show em meio a todas as coisas que hoje a ciência diz que estarão presentes na Terra a menos que haja um milagre) — pudesse ir embora com o marido para a Polônia, sua terra de origem; e isto num mundo já tomado pela Sétima Era Glacial. Só que esta, não é fruto de mudanças naturais no clima, mas sim o resultado da intervenção do homem no meio ambiente, criando, muito possivelmente, a pior de todas as Eras Glaciais nos últimos 700 mil anos.
O mais chocante do filme, além de que o mundo está acabando, mas as misérias do coração humano continuam cada vez mais presentes e perversas — é ver que o Pânico Universal agora faz as pessoas perderem o ar enquanto caminham muito bem agasalhas, e, de súbito, caem mortas nas ruas e metrôs de New York; enquanto os transeuntes já acostumados àquela tragédia, apenas passam discretamente por sobre os seus corpos. E dizem: “Não é nada não! Ela só está morrendo de pânico!”
Ora, tais cenários de natureza apocaliptico-existencial remetem-me diretamente para um texto em Apocalipse 9:
O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se o sol e o ar. Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte. Foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os atormentassem durante cinco meses. E o seu tormento era como tormento de escorpião quando fere alguém. Naqueles dias, os homens buscarão a morte e não a acharão; também terão ardente desejo de morrer, mas a morte fugirá deles.
O aspecto dos gafanhotos era semelhante a cavalos preparados para a peleja (expectação de guerra); na sua cabeça havia como que coroas parecendo de ouro (busca de poder); e o seu rosto era como rosto de homem (inteligência); tinham também cabelos, como cabelos de mulher (erotismo); os seus dentes, como dentes de leão (ferocidade animal); tinham couraças, como couraças de ferro (defesa); o barulho que as suas asas faziam era como o barulho de carros de muitos cavalos, quando correm à peleja (ruidosidade dos movimentos de guerra); tinham ainda cauda, como escorpiões, e ferrão; na cauda tinham poder para causar dano aos homens, por cinco meses (o veneno da angustia); e tinham sobre eles, como seu rei, o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é Abadom, e em grego, Apoliom.
Abadom e Apoliom, cujo significado único em ambas as línguas é destruição, é o mal que começa a morder as almas humanas sem esperança ante o complexo de coisas que governam e dirigem a humanidade para a morte por medo e pânico — conforme Jesus disse que seria.
Quando se descreve a aparência desses seres, o que se vê é um composer de tudo aquilo que existe como fenômeno social, político, econômico, e, sobretudo, psicológico, na Terra; e que só tende a crescer.
Sim! Porque esses bichos que saem do porão do Inconsciente Coletivo da Humanidade são feitos de nós mesmos e de nossas mazelas, de nossos ódios, inimizades, ameaças, guerras frias e quentes; de nossa inteligência malévola, de nosso erotismo descontrolado, e de tudo o mais que nós chamamos negativamente de “mundo”.
Esse tempo já chegou como nunca antes!
E apenas crescerá entre nós…
O Apocalipse diz que tais poderes terão seu domínio sobre todos, exceto sobre aqueles que entregaram a “fronte”, ou a mente, ou a razão, ou a consciência ao Cordeiro; a fim de que sejam protegidos contra a Síndrome de Abadom e Apoliom; e que será a Síndrome Universal do Pânico; a qual fará a síndrome do pânico atual parecer uma gripe, se comparada a um câncer nas vias respiratórias.
O que protege a alma é o “selo do Cordeiro”.
Ora, em Efésios 1: 12-14, Paulo diz que esse “selo” é a Esperança no Espírito Santo, a qual nos guarda a alma na certeza da Redenção.
Cada dia mais se estará ante uma situação para qual já não haverá mais fuga; nem mesmo mediante os mais sofisticados mecanismos de evasão da realidade.
O desejo de morrer grassa entre nós. Crianças, jovens, adolescentes, adultos e velhos começam a desejar morrer. Há aqueles que me dizem como um Jó em agonias que não desejariam ter nascido, ter posto a cara para o lado de cá.
O cenário melancólico e lúgubre do livro do Eclesiastes começa se tornar tolo como um gibi de desesperança infantil, posto que o cenário que já está posto é de uma realidade inescapavelmente diabólica para a alma humana.
Digo palavras de lucidez e de bom senso; e não estou construindo nenhuma ficção. A vida confirma e confirmará a cada dia mais a veracidade destas minhas palavras, e que nada mais são que a tradução do que o Apocalipse chamou de ação da destruição existencial contra toda vontade de viver.
Nele, em Quem temos o Selo da Esperança,
Caio
08/03/07
Lago Norte
Brasília