Caríssimo Pastor Caio,
Que a Paz de Cristo seja contigo e na sua casa.
Como admirador de sua coragem, inteligência, franqueza, humildade de coração e perseverança no Senhor, é que venho lhe escrever e rogar por intercessão e conselhos.
Após as violentas turbulências que passou em sua vida, ardilosamente expostas na mídia, devo confessar que ratifiquei a condenação e o veto que lhe imputavam.
Mesmo após lhe ouvir na casa de uma irmã, no Rio de Janeiro, o veto e a condenação permaneciam em vigor.
No entanto, através de leituras e presença constante em seu site, pude desfazer o mal que fora plantado pela mídia em meu coração – graças a Deus – e lhe peço perdão.
E agora, venho rogar por conselhos, já que estes devem ser buscados junto aos mais sábios e experientes.
Tenho 28 anos e ocupo um alto cargo público no ramo jurídico. Ainda, sou estudante do segundo ano de teologia em um seminário evangélico.
Posso dizer que fui “criado na igreja”, pois minha mãe se converteu logo após separar-se de meu pai, quando eu contava com 7 anos. Assim, desde então passei a freqüentar igrejas evangélicas.
Batizado “nas águas” com 16 anos, certo é que apenas subi o primeiro degrau em direção à conversão aos meus 23 anos.
Pouco tempo depois, conheci uma irmã em Cristo que participava de igreja da mesma denominação da que eu freqüento, mas em outra cidade.
Pela internet, telefone e em visitas periódicas, namoramos.
Menos de dois anos depois, nos casamos.
Desde o início a relação fora conturbada, tanto em razão da grande diferença sócio-cultural que nos separa, quanto em função do forte gênio da namorada, que insistia em apenas fazer a própria vontade.
Tal característica fez com que meu sogro, no dia em que lhe pedi a mão da filha em casamento, me fizesse um aviso, indagando se eu estava certo do que queria e confirmando o forte gênio da menina.
Mas nada poderia impedir o casamento, pois tal era necessário para que tudo fosse “conforme a lei de Deus”, de modo a não pecarmos, se é que me entende.
Ainda, é evidente que a paixão estava presente.
Mas eu orava muito, rogando a Deus que se aquele casamento não fosse da vontade Dele, que não permitisse sua realização.
O casamento aconteceu e agora conta com quase três anos. Não temos filhos.
Pastor, eu sempre fui o bom exemplo de filho, o bom exemplo de estudante, o bom exemplo de profissional e estava sendo o bom exemplo de “crente”.
No entanto, parece que não estou mais a suportar o fardo.
Apesar de minha esposa ser linda e perfeita fisicamente, não temos diálogo produtivo, pois as idéias não estão no mesmo plano de elaboração e a questão do gênio permanece, de modo que ou eu faço a vontade dela, ou faço sozinho o que quero e agüento depois as rebordosas.
Ainda, sou extremamente carente de carinhos, de toque físico mesmo, mas tal não me é concedido, pois como ela não gosta de receber, não o faz – exceto quando suplico.
Poderia citar outras questões menores, que não relato justamente por serem menores, mas, certamente, em conjunto com as maiores, acabam por prejudicar.
Assim, tenho pensado em desistir e tentar viver, pois sou tão novo, bem sucedido profissionalmente….queria poder aproveitar e ter prazer em dividir minha vida com alguém – será isso possível?
Mas o que me atormenta é que assim deixarei de ser o “bom exemplo” e, de quebra, fico estigmatizado para seguir a vocação ministerial que sinto e que se revela diante de mim a todo momento, pois terei me divorciado mesmo sendo “crente” – note que quando se divorcia antes de ser “crente” não há muito problema…
Além disso, e mais importante, não fechei a questão quanto ao que a Palavra nos ensina.
Afinal, por que Jesus tomou partido da escola Shamai, em detrimento da de Hilel no Evangelho de Mateus? Ou não terá tomado partido algum e o texto original de Marcos é o mais preciso? Ou esta aparente divergência serve justamente para indicar não serem tais questões relevantes?
Pastor, apresento profundas escusas por lhe repetir esse tema, mas estou certo que tu sabes porque aqueles que se encontram em situação semelhante à minha vêm a ti.
Me aconselhe, por favor.
Beijão!
James Jacob (pseudônimo).
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Resposta:
Meu amigo querido: Graça, Paz e Bem!
Lei de Deus? Que Lei de Deus? Meu amigo, Jesus ensinou que a Lei de Deus é amor; e, sem amor, nenhuma Lei de Deus nos aproveitará. A menos que você deseje ser discípulo dos fariseus e não de Jesus!
Mas como você é um homem da Lei dos Homens, imagino o quanto essa coisa da Lei de Deus deva perturbar você. Vi pela sua preocupação “textual” (divorcio, Shamai, Hillel, textos originais, etc…), que até nesta outra estação de sua vida—depois de ter prejudicado a primeira em razão de sua fixação na letra da Lei—, você já tem “questões fechadas”, veredictos dados, e vetos estabelecidos.
Se você seguir esse caminho; por um dever de consciência eu deveria apenas lhe dizer: “Faça conforme as definições já fechadas em sua mente!” Afinal, a fé que tu tens, tem-na para ti mesmo!
No entanto, eu sei o que você está vivendo. Na realidade a vida está forçando você a ver se de fato você entendeu o Evangelho; ou, se pelo vício religioso e jurídico, você o transformou em Lei.
Ora, o Evangelho feito Lei é insuportável, pois é muito mais profundo e devastador do que a Lei de Moisés.
Tenho dito que se o Sermão da Montanha virar Lei, na realidade, como Lei, se tornará a Lei do Abismo, posto que ali eu e você apenas vemos a extensão de nossa própria enfermidade e egoísmo. Somos expostos ali à incurabilidade de nosso pecado; e, viver pela busca de obediência Legal ao Sermão da Montanha é o caminho certo não para a santidade, mas sim para a neurose mais devastadora.
Por que você acha que o mandamento para não julgar, no Sermão da Montanha, é menos importante do que aquele acerca do divórcio?
Em razão de quê você resolve a trasgressão ao primeiro com uma simples admissão de erro, confessa e crê no perdão; mas em relação ao segundo, a Lei do Divórcio, você se trata como alguém que engole a chave da própria cadeia onde se colocou?
Quem autorizou você ou a quem quer que seja a fazer do primeiro um irrelevancia, e, do segundo, uma desgraça incurável?
Ora, quanto ao “Julgamento”, você soube resolver o problema conforme se manda: pedindo perdão pelo juízo feito. Pronto e feito! No entanto, em relação ao equivoco de seu casamento desbaratado, e feito sob as pressões da Lei, da culpa, das neuroses evangélicas, das obrigações com os ritos, com os tempos, com as interpretações, com o dever de criar uma imagem pessoal séria e responsável, você acredita que não há saída sem transgressão da Lei, e sem que isto implique em algo para o quê não haja uma saída justa e boa. Ou seja: algo que seja um mal menor.
Ou será que não há perdão para o equivoco no casamento? Seria o casamento algo maior que o amor? Seria ele algo semelhante ao pecado contra o Espírito Santo, para o qual não há perdão? Seria o perdão de Deus algo a ser aplicável a tudo, exceto à infelicidade conjugal?
Meu amigo, você não deveria ter conhecido, namorado, noivado e quase casado via internet. Mas isso agora é detalhe. O importante é que você fez; e, assumiu responsabilidade de um homem digno, de alto posto de imagem e respeitabilidade; e deixou de lado advertências importantes (como a do pai dela), quebrou a cara; e, agora, ainda quer saber qual é o texto mais correto; e se Jesus seguia a escola de Shamai ou Hillel; ou se o texto de Marcos é mais original do que os demais?
Pelo amor de Deus! Estamos falando de você e do buraco no qual sua alma se colocou.
Imagine se o boi caído no buraco ainda olha para cima e pergunta se é certo tirá-lo do poço em dia de Sábado!?
O texto mais correto eu lhe direi qua él: Sem amor, nenhum casamento lhe aproveitará!
Aqui no site eu já expliquei o que creio ser a melhor explicação para a Lei do Divórcio. Está aí no site. Leia.
Na realidade a Lei do Divórcio era um remédio de dignidade para aquilo que se tornara insuportável, ao mesmo tempo em que estabelecia clausulas a fim de que a banalidade não invadisse tudo, conforme acontecia naqueles dias, nos quais, uma mulher deixada e repudiada, poderia até ser largada porque o marido não gostava mais das unhas dela, ou porque implicasse com uma verruga; tudo para mandá-la embora de casa; posto que pela hipocrisia, não eram mais bígamos, mas praticavam uma monogamia sucessiva, mudando de mulher “por qualquer motivo”. Enquanto isto, a mulher deixada sem amparo para a vida, acabava por procurar um outro marido, o que a levava a ser vista como adultera, e o companheiro dela como tal também. A outra alternativa era mendicância ou a prostituição. Essa é a razão do mandamento ter clausulas de diminuição dos casuísmos implicados no processo, sempre dirigido conforme as conveniências dos homens. Ou seja: as clausulas do Divorcio são para proteção da mulher, que, naqueles dias, sem sendo deixada, não tinha mais amparo. Assim, pelo divorcio, ela seria protegida social e economicamente. Leia aqui no site e você entenderá.
Na vida real—não nos textos—, todavia, Jesus fez Sua própria interpretação de como tratar do dilema humano nesta área.
Veja como Ele tratou a Samaritana. Ele falou da Lei ou propôs a Graça? Quando disse “vai, chama teu marido, e vem cá”, estava ele falando da Lei ou honestamente oferecendo Graça e perdão? Ora, a prova de que Ele falava sério é que ficou mais dois dias com eles (João 4).
Meu amigo, não existe em Jesus algo como um código moral ou legal. Jesus não ensinou nenhuma Lei moral. Na realidade, Ele ensinou Justiça e Verdade. Ora, pela justiça e pela verdade, freqüentemente a fixidez da Lei tem que ser quebrada a fim de que a justiça conforme a verdade do que é, aconteça; e, por meio dela, a vida humana tenha seu quinhão de bondade, alívio e libertação de opressões nesta vida.
A moral e a lei são entes fixos. A justiça e verdade são vivos e móveis; pois são pertinentes à vida, não podendo, por essa razão, ficar confinados à fixidez de nenhuma lei sem coração para o momento da vida e da realidade.
Ora, você tem que decidir se quer ser discípulo de Jesus ou do texto da Lei. Essa é a primeira coisa. Se sua opção é a Lei, não discuta e nem pergunte: fique com o texto e suas letras. Mas se você desejar ser discípulo de Jesus, então, ao invés de perguntar pelo texto, vá até Ele, e deixe-se tratar por Ele, assim como Ele tratou a todos os seres quebrados que o procuraram.
Ora, vindo agora para o seu casamento, eu diria o seguinte: nenhuma clausula de separação é tão explicita quanto aquela que empresta dor insuportável à existência que é forçada a viver sob o mesmo teto com a mulher rixosa ou mal-humorada. É insuportável. De fato, você não está agüentando porque não dá pra agüentar mesmo!
Três anos de casamento e essa vida de mendigo de carinho!? Não! Não é para ser assim!
Se ela não quer ser feliz, deixe-a andar em seu próprio caminho. Casamento não é validação de vínculos enfermos e indesejáveis. É justamente o contrário.
Pode ser que tudo o que ela queira seja a separação. Quem sabe para ela será um alívio.
Quanto à sua imagem de futuro pregador, já é uma tristeza que você tenha que levar isso em consideração, correndo o risco de falsificar sua existência, apenas para atender aos reclamos da “senhora igreja”, e das leis de seus doutores, incapazes que são de se importar com o drama humano.
Pare com isso. Se você almeja o ministério, antes de tudo, almeje a verdade; a sua verdade; o que é ou não é em você.
Que ministério agrada a Deus quando o preço a ser pago é uma farsa?
Você é jovem. Não acrescente ao primeiro erro um segundo. Divorcio nunca é bom, mas freqüentemente é bem melhor do que a existência inteira presa a uma farsa.
Se você quer pregar a Palavra; então, dê bom exemplo, e não inicie a sua existência como um fariseu hipócrita.
Converse com ela, abra o coração, veja se ela quer tentar, estabeleça prazos interiores (para você), veja se ela muda de verdade, e se manifesta amor por você de fato; sendo assim, fique; não sendo, proponha separação enquanto são apenas vocês dois, e não há mais ninguém a ser implicado no processo: como filhos, por exemplo.
Sobre os textos de divorcio, faça uma Busca aqui no site e você encontrará muita coisa.
O que posso lhe dizer, é simples:
Casamento é para unir pessoas, não para separa-las; e se em havendo casamento, não houve entretanto união de almas, o melhor a fazer é separar; isso antes que a situação de agora não fique infinitamente piorada com o passar do tempo; o que será inevitável.
Com sinceridade e simplicidade é tudo o que tenho a lhe dizer. O mais, procure no site, pois, assim, não terei que repetir tudo outra vez.
Receba todo meu carinho!
Cuide de sua alma. Essas ‘imagens’ e buscas de ‘bom exemplo’, são o caminho para a falsificação do ser quando não são naturais, e não são extensão simples da própria existência.
Quanto ao que aconteceu a você em relação a mim, fique tranqüilo, pois, de fato, eu sei como é que esses processos acontecem.
Fique em paz! Pedido de perdão aceito!
No entanto, trate bem de você mesmo, e de sua atual esposa; e, possivelmente, ajudá-la, venha a significar se separar dela. E, caso ela seja tão viciada no mal-humor que até goste de ser ruinzinha, não se sinta seqüestrado: a vida a gente vive com quem quer viver, não com quem quer morrer; e nem com quem não deseja ser feliz e nem deixar ninguém mais ser.
Com todo amor e respeito digo o que digo!
Nele, em Quem ninguém tem que casar para a morte e a tristeza, mas sim para a alegria, a amizade, o prazer, e a cumplicidade,
Caio