SOU PASTOR E QUERO SABER A VONTADE DE DEUS

—–Original Message—– From: SOU PASTOR E QUERO SABER A VONTADE DE DEUS Sent: quarta-feira, 21 de julho de 2004 19:10 To: contato Subject: como entender a vontade de Deus Importance: High Querido Pastor: Você não me conhece pessoalmente, mas há muito tempo você tem sido meu Pastor (pelo menos é assim que me sinto) através dos livros, do “Pare e Pense” e agora aqui no site. Fiquei muito triste pelo seu sumiço durante os “anos difíceis” e orei para que Deus te levantasse, para que você “desse a volta por cima”. Que bom que você está de volta. Pena que não posso mais ouvir seus sermões e reflexões. Aqui na minha terra demora a chegar “coisa boa”. Indo ao assunto, gostaria de um conselho. Fui ordenado ao ministério há 1 ano e meio. Até o mês de Junho trabalhei como Pastor Auxiliar (Ministério com Juventude) em uma Igreja Tradicional, mas entendi que era hora de sair, mesmo não tendo uma nova igreja para pastorear. Não agüentava mais lutar pela visão de ministério do meu pastor. Na verdade, penso que o ministério naquela igreja poderia ser “levado” de outra maneira. Os diáconos de lá não eram conselheiros, eram leões de chácara, que estavam sempre avisando ao Pastor acerca daqueles que atrapalhavam o “trabalho”, pelo simples fato de pensarem diferente. O democracismo de “igrejas tradicionais” só funcionava enquanto se apoia o Pastor. Se houver qualquer opinião contrária, é por conta de algum ‘problema emocional’ do discordante, ou em casos mais sérios, porque ele (o discordante) está sendo usado pelo Diabo. Dos que saíam insatisfeitos eles disseram que era porque “Deus estava limpando a igreja”. O fato é que não agüentei, e como as coisas não iriam mudar, resolvi sair. Fiz isso sem briga ou ressentimento. Conversei com o Pastor e saí. Continuamos bons colegas. Agora estou num dilema. Sinceramente nunca fui muito bom em entender a vontade de Deus, pelo menos nos moldes “desejados”. Nunca ouvi uma voz do céu, nunca recebi um anjo, muito menos abri a Bíblia e “achei” a palavra do dia. Sempre orei, pesava os prós e os contras, então decidia. Todavia, nesses últimos dias bateu um medo. As tuas reflexões têm mexido comigo pra valer, como nunca aconteceu, e fez nascer o desejo de começar um ministério novo, onde a Graça seja pregada e experimentada. Ao mesmo tempo, surgiu o interesse de outra igreja para que eu fosse o seu pastor. Sinceramente, não sei o que fazer. O trabalho novo é mais arriscado. A igreja já formada é pequena, mas me daria salário e complementaria meu sustento (trabalho fora). Penso assim e me desespero. Será que não estou sendo mercenário? Na atual conjuntura, gostaria mesmo é da visita de um “anjo” me dando a dica acerca do caminho a trilhar. Quem sabe você não é o anjo? Um abraço. Se vier por aqui, avise. Se quiser pode ficar na minha casa. É uma casa cheia da Graça de Deus. ____________________________________________________________ Resposta: Meu amado irmão e amigo de Caminhada: Graça e Paz! Não havendo anjo e nem mandamento, faça o que o bom senso e o coração mandarem fazer. Digo isto porque a vontade de Deus é como o “próximo”: não é uma abstração e nem um oráculo, mas é aquilo que nos aparece no caminho, como um homem caído e assaltado. A gente tropeça na vontade de Deus quando a fica buscando! A vontade de Deus, para mim, é fazer de todo coração o que me vem às mãos para fazer, ou o que me chega aos olhos como realidade de carência verdadeira. Esta semana escrevi um texto devocional que quero deixar com você de modo muito carinhoso e especial. Ei-lo: Eu fico aqui dizendo que a moçada tem que pular de cabeça, e tem gente que pensa que é uma recomendação ao suicídio. Ora, não é de suicídio que estou falando. Não é convite a se pular de cabeça na morte, mas sim para se mergulhar sem medo na vida. A questão é que todo mundo fica procurando saber qual é a vontade de Deus e nunca entende que a vontade de Deus só se apresenta na existência. Deus não tem uma vontade para ser conhecida na minha vida que não seja na própria vida, no próprio ato de existir. É por esta razão que o Evangelho é uma narrativa da vida de Jesus e daqueles que com Ele andaram no Caminho. Ou seja: Jesus está dizendo que o guia da jornada é a vida. No Caminho a gente tem que viver, pois é na existência que iremos conhecer a Verdade de Deus como Vida. E tanto melhor será quanto mais vivamos a nós mesmos Nele! Ora, se é assim, minha própria maneira de ler o Evangelho muda completamente. Eu o leio não como quem o olha a fim de saber como foi, mas sim de saber como é. O Evangelho é apenas narrativa da vida com Jesus, e de tudo o que nela pôde acontecer, e de como temos que enxergar cada coisa ali como modo de Deus tratar a vida e ao mundo. Ou seja: do mesmo modo como Jesus tratou as questões da existência. Neste sentido, por exemplo, os apóstolos de Jesus tiveram muito mais importância para mim como agentes históricos das narrativas do Evangelho do que nas coisas que escreveram. Sinceramente eu posso viver sem a 1ª e a 2ª Epístola de Pedro, mas me seria muito difícil entender a Graça de Deus sem que no Evangelho existisse um Pedro. Em outras palavras: é no fato de Pedro ser apenas Pedro que ele é mais apóstolo do que quando ele é São Pedro. O Pedro das epístolas é um homem piedoso. Mas o Pedro das narrativas do evangelho é um homem fazendo a revelação das próprias vísceras. Alias, após um certo tempo, os apóstolos perderam bastante a relevância na continuidade prática do processo. A maioria ficou por Jerusalém, e uns poucos se espalharam. Mas é de Paulo que vem o impacto que choca o mundo. E mais: São Pedro tinha muito pouco a dizer a Paulo. O Homem Pedro, do Evangelho, todavia, tinha muito o que revelar em sua própria vida acerca da Graça de Jesus. O respeito de Paulo por Pedro vinha muito mais do fato de Pedro ter sido Pedro do que de ter sido feito apóstolo. Ou seja: a reverencia vinha da caminhada deles com Jesus, na qual eles tiveram de tudo, e viram como Jesus lidou com tudo. Dali é que vinha o melhor ensino que tinham a dar. Suas experiências com Jesus eram a fonte do ensino. Assim, para mim, fica tudo muito mais simples. E minha leitura do Evangelho me remete não para eles, mas para mim mesmo; não para o Passado, mas para Hoje; não para a busca do conhecimento abstrato da vontade de Deus, mas para o encontro dela, sem medo, na existência. Quando perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?” Ele respondeu com uma história da vida. E disse que a vontade de Deus a gente vê todos os dias, a gente tropeça nela, ela quase nos assalta, ou nos assalta; ela pode fazer a gente atrasar um negócio a fim de ajudar um estranho. Quem sabe? Portanto, não pule no precipício, mas se jogue de cabeça na vida no Caminho. E faça isto sem medo, pois Aquele que Manda, é também o mesmo que Socorre! “Se és tu, Senhor, ‘manda-me ir’ ter contigo andando por sobre as águas”. Ao que Jesus lhe disse: “Vem!”. E Pedro andou sobre as águas e foi ter com Jesus. Reparando, porém, na força do vento e das ondas, teve medo, e começou a afundar. Então clamou: “Ajuda-me, Senhor!”. E Jesus prontamente ‘o ergueu’, e lhe disse: “Homem de pequena fé, por que duvidaste? E entraram no barco. Assim, Aquele que diz “Vem”, é o mesmo que “estende a mão e ergue” quando é necessário. Pode haver o risco porque não há risco. Se Ele diz “Vem”, eu posso até duvidar no meio do caminho, mas Ele estará sempre no meu caminho, mesmo que sobre as águas. Vá com Ele e tudo estará bem! Portanto, a questão está entre abrir uma nova igreja ou aceitar o pastorado de uma existente. De fato o que importa é “como” você aceita os desafios. É o nosso modo de caminhar que faz o caminho. Jesus disse que todo aquele que não quiser saber a vontade do Pai, mas sim desejar fazê-la, esse a encontrará. Portanto, não se preocupe com o dinheiro, e sim com seu coração. De dinheiro você sempre precisará, e o Pai sempre o socorrerá. Por isto, siga o vento, e abra as velas com bom senso e amor, e deixe o caminho com Ele. Confiar em Deus não saber onde se está indo, mas significa ir sem saber onde se está indo, como foi com Abraão. Confie e faça de todo o coração o que lhe vier às mãos para fazer, e deixe que se a Vontade é de Deus, você não tem que descobri-la, pois Ele mesmo colocará você nela. Apenas ande com fé e em amor. O resto, saiba, Deus faz, pois Ele é Deus, e tanto tem vontade quanto sabe como manifestá-la a Seus filhos. Da Vontade de Deus, Deus mesmo cuida. Quanto a você, viva buscando o que é bom e faz bem a você e aos outros, e não se preocupe, pois “mais Ele fará”. Um beijo carinhoso! Nele, em Quem já se está no Caminho, Caio