SOBRE O FALAR EM LÍNGUAS
—–Original Message—–
From: Claudio Lavado
Sent: sexta-feira, 18 de junho de 2004 12:24
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Subject: SOBRE O FALAR EM LÍNGUAS
Olá pastor Caio…
Eu preciso saber algo…sempre freqüentei igrejas pentecostais…e nelas também fui ensinado sobre o dom de línguas…hoje sei que o dom nada tem a ver com o que chamam de “batismo com o Espírito Santo”…tenho isso como assunto esclarecido.
Li alguns textos e entendi que as línguas das quais falavam “nos tempos apostólicos” eram línguas terrenas, ditas por quem não as havia aprendido…
Isso ficou muito claro pra mim quando recorri às Escrituras…hoje não consigo entender as línguas que ouvimos falar nas igrejas, tidas como “línguas dos Anjos”, como um dom realmente.
Veja só…por exemplo, quando dá-se numa reunião pentecostal o que chamam de interpretação…um fala “em línguas” e outro interpreta…minha dúvida é:
Interpreta o quê?…visto que uma mesma “palavra” recebe várias interpretações diferentes…não sei se estou conseguindo esclarecer qual seja minha dúvida.
Pra mim acabou por ficar claro que o que acontece é que as pessoas produzem sons…sons são diferentes de línguas…sons não precisam ter lógica…línguas eu entendo que sempre tem lógica…mesmo quando são línguas que não entendemos, sabemos que elas tem uma lógica.
Essa dúvida voltou quando li no site sua posição em relação às línguas…você disse que fala em línguas.
Pastor Caio…o que é então o tal dom de línguas conforme entendemos hoje?
Anjos que se apresentaram a pessoas, na Bíblia, sempre se comunicaram na língua de quem o via e ouvia, ou não?
Por vezes sonho que estou falando em línguas…isso me traz uma sensação estranha…logo que acordo me sinto como quem deixou algo de importante para trás…mas esse sentimento logo passa…é difícil voltar a praticar algo depois que perde o sentido fazê-lo.
Se puder me dizer algo sobre o assunto, agradeço…já lí no site os textos que falam sobre isso…mas eles não esclarecem minhas dúvidas quanto a isso.
Fica na Paz!!!
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Resposta:
Meu querido amigo Cláudio: Amor é o que faz tudo ser língua!
Sim, desde 1 de janeiro de 1977 que falo em línguas, mas ninguém nunca o ouviu, exceto pessoas muito íntimas, pois as línguas são para edificação de quem fala. Quando desejo edificar outros, falo em português e em outras línguas de homens da Terra.
O dom de línguas tem duas manifestações. A primeira é um dom sobrenatural de falar em línguas que não se aprendeu, e que não se sabe. Nesse caso, quem fala não SABE a língua, mas alguém que a saiba, a entende. Esse tipo de manifestação acontece como SINAL para quem ouve. Pessoalmente conheço vários casos em que isto aconteceu, e quem ouviu “caiu com o rosto em terra dando glória a Deus”, conforme Paulo diz em I Coríntios 14.
A segunda manifestação é de natureza completamente subjetiva, e não é passível de ser entendida com os ouvidos físicos, pois não é uma língua que possa ser filologicamente definida como tal. Trata-se, ao contrário, de uma língua do espírito, pois aquele que a fala está orando “em espírito”. Nesse caso, trata-se de uma expressão do ser profundo manifestando seus sentimentos diante de Deus como “linguagem irreferível”, pois ninguém mais o entende, conforme Paulo, também em I Coríntios 14.
No primeiro caso a língua em si é compreensível para alguém que conhece aquele idioma, daí ser um SINAL para os incrédulos, visto que aquele que ouve sabe que aquele que está falando não conhece o idioma que fala. Portanto, a interpretação não é sobrenatural, sendo sobrenatural apenas o ato de falar daquele que diz o que ele mesmo não sabe o que é, sabendo apenas tratar-se de uma mensagem de Deus.
No segundo caso a sobrenaturalidade se manifesta nas duas pontas do processo, pois o que fala está “derramando” sua alma de um modo não racional—sendo apenas uma expressão da liberdade de seu espírito para dizer o indizível em forma não lógica—, e aquele que ouve, não traduz, visto que não há nada a ser TRADUZIDO, mas apenas INTERPRETA, pois o que não é lógico não é passível de TRADUÇÃO, mas sim de INTERPRETAÇÃO.
Daí Paulo mandar que tais línguas não traduzíveis sejam faladas em segredo, com recato e total discrição, pois edificam somente aquele que a fala, e ninguém mais. Paulo disse que preferia dizer em público umas poucas palavras inteligíveis, que milhares de palavras ininteligíveis. Portanto, esse festival de línguas que a gente vê nas igrejas, em geral, são uma violação do próprio ensino apostólico.
A interpretação da língua ininteligível acontece de modo raro, e não é essa maluquice que a gente vê por aí. Isto porque a verdadeira língua espiritual só é interpretada como SINAL e como mensagem PROFETICA se ela trouxer alguma realidade do coração dos ouvintes à luz, e não é um mero repetir de “Assim diz o Senhor” seguido de um monte de promessas de VIAGEM, BONS NEGÓCIOS, OU DE UMA SALVA DE PRATA PASSANDO COM DONS que estejam sendo distribuídos no ambiente.
Na maior parte das vezes eu sinto e sei quando as interpretações são genuínas ou são apenas a expressão da vaidade do “interprete”, como acontece entre nós na maioria das vezes.
O objetivo das línguas é edificar a quem fala, pois não havendo interpretação, ninguém mais é edificado; assim como ninguém o será se eu começar a dizer gúgú dádá…
Além disso, a INTERPRETAÇÃO das línguas requer um certo ambiente de quietude e paz a fim de que haja sintonia. Ora, nos cultos atuais onde tais línguas superabundam, há tudo, menos paz; e o que há em abundancia é euforia carnal.
Ouvindo línguas há cerca de 40 anos eu aprendi algumas coisas:
1. As línguas existem mesmo, e nas duas categorizações acima descritas, e são vigentes hoje, assim como serão sempre…até que desapareçam com a manifestação final do que é PERFEITO, conforme I Coríntios 13.
2. Boa parte das línguas que eu ouço nas igrejas são apenas um fenômeno de “repetição de sons”, e isto porque dependendo do grupo denominacional, as “línguas” se repetirão como se fosse um Wizard de ensino de línguas. Dependo da língua, em geral, já sei até a igreja que a pessoa freqüenta, ou onde aprendeu a falar aquelas algaravias estáticas.
3. As línguas genuínas produzem SINAL E SAÚDE. No primeiro caso é SINAL para os de fora, quando há alguém que entenda a língua humana que está sendo falada por quem não a conhece como razão e lógica. No segundo caso, é SAÚDE para a alma e o espírito, pois “edifica aquele que fala”, sendo um recurso dado por Deus para que o inconsciente se abra e se derrame de modo a orgasmar o ser interior, ou expressar o íntimo de modo não racional, o que trás consigo alívio e conforto para além da razão.
O que passar disso—como o atribuir um poder espiritual especial às línguas—é pura fantasia, e não tem base no ensino apostólico, como de resto se pode dizer de milhares de outras práticas tão comuns entre nós.
Receba meu carinho.
Nele, para Quem nenhuma língua vale sem amor,
Caio