—– Original Message —–
From: SOU CASADA COM UM PASTOR: queremos nos separar…
To: [email protected]
Sent: Friday, March 31, 2006 2:07 PM
Subject: SOU CASADA COM UM PASTOR, QUEREMOS NOS SEPARAR…
Querido pastor Caio…Graça e paz…
O senhor se lembra que acompanhou minha história? Todo o processo de amadurecimento de minha vida sentimental… A garota imatura que namorava com um futuro pastor, que o amava e tinha ao mesmo tempo muito medo do que seu futuro título poderia acarretar para sua vida: mulher de pastor…?
Você se lembra que me casei e logo após, recém casada lhe escrevi…? Enfim …lua-de-mel…, porém cheia de conflitos com o amanhã!
Só que agora este amanhã se tornou hoje: Sou mulher de pastor, mulher sem nome!!!
Quero abrir meu coração e dizer que todo aquele fardo que carregava no imaginário do que deveria ser, se tornou real… é realmente difícil de supurtar!
O mais difícil ainda é outra realidade: não estou feliz em meu casamento!
Existe uma soma de fatores que colaboram para isso:
Moramos na Igreja; o escritório dele é em nossa casa; deixei tudo que fazia, que considerava importante, para ficar com ele: emprego estável, faculdade, família… e o que mais tenho escutado da boca de meu esposo é que não estava preparada pra casar, pra agüentar o ministério, que sou sensível demais.
Sabe pastor, além da solidão gigantesca que sinto com o fato de as pessoas me lançarem fardos demasiadamente pesados, além de estar frustrada por não poder continuar minha faculdade, por não conseguir emprego, por estar em um lugar difícil de se acostumar, sinto que não estou sendo valorizada, pois ainda escuto diariamente que não faço nada (vivo em função de uma casa), que lavo uma louçinha apenas…, enquanto ele tem um ministério pra cuidar
Concluindo: minha vida se resume a ser uma sombra, em um ser alguém que não produz nada… como se eu controlasse a realidade…!
Me sinto sozinha e convivo com a incerteza: Continuar com um casamento onde me sinto tão diminuida, onde me sinto tão sozinha!? Tudo isso em nome da instituição!!!???
O pior de tudo é que amo esse homem, só que tudo está muito desgastado… e acho até que ele também já lhe escreveu, em desabafo, pois este ministério é o mais solitário que poderia existir…
Um grande abraço meu pastor…
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Minha querida amiga: Graça e Paz!
Este site tem menos de quatro anos de existência. Suas cartas têm menos de três anos. E você ainda nem casada era quando me escreveu dizendo o que hoje repete. Sabia o que lhe aguardava, só não sabia, de fato, era como você se comportaria. Hoje você sabe.
Entretanto, o que mais me preocupa em sua carta é a sua tentativa de me fazer relembrar… O quê? Por quê? Qual o significado? Por que tantas perguntas afirmativas em cada questão-resposta? Por que tantas dúvidas cheias de tantas certezas? Por que essa evocação de um casamento mantido pela instituição se vocês mal se casaram? E como pode você amar “tanto esse homem”, e, tão no início da batalha já estar assim, como se vinte anos tivessem passado? E por que me deu uma sensação de elaboração em seu conflito? E também por que você descreve um quadro de mulher de pastor no qual você, que mal entrou na dança, já se chama de “mulher sem nome”? É por causa do livro acerca da mulher do pastor ser “uma mulher sem nome”? Já deu tempo para que esse sentir seja seu mesmo? Ou será que ele é um clichê que apenas justifica sua vontade de fazer seu próprio nome? E por que todo esse encontro de contas, com você deixando… tudo, tanta coisa… por amor a ele? Por que lembrar? Ou então: se eram tão importantes, por que as deixou? Não era assim que você já sabia que seria? Não seria melhor dizer que você se arrependeu de não ter se arrependido antes de ter que se arrepender agora? E não seria esse “o pior é que eu amo esse homem” realmente um “pior” que é muito pior do que as coisas que você ama e deseja? Não seria esse amor algo menor do que quase qualquer outra coisa? Não concorre ele com família, faculdade, carreira, vontade de ter nome? E se é assim, será que você pode dizer que ama de fato esse homem?
É claro que é insuportável ficar morando dentro de uma “igreja-templo”. Ou seja: é claro! Não há nem o que comentar.
Entretanto, o que me surpreende é que você não tinha porque se surpreender, pois, você mesma, já escreveu descrevendo o que achava que não suportaria; e isto antes de casar.
Na verdade, pode ser apenas engano meu, e fruto de um teclar leve de-mais, ou melhor, de-menos, em sua carta. Isto porque ela é tão certa de certeza de separação, que o título que você deu à sua carta, inclui o seu marido no “queremos nos divorciar”, sendo que em momento algum de sua carta você mencionou nada além de que você é quem deseja se separar — o que me faz pensar que ele está angustiado em ver que você não estava preparada não era só para ser mulher de pastor (tarefa altamente brochante), mas para casar e ser mulher em qualquer outra situação.
Digo isto porque, pela sua carta, o único casamento que lhe satisfaria seria aquele que não mudasse em nada a sua vida. Ora, tal vida só pode acontecer com um namorado, com quem não se vive sob o mesmo teto, e com toda a liberdade para dar total prioridade a seus próprios interesses.
Sua alma é de menina solteira!
Com isto não digo que “morar na igreja” não seja um droga; uma coisa desumana; inviabilizadora de casamentos sadios; incômodo e de terrível invasividade!
Aliás, eu acho uma total maluquice uma “igreja” oferecer isto, e um “pastor” aceitar!
Entretanto, na mentalidade de muitas “igrejas tradicionais”, é assim que é; e faz parte do “pacote” que você já conhecia desde antes de casar.
Há uma insuportável leveza de ser em sua carta. Minha questão para você, portanto, é uma só: ela corresponde à verdade de sua alma?
Se corresponder, saiba: não faça esse rapaz sofrer; assuma que você não agüenta o tranco; e, juntos decidam se vale ou não a penas vocês ficarem juntos em nome de coisa nenhuma.
Quanto à “igreja”, num caso de separação, se não for uma presbiteriana puritana, qualquer outra entenderá que ele foi deixado por você; porque você se enganou e viu que não iria suportar as implicação da vida que ele escolheu desde antes de você casar com ele; e, assim, ele não sofrerá penalidade alguma. Mas, pelo menos, ele ficaria livre de ter que levar o seu desgosto sobre a alma dele.
Sinceramente, eu creio que você ainda é imatura demais para casar. E muito menos com um “pastor”. Apenas me faça um favor: não ponha um filho (a) nesse história.
Assim, minha filha (com todo carinho), olhe para seu coração; pois o maior desconforto não é morar na “igreja”, mas sim não gostar do que não gosta. Entretanto, não minta para você mesma, e admita que você se arrependeu. Aliás, antes cedo do que tarde.
Esta é minha resposta mais amiga, sincera e verdadeira para você. Portanto, que não sejam maus os seus olhos quando você ler esta carta.
Nele, e com todo carinho, como de um pai,
Caio